
Janeiro, 1998.
Janeiro, 1998.
Os Greengrass eram bons aliados.
Otto Greengrass conhecia todos os objetos das trevas que precisavam. Estava ajudando na busca pelas relíquias, mesmo que os integrantes da Ordem não tenham revelado que era isso que estavam procurando.
Alicia Greengrass ajudava Molly. Cozinhava, fazia com que Monstro ajudasse também. Aquele elfo só respeitava os puro-sangue. Era, claramente, criado pelos Black.
Daphne não fazia muita coisa. Costumava passar o dia sentada em frente ao grande mural da família Black, observando todos os nomes.
Hermione imaginava que a garota estava esperando o dia em que seu nome apareceria magicamente na parede. O nome de Malfoy estava na terceira parede, próximo ao meio da arte. No dia em que ele se casasse, o nome da esposa apareceria ali.
Astoria, por sua vez, era amiga de Luna. Era apenas um ano mais nova, tinha tido aulas com Gina nos anos anteriores. Era uma Corvina muito esperta, como era de se esperar, mas nunca havia trocado nenhuma palavra com Hermione até hoje.
O que era estranho, considerando que as duas passavam mais da metade do dia na biblioteca.
As Greengrass eram elegantes. Daphne tinha os cabelos loiros do pai, parecia um anjo. Se lembrava de vê-la dançando com um garoto bem mais velho no baile de inverno do quarto ano. Todos os garotos queriam levá-la.
Astoria era mais… Normal. Tinha a pele extremamente clara, os cabelos escuros, olhos azuis vibrantes e os dentes da frente levemente avantajados, como Hermione mesma costumava ter. Mas era, indubitavelmente, bonita.
Percy estava bem. Havia contado tudo que sofreu na Mansão dos Malfoy. Foi torturado por dias. Theodore Nott foi obrigado pelos outros comensais a usar duas, das três maldições imperdoáveis, nele.
Disse que Nott não estava feliz. Não ria como os outros. Mais parecia querer chorar do que torturar o rapaz.
- Tem alguém aqui.
Estava no meio da floresta com Harry e Ron. Tudo aconteceu muito rápido. Em um minuto, estavam sentados na barraca mágica, pensando em como destruir as relíquias. No outro, haviam sido capturados pelos comensais.
- Então, Draco? – perguntou Lucius Malfoy. Seu tom era pressuroso. – É ele? É o Harry Potter?
– Não tenho... não tenho muita certeza – respondeu Draco.
Era claro que Draco sabia quem eles eram. Ele não se deu ao trabalho de olhar para o rosto dela, mas se conheciam bem demais para não reconhecê-los.
Hermione estava imóvel. Sabia que, no momento que encarasse o garoto, se entregaria. Ele não fazia questão nenhuma de manter contato visual.
Sentiu um arrepio percorrer sua espinha quando as mãos geladas de Bellatrix Lestrange puxaram seus braços, a arrastando pelos cabelos em seguida até o meio da sala mal iluminada.
– E a sangue ruim aqui? – rosnou Greyback.
– Esperem – disse Narcisa, incisivamente. – Sim... sim, ela esteve na Madame Malkin com Potter! Vi a foto dela no Profeta! Olhe, Draco, não é a garota Granger?
– Eu... talvez... é.
– Então, esse é o garoto Weasley! – gritou Lucius, dando a volta aos prisioneiros para encarar Rony. – São eles, os amigos de Potter... Draco, olhe para ele, não é o filho do Arthur Weasley, como é mesmo o nome dele...?
– É – tornou Draco, de costas para os prisioneiros. – Poderia ser.
Sabia que o garoto não podia fazer muito. Só o fato dele não ter confirmado a identidade de nenhum deles já era arriscado demais. Não podiam invocar a presença de Voldemort sem que tivessem total certeza da identidade de Harry.
Viu, de canto de olho, Narcisa encarar o filho. Ela sabia que ele mentia.
Ouviu a voz de Lestrange ordenar que Draco tirasse todos os outros da sala. Viu, um a um, seus amigos sendo levados ao que parecia ser o porão da enorme mansão em que estavam. Rony tentou, sem sucesso, se desvencilhar de Fenrir Greyback, que quase o jogou escada abaixo.
- Traga o seu garoto de volta, Lucius. Está na hora de ele aprender como resolvemos as coisas. Claramente você não foi um bom exemplo.
Lucius Malfoy olhava para a cunhada com o mesmo nojo que olhava para todos os nascidos trouxa. Era claro que ele a odiava. Bellatrix era, pelo que sabia, a comensal mais confiável de Voldemort.
Draco não demorou a voltar. Lucius foi até o garoto, falando algo em tom baixo, inaudível. Hermione ainda estava jogada no chão onde haviam empurrado-a anteriormente.
Draco se aproximou. Seu rosto totalmente coberto pelas sombras da casa. Não conseguia olhar para ela por muito tempo. Viu, de relance, sua sombra se afastar e ouviu o barulho que a poltrona, que estava de costas pra ela, fez quando o garoto repousou sob ela.
- Como conseguiu entrar no meu cofre? - gritou Bellatrix Lestrange. Não houve resposta. Sem remorso algum, proferiu o Crucio na garota.
Hermione tentou responder. Tentou falar que nunca tinha ido ao cofre. Mas não adiantava. Bellatrix queria apenas torturá-la, não estava realmente atrás de respostas.
Sentiu os ombros se chocarem com o chão, quando finalmente a primeira sessão do feitiço terminou. Não tardou a sentir um novo choque de energia tomar conta do seu corpo, quando a bruxa repetiu o feito.
– Você está mentindo, sua sangue-ruim imunda, sei que está! Você esteve no meu cofre em Gringotes! Diga a verdade, diga a verdade!
Não aguentava mais. Pensou nos pais de Neville. Se tornaria alguém inerte, como eles. Em estado vegetativo.
Granger.
Podia jurar ter ouvido a voz de Draco em sua mente.
Não sentia mais nada. Focou os olhos na lareira, emoldurada em ouro. Aquela era a casa em que o garoto cresceu? Aquele foi o lugar em que deu seus primeiros passos, falou as primeiras palavras? E agora era apenas um antro de tortura!
Fechou os olhos, sentindo seu corpo ser erguido mais uma vez pelo feitiço. Bellatrix estava praticamente colada a ela.
Quando os abriu, estava na mesma sala. Mas não havia uma bruxa das trevas torturando-a. Lucius e Narcisa também não estavam mais ali.
A sala estava clara. Conseguia virar a cabeça e ver a poltrona em que Draco Malfoy estava sentado. Haviam muitos raios de sol iluminando o ambiente.
- O que está acontecendo?
- Você está em uma das minhas lembranças. - a voz de Draco ecoou, como se estivesse dentro de sua mente.
Hermione percebeu que não podia se levantar. Seu corpo, nesta visão, estava no mesmo lugar em que Bellatrix Lestrange a torturava. Malfoy também estava parado.
Olhou ao redor: a sala era enorme. Haviam lustres, feitos de brilhantes, em todos os cantos. Pinturas de homens loiros, que datavam séculos de distância do dia de hoje. Via, de relance, elfos ziguezagueando pelos corredores, descendo as grandes escadas com carpete que ficavam no meio da sala e sumindo por portas gigantescas.
Narcisa Malfoy entrou na sala. Não a Narcisa que observava enquanto Hermione era torturada. Mas sim uma versão extremamente mais nova. Seu rosto brilhava em contraste com a luz, revelando de onde Malfoy havia herdado os olhos cinzentos. Segurava um pequeno menino, que não devia ter mais de 5 anos, nos braços. Era Draco.
- Lucius! - gritou - Você não vai acreditar no que aconteceu!
Nunca tinha visto aquela mulher sorrir. Narcisa era tão bonita quanto o filho. Olhava, com orgulho, para o garotinho em seus braços, antes de deixá-lo ir ao chão.
A menção do nome do pai de Draco fez Hermione lembrar que estava sendo torturada. Podia sentir seu corpo se retrair, mesmo que sua mente estivesse dentro da cabeça de Malfoy. Sentia seus olhos escorrerem lágrimas e uma grande pressão em seus braço esquerdo, como se estivesse sendo cortada por uma faca muito afiada.
O pai dele entrou no ambiente. Dez ou quinze anos mais novo, com os cabelos curtos e uma roupa casual. Parecia demais com Draco para ser qualquer outra pessoa.
Lucius sorria. Não aquele sorriso angular que fazia quando falava maldades para trouxas. Mas um sorriso leve, como se estivesse feliz em ver a família. Assim que ele entrou, o garotinho correu para o seu alcance, sendo carregado ao alto pelo patriarca.
- Draco acabou de ter sua primeira explosão de magia! - dizia Narcisa, com orgulho. - Ele estava correndo pelo jardim quando aquela elfa estúpida entrou em seu caminho. Não precisei fazer nada, assim que ela encostou nele, saiu voando!
O pai sorriu. Com os dentes à mostra. Bateu de leve nas costas do menino, como se dissesse “esse é meu garoto” e passou ao lado da esposa, depositando um leve beijo em seus lábios e andando em direção a outro cômodo ainda com o filho em seus braços.
- Ele não foi sempre assim. Cruel. - a voz de Draco ecoou novamente, lembrando-a mais uma vez de que aquilo não existia. Era apenas uma tentativa de Malfoy de deixá-la lúcida à tortura. De não enlouquecer de vez.
Ela tentou virar o corpo para olhar para o loiro com mais precisão, sem sucesso. Os dois estavam presos no local em que seus corpos físicos estavam. Hermione não conseguia falar, sentia uma dor estupidamente forte em todos os membros do seu corpo.
- Não sei quando tudo mudou. Acho que foi quando ele descobriu que Potter estava vivo e estudaria comigo. Ele apareceu em Hogwarts no segundo dia de aula, mandando que eu virasse amigo dele. Obviamente não deu certo. Foi a primeira, de muitas vezes, que o vi decepcionado comigo.
Hermione focou os olhos na lareira de ouro, observando várias fotos: O casamento dos Malfoy, com Narcisa sendo carregada pelo marido para fora da igreja; a mãe de Draco grávida, ao lado de Bellatrix Lestrange, ainda sorrindo; o casal com um minúsculo bebê no colo, em um grande quarto hospitalar…
A memória de Lucius Malfoy voltou para dentro da sala de estar da mansão, carregando o filho em uma mão e um par de vassouras mágicas na outra.
- Lucius! - exclamou a mãe, claramente se divertindo com a situação. - Ele é novo demais para voar!
- O garoto é um prodígio, Cissy! - riu - Será o melhor artilheiro de todos os tempos, como o pai!
Draco, que estava sentado na poltrona, olhava carinhosamente para os pais. Um olhar que Hermione nunca tinha visto antes. Com saudades do tempo em que era criança.
Tudo escureceu. Não estava mais na sala dos Malfoy. Draco não estava mais ali.
- Hermione! Hermione, acorde! - Ouvia a voz chorosa de Ronald Weasley chamar.
Tentou abrir os olhos, sem muito sucesso. Tudo em seu corpo doía.
Viu de relance um homem que muito parecia Bill Weasley, o irmão mais velho de Ron, falar algo ao garoto.
A última coisa que viu antes de voltar a desmaiar foi a marca, forjada em sangue, em seu braço: sangue-ruim.