If he’s bad, then what’s the worst that could happen to a girl who’s already hurt?

Harry Potter - J. K. Rowling
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If he’s bad, then what’s the worst that could happen to a girl who’s already hurt?
Summary
10 anos depois da Batalha de Hogwarts, Hyacinth Potter ainda está lutando contra a solidão, a depressão e o luto. Ela encontra forças na reforma política da sociedade mágica britânica, enquanto procura um propósito para a sua vida.Curiosamente, é Lucius Malfoy quem oferece o suporte que ela precisa.
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Lady Black

A nova rotina de Hyacinth consistia basicamente em acordar muito cedo, brigar com Monstro para deixá-la fazer o café da manhã, caminhar pelas ruas de pedras da vila trouxa — enquanto ignorava os olhares curiosos e os sussurros dos moradores lamentando a vida da pobre garota órfã, que herdou a casa dos pais e agora vive sozinha —, voar pelo jardim na sua vassoura e passar as tardes na biblioteca, aprendendo, pela primeira vez em anos, a história das suas famílias sob o olhar atento de Walburga.

Foi durante essas conversas que ela começou a entender a profundidade do poder político das famílias Potter e Black, apesar de apenas dois Potter, por mais honrada que a família fosse, terem tido algum assento no Wizengamot ao longo da história, os Black, por outro lado, possuíam um assento hereditário, mantido por gerações.

Hyacinth franziu a testa, tentando processar o que isso significava. Ela conhecia o Wizengamot, é claro, já que ela foi julgada na frente de toda a Suprema Corte aos 14 anos, mas até então a única coisa que ela tinha certeza era de que o Wizengamot era formado por um bando de velhos bruxos em túnicas pomposas, protegendo os interesses dos ricos e poderosos, mais interessados em manter as suas cadeiras douradas do que em buscar a justiça de verdade. Para ela, o tribunal nunca passara de uma extensão da elite trouxa, um teatro antiquado onde os figurões faziam jogo de cena para manter as aparências de imparcialidade — Walburga estalou a língua com desgosto quando Hyacinth expressou essa opinião.

Como ela foi obrigada pela mulher no retrato a sair da ignorância, repousava em seu colo um livro grosso e denso, do tipo que dava sono só de olhar, com todas as informações necessárias para entender o Wizengamot.

Conforme ela lia, as palavras revelavam um sistema muito mais antigo e complexo do que ela imaginava. O Wizengamot, ao que parecia, não era apenas um tribunal de julgamento, mas uma mistura de funções judiciais e legislativas, com raízes em conselhos que remontavam à época dos anglo-saxões. Uma baita confusão de termos jurídicos, na opinião de Hyacinth.

O texto mencionava o Witan, um conselho informal da Inglaterra antiga trouxa, formado por "homens sábios" — líderes militares, bispos e figuras importantes — que aconselhavam o rei em questões de guerras, leis e religião. Eles não tinham o poder formal de criar leis, mas a sua influência moldava o reino. Assim como no Witan, o conselho de bruxos no mundo mágico também havia começado como um grupo consultivo, onde bruxos e bruxas de famílias poderosas ajudavam a determinar o rumo da comunidade mágica, tanto politicamente quanto judicialmente.

Com o passar do tempo, essa estrutura evoluiu e se formalizou, muito semelhante à transformação do Witan no Grande Conselho e, eventualmente, se transformando na Câmara dos Lordes, como aconteceu no mundo trouxa. A Câmara dos Lordes na era medieval tinha funções consultivas e judiciais, auxiliando o rei a governar e tomar decisões, enquanto o Wizengamot desempenhava um papel similar para o Ministro da Magia. Exceto que os trouxas evoluíram em diversos aspectos, enquanto o mundo mágico havia parado no tempo.

Sendo assim, os membros do Wizengamot continuaram sendo escolhidos de forma totalmente não-democrática, mas sim por hereditariedade, como ainda ocorre na família Black e em outras linhagens antigas; ou por nomeação, como ocorreu na família Potter e como ainda acontece em outras famílias menores nos dias atuais.

Hyacinth suspirou ao fechar o livro, sentindo-se igualmente frustrada e resignada. As novas informações não eram nada que ela já não tivesse imaginado; a estrutura de poder bruxa era profundamente enraizada na ideia de nobreza e ainda parecia hesitar em aceitar qualquer mudança que ameaçasse a ordem estabelecida, mesmo após a queda de Voldemort.

Ela percebeu como essa resistência a reformas e novas ideias não era apenas uma característica isolada, mas sim um padrão que se repetia. Os erros do passado se tornavam cada vez mais evidentes, permitindo que as tradições antigas ainda moldassem as decisões no presente e perpetuassem um sistema falido. Estas ditas “tradições” ainda eram tratadas como dogmas inquestionáveis, mantidas sob o pretexto de preservar os “Caminhos Antigos”, como se a antiguidade de uma prática fosse, por si só, garantia de sua virtude.

Era uma lógica igualmente perigosa e familiar.

Afinal, quantos crimes já não foram cometidos ao longo da história com uma justificativa parecida com esta? No mundo trouxa, a escravidão foi defendida como uma tradição, algo natural e necessário para manter a ordem social. O direito de voto foi negado às mulheres sob a justificativa de que sempre fora assim. A segregação racial, a criminalização do amor entre pessoas do mesmo sexo e até mesmo os casamentos arranjados sem o consentimento das partes eram considerados “costumes” que deviam ser preservados.

No mundo bruxo, os “Caminhos Antigos” não eram diferentes. Por séculos, a escravidão dos elfos domésticos foi naturalizada no mundo bruxo, vista não apenas como algo aceitável, mas “honroso” para as próprias vítimas. Qualquer tentativa de questionar essas práticas, era ridicularizada, descartada e considerada progressista demais.

As leis que impediam lobisomens de ter empregos decentes ou acesso pleno à sociedade também eram consideradas necessárias para “proteger os bruxos de bem”. Esse discurso ignorava completamente as condições desumanas às quais essas pessoas eram submetidas, relegando-as à marginalidade enquanto pregava uma falsa superioridade moral.

Até as próprias tradições de casamento entre bruxos eram encharcadas de preconceito. Famílias pressionaram seus filhos a se casarem apenas com outros bruxos de “linhagem adequada”, muitas vezes deserdando aqueles que escolhiam parceiros nascidos-trouxas. Era uma perpetuação disfarçada de “orgulho familiar”, mas que apenas deixava claro que o elitismo e a preservação do status quo, com base na supremacia de sangue, ainda eram valores profundamente enraizados e aceitáveis entre os bruxos que governavam.

Portanto, fazia sentido que um novo Lorde das Trevas surgisse de tempos em tempos, como uma resposta natural a esse ciclo de conservadorismo e elitismo. A sociedade bruxa estava presa em seus preconceitos e medos, e parecia propensa a criar figuras que desafiavam esse sistema corrompido que, ironicamente, o moldara.

Esses Lordes das Trevas não eram meramente monstros; eram produtos de um sistema que se recusava a evoluir, e que muitas vezes ignorava as vozes daqueles que ansiavam por mudança.

Assim, a luta contra essas forças sombrias tornava-se uma batalha não apenas pela sobrevivência, mas pela própria evolução da alta sociedade. 

Foi também durante esses estudos que Hyacinth aprendeu que, mesmo expulso da família por Walburga, Sirius havia permanecido, legalmente, o último Black vivo e, consequentemente, herdara toda a fortuna e os direitos da família, incluindo o assento no Wizengamot. Ao nomeá-la como sua herdeira, ele não lhe deixou apenas cofre abarrotados de galeões e diversas propriedades, mas também a responsabilidade de representar o sobrenome Black no mundo bruxo; enquanto os Potter, apesar de sua fama, riqueza e prestígio, não possuíam um assento para herdar.

Era isso que Walburga queria dizer quando pediu para Hyacinth carregar o sobrenome Black, vender Grimmauld Place e construir um futuro diferente, que ajudasse a transformar o mundo bruxo, mas também reconstruir o legado Black sob uma nova perspectiva.

No entanto, Hyacinth começou a se questionar se realmente fazia sentido assumir essa posição e carregar essa responsabilidade. Por mais que a ideia de reconstruir o mundo mágico fosse bastante atraente, ela não conseguia ignorar a sensação de que estava entrando em uma batalha perdida. Ela sabia que, mesmo com as melhores intenções, o sistema poderia simplesmente sufocar as suas iniciativas, ou pior, corrompê-las.

A ideia de desafiar algo tão profundamente obsoleto e anacrônico a deixava exausta antes mesmo de tentar. Era praticamente mais uma guerra a ser travada — e Hyacinth não sabia se ainda tinha forças para lidar com isso.

Ela se perguntava se realmente valia a pena se comprometer com uma estrutura que parecia destinada a perpetuar desigualdades e favorecer aqueles que já estavam no poder — ela não ficou muito satisfeita quando Walburga apontou que ela também estava no poder, era igualmente privilegiada e estava em uma posição nobre.

Afinal, qual bruxo comum possuia uma mansão para herdar em questão de semanas? Era um tipo de privilégio que tornava as suas críticas ao sistema desconfortavelmente hipócritas. Logo, criticar o sistema estabelecido era fácil, mas o que isso significa para alguém como Hyacinth, que, de alguma forma, fazia parte dele?

Seria infinitamente mais fácil deixar tudo como estava.

Hyacinth poderia simplesmente se retirar para a tranquilidade dos campos de Wiltshire, viver uma vida discreta e segura, longe das intrigas políticas, das frustrações inevitáveis e das lembranças dolorosas da guerra. Ela poderia ignorar as expectativas de Walburga, esquecer o assento no Wizengamot, fugir da mídia e usar a sua herança apenas para garantir uma existência confortável.

Bem, seria mais fácil, mas não seria Hyacinth Potter.

A ideia de cruzar os braços diante de um problema simplesmente não combinava com quem ela era: essa criança que cresceu em um armário sob as escadas, onde a injustiça não era uma ideia abstrata disposta em um livro de história, mas algo real que ela sentia na pele todos os dias. A falta de voz, a invisibilidade forçada, as punições injustas por simplesmente existir — tudo isso moldou quem ela era e como ela enxergava o mundo.

Hyacinth sabia o que era viver à margem, o que era ser ignorada e tratada como menos que nada. Ela sabia o que era ser órfã, ser a criança indesejada escondida em um armário com apenas as aranhas como testemunhas de suas lágrimas silenciosas. Ela sabia o que era suplicar por uma ajuda que nunca veio, o que era engolir o choro e suportar a humilhação diária, porque não havia outra escolha. Não havia saída. Não havia nem um pingo de esperança.

Hyacinth aprendeu, da forma mais dolorosa possível, que a injustiça só prosperava quando aqueles que podiam fazer algo escolhiam o conforto da inércia.

No final das contas, a questão não era se Hyacinth tomaria alguma decisão. Ela já havia decidido. A pergunta era como ela faria isso acontecer.

Para Walburga, aparentemente, tudo começava com um guarda-roupa novo e aulas de etiqueta. Como ela mesma dissera, a aparência era o primeiro passo para se impor em um mundo que valorizava a imagem acima de qualquer coisa.

— Você precisa projetar confiança. — Walburga disse um dia, do topo da lareira, enquanto tomava uma xícara de chá que Hyacinth não fazia ideia de onde veio. — A primeira impressão é tudo, querida, e os bruxos do nosso nível não têm tempo para se preocupar com bobagens abstratas de igualdade ou justiça vindas de alguém que não se veste e age de acordo. Eles querem ver alguém que se encaixe no padrão.

O discurso era tão afetado que Hyacinth não podia deixar de se perguntar até que ponto ela própria acreditava nisso, ou se estava apenas repetindo um discurso que foi imposto a ela ao longo de toda a sua vida.

Era extremamente fútil e superficial, mas, infelizmente, Hyacinth não podia ignorar a lógica de Walburga.

A verdade era que a alta sociedade bruxa tinha os seus próprios códigos sociais, e ignorá-los poderia resultar em marginalização instantânea e em um ostracismo cruel. Aqueles bruxos e bruxas que se viam como "da velha guarda" jamais dariam ouvidos a alguém que não se alinhasse com as suas expectativas.

Era exaustivo, cruel e absolutamente cansativo.

Não era de se surpreender que Sirius odiasse toda essa pressão de ser herdeiro — um fardo que ele deixou sobre os ombros de Hyacinth. O maldito cachorro provavelmente estava gargalhando de onde quer que estivesse.

Ela suspirou, tentando processar a fúria e a frustração que a consumiam. 

Mas, como sempre, a vida não dava escolhas fáceis.

Por outro lado, essa era a oportunidade da vida dela; a chance para exercer a sua influência na sociedade de maneira positiva. O sobrenome Potter, aliado ao prestígio da família Black, oferecia uma plataforma que poucos podiam sonhar em alcançar. E, se bem utilizada, poderia ser a chave para abrir portas que levariam a mudanças reais.

Mudanças que poderiam ajudar a criar um mundo mais justo, no qual crianças órfãs poderiam crescer em um ambiente mais feliz e seguro do que o que ela conheceu; No qual, famílias, como os Weasley, que sempre batalhavam para sobreviver em um sistema que oferecia poucas oportunidades aos menos afortunados, poderia ter o básico sem sofrer para alcançá-lo; E no qual nascidos-trouxas, como a sua amiga Hermione, poderiam se beneficiar de um sistema mais inclusivo desde o primeiro dia em que pisassem no mundo bruxo.

Portanto, se ela conseguisse desviar o foco das aparências e das normas que restringiam a verdadeira essência dos indivíduos, talvez pudesse inspirar outros a fazer o mesmo. Havia uma chama dentro dela, um desejo ardente de transformar a maneira como a sociedade bruxa via poder e influência.

Mas primeiro: roupas formais, isso era o que parecia ser a prioridade.

Hyacinth foi obrigada por Walburga a contratar um alfaiate especializado em cortes de alta costura. Quando o homem chegou à mansão, ela mal teve tempo para respirar fundo antes de se ver cercada por fitas métricas voadoras, que flutuavam ao redor dela, medindo cada centímetro do seu corpo sob o olhar atento, crítico e exigente de uma maldita pintura na parede.

A matriarca Black gritava com o alfaiate a cada cinco minutos, ditando como os cortes deveriam ser feitos, exigindo a escolha dos tecidos e os modelos e cores corretos para cada ocasião.

O alfaiate, visivelmente nervoso e atormentado, balançava os braços em gestos ansiosos. E a cada medida que tomava, ele lançava olhares furtivos para o retrato na parede, como se a mulher pintada estivesse prestes a pular do quadro e estrangulá-lo.

— Isso não está certo! Mais justo na cintura! E por que você não trouxe mais amostras de tecido, seu homenzinho inútil? — Walburga exigia, sem dar descanso ao pobre alfaiate, que tentava se concentrar no seu trabalho, enquanto Hyacinth apenas se concentrava na janela com vista para o jardim e suspirava sonhadoramente para as lembranças daquela manhã, quando ela ainda era apenas uma jovem bruxa voando alegremente na sua vassoura.

Por que ela inventou de entrar no Wizengamot mesmo?

— Isto precisa ser mais elegante! — Walburga exclamou, como se esse fosse o segredo para transformar Hyacinth, que cresceu com trouxas em Surrey, em uma dama da aristocracia que nasceu e cresceu em berço de ouro.

Bem, que não se diga que Hyacinth não enfrentou desafios dignos de Hércules ao tentar moldar o mundo bruxo.

— Está feito, Srta. Potter. — Murmurou o alfaiate, enquanto olhava para Hyacinth com um misto de alívio e exaustão. — Você deverá receber o seu guarda-roupa novo em até 72 horas. Enviarei o recibo de pagamento e a sua encomenda por coruja.

O pobre homem estava tão estressado que mal esperou o agradecimento de Hyacinth, antes de embalar os seus pertences com um aceno trêmulo da varinha e desaparecer no Flu como se o diabo estivesse em seu encalço.

Hyacinth suspirou profundamente, enquanto se jogava na poltrona mais próxima da lareira e puxava a xícara deliciosa de chá que Monstro trouxe para a biblioteca. Finalmente, alguns dias de descanso.

— Sente-se direito, Hyacinth. Está na hora da sua primeira lição de etiqueta.

Ela ficou satisfeita cedo demais.

— Eu pensei que poderia ter um momento de paz aqui, sabe? — Murmurou Hyacinth entredentes, enquanto lutava contra a vontade de jogar o maldito retrato na lareira.

— Ah, querida, como você é ingênua. Não existe paz na alta sociedade. — Walburga respondeu, um brilho de entendimento em seu olhar, como se tivesse lido os pensamentos assassinos de Hyacinth. — Vamos começar com o básico: como se comportar à mesa e a maneira correta de segurar a xícara de chá.

E foi assim que Hyacinth se viu imersa em um mar de regras ridículas e detalhes insignificantes sobre a etiqueta que jamais imaginara que aprenderia.

Por dias a fio, ela foi bombardeada com ensinamentos que pareciam mais feitos para reforçar a separação entre as classes do que para promover alguma verdadeira educação.

Sentar com as costas retas e os ombros relaxados, nunca se acomodar na mesa de jantar antes do anfitrião, pegar o garfo com a mão esquerda e a faca com a direita. Como segurar a alça da xícara de chá com o polegar e o indicador, nunca colocar os dedos dentro da xícara — quem, afinal, faria isso?

Levar a xícara aos lábios suavemente, evitar encher a xícara até a borda, adoçar com moderação, e, claro, jamais fazer barulho ao mexer a colher. Hyacinth se viu pensando, em um momento de sarcasmo interno, se alguém poderia realmente ser expulso de um evento social por mexer a colher mais rápido do que o considerado aceitável.

E, no entanto, Walburga parecia absolutamente convencida de que essas regras de etiqueta eram a chave para a "grandeza" da família Black.

— Não mexa a colher como se estivesse batendo um maldito sino, Hyacinth.

Hyacinth bufou, exasperada, e Walburga lançou-lhe um olhar de advertência.

— Quando estiver à mesa, participe da conversa, mas nunca domine. A ideia é parecer interessada, mas nunca desviar o foco para si mesma.

— Como se isso fosse fácil!

— Isso é fundamental, querida. Ser uma boa anfitriã ou convidada é saber quando falar e quando ouvir. Seja como uma flor que se abre, não como uma erva daninha.

Hyacinth revirou os olhos para a analogia ridícula com flores.

— Outra lição essencial é a conversa. Uma boa dama sabe manter uma conversa leve e interessante. Esteja informada sobre os assuntos atuais, as tendências na alta sociedade e as preferências dos convidados.

— Então, eu preciso ser um Profeta Diário ambulante?

— Não exatamente. Apenas familiarize-se com o básico. Livros, pesquisas, eventos sociais e o que acontece no Ministério da Magia e no Wizengamot são sempre bons pontos de partida.

— Claro. O básico.

— E aprenda a identificar dinâmicas sociais. Observe quem fala com quem e como as pessoas se comportam. Conheça os jogadores no jogo, quem é mais influente e quem é mais reservado. É bem simples.

— Sim, muito simples.

— Exatamente! E quando se tratar de se apresentar a um Lorde, nunca se esqueça do título correto. "Meu Lorde" e depois o seu nome e título. Fora dos eventos formais, você não precisa usar os títulos do Wizengamot.

Walburga estava animada, gesticulando com as mãos.

— E isso é só o começo! O aperto de mão é crucial. Um aperto firme, mas não esmagador. Olhe nos olhos ao cumprimentar alguém, isso estabelece uma conexão.

Hyacinth soltou uma risada. Walburga não achou graça.

— Você ri agora, mas a imagem que projeta é fundamental. As pessoas se lembram do que veem antes de ouvir o que você tem a dizer. — Ela suspirou, olhando-a de forma séria. — Você é uma bruxa mestiça criada por trouxas, sempre ignorou suas responsabilidades. Vai chamar atenção por causa dos nomes que carrega, mas ninguém vai levar você a sério se não se levar a sério.

— Meu valor não é determinado pelos títulos ou pela aparência. Eu tenho ideias e visões que podem mudar essa sociedade!

— Não estou dizendo que não pode, mas para alcançar seus objetivos, precisa acompanhar as suas ambições com a aparência e o comportamento adequados. Se quiser ser levada a sério, precisa ser vista como uma verdadeira Lady Black, e não como uma rebelde descuidada.

— Então, o que você sugere? Que eu abandone quem eu sou?

— Não, Hyacinth! — Walburga exclamou, revirando os olhos impacientemente. — O que eu sugiro é que você encontre um equilíbrio. Use a aparência e o comportamento adequados para ganhar respeito, mas mantenha as suas convicções por dentro. Você pode se destacar, mas somente depois que conseguir se encaixar.

— E se eu não quiser fazer nada disso? E se eu quiser desafiar as expectativas?

— Faça do seu jeito e garanta que você se torne um alvo de zombarias ou desdém. — Walburga respondeu, seu tom firme. — Para fazer mudanças, você precisa da aceitação dos outros primeiro. E pare de mentir para si mesma quando fiz que as aparências não importam.

Lá no fundo, Hyacinth sabia disso.

Ela já sabia que era mais fácil abandonar todas essas lições e viver da própria herança; ou quem sabe arrumar um emprego em qualquer lugar facilmente, já que ela era a Garota que Sobreviveu, e ignorar toda a sociedade.

Mas era realmente isso que ela queria?

Hyacinth, que sempre escolhia o caminho certo, mesmo que fosse o mais difícil, em vez da opção mais fácil?

Que enfrentava pessoas duas vezes maiores do que ela, em tamanho e em poder, apenas para proteger os mais fracos?

Que não se intimidava diante de professores, trolls, dragões, criminosos e o próprio Lorde das Trevas?

Não, se esconder não era uma opção.

Então, ainda que ela tivesse que enfrentar roupas sociais, aulas de etiqueta e uma fila de políticos chatos, era isso que ela iria fazer.

Porque Hyacinth não queria voltar a se esconder em uma sala escura, fugindo das cicatrizes da guerra e fingindo que nada mudou. Porque ela não queria continuar tendo pesadelos diários e chorando na solidão da sua cama grande demais. Porque ela queria ter um propósito, mesmo que fosse para construir um futuro no qual ela existisse apenas para ser a tia e a madrinha legal.

— Tudo bem. Eu vou fazer isso — Ela sussurrou, mas não perdeu o brilho de triunfo nos olhos de Walburga.

Era hora de ser mais do que uma sobrevivente.

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