If he’s bad, then what’s the worst that could happen to a girl who’s already hurt?

Harry Potter - J. K. Rowling
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If he’s bad, then what’s the worst that could happen to a girl who’s already hurt?
Summary
10 anos depois da Batalha de Hogwarts, Hyacinth Potter ainda está lutando contra a solidão, a depressão e o luto. Ela encontra forças na reforma política da sociedade mágica britânica, enquanto procura um propósito para a sua vida.Curiosamente, é Lucius Malfoy quem oferece o suporte que ela precisa.
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Depois da batalha

Hyacinth Potter ainda evitou pensar na guerra, nas batalhas que havia sido obrigada a lutar e, principalmente, nas pessoas que ela perdeu — Sirius caindo através do véu, os corpos de Remus e Tonks deitados juntos no Grande Salão em Hogwarts, o rosto moribundo de Fred no chão, o corpo mutilado de Lavender largado em um corredor, Dumbledore caindo no alto da Torre de Astronomia, os olhos de Cedrico no morto, Snape envenenado, morrendo lentamente em seus braços. Essas imagens costumavam assombrar seus sonhos durante os últimos dez anos, mesmo quando ela tentava seguir em frente.

Por isso, no início, ela escolheu ser um Auror. Era o que esperavam dela e também havia algo reconfortante em seguir os passos de James Potter, de encontrar um vínculo com o homem que ela nunca teve a chance de conhecer.

Além disso, parecia a coisa certa a fazer — continuar lutando, honrar o legado de seus pais, ajudando a reconstruir o mundo mágico.

Hyacinth se jogou de cabeça nisso. As missões, a adrenalina de capturar criminosos, a sensação de estar fazendo algo importante… tudo isso a fazia acreditar que estava no caminho certo. Ela era filha de seu pai, jovem e destemida, lutando pelo bem maior.

Mas não havia glória em uma vida como essa. As cicatrizes da guerra ainda eram muito frescas, a linha entre o dever e o trauma se tornou ainda mais tênue. Cada vez que ela lançava um feitiço ou empunhava a varinha, os flashbacks surgiam, trazendo de volta as lembranças dos corpos caídos, dos rostos torturados, dos gritos nos corredores.

Hyacinth tentou — ah, ela tentou tanto!

Ela tentou ignorar as imagens que se projetavam em sua mente, abafar os sussurros dos mortos nos seus ouvidos, silenciar as risadas do monstro que arruinou sua vida. Mas não importava o quanto ela se esforçasse, essas memórias sempre estariam lá, enraizadas na sua alma, ecoando na sua mente, lembrando-a do preço que ela havia pago com a própria morte e do vazio que restou.

Hyacinth se aposentou cedo demais.

E, por um tempo, ela se ocupou com viagens ocasionais para lugares que ela nunca sonhou pisar, mas que costumava ver na televisão da tia Petúnia, espiando através das frestas de seu armário sob a escada — descansar às margens do rio Sena em Paris, se perder nos labirintos das ruas de Tóquio, se apaixonar pela energia vibrante de Nova Iorque, caminhar entre as pirâmides do Egito, navegar pelos canais de Veneza, bronzear suas costas nas praias paradisíacas do Brasil. À princípio tudo isso era uma fuga, uma tentativa desesperada de esquecer a guerra, de fingir que o tempo havia congelado antes de tudo desmoronar.

Era mais fácil lidar com as perdas, quando ela podia viver enganando a si própria, fingindo que Sirius ainda estava em Grimmauld Place, com o seu sorriso rebelde e as suas histórias da época dos marotos, que Remus e Tonks estavam criando Teddy juntos, felizes, que Fred estava na loja ao lado de George, vendendo os seus produtos de piadas e fazendo pegadinhas, como sempre, que Lavender conseguiu o que sempre quis, um amor arrebatador igual aos romances que ela costumava ler todas as noites no dormitório, que Dumbledore ainda era diretor de Hogwarts, com suas vestes extravagantes e personalidade excêntrica, e que Snape ainda era apenas um professor rabugento de poções.

Essas fantasias, embora frágeis, eram o único intervalo que ela tinha de uma realidade que continuava lhe tirando o sono, enchendo as suas noites de pesadelos e abrindo ainda mais o buraco no seu peito.

E se Hyacinth fosse sincera consigo a mesma — e, finalmente, ela vinha tentando ser —, presumia que nada realmente havia mudado. Claro, os cicatrizes da batalha não marcaram mais as ruas do Beco Diagonal ou de Hogsmeade, os corredores de Hogwarts foram reconstruídos, e agora existiam uma geração de bruxos que não conheciam as trevas profundas que uma vez dominaram o mundo mágico.

Mas Hyacinth? Bem, ela ainda se sentiu apenas um eco do passado.

O nome dela ainda era murmurado nas esquinas, sempre com louvor, sempre a Garota que Sobreviveu. E essa fama que a acompanhava, a mesma que um dia ela descobriu que acabaria com a queda de Voldemort, a mantinha presa.

Nunca consegui ver além do seu sobrenome, além da cicatriz no seu testamento. Não importava onde fosse, o olhar de admiração — ou de pena — sempre a seguir.

E Hyacinth Potter ficou sozinho.

Claro, ainda havia Ron e Hermione. Luna e Rolf. Neville e Hannah. Bill e Fleur. Jorge. Charlie. Gina e Dean. Molly e Arthur. Andrômeda e Teddy. Até mesmo Percy e Penélope.

Mas a vida dos amigos avançava rapidamente, cheia de responsabilidades. Cada um deles construindo sua própria família e carreira, enquanto ela permanece parada no tempo, uma espectadora solitária em um mundo que parecia seguir em frente sem ela. Ela amava todos eles, mas cada encontro era apenas uma lembrança dolorosa de tudo que lhe faltava.

Enquanto os amigos aproveitavam a vida, Hyacinth voltava para uma casa escura e vazia todos os dias e passava as noites apenas na companhia de um retrato barulhento, que havia se tornado um pouco depressivo com o passar dos anos, e um elfo louco, que havia se tornado obcecado por ela depois da destruição do medalhão de Regulus. Não havia ninguém para dividir risos e lágrimas, para construir memórias ou para enfrentar a vida juntos. Não havia risadas infantis ecoando pelos corredores, nem passos pequenos correndo para cumprimentá-la ao voltar para casa ou o cheiro doce de um bebê acordando pela manhã.

Hyacinth se pegava imaginando todas as noites, no silêncio de uma sala iluminada apenas pelo fogo da lareira, como seria uma casa feliz. Uma casa sem uma tia aos gritos pela manhã, sem a obrigação de cozinhar para os outros e nunca para si mesma, sem a sensação opressora de uma guerra com o medo constante pairando no ar.

Uma casa onde ela poderia ter um jardim cheio de lírios, orquídeas e tulipas, com cheiro de bolo assando no forno e uma mesa farta com comida quente e guloseimas cheirosas. Uma casa com quadros felizes enfeitando as paredes, grandes janelas com vista para o jardim e cortinas balançando ao vento. Uma casa que poderia ecoar o som de risadas infantis, de música, da brisa suave e do amor profundo compartilhado entre duas pessoas.

No entanto, só havia ela — uma estranha em meio à alegria dos seus amigos, observando de longe, solitária, consumida pela inveja, pelo anseio profundo e por um sentimento de inadequação.

Hyacinth se sentia oca.

Foi numa dessas noites que Walburga Black decidiu abrir a boca, depois de semanas em silêncio — o que era uma novidade.

— Você precisa ir embora. — O retrato murmurou do canto da sala.

— O quê? — Hyacinth se assustou, quase derrubando a taça de vinho que segurava, seus olhos se arregalando enquanto encarava o retrato.

— Esse lugar não é mais seu lar. — Walburga suspirou. — Ouso dizer que nunca foi realmente.

Hyacinth realmente não tinha como discutir isso.

— Eu nunca me arrependi de nada na minha vida, criança. — Walburga obrigou-se a articular cada palavra, quase como se estivesse engasgada com algo que ela nunca teria dito em outra época. — Mas veja o que sobrou da Nobre e Mais Antiga Casa dos Black… Um retrato velho, um elfo maluco e uma casa aos pedaços.

— Eu não sei se estou entendendo, Sra. Black.

— Você não precisa entender agora. — A voz de Walburga era firme, mas havia uma suavidade em seu olhar que Hyacinth nunca achou que a mulher fosse capaz de ter. — Não sobrou mais nada…

Walburga continuou, os lábios trêmulos, enquanto ela olhava para Hyacinth com um ar contemplativo.

— Olhe ao seu redor. — Walburga gesticulou vagamente para a sala escura. — Este lugar já não é o mesmo que antes. O sobrenome Black já não é mais o mesmo que antes. Tudo isso se foi… Levado pela minha arrogância... Eu tinha certeza de que o nosso sobrenome era mais forte do que tudo. Os Black eram capazes de controlar o destino. O nosso nome era capaz de nos proteger. Mas o que resta dele hoje? Uma herança caída, ao que parece. Um legado manchado. Nomes destruídos na tapeçaria da família.

Hyacinth franziu a testa, tentando absorver o monólogo de Walburga, enquanto a mulher no retrato continuava a divagar.

— Eu nunca me arrependi de nada. — Walburga repetiu. — Mas eu me arrependo de não ter lutado mais pela minha família. De ter permitido que essa tragédia manchasse o nosso legado de centenas de anos.

A matriarca Black a observou com uma intensidade que fez Hyacinth se contorcer no sofá como uma criança pequena.

— Eu não posso permitir, na minha frívola ignorância, que o mesmo aconteça com você.

— O que vai acontecer comigo, Sra. Black?

— Todos se foram, Hyacinth. Até mesmo Narcisa e Draco, os únicos que eu sempre considerei dignos do nosso sangue. — Walburga suspirou, seus olhos tristes refletindo uma dor antiga. — Andrômeda está velha. Você é a única que resta para carregar o sobrenome Black.

— Eu-eu ainda não sei se entendi.

— Embora você ainda seja uma garota mestiça… — Walburga murmurou, o nariz franzido em desgosto, porque, é claro, a mulher nunca poderia perder a oportunidade de criticar alguém. — Você é a única esperança para essa família.

— O que você quer que eu faça, Sra. Black?

Walburga sorriu, um gesto que aquele retrato parecia nunca ter feito em mais de duas décadas. E, francamente, era até um pouco assustador.

— Está na hora de sair dessa casa. — Ela continuou. — Você, Hyacinth Potter, é a última e única esperança para as famílias Potter e Black.

Houve um pequeno momento de silêncio.

— E eu também não gostaria que meu retrato virasse comida para as traças desse mausoléu, muito obrigada.

Hyacinth soltou uma risada surpresa e nervosa. Mas ela entendeu.

Algumas semanas depois, ela vendeu Grimmauld Place e mudou-se para a sua nova casa. Aquela conversa, por mais inusitada (e um pouco insultuosa) que fosse, acendeu uma centelha de esperança em seu peito.

O novo lugar era uma pequena mansão da família Potter, localizada nos campos de Wiltshire, com uma fachada de pedra escura, coberta de trepadeiras floridas que se entrelaçavam nas paredes com um charme antigo e bucólico, que era surpreendentemente acolhedor. Hyacinth ficou feliz em saber que a casa, na verdade, foi um presente para Dorea Black, de seu marido Charlus Potter, enquanto ainda eram noivos. Ela ficou satisfeita em saber que possuía um gosto muito parecido com o da sua tia-avó.

Olhando para a mansão, Hyacinth percebeu que cada detalhe parecia ter saído de seus sonhos. As janelas eram grandes, emolduradas por cortinas de linho branco e com uma grande largura que deixava a luz do sol iluminar toda a casa.

Ao redor da mansão, os vastos campos se estendem até onde a vista poderia alcançar, pontuados por flores silvestres, campos verdesjantes, colinas ondulantes e uma antiga trouxa. Em algum lugar próximo, Hyacinth também pôde ouvir o som de um riacho, o único barulho da redondeza.

O jardim da frente era um espetáculo à parte, repleto de tulipas e rosas. Na parte de trás da mansão, uma varanda de madeira destaca-se com uma vista deslumbrante do pôr do sol.

E se Hyacinth já estava encantada somente com a vista externa, dentro da casa ela quase chorou.

Ela foi recebida por teto alto e adornado em gesso, piso de madeira antiga, paredes com tons de branco, que refletiam a luz natural que entrava pelas grandes janelas. Uma sala confortável com lareira imponente, que Hyacinth já tinha certeza de que poderia passar horas do seu dia sem se cansar; quartos espaçosos, cada um dos cinco com uma vista de tirar o fôlego para os vastos campos ao redor; e um escritório que, por sua vez, tinha uma parede lotada de fotos das suas viagens.

Na biblioteca, seu coração se encheu de alegria. As estantes iam do teto ao chão, repletas de livros que ela havia transferido da Biblioteca Black antes de vender a casa, junto com os tomos que ela mesma colecionou ao longo dos anos e objetos trazidos de suas viagens. No alto da parede, sobre a lareira, ela fez questão de adicionar o retrato de Walburga Black, que, pela primeira vez na vida, ficou silenciosamente satisfeito com as decisões de Hyacinth.

Ela passou alguns dias contemplando cada canto da Mansão, colocando fotos e objetos pessoais nas prateleiras, adicionando o seu toque pessoal ao novo lar e absorvendo aquela felicidade sem medida. Hyacinth preparou um jantar para seus amigos no domingo seguinte, apresentando uma nova casa com quem amava e, naquela noite, logo antes de dormir, ela fez algo que não fazia desde que era muito pequena. Desde que era apenas uma criança, presa em um armário sob as escadas, torcendo para que alguém viesse resgatá-la.

Ela fez uma oração.

Hyacinth desejou que se existissem deuses, que eles abençoassem suas decisões e soprassem um pouco de felicidade no seu futuro. Que, se alguém em algum lugar, esteja ouvindo seus lamentos, que abençoasse sua vida.

Só um pouco. Só o suficiente.

Ela, na verdade, não queria mais nada.

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