
Perspectiva
Hyacinth despertou lentamente, a mente ainda enevoada por causa da poção calmante. A primeira coisa que ela notou foi o peso de cobertores, aconchegantes e quentes sobre o seu corpo. O tecido macio e confortável envolvia os seus membros cansados e a fazia se sentir como se estivesse presa em casulo. Uma xícara de chá foi deixada na mesa de centro à sua frente, ainda quente, um leve vapor subindo preguiçosamente da superfície dourada do líquido, enquanto o aroma de camomila e lavanda ainda flutuava no ar.
Ela piscou algumas vezes, os olhos se ajustando à penumbra da sala. Lá fora, pela janela alta da biblioteca, ela podia ver os últimos tons de um laranja e rosa esmaecidos brilhando no horizonte, misturando ao roxo profundo que anunciava a chegada da noite.
Ela se forçou a sentar devagar, o corpo ainda tenso, apesar do conforto ao seu redor. Foi então que seus olhos captaram o movimento sutil no retrato de Walburga, que a observava atentamente da parede, uma expressão incomum de preocupação estampada em suas feições rígidas. Hyacinth sentiu o rosto esquentar brevemente, a vergonha corroendo o seu estômago ao pensar em como chegou em casa mais cedo e teve que ser contida com uma poção calmante por Monstro e colocada para dormir no sofá da biblioteca como um bebê.
— Você finalmente decidiu acordar, querida? — Não havia a usual severidade ou julgamento no tom de voz de Walburga, apenas um olhar cheio de preocupação.
Hyacinth apenas assentiu, a boca seca e o coração ainda apertado. O silêncio que se seguiu era desconfortável, enquanto o crepúsculo se transformava em noite além das janelas. Por um momento, Hyacinth quase desejou que o olhar de Walburga fosse mais crítico, mais familiar. Aquela compaixão implícita a desarmava de uma maneira que ela não queria lidar.
— Você quer me contar o que aconteceu? — Insistiu Walburga.
Hyacinth respirou fundo, sentindo o ar frio da noite que começava a tomar conta do ambiente. Pegou a xícara de chá e levou-a aos lábios, bebendo pequenos goles que aqueciam sua garganta, enquanto reunia os pensamentos sobre o que havia acontecido naquele dia.
— Eles teriam pena de mim, sabia? — Murmurou Hyacinth. — Meus pais, Sirius, Remus... Se pudessem me ver agora... Depois de tudo, de dez anos... Eu ainda estou aqui, fugindo, com medo até da minha própria sombra.
Ela apertou a xícara com força, a cerâmica firme sob seus dedos trêmulos. Fechou os olhos, sentindo as lágrimas ameaçarem outra vez, mas forçou-se a segurar. Não havia mais espaço para fraqueza. Não deveria haver. Não depois de tudo o que ela havia passado, tudo o que havia sobrevivido.
— E por que você diz isso?
— Eu vi Lucius Malfoy hoje... — Hyacinth sussurrou, ainda atordoada. — Eu só conseguia pensar no tempo nas masmorras da Mansão Malfoy, os gritos de Hermione sendo torturada por Bellatrix, os prisioneiros, a confusão depois. A morte de Dobby…
Hyacinth engasgou, a dor arranhando a sua garganta.
Ela fechou os olhos por um momento, respirando fundo, forçando o ar a preencher seus pulmões, e então tomou mais um gole do chá que ainda fumegava.
— Imagino que você não reagiu muito bem. — Walburga comentou, inclinando a cabeça levemente.
— Eu pensei que, depois de todo esse tempo, eu estaria mais forte. Mas estou aqui, ainda correndo com medo, me escondendo, tendo um ataque de pânico apenas porque vi um idiota do meu passado.
— Que infortúnio! E eu aqui achando que você estava tentando não se tornar uma boneca de porcelana. — Walburga exclamou, balançando a cabeça como se estivesse reprovando uma criança travessa.
— O quê? — Hyacinth ergueu os olhos abruptamente e encarou a pintura.
— Você pode ser poderosa e influente, mas ainda é um ser humano, querida. Não foi você que falou que não queria ser apenas mais uma aristocrata? Uma boneca sem reações?
— Sim, mas… — Hyacinth lambeu os lábios, hesitante. — O que isso tem a ver com como me sinto agora?
— Tem tudo a ver! — Walburga respondeu, a voz firme. — Você não pode realmente esperar sofrer 17 anos da sua vida sem algum tipo de reação ao seu trauma.
— Eu não estou traumatizada! — Hyacinth retrucou defensivamente.
— Claro que não. — Walburga concordou facilmente, um brilho irônico nos olhos. — Não é nenhum pecado reagir negativamente a uma situação que, claramente, foi um gatilho para lembranças ruins, querida. O que você sente é válido e a sua dor não diminui nenhum pouco a sua força. E se até eu, uma bruxa criada sob os padrões dos sangue-puros dos anos 40 é capaz de perceber isso, com certeza os seus pais e até o meu filho miserável também teriam percebido.
— Então, o que eu faço? — Hyacinth perguntou, a frustração se misturando com uma leve esperança.
— Bem, eu diria que um bom começo seria tomar um banho. — Walburga sugeriu, um sorriso malicioso surgindo em seus lábios. — Tirar essas vestes de cor horrorosa, limpar essa maquiagem borrada e arrumar esse ninho que você chama de cabelo.
— Não é isso! — Hyacinth se exaltou, recuando um pouco no sofá. — Não estou falando de… de aparência. Eu estou falando dessa merda dentro de mim. Não dá pra simplesmente “tomar um banho” e seguir em frente, porra.
Walburga ergueu uma sobrancelha, mas se absteve de repreender a linguagem grosseira de Hyacinth.
— Você sempre foi bastante hábil em se esconder, não é? A heroína perfeita, inatingível, aquela que carrega o peso do mundo nos ombros como se isso fosse natural. Hyacinth Potter, pronta para salvar todo mundo… mesmo que isso custe a própria vida, mesmo que seja ela quem precisa de ajuda…
— Eu não preciso de ajuda. — Hyacinth interrompeu com firmeza, embora sua voz tremesse nas bordas.
— Claro que não. — Walburga soltou uma risada baixa e sarcástica. — Você está tão acostumada a mentir para si mesma, que nem percebe que ainda continua fazendo isso. Procurando justificativas para o injustificável.
— Eu não estou fazendo nada disso.
— Não? Então, me explique como é que você continua acreditando no que aquele tolo do Dumbledore fez de você. Ele te ensinou muito bem, não foi? Um verdadeiro mártir.
— Não-não, isso não é verdade, ele-ele fez isso, porque eu precisava... Era uma guerra, o meu bem-estar era o menor dos problemas. Não havia outra maneira.
Walburga inclinou a cabeça em consideração fingida.
— Não havia?
— Não foi assim, ele não...
— Ah, sim, claro. Você precisava ser forte para todos. Mas quem estava lá para te ajudar quando você precisava, Hyacinth? Quem ofereceu um ombro para você? Quem te disse que você poderia baixar a guarda, ser vulnerável, pedir socorro? Não Dumbledore, e certamente não os outros. Você nunca teve permissão para ser uma criança normal.
Hyacinth sentiu uma dor apertar seu peito, as palavras de Walburga se infiltrando mais fundo do que ela gostaria de admitir.
— Pobre garota. — Ela murmura. — Tanto sofrimento. Tanta dor. Tudo pelo bem maior. Diga-me, minha querida criança, que bem isso lhe trouxe?
Hyacinth suga uma respiração aguda, suas mãos se fechando em punhos. Suas unhas cravando em suas palmas, os nós dos dedos brancos.
Era óbvio que Dumbledore não planejou a morte dela; ele nunca teve escolha nesse assunto. Ele sabia que o futuro era incerto, que a guerra era cruel e que, apesar de gostar muito de Hyacinth, era ela ou o mundo bruxo. Era completamente irreal e infantil culpar Dumbledore, como se ele fosse o maior problema aqui; não era. Ele era apenas mais um ser humano. Mas por que ele tem o direito de ser “apenas um ser humano”, e você não? Uma voz traiçoeira sussurrou no fundo da sua mente.
Ela sabia disso há muito tempo, mas nunca parou para, de fato, pensar sobre isso, analisar os seus sentimentos pelo seu mentor ou questionar se alguma coisa poderia ter sido diferente. Afinal, os resultados foram satisfatórios, então por que quebrar a cabeça em cima de algo que aconteceu no passado e que não pode ser alterado?
Se Hyacinth tivesse sido fraca, se tivesse se deixado ser humana, com todas as suas falhas e medos, ela poderia ter quebrado muito antes, ela poderia ter cometido um erro ou morrido antes do tempo, e todo o trabalho de Dumbledore e de muitos outros teria sido em vão.
E se agora ela tinha dificuldade em confiar nos outros, se ela ainda sofria com o medo constante de falhar e se ela vivia com a sensação de estar sempre alerta mesmo nas situações mais simples, então o que isso importava? Seus amigos estavam vivos, o mundo bruxo ainda estava de pé, e Voldemort estava finalmente morto.
No grande esquema das coisas, Hyacinth Potter não era nada.
De repente, essa ideia a atingiu como uma marreta.
Durante toda a sua vida, ela foi a Escolhida, o ponto central de uma guerra. Cada decisão, cada sacrifício, cada batalha girava em torno dela. Até mesmo Dumbledore, antes de morrer, pediu que a Ordem confiasse nela. Não nas pessoas que tinham experiência, que viveram a Primeira Guerra Bruxa ou se sacrificaram muito mais, mas nela .
O que restava de Hyacinth, então? Tudo o que ela conhecia era lutar, sobreviver, salvar o mundo. E agora que o mundo estava salvo, quem era ela? Uma mulher quebrada, assombrada pelos monstros do seu passado, alguém sem utilidade.
Era mais fácil pensar que ela não era nada, que não devia satisfação para mais ninguém, que suas escolhas pertenciam apenas a ela, enquanto justificava que mexer com as leis bruxas falava sobre o legado da sua família e não sobre o desejo de continuar salvando as pessoas, de ser novamente a figura de proa de mais uma rebelião, de ser um mártir.
No final das contas, essa era a verdade que ela não queria admitir nem para si mesma. Porque, se o fizesse, ela teria que encarar a possibilidade de que a sua luta não era pelo bem maior, mas pelo medo. O medo de ficar sozinha, de ser esquecida, de ser irrelevante, de finalmente aceitar que, sem um inimigo para combater, sem um mundo para salvar, ela não sabia mais quem era.
Hyacinth encarou a xícara de chá em suas mãos, o líquido agora frio, e sentiu o nó em sua garganta apertar novamente.
Ela não sabia o que dizer.
Mas talvez fosse isso. Talvez ela não precisasse realmente de uma conclusão imediata, como se isso fosse uma maldita ficção e tudo se resolvesse antes mesmo de chegar na metade do livro. Não há respostas definitivas no mundo real. Algumas dores não têm remédio fácil. Algumas cicatrizes permanecem, mesmo que o tempo passe. Não há tempo limite para a dor, e nem mesmo um feitiço ou poção pode resolvê-la em um passe de mágica.
Nem mesmo aquela máxima de “o tempo cura tudo” está completamente correta. Porque mesmo 10 anos depois, Hyacinth ainda tem ataques de pânico. Mesmo 10 anos depois, Hyacinth ainda tem pesadelos. Mesmo 10 anos depois, Hyacinth ainda se sente sozinha. E mesmo 10 anos depois, o som da voz de Lucius Malfoy a transportava de volta ao campo de batalha.
Ela poderia continuar mentindo para si mesma, e acreditar que era culpa de Malfoy, que o ataque de pânico foi uma coincidência, uma reação isolada. Mas no fundo, era apenas a prova de que as suas feridas não cicatrizaram completamente, mesmo quando a guerra terminou. Afinal, o trauma não reconhece tratados de paz. Ele continua vivendo ali, agachado no canto da mente, esperando um gatilho para se manifestar.
E, de certa forma, era um alívio finalmente aceitar isso. Não saber todas as respostas significava que ela não estava quebrada. Talvez fosse só que ela finalmente podia se dar o luxo de ser apenas um ser humano.
Imperfeita, vulnerável, é claro, mas ainda viva .
— Você está certa. — Ela finalmente murmurou, voltando o olhar para Walburga, que a encarava há vários minutos em silêncio. — Você está certa.
— Eu sei que você não quer ouvir isso, querida. Você pode continuar se fantasiando de aristocrata, usando essas vestes impecáveis e indo às essas reuniões da Suprema Corte contando várias mentiras para si mesma: como você quer salvar todos os bruxos, como você quer tornar o mundo melhor para outras pessoas, como somente você pode fazer essas coisas…
Hyacinth abriu a boca para retrucar, mas Walburga ergueu a mão, interrompendo-a.
— Mas, na verdade, você está fazendo isso por você mesma. — Walburga continuou. — É mais fácil continuar correndo, se mantendo ocupada, do que parar e enfrentar o vazio. Você fez isso antes. Depois da guerra, em vez de parar um pouco, você caiu direto no Departamento de Aurores, mas não aguentou muito e, em vez de parar um pouco novamente, você decidiu viajar por anos, estudar… e agora você está aqui…
Hyacinth queria negar, gritar com o retrato na parede, argumentar que era mentira. Ela só queria uma folga, se ver livre dos olhares de admiração do público, fugir das expectativas. Ela disse isso várias vezes para si mesma até acreditar, então por que agora parecia um monte de merda?
— Eu não estou dizendo que isso é errado, Hyacinth. — Walburga cruzou as mãos no colo. — Todos nós temos nossos próprios motivos egoístas, e você, mais do que muitas pessoas, tem direito a ter as suas próprias razões. Você tem direito de ser um pouco egoísta, e se colocar como prioridade antes de todo o mundo bruxo.
— Então, o que você sugere? — Hyacinth finalmente perguntou, sua voz vacilante.
— Você precisa aceitar que precisa de ajuda. Você passou anos vivendo em um estado de alerta constante, esperando pelo próximo golpe, aguardando a próxima tragédia, pronta para se jogar na frente de uma varinha a qualquer momento, se isso fizesse você salvar um amigo ou aliado. E agora, mesmo com a guerra terminada, a sua mente ainda não recebeu a mensagem de que está tudo bem. De que você está segura.
— Você acha que eu deveria desistir da reforma, então? Desistir do Wizengamot?
— É claro que não, criança tola. — Walburga franziu o nariz com desgosto. — Eu vejo o quanto isso significa para você. Sei que você tem boas ideias, e que pode realmente fazer a diferença. E um bom projeto é sempre útil para ajudá-la a se curar. Você só não pode fazer isso se sacrificando, minha querida. Você é tão importante quanto o resto do mundo.
Hyacinth respirou fundo, sentindo os ombros relaxarem visivelmente.
Walburga estava certa, Hyacinth queria usar o seu poder político para mudar as coisas, mas não poderia fazer isso sacrificando a própria pele novamente.
Ela podia fazer corretamente agora, não havia necessidade para se matar de novo. Não havia Lordes das Trevas para enfrentar.
— Obrigada pela ajuda, Walburga! Eu não sabia que você tinha isso em você… realmente me ajudou.
— É um talento, minha querida. — Walburga, o nariz empinado com um ar de orgulho. — Mas agora que ultrapassamos as conversas difíceis, eu devo perguntar… Lucius Malfoy foi, de alguma forma, impróprio com você? Tão rude em um ambiente formal?
— Pelo contrário, ele foi educado demais. — Hyacinth revirou os olhos. — Me deu as boas vindas, se sentou ao meu lado no assento dos neutros, e até teve a audácia de beijar a minha mão. É claro que o idiota pomposo ia aproveitar esse momento para tentar chamar atenção para si mesmo.
— Eu não acho que ele estava tentando fazer isso. — Walburga respondeu, um brilho de intriga iluminando os seus olhos. — Os Malfoy gostam desse jogo de poder, querida. Se Lucius for como Abraxas, então não me surpreenderia que ele estivesse apenas tentando te encantar.
— Pra quê?
— Bem, eu já disse isso a você. Você é poderosa, rica, influente e, se me permite dizer, muito bonita. Ele não será o único a tentar obter algum favor seu… talvez ele seja apenas o mais ousado a tentar fazer isso no dia da sua estreia no Wizengamot.
Hyacinth piscou os olhos, atordoada, tentando separar as lembranças de um Lucius Malfoy que poderia pisar em sua cabeça e cuspir em seu rosto com desprezo deste que agora parecia interessado em conquistá-la e garantir o seu apoio político.
— Isso não faz sentido! — Ela protestou, balançando a cabeça. — Este homem não tem consideração por ninguém que não seja a própria família.
— Ah, mas é aí onde você se engana, querida. Os Malfoy são muito estratégicos quando se trata de política. Eles sabem que para garantir o seu poder, especialmente agora que o nome Malfoy está em decadência, precisam dos aliados certos. E você, minha criança, é a jóia da coroa.
— Mas não faz sentido ele mudar de atitude assim, como se nada tivesse acontecido. — Hyacinth insistiu.
— Claro que faz! O mundo mágico é cheio de hipocrisia e falsas aparências. Você já deveria saber disso, Hyacinth, nós passamos longas horas repassando estas coisas.
— E o que eu devo fazer, então?
— Jogue o jogo dele por enquanto. — Walburga abriu um sorriso feroz. — Até agora a única coisa que você recebeu foram algumas palavras gentis, nenhum pedido foi feito, nenhum favor foi solicitado. Até lá, haja naturalmente.
— Claro. — Hyacinth murmurou sarcasticamente.
Os conselhos de Walburga a fizeram se sentir um pouco mais forte, com mais certeza de que seu coração estava no caminho certo, de que ela poderia pedir ajuda de vez em quando e de que estava tudo bem começar a tomar algumas atitudes para si mesma uma vez na vida. Ela se sentia um pouco mais relaxada, e também menos em pânico com a ideia de que Lucius Malfoy estivesse, de alguma forma, tentando se aproximar dela para tentar matá-la como o seu Mestre tentou tantas vezes. Perceber que, na verdade, ele só queria algum favor político para melhorar a sua imagem na aristocracia bruxa foi bem anticlimático, na verdade.
Mas, pelo menos, ajudou a colocar os nervos de Hyacinth no lugar. Com isso ela conseguiria lidar.
— Lucius Malfoy está viúvo, não é? — Walburga indagou casualmente.
— Sim, desde o fim da guerra. — Hyacinth respondeu distraidamente, ainda absorta em seus pensamentos sobre toda a conversa profunda anterior e as interações com o dito homem durante a sessão no Wizengamot, investigando se houve algum significado oculto nas palavras que foram trocadas, se ela errou algo ou tropeçou em alguma etiqueta absurda. — Draco foi morto durante a guerra e Narcisa se suicidou na Mansão Malfoy depois da condenação deles.
— Ah, sim, eu lembro de ter ouvido a notícia de algum dos retratos! — Walburga murmurou. — Uma verdadeira tragédia, não é?
Hyacinth assentiu, voltando a atenção para a mulher no quadro.
— Por que essa pergunta?
— Nenhum motivo, querida. — Walburga sorriu docemente. — Agora vá! Um banho quente, uma roupa limpa, e então, quem sabe, um jantar e uma bebida antes de dormir? Afinal, você precisa de algo melhor do que chás e poções calmantes!
Hyacinth sorriu completamente alheia, a tensão em seus ombros finalmente começando a se dissipar. Ela colocou a xícara de volta na mesa de centro para que Monstro a levasse de volta à cozinha e se levantou do sofá.
— Obrigada, Walburga. Às vezes, você é realmente muito útil. — Ela brincou, indo em direção à porta.
— Fico lisonjeada! E não se esqueça de dar uma arrumada nesse cabelo, garota. — Walburga advertiu com um tom dramático.
Hyacinth soltou uma gargalhada alta e nada feminina, enquanto saia da biblioteca. A mulher no retrato, por outro lado, abriu um sorriso maníaco com um brilho sonhador no olhar, enquanto imaginava crianças loiras e de olhos verdes correndo pela mansão.
***
Na manhã seguinte, Hyacinth acordou com uma clareza mental inesperada. O desconforto que ela sentiu ao interagir com Lucius Malfoy e toda pressão da conversa do dia anterior ainda pesava em seu estômago, mas agora parecia menos ameaçador.
De qualquer maneira, a única coisa que Hyacinth tinha certeza naquela manhã era que o mundo continuaria a girar, indiferente às suas feridas, e ela não podia mais se dar ao luxo de se esconder atrás delas. Ela se recusaria a agir sob as sombras do passado que, apesar de terem a marcado profundamente, não deveriam controlar tanto o seu presente.
Sentada na borda da cama, ela observou o brilho suave da manhã penetrar pelas cortinas. Por mais tentador que fosse afundar-se novamente no vazio de sua rotina, ela se recusou a ceder ao pânico e ao medo. Afinal, ela tinha sobrevivido à morte duas vezes; sobreviver à vida deveria ser mais simples.
Respirando fundo, ela se levantou e decidiu que se o mundo lá fora continuava a girar, ela precisava voltar a girar com ele. Com esse pensamento em mente, Hyacinth vestiu a sua melhor roupa e decidiu sair de casa.
Naquele dia o Beco Diagonal estava um caos completo. O som de conversas e risos se misturava com o tilintar de moedas e crianças correndo pela rua. Hyacinth caminhou lentamente pela multidão, absorvendo a energia viva do ambiente. Com os pensamentos girando, os seus pés a guiaram automaticamente até a Weasleys' Wizard Wheezes, com as suas vitrines vibrantes e o familiar letreiro agitando-se magicamente, anunciando os novos produtos disponíveis.
Logo que entrou, uma explosão de fumaça verde preencheu o ar, acompanhada por risos e gritos de surpresa. Hyacinth não pôde deixar de sorrir.
— Eu achei que essa loja fosse uma zona desmilitarizada! — Ela gritou ao atravessar a nuvem colorida em direção ao balcão, sacudindo as mãos para dissipar a fumaça que a cercava.
George ergueu os olhos do caixa, um sorriso travesso se estampando imediatamente em seu rosto, enquanto o seu semblante se iluminava ao vê-la.
— Ora, ora, se não é a nossa investidora favorita. — Ele exclamou com um grande sorriso, esticando os braços em um gesto teatral de boas-vindas. — O que te traz aqui? Finalmente veio adquirir as nossas novas figuras de ação com o seu rosto?
— O quê?! — Hyacinth engasgou, virando-se bruscamente em busca de uma boneca com a sua cara. — George, você não fez isso… fez?
George soltou uma gargalhada alta, saboreando cada segundo da confusão dela.
— Não ainda, mas foi uma ótima ideia, não acha? Poderíamos vender milhões! O público adora uma heroína lendária, especialmente uma tão bonita como você. Seria como uma versão bruxa daquela boneca Garbie trouxa.
— Nem pense nisso, George! — Hyacinth retrucou, ainda desconfiada. — Se eu vir uma miniatura de mim mesma em qualquer lugar, eu vou transformar essa loja em uma cratera.
— Tem certeza? Eu poderia fazê-la gritar “Expelliarmus” quando você apertar a mãozinha — George fingiu ponderar, colocando uma mão no queixo.
— George, não! — Hyacinth ameaçou, apontando o dedo para ele.
— Poderiam até ter versões com roupas icônicas suas. — Ele continuou, agora em um tom claramente empolgado. — O vestido do Baile de Inverno, as roupas do Torneio Tribruxo…
— George! — A voz de Hyacinth elevou-se, incrédula, mas ela já estava abrindo um sorriso.
— Quem sabe uma coleção especial com as vestes de Auror? Ah, seria incrível uma edição premium com as clássicas vestes do Wizengamot, agora que você é uma Lady, certo?
— GEORGE!
— Relaxa, Potter! — George piscou para ela, apoiando-se casualmente no balcão, o sorriso malicioso iluminando o seu rosto. — Só estou guardando essa ideia para o dia em que você morrer… de novo, é claro.
— Idiota! — Hyacinth exclamou, dando um soco no ombro de George, fazendo-o gargalhar alto.
Sem perder tempo, ele deu a volta no balcão e, antes que ela pudesse reagir, a envolveu em um abraço de urso, apertando-a com força. Hyacinth soltou um riso abafado, batendo nas costas dele, fingindo que estava sendo esmagada.
— Você vai me matar antes disso, Weasley! — Ela protestou, rindo, mas sem realmente querer se soltar.
— Melhor eu garantir minha miniatura exclusiva antes disso, então! — George brincou, finalmente afrouxando o abraço e piscando. — De qualquer forma, o que te traz aqui? Está precisando de alguma coisa?
— Não exatamente. — Ela respondeu, cruzando os braços e se encostando no balcão. — Eu só queria sair de casa. Achei que você pudesse me ajudar com alguma normalidade.
— Normalidade?! — George engasgou, colocando a mão dramaticamente sobre o coração. — Eu me ressinto disso.
Hyacinth riu, sentindo a tensão que a acompanhava desde o dia anterior se tornar ainda menor e irrelevante em seu peito.
— Tenho a impressão de que você não veio aqui pelo nosso Infalível Removedor de Espinhas em 10 segundos, né?
Ela hesitou, seus braços ainda cruzados, enquanto desviava o olhar por apenas um segundo. George, é claro, notou isso imediatamente.
— Vem, vamos subir pro apartamento. — Ele sugeriu casualmente. — Podemos tomar um chá… ou algo mais forte. Eu tenho aqueles sanduíches pequenos que você tanto gosta. Fred sempre dizia que eles podiam resolver qualquer problema, mas eu sempre achei que ele só queria uma desculpa para comer a sua comida favorita.
Hyacinth sorriu com a menção a Fred, um misto de nostalgia e saudade aquecendo seu peito. Mesmo dez anos depois, a dor de sua perda ainda era palpável, um vazio constante em seu coração que ela sabia que jamais seria preenchido por completo. Ela olhou para George, reconhecendo no irmão gêmeo traços tão familiares de Fred, e por um instante, a sensação de perda e saudade pareceu menos dolorosa.
— Tudo bem. — Ela suspirou.
— Vamos lá, então.
Enquanto subiam as escadas que levavam ao apartamento acima da loja, Hyacinth sentiu o familiar alívio de estar entre amigos, de ter um lugar onde não precisava ser o que todos esperavam. Nada de Garota que Sobreviveu, Derrotadora de Voldemort, Auror ou Lady Black. Aqui, ela podia simplesmente ser Hyacinth.
No apartamento, George abriu a porta com um floreio exagerado.
— Bem-vinda ao meu humilde lar, minha Lady! — Ele disse, enquanto ela entrava.
Hyacinth sentou-se no sofá, exalando um suspiro cansado, enquanto George ia até a cozinha preparar o chá.
— Então... — George começou, lançando um olhar de canto. — Quer me contar o que realmente está acontecendo, ou eu vou ter que deduzir sozinho?
— Ontem foi a minha primeira sessão no Wizengamot e Lucius Malfoy veio falar comigo.
George, que estava prestes a encher as xícaras de chá, parou no meio do movimento. Em vez disso, ele silenciosamente guardou o bule e, sem dizer uma palavra, puxou uma garrafa de firewhisky e dois copos.
— Isso parece mais apropriado. — Ele murmurou, servindo uma dose generosa para ambos e sentando-se ao lado dela. — Lucius Malfoy, hein? O que ele queria?
Hyacinth pegou o copo, girando o líquido âmbar sem beber de imediato.
— Não sei exatamente. — Ela começou, a frustração evidente em sua voz. — Ele foi... educado. Até demais. Me deu boas-vindas, se sentou no assento dos neutros ao meu lado e, por Merlin, até beijou minha mão.
George arqueou as sobrancelhas, surpreso.
— Beijou sua mão? Ele sabe com quem está lidando, certo? — George perguntou, o tom de sua voz carregado de sarcasmo. — Ou ele já esqueceu que você basicamente matou o chefe dele?
Hyacinth soltou uma risada seca, mas logo ficou séria de novo.
— Exatamente. Não faz sentido. Eu não consigo entender o que ele está tentando fazer.
George inclinou-se, seu olhar mais atento agora.
— Hyacinth, isso não é só política, né? Tem algo mais te incomodando. Eu conheço esse tom de voz.
Hyacinth hesitou, tomando um gole do firewhisky antes de responder. O calor da bebida escorreu por sua garganta, queimando por dentro.
— É só que... — Ela disse, a voz um pouco vacilante. — Eu entrei em pânico. Ver Malfoy trouxe tudo de volta, as memórias da guerra, o medo… Eu praticamente saí correndo do Ministério no final da sessão. Monstro teve que me conter com uma poção calmante.
George ficou em silêncio, processando o que ela disse. Ele conhecia bem aquela sensação de ser puxado de volta por lembranças e sabia que tentar enterrar esses sentimentos só os fazia retornar com mais força. Foi assim por um longo tempo depois que Fred morreu, quando George não acreditava que tinha mais nada pelo que viver, quando cada canto da Toca, da loja e do apartamento deles provocava um ataque de pânico nele.
— Você está carregando isso há muito tempo, sabe? Quero dizer... esse peso da guerra, essas lembranças. Não estou falando só de flashbacks, mas dessa sensação de que você precisa ser forte o tempo todo.
Hyacinth abaixou o olhar, os dedos ainda segurando o copo de firewhisky. Ela sentiu um leve formigamento na pele, incomodada por ser um livro tão aberto.
— Eu sempre soube que teria que ser forte, George. Todo mundo me via assim… a garota que sobreviveu. E quando a guerra acabou, parecia que as expectativas só aumentaram. O que ela seria agora? Uma auror? Ela continuaria a perseguir bruxos das trevas? Com quem ela vai se casar? Quantos filhos ela vai ter? De repente havia notícias em todos os jornais, câmeras me perseguindo, crianças nascendo com o meu nome. Foi tudo avassalador, não havia espaço para... para essas fraquezas. — Ela pausou, tomando outro gole, buscando coragem para continuar. — Mas ontem, ver Malfoy… eu me senti fraca. Eu deveria ter enfrentado aquilo com calma, mas entrei em pânico. Como se... eu não tivesse superado nada.
— Eu sei. — Ele disse, sua voz baixa, mas firme. — O que você sentiu não significa que é fraca. Na verdade, a guerra deixou marcas profundas em todos nós. O que você teve... não foi uma falta de força. Foi uma reação a um trauma, que ainda está aí. E, às vezes, ele aparece em momentos inesperados. Você não pode esperar que esteja 100% o tempo todo.
Hyacinth o olhou, nenhum pouco surpresa por ele entender tão bem. — Apenas um pouco chocada que Walburga tenha dito praticamente a mesma coisa. — George conhecia aquela dor de perto, o luto que surgia sem aviso, e ele tinha uma sensibilidade que poucos imaginavam, especialmente quando se tratava da guerra e da perda.
Fred e ela tinham uma história inacabada, algo que sempre pairou entre os dois, mas nunca foi explorado. Eles trocavam olhares, o flerte discreto que nunca saiu das entrelinhas, e até foram juntos ao Baile de Inverno como amigos, mas aquilo foi o mais longe que a relação avançou. Fred deixou Hogwarts cedo, com George ao seu lado, no quinto ano de Hyacinth, e depois veio a guerra. No meio do caos, qualquer sentimento ou desejo foi completamente sufocado.
Fred morreu, e o futuro que eles poderiam ter tido morreu junto com ele.
Hyacinth e George, no entanto, se aproximaram.
Ela o ajudou a processar o luto, e ele esteve lá para ela em alguns dos seus momentos mais sombrios. Mesmo durante as viagens de Hyacinth e o seu desejo de se esconder em Grimmauld Place, eles ainda trocavam cartas. O tempo passou, os amigos começaram a casar, a construir famílias, e enquanto a vida seguia, ambos permaneceram, de alguma forma, parados no mesmo ponto — com um vazio deixado pela guerra, pelo que não aconteceu e pelo que jamais voltaria.
— Eu sei como é sentir que você tem que manter uma fachada... — Ele olhou para o copo em sua mão, o tom um pouco mais suave agora. — Fred era o que mantinha tudo leve, o que fazia as piadas mais absurdas. E, por muito tempo, eu não sabia mais como ser sozinho, eu pensei que precisava continuar isso, tentar substituir a ausência dele, sabe? Mas às vezes, você precisa dar espaço para o que está sentindo. Permitir que o medo, o luto ou a dor venham à tona... isso não te faz fraca, Hyacinth. Isso só significa que você está viva.
— Eu sei que você está tentando me ajudar, George, e... eu agradeço por isso. — Sua voz era baixa, quase insegura, enquanto evitava o olhar dele. — Mas eu já enfrentei tanta coisa sozinha. Eu lutei nessa guerra. Eu... sobrevivi a tudo. Eu não deveria ser capaz de lidar com algumas memórias? Por que parece que, de vez em quando, tudo simplesmente volta como se fosse ontem? Como se... eu ainda estivesse lá ?
George sentiu um aperto no coração ao ouvi-la. Ele conhecia aquele tipo de pensamento, a ideia de que ser forte significava não precisar de ajuda, que superar o passado deveria ser algo automático para quem já suportou tanto.
— Enfrentar tudo isso não te faz imune às cicatrizes. O que você passou… — ele hesitou um momento, pensando na infância dela e na guerra. — Isso deixaria qualquer um marcado. A guerra, os abusos na sua infância... Eu acho que você aprendeu a sobreviver desde muito cedo. Mas sobreviver não é a mesma coisa que viver.
Ela olhou para ele, surpresa pela franqueza e precisão de suas palavras. Não era sempre que alguém tocava tão diretamente nos abusos que ela sofrera na infância com os Dursley, muito menos alguém que compreendesse que aquelas feridas continuavam abertas. Havia uma parte dela que sempre acreditou que tudo o que tinha passado com sua família trouxa, somado aos horrores da guerra, a havia endurecido. Que se ela conseguiu sobreviver a tudo aquilo, era porque era forte o suficiente para aguentar mais. Só que agora, ao ouvir George, ela se perguntou se não estava errada. Se, na verdade, tudo o que a sua tia fez foi torná-la ainda mais quebrável.
— Eu não sei se é isso, George. — Ela balançou a cabeça. — Eu já sobrevivi a tantas coisas. Eu deveria estar acima disso. Deveria ser capaz de lidar com Lucius Malfoy sem... sem sentir que estou sendo puxada de volta para a guerra, para tudo que vivi, e...
— Ei, ninguém espera isso de você, menos ainda eu. — George interrompeu gentilmente, passando um braço sobre os ombros de Hyacinth. — Você não precisa ser essa "Hyacinth Potter invencível" o tempo todo. Você é humana, e passar pelo que você passou... tem cicatrizes que não desaparecem só porque a guerra acabou.
Hyacinth soltou um suspiro frustrado, ainda lutando contra a ideia.
— Eu só sinto que, se eu admitir isso, que estou... quebrada, de algum jeito... — Ela mordeu o lábio, hesitante. — Vai ser como se o que eu lutei para superar até agora não significasse nada. Como se eu estivesse voltando ao ponto de partida, sabe? Porra, já se passaram 10 anos.
— Eu sei disso. É o mesmo com Fred, sabe? Tem dias que parece que está tudo bem, que eu estou seguindo em frente. Mas às vezes, do nada, bate aquela sensação... aquele oco dentro do peito. E eu fico pensando em como seria se as coisas tivessem sido diferentes, se eu tivesse tomado uma decisão diferente. — Ele deu um sorriso triste. — Mas isso não significa que eu não tenha avançado. Ou que o que a gente construiu depois disso não tenha valor.
Ela o encarou, absorvendo o que ele dizia.
— Eu acho que o que estou tentando dizer — George continuou — é que você não está sozinha nisso. Não precisa ser assim. Você não tem que passar por tudo isso sem ajuda, ou sem... falar sobre isso.
Hyacinth passou a mão pelo cabelo, suspirando.
— Eu nunca fui boa em pedir ajuda. Crescendo com os Dursley, sabe… eu, bem… eu aprendi a sobreviver sozinha. Mesmo quando conheci vocês, a primeira vez que realmente tive uma família... eu ainda sentia que tinha que me virar por mim mesma.
George assentiu. Ele sabia o quanto era difícil para ela abrir mão desse controle, admitir que precisava de ajuda para lidar com o trauma da infância, com os horrores que a guerra deixou para trás. Ele sabia, porque, de certo modo, ele também era assim.
— Eu acho que, se Fred estivesse aqui, ele diria que… está tudo bem não estar bem de vez em quando. — George ofereceu, uma leve tristeza no olhar. — E eu também estou dizendo isso.
Hyacinth sorriu, um sorriso pequeno e melancólico, mas genuíno.
— Posso te contar um segredo? — Ela sussurrou, hesitante.
George ergueu uma sobrancelha, curioso.
— Se você vai dizer que está apaixonada por mim, eu vou ter que decepcioná-la e dizer que eu sou gay.
Hyacinth soltou uma gargalhada inesperada, o riso ecoando pelo pequeno apartamento.
— Merlin, George! — Ela disse, secando os olhos. — Claro que não é isso!
— É, bom, eu não gostaria de partir o coração da minha irmã favorita. — Ele piscou, observando-a com carinho. — Agora, qual é o segredo de verdade?
— É que... você é o meu melhor amigo, George. Eu nunca disse isso em voz alta, mas acho que você sempre foi. Desde que... desde que o Fred se foi.
George piscou, surpreso. Seu sorriso suavizando, menos brincalhão e mais carregado de emoção.
— Você também é a minha melhor amiga, Hyacinth. — Ele admitiu, sua voz mais baixa, sincera. — E quanto ao Ron... quando vamos contar que ele perdeu o posto de melhor amigo?
— Não, é melhor deixar ele pensar que tem o título, pelo bem da paz mundial. — Ela brincou, mas sua expressão suavizou. — O que nós temos é diferente, George. Não sei como explicar... mas é como se depois de tudo, você fosse o único que realmente entendesse.
— Eu sei. — Ele murmurou. — Pra ser sincero, acho que eu também não teria superado tudo sem ter você por perto. Mesmo quando tudo ficou uma bagunça, você nunca me deixou sozinho.
Hyacinth estendeu a mão e apertou a dele.
— Obrigada, George.
— Acho que sou eu quem deveria te agradecer. — Ele respondeu suavemente. — Estarei sempre aqui pra você, Hyacinth.
— Eu também estarei. — Ela prometeu.
— Eu sei. — O sorriso travesso voltou ao rosto de George. — E se algum dia você não estiver, eu sempre posso lançar a linha de bonecas Hyacinth Potter em tamanho real.
— Não, George!