
Fevereiro, 1997.
Fevereiro, 1997.
Não o viu mais.
Por meses.
Soube, apenas quando Theodore Nott assumiu, que Draco Malfoy abriu mão da vaga de monitor da Sonserina.
Não era do feitio dele abrir mão de poder.
Harry estava obcecado. Infelizmente, haviam motivos.
O encontro de Harry com Draco e sua mãe no beco diagonal, onde a matriarca insinuou que Harry logo estaria morto, não foi nada saudável para o amigo.
Potter estará junto de seu amado Sírius antes de eu estar reunida com Lucius.
Repetia mentalmente a voz de Narcisa Malfoy desde o dia em que a ouviu pela primeira vez. Draco estava junto, é claro, com sua postura de garoto mimado. Foi a última vez que ouviu a voz de Malfoy também, enquanto ele a xingava de sangue-ruim e brigava com Harry.
Nenhum deles era inocente. Harry tinha, é claro, insinuado que a mãe de Draco iria para Azkaban junto com o marido.
Mas isso não era mentira.
Havia convencido Harry a deixar o mapa do maroto com ela por um tempo. Estava com medo de andar sozinha pelo castelo, com o perigo da guerra iminente. Ela, todos os dias, pegava o mapa às 19h e o devolvia assim que chegava no salão, às 22h10.
Procurou o nome dos amigos pelo mapa. Harry Potter estava na sala comunal, ao lado de Gina Weasley. Um pouco mais afastado, conseguia ver Lilá Brown ao lado de uon-uon.
Como odiava ver os dois juntos. Odiava. Depois da briga que tiveram no final do ano anterior, Hermione decidiu que não se importaria mais com Ronald. Mas não era tão fácil quanto parecia.
Todos os dias via o nome dos dois ficar cada vez mais perto. Sabia que o namoro viria.
Lembrou-se de ontem, quando foi chorar em sua escadaria.
Ronald tinha acabado de se atracar com Lilá Brown no meio da sala comunal, em comemoração à vitória do time de quadribol. Harry a seguiu. E a encontrou no lugar onde tantas vezes já deixou seus sentimentos. Conversaram por muito tempo, tempo o suficiente para se acalmar.
Tempo o bastante para ver Draco Malfoy passar rapidamente ao lado deles, seguindo em direção às masmorras.
Sabia que ele não tinha passado sem querer por ali. Ele fez questão de mostrar para ela que tinha a visto chorar. E fez questão de esbarrar em Harry enquanto descia.
Malfoy estava horrível. Magro, apático, silencioso e sozinho. Não andava mais com sua costumeira gangue de sonserinos, estava sempre sozinho. Sempre com a cara escondida em algum livro.
Depois do encontro que teve com ele na travessa do tranco, duvidava que Draco não fosse um comensal. Infelizmente, parecia ser seu destino.
Abriu o mapa instintivamente. Olhou, sem pensar duas vezes, para a torre de astronomia. Sabia que ele estaria lá. Estava todas as noites.
Devia ter feito algum acordo com Nott para não ser pego. E sabia que ela iria respeitar o acordo deles e deixá-lo em paz.
No dia seguinte, pediu a capa da invisibilidade emprestada para Harry. Disse que queria ir até a biblioteca depois do toque de recolher, para ver se achava algum artigo sobre o príncipe mestiço, o autor do medonho livro que Harry carregava para cima e para baixo.
Já havia feito isso. Não achara nada.
Munida do mapa do maroto e da capa, rumou até a torre de astronomia.
Ele estava lá. Sentado do lado de fora da mureta, pronto para cair.
Segurava a grade em que estava sentado com as duas mãos, os braços abertos, uma de cada lado do corpo. Algumas vezes soltava, abruptamente as duas mãos, como se realmente fosse se jogar.
Hermione ficou parada no canto observando pelas próximas quatro noites. Não havia ronda nos finais de semana.
Percebeu, na segunda noite, que ele não usava mais o anel da família Malfoy.
Ele não fazia nada. Nada além de olhar para as benditas constelações no céu. Às vezes, pegava um pequeno banco e se sentava em frente ao gigantesco telescópio que havia ali. No terceiro dia, Hermione levou um livro de Astronomia, para tentar entender o que ele tanto via no céu. Quando ele ia embora, ela olhava pelo telescópio para ver em qual das estrelas ele havia deixado apontado.
Acima deles, podia ver Andromeda. Não sabia o que Andrômeda poderia significar para Malfoy, mas lembrava-se que esse era o nome da mãe de Tonks, irmã de Narcisa. A traidora de sangue que se casou com um nascido trouxa.
No quarto dia, se assustou.
Chegou antes dele, como planejou. Olhou no mapa, vendo que ele ainda estava saindo do salão da sonserina e aproveitou para ir correndo antes. Precisava devolver o mapa para Harry hoje, para que ele usasse no final de semana.
Se postou, de forma discreta, no canto da sala.
Draco Malfoy entrou, batendo a porta. Ele nunca fechava a porta da torre.
Estava atônito.
Tinha sangue nas mãos. Bem pouco, mas ainda era sangue. Deixou algo sangrento e amarelo no meio da mesa do professor.
Andou até o parapeito, olhando rapidamente para baixo e voltando. Foi até a mesa, tirou a capa e jogou-a de qualquer jeito ali em cima.
Respirou fundo algumas vezes, como se tentasse se acalmar.
Tirou o casaco, ficando apenas com a blusa social branca de mangas compridas. Se Hermione estivesse um pouco mais perto, com certeza conseguiria ver se ele estava com a marca negra ou não.
Ele andou, mais uma vez, para todos os lados. Parou em frente a mesa e tirou o relógio de ouro pesado que usava no pulso, pousando-o sob seus pertences.
Tirou a varinha da lateral da calça e colocou em cima de tudo.
Andou diretamente até o parapeito, passando as duas pernas para o lado de fora. Ele sempre fazia isso, se sentava e segurava as grades na lateral do corpo.
Mas não se segurou. E não inclinou o corpo para sentar.
Seus pés estavam apenas pela metade no pequeno parapeito.
Ela não sabia o que fazer. Não podia fazer nada.
Preparou a varinha para lançar algum feitiço caso o garoto pulasse. Se ela falasse alguma coisa, seria pior.
Ele pendeu o corpo pra frente, emitindo um gemido de sofrimento. Estava de costas para ela agora.
Queria impedi-lo. Queria mesmo.
Ouviu o chão ranger exatamente no lugar em que estava sentada.
Ele olhou para trás, com medo. Olhou diretamente em seus olhos, como se conseguisse enxergar pela capa. Mas sabia que ele não conseguia.
Ele já a havia visto chorar muitas vezes. Mas aquela foi a primeira vez em que viu Draco Malfoy com os olhos cinzentos marejados.
Ele pulou de volta para dentro. Hermione se segurou para não soltar um barulho de alívio.
Andou até a mesa, vestiu todas as suas roupas de volta e abriu a porta da torre. Virou para trás, antes de sair e falou com voz extremamente rouca:
- Fale para Potter que essa capa velha já está quase entregando vocês.
You cling to your papers and pens
Wait until you like me again