we can't be friends

Harry Potter - J. K. Rowling
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Julho, 1995. 

Julho, 1995. 

Know that you made me

I don't like how you paint me, yet I'm still here hanging



Se sentia uma idiota. Fútil. 

Cedrico Diggory estava morto há alguns meses. Ninguém, além dela e dos amigos, acreditava que você-sabe-quem estava de volta. Harry estava enlouquecendo. 

E ali estava ela, na bendita escadaria, chorando por Ronald Weasley, de novo! 

Não apenas por Ron. Chorava de medo por Harry, chorava de raiva por aquela bruxa maligna que assumiu a escola. Chorava pensando que, mesmo tendo virado monitora, estava cada vez perdendo mais pontos para a casa dela. 

Parkinson e Malfoy agora faziam parte da brigada inquisitorial, um grupo seleto de alunos puro sangue que Umbridge escolheu para impor suas ordens. E sempre que podiam, tiravam pontos deles. Por besteiras: por derrubar um livro, por se atrasar dois minutos para a aula… 

Pelo menos ele não poderia tirar pontos dela por estar ali naquela escada no meio da noite. Os monitores tinham que rondar as alas até às 22h, para garantir que nenhum aluno estava circulando. 

Pensou em pedir o mapa de Harry emprestado, para saber onde os infratores estavam, mas não queria deixar o amigo preocupado. Sabia que ele ficava olhando o mapa até cair no sono, vendo se o nome de Tom Riddle não apareceria em nenhum lugar. 

Seu parceiro de ronda, Ronald, não estava ali, é claro. Ela nunca choraria na frente do garoto. 

Eles haviam encontrado Lilá Brown, que convenientemente havia perdido o toque de recolher. É claro que o monitor da Grifinória se ofereceu para levar a garota até o salão, de forma que os Sonserinos não poderiam tirar pontos da casa. 

Sentiu seu estômago revirar quando viu o sorriso de Ronald ao esticar o braço, deixando que a garota loira o prendesse, andando como casal em direção ao salão. 

Deixou as lágrimas caírem mais uma vez. Era a terceira vez na mesma semana que Lilá se atrasava. Mas Rony jurava (a Harry) que nada tinha acontecido entre os dois ainda.  

Sabia que Malfoy tinha passado por ali algumas vezes. Mas eles tinham um acordo secreto, nunca confirmado por nenhum dos dois, de deixar o outro em paz. 

Ele também andava estranho. Hermione sabia que as coisas na casa do garoto não deveriam ser fáceis. Tinha vontade de forçar Draco a ir com ela até o escritório de Dumbledore e…

E nada. Dumbledore não estava mais ali, o ministério o tirou de lá. O ministério era controlado por Umbridge e seus amiguinhos, incluindo o pai de Draco. 

Respirou, revoltada. Como um homem que estava preso em Azkaban ainda conseguia puxar as cordas de outras pessoas? 

Resolveu se levantar. Estava sentada naquela escadaria a pelo menos uma hora, chorando em silêncio e lamentando, como uma pobre coitada. 

Andou, com a luz da varinha a frente, procurando por alunos que desobedeciam às regras.

Gina havia contado ao irmão que Hermione e Vitor se beijaram na despedida do quarto ano. 

Ronald ficou furioso.

Começou de novo com aquele papinho de que, ser namorada de Vitor era ser contra Harry. 

Por Merlin, a competição já havia acabado! Nenhum deles ganhou, um garoto morreu! 

E o que ele esperava? Que ela ficaria pra sempre esperando ele criar coragem de chamar ela para sair? Como esperou por semanas que um deles a convidasse para o baile?

Fez Vítor esperar por seis dias antes de responder que iria com ele para o baile! 

Aliás, nem podia chamar aquilo de beijo. Vítor apenas encostou os lábios nos dela antes de ir embora com o resto dos alunos de Durmstrang.

Parou, em frente à torre de Astronomia. 

Malfoy estava lá, com o corpo apoiado do lado de fora. Sentado na grade, com as pernas em direção ao precipício.

Hermione morria de medo de altura. Não sabia como Harry e Draco conseguiam gostar tanto de voar, de quadribol. Talvez gostassem da adrenalina, mas ela odiava. 

Ficou alguns minutos em silêncio, olhando o garoto que estava de costas para ela. 

Draco estava proibido de jogar quadribol. Harry e os gêmeos Weasley também. Umbridge baniu todos eles dos jogos depois de saírem aos socos. 

Talvez aquela fosse a escadaria de Malfoy. O lugar que ele gostava de ir para ficar sozinho, pensar na vida. Não parecia estar chorando, mas olhava diretamente para o céu. 

Poderia estar pensando em sua família. Os Black vinham de uma antiga tradição, onde todos os nascidos eram nomeados em homenagem às estrelas. 

Ela já havia estudado a árvore genealógica do garoto. Fazia parte dos livros de história bruxa. Os Black e os Malfoy eram grandes nomes na comunidade. Estava escrito em “Hogwarts, uma história” que Cygnus Black II foi um dos primeiros mestres em Transfiguração que lecionou na escola. Ficou curiosa. 

Olhou para o céu. Não sabia qual era a constelação que os cercava. Apostava 10 galeões que o menino sabia. 

Tinha vontade de falar com ele. Desde o ano passado, quando tiveram aquela conversa na escada, não se falaram mais. Conseguia quase ouvir as engrenagens da cabeça do loiro funcionarem, enquanto ele balançava uma das pernas de forma ansiosa. 

Honestamente, queria perguntar o motivo de sua mãe, Narcisa, ser a única da família Black sem o nome de uma constelação. 

- É meio esquisito você ficar aí parada esse tempo todo olhando pra mim, Granger. 

Olhou rápido para o relógio no topo da torre: estava a pelo menos 15 minutos parada ali, varinha em mãos, encarando as costas do menino. Ele nem sequer olhou para ela antes de falar, sabia que ela estava ali aquele tempo todo! 

- É meio estranho você estar sentado no parapeito da torre. Vai pular, por acaso? 

 Ele riu. 

- Bem que você queria, não é?

- É claro que não. - respondeu rápido. - Iam achar que eu finalmente enlouqueci e te joguei daqui. 

Ele riu mais uma vez. Ela percebeu que o garoto, agora com quinze anos, estava com a voz muito mais grossa do que da última vez em que se falaram diretamente. 

- Ou pior. - ele finalmente olhou para trás. - Iam achar que eu te trouxe aqui para uns amassos e acabei caindo. Humilhante. 

Ela ficou estática. 

- Merlin, é brincadeira Granger! - ele se apressou em responder, quando viu que ela não havia falado nada. - Você se leva a sério demais.

Ele levantou da beirada, fazendo o estômago da garota revirar. Um passo em falso e ele ia cair de vez. 

Colocou as mãos, longas e pálidas, na grade. Pulando para dentro da torre em um só movimento. O coração da morena desacelerou. 

Prestou atenção no anel que o loiro usava no indicador direito. Um grande anel de prata com o brasão dos Malfoy. 

- O que o pobretão fez agora? - questionou. - você está parecendo um elfo doméstico com essa cara inchada de chorar. 

Cobriu o rosto, envergonhada. E com vontade de chorar de novo.

- Na-Nada. - disse, se odiando por gaguejar. 

- Anda logo, Granger. Desembucha. - ele disse, impaciente, apoiando as pernas mais uma vez na grade, desta vez pelo lado de dentro. - nosso acordo vai cobrir isso também. 

- Acordo? 

- É. O acordo de que eu não vou lá na escadaria te ver chorar todos os dias e você me deixa em paz também. 

Ela suspirou. Era óbvio que ele não estava rondando o castelo inteiro sozinho. Eles dois eram responsáveis pela ronda do primeiro e segundo pavimento. E ela não tinha com quem falar. Harry estava confuso com tudo… Gina era irmã de Ron. E ela não tinha outros amigos. Neville não contava quando o assunto era, bem, esse. 

- Ele… Ele é impossível! - declarou, sem saber porque estava confiando em Malfoy. - Ele não me chamou para aquela droga de baile e está bravo comigo por eu ter ido com Vitor. 

Malfoy a deixou falar. E ela falou. Falou sobre as brigas com Harry, ocultando tudo que se referia à Voldemort ou aos comensais da morte. Falou sobre o teste para o time de quadribol (ocultando também que ela havia confundido Cormac McLaggen para errar o último balaço).

Ocultou muitas coisas. Não falou sobre a Armada de Dumbledore. Nem sobre os alunos de outras casas, como Luna e Cho. 

- E pra melhorar, a Gina contou pra ele que Vitor me beijou na estação. Quer dizer, não foi um beijo! - se arrependeu assim que falou, corrigindo com pressa. - Ele só… ah, ele me deu um selinho na frente dela! E aquela fofoqueira não soube guardar o segredo. Ela faz de tudo para poder falar com Harry. - se arrependeu de novo. 

Malfoy estava quieto, com um ar divertido. Nunca tinha passado tanto tempo na presença do rapaz. Muito menos um tempo tão longo sem ser xingada por ele. 

Era divertido para ele também. 

Não ter que pensar nas coisas que ele estava pensando antes dela chegar. 

- Realmente, Granger. - ele finalmente concluiu, depois de mais tempo em silêncio. - Sua vida é muito difícil

Ela queria perguntar para ele o que estava acontecendo. Ela sentia a mudança, sutil, na personalidade do garoto. Ele estava começando a ficar muito mais sério, menos provocador e infantil. Sabia que Lucius havia sido preso no começo do ano, isso não devia ser fácil. Mas, ao mesmo tempo, sabia que tudo que ele lhe contasse… Seria dito a Harry. Harry é seu melhor amigo, seu irmão. Não conseguia guardar segredos dele. 

Lembrava das palavras de Dobby há um ano atrás: Draco vivia na sombra de um pai malvado e uma mãe inerte. 

- Seu maior problema é que um cara te beijou e outro não gostou. - concluiu, começando a andar ao lado de Hermione em direção a porta. Estava ficando tarde demais até para os monitores. - Quer dizer, desculpe, um cara quase te beijou. - fez menção de corrigir, ao ver que ela ia interromper.

- Ah! - ela fingiu espanto, parando no meio do corredor. Ele a olhou dos pés à cabeça, sem entender. - Acho que essa é a primeira vez que seu corpo fala a palavra “desculpe”. Você está bem?

Ele revirou os olhos, dando um risinho fraco enquanto voltava a andar, a deixando para trás. Gostava dessa interação com a grifinória. Sentia que não precisava se podar, ela já não gostava dele mesmo, podia falar o que quisesse. 

- O cabeça de cenoura só deve estar com raiva que você beijou alguém antes dele. - concluiu. 

- Mas eu não beijei! - respondeu, impulsivamente, se arrependendo pela terceira vez. - e ele não quer me ouvir. 

Draco teve que se impedir de, fisicamente, revirar os olhos de novo. Ronald Weasley era o garoto mais insignificante do mundo, em sua opinião. Era pobre, estranho, tinha uns vinte irmãos exatamente iguais a ele, não tinha personalidade e dependia de Potter e Granger para tudo. Era um absurdo pensar que qualquer um sofreria por aquele traste. 

- Então vá e beije alguém. Antes dele. - disse, simplesmente. - Ele já acha que você fez isso mesmo, já que vai sofrer, que seja com razão. 

Ela não gostava desse jeito sonserino de pensar, mas ele não deixava de estar certo. 

Ronald estava correndo atrás de outras garotas só para conseguir um beijinho. Sabia que no momento em que ele conseguisse, voltaria a falar com ela normalmente. Ele só não queria ficar para trás: Harry e Cho haviam se beijado no início do ano também. Até Gina já tinha tido sua chance com Dino Thomas. 

Estavam chegando ao pavimento principal. Sabia que dali, ele iria descer sua escadaria em direção às masmorras, enquanto ela subiria todo o caminho até o salão grifano.

- Não é tão fácil assim. Não é como se Vítor fosse voltar para Hogwarts tão cedo. E eu nem sei se gosto dele e…

- Por merlin, Granger. É um beijo. Você não precisa casar com o cara nem nada do tipo. É só tirar isso do caminho logo e seguir em frente.

- Fácil pra você dizer, Malfoy. Você e sua namoradinha Parkinson se conhecem há anos. 

- Meu primeiro beijo não foi com a Pansy! - retrucou, irritado. Sabia que a garota tinha uma quedinha por ele, tinha inclusive deixado-a beijar no baile, mas não sentia nada pela sonserina. 

- Sei… - Hermione riu, vendo a indignação dele. 

- Meu primeiro beijo foi há três anos atrás, se quer saber. Com doze anos, não aos quinze como certas pessoas. - esfregou na cara dela a situação. - Com a Daphne. Greengrass

Enfatizou o sobrenome da garota, como se fosse algum mérito. Sabia que os Greengrass também eram uma antiga família bruxa, mas isso não fazia diferença nenhuma no tópico atual. 

- Ela não é a melhor amiga da Parkinson? 

- Acho que sim. - deu de ombros. 

- Você sabe que a Parkinson te idolatra e mesmo assim beijou a melhor amiga dela? Por Deus, você ainda acha isso normal. - ela riu, usando a expressão trouxa. 

- Granger… É um beijo. Lábios unidos. Só. Não é nada demais. Só você e o cabeça-de-cenoura se preocupam tanto com isso. 

Estavam parados em frente ao salão principal. O relógio marcava 22h10.

- Obrigada pelo papo, Malfoy. Mas podemos voltar à nossa programação habitual de ódio mútuo. 

- Eu estou falando sério, Granger. Você é tão inteligente para certas coisas, mas tão burra para outras. Se vingue do pobretão. Beije um dos amigos dele e acabe logo com isso. Algumas pessoas precisam sofrer para criar caráter. 

Tentou focar na parte em que ele a chamou de esperta, sem dar importância para a segunda parte. 

- Os amigos dele são meus amigos. Não quero criar um clima estranho. Além disso, quero que meu primeiro beijo seja com alguém que quer me beijar, não com… Simas Finnigan. 

- Eu posso te beijar.  - ofereceu, como se oferecesse o empréstimo de uma pena. 

- Ah, claro. - Hermione riu com vontade, sabendo que o garoto zombava da sua cara. 

- É sério, sangue-ruim

Ficou em silêncio. Draco estava zombando dela, certo? Ia fingir que ia beijá-la, depois chamar alguém para tirar uma foto dela inclinada para o beijinho e espalhar por aí. Ou ia se afastar correndo, gritando “Granger que me beijar!” pelos corredores para acordar todos no castelo. Não cairia naquela brincadeira. 

- E o que você ganha com isso? - questionou. 

Draco pensou. Ele sabia o que ganharia. 

- Eu vou poder saber, pra sempre, que fui seu primeiro beijo. Antes do pobretão, antes do cicatriz. - ela tentou retrucar que nunca beijaria Harry, mas ele não deixou. - E vou poder provar pra você que um beijo é só isso, um beijo. Não uma promessa de casamento. 

Era uma péssima ideia. Ela sabia disso. 

Mas Draco era convincente. E era bonito. Muito bonito. 

Ninguém acreditaria nela. 

Mas ela nunca iria querer contar pra ninguém, certo? 

- Vamos, Granger, anda logo. - ele apontou para um armário de vassouras embaixo da grande escadaria. Abriu a porta, esperando que ela entrasse. - É uma proposta irrecusável. Que outra chance você terá de beijar o Draco Malfoy? - ela revirou os olhos, ainda considerando. - Vai fazer parte do seleto grupo de… - ele levantou os dedos, contando um a um - dez! Você vai ser a décima garota que eu já beijei. - disse orgulhoso. 

Suas pernas andavam sozinhas até o armário de vassouras. Não estava mais pensando em nada. 

Tinha certeza que era agora: Malfoy ia trancá-la, sozinha, ali dentro e buscar vários colegas para rirem da cara dela. Tateou a lateral da capa, para ter certeza de que a varinha estava ali caso precisasse. 

Mas não precisou. 

Ele entrou atrás dela, fechando a porta. O cômodo era pequeno, mas não ao ponto de terem de se tocar. 

- Vamos, faça logo. - ele disse, impaciente. 

- O quê? - respondeu zangada. - Você se ofereceu para me b-beijar.

Ele bufou. 

Sem cerimônia nenhuma, Draco Malfoy abaixou a cabeça, colocando uma das mãos no rosto da garota. Usou a mão que continha o grande anel dos Malfoy para erguer o queixo de Hermione, que ficou na ponta dos pés e selou seus lábios. 

Era igual ao sentimento que teve com Vitor. Seus lábios estavam colados, seu estômago se revirava. Mas Draco Malfoy apoiou a outra mão em sua cintura, a puxando para perto. Colocou a mão que estava em seu queixo no pescoço da garota, empurrando-a contra a parede e aprofundando o beijo. 

Estava totalmente escuro. Não podia ver nada, mas esticou uma das mãos na parede e ouviu o barulho de vassouras caindo. Instintivamente, sem quebrar o beijo, colocou ambas as mãos no pescoço de Draco. Sentiu a língua do garoto em sua boca, travando uma luta com a dela. 

Nada, até agora, a fez ficar tão alerta. Sentia tudo: a mão dele, cada vez apertando mais sua cintura. A outra mão, acariciando levemente seu rosto. Os pelos do pescoço dele, pinicando as duas  mãos que ela deixava presas ali. Seu peito estava encostado no dele, era impossível que se beijassem sem que isso acontecesse.

Agradeceu metalmente ao garoto por ter escolhido um lugar onde não podiam ver o rosto um do outro. Quando se separaram, ao que pareciam ser horas de beijos, sabia que estava totalmente corada e descabelada. 

Tudo o que podia ouvir eram as duas respirações, extremamente descompassadas.

O que deveria fazer agora? Agradecer pelo beijo? Sair dali sem falar nada? Beijá-lo novamente?

- Isso entra no acordo do silêncio, Granger. Não se esqueça disso. 

E, rápido como entrou, saiu. 

Not what you made me

It's something like a daydream

But I feel so seen in the night

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