the crashes are heaven for a sinner like me

Marvel Cinematic Universe The Falcon and the Winter Soldier (TV)
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the crashes are heaven for a sinner like me
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Summary
Yelena sempre soube que Sharon não era boa.
Note
mente vazia oficina das belcarterelas são simplesmente um dos meus shipps favoritos pelo simples fato de que elas se encaixariam muito uma com a outrae eu definitivamente preciso da yelena interagindo com o cap squad, e se a marvel não vai me dar isso eu mesma escrevo o título é de "Never Let Me Go" de Florence + The Machine

Desde que a conheceu, em uma missão com os rapazes, Yelena soube que Sharon não era boa.

 

Quando você passa tantos anos no submundo, sabe reconhecer seus semelhantes. Então era natural que ela sentisse certa proximidade com a agente Carter.

 

Afinal, Yelena também não era boa. Embora estivesse tentando fazer a coisa certa.

 

Bondade é uma coisa relativa, e ela não achava que fazer a “coisa certa” necessariamente fazia dela uma boa pessoa. Uma boa pessoa não tinha tanto sangue nas mãos. Uma boa pessoa não tirava outras vidas à sangue frio. E uma boa pessoa certamente não estava disposta a fazer o que fosse preciso, independente de ser algo correto ou não, ou das consequências disso.

 

Por mais que ela fosse leal a eles e à sua causa, Yelena não era boa como Sam ou Joaquín, que competiam com o brilho e o calor do sol. E mesmo que ela e Bucky fossem de certa forma iguais, ela também não era como ele. Bucky parou de matar quando foi liberto, Bucky jamais mataria alguém por algo que não fosse necessário. Tudo o que ele queria era paz. Bucky era uma boa pessoa, Yelena não era. Ela já não ansiava mais por uma vida pacífica, fez do caos a sua casa e aceitou sua sina como uma pessoa ruim. Não, não ruim, apenas não boa.

 

Ruim nem sempre é o exato oposto de bom.

 

Ela não sabia dizer se Sharon era ruim, mas sabia que ela não era boa, conseguia ver através do sorriso engessado que ela sempre exibia.

 

É mais confortável ficar perto de alguém que é como você. Quando você está em torno de pessoas boas, precisa ao menos parecer boa. Com Sharon ela não precisava. Não quando estavam sozinhas.

 

Porque assim como Yelena sabia que Sharon não era boa, Sharon também sabia que Yelena não era boa.

 

Um filósofo uma vez disse que o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Quando aprendeu isso no ensino médio, talvez Sharon não concordasse tanto quanto agora. Ela achava que já havia sido boa um dia, embora parecesse ter sido em outra vida. E já não sabia dizer se foi arruinada ou se arruinou a si mesma.

 

Ou talvez todo ser humano já nasça com um quinhão de maldade dentro do coração.

 

A bondade nela morreu no dia em que o mundo lhe deu as costas, no momento em que ela se viu sozinha em Madripoor enquanto as pessoas sequer se lembravam de procurar por Sharon Carter. Aquela boa pessoa foi embora levando asas e um escudo no porta-malas.

 

A boa Sharon Carter estava morta e enterrada em um cemitério em Londres, ao lado de sua tia Peggy. Quem renasceu das cinzas e do rancor foi o Mercador do Poder, com sede de vingança e de controle.

 

Ela já não estava mais em posição de se arrepender de seus atos. Não havia como voltar, e ela nem queria. Ela conhecia pessoas boas, pessoas genuinamente boas, para saber que não era uma. E uma vez que você deixa de ser boa, jamais torna a ser.

 

Mas embora não fosse boa, de alguma forma sempre haviam pessoas boas ao seu redor, e no meio disso havia Yelena Belova, que também não era boa, mas era melhor do que ela.

 

Ela não sabia qual era a extensão do conhecimento da nova Viúva Negra sobre ela, mas tinha certeza de que alguma coisa ela sabia.

 

Porque a boa Yelena que existia na frente de Sam, Bucky e Torres, não existia na frente de Sharon.

 

Porque ambas sabiam que nenhuma delas era boa. Pessoas boas podem ser meio ingênuas quanto a isso, mas aqueles que não são bons sempre encontram um ao outro.

 

Elas se davam relativamente bem considerando seus termos. Não era de fato muito diferente de interagir com os outros, elas comiam besteira, bebiam, jogavam conversa fora. Exceto que era real, que não havia nenhuma máscara cobrindo suas verdadeiras faces. Quando estavam somente elas duas, não existiam garotas boas ou garotas más. Existiam apenas Sharon, Yelena, e olhares ternos que não passavam despercebidos.

 

Não parecia algo como amor, e Sharon dava graças por isso. Ela fechou completamente seu coração há muito tempo. Yelena também parecia indiferente ao assunto, o que era irônico considerando aqueles com quem ela convivia — Sam e Bucky eram provavelmente a epítome do amor romântico, embora fossem alheios demais para perceber isso —. Mas ainda assim, ninguém nunca havia olhado para Sharon como Yelena olhava. E isso não era uma coisa ruim.

 

É muito fácil querer alguém quando você pode ser verdadeira com essa pessoa.

 

Natasha não conseguiu ensiná-la a ser boa, mas se teve uma coisa que Yelena aprendeu com sua irmã, foi a correr atrás daquilo que queria. E ela queria Sharon. Talvez não quisesse subir no altar com ela, ou subir nela, mas ainda a queria.

 

Então de alguma forma elas pararam daquele jeito, escondidas em um barco em Delacroix no meio do aniversário de cento e sei lá quantos anos de Bucky. Apenas desfrutando de seu limbo temporário entre bem e mal. Trocando beijos com gosto de cerveja barata e recomeço distorcido.

 

Depois de tantos anos com noites de prazer momentâneo para manter a cama quente, foi quase automática a forma como as mãos de Sharon deslizaram sob a saia do vestido azul de Yelena, sem parar de avançar. Não até que ela segurou suas mãos e as realocou de forma casta na cintura dela. 

 

— Não — ela disse apenas.

 

— Não? — as sobrancellhas de Sharon se arquearam, na tentativa de não parecer perplexa.

 

— Sharon, eu não estou interessada em sexo — ela disse a sentença com o mesmo tom que usaria para anunciar a previsão do tempo.

 

— Temos uma romântica entre nós, então? — seu tom era mais ameno, quase zombeteiro.

 

Yelena explodiu numa gargalhada gostosa.

 

— Definitivamente não — ela recuperou o fôlego — Eu realmente preciso estar com tesão ou perdidamente apaixonada por você pra apreciar a sua companhia?

 

Sharon travou por quase um minuto inteiro. Então ela não falava sobre uma paixão que destrói sua vida inteira, nem sobre um jogo de usar e ser usado, mas sobre apreciá-la?

 

— Bem, normalmente não se beija suas amigas — desconversou, mas ainda sem tirar suas mãos da cintura dela.

 

— Eu não disse que isso era sobre amizade — os olhos verdes dela não vacilaram um segundo — Não precisa ser uma coisa ou outra, é… é um tipo diferente de conexão.

 

Conexão. Palavra poderosa.

 

Ela não conseguia se lembrar muito bem da última vez em que havia realmente se conectado com alguém, alguém que não esperasse nada dela, alguém que a visse como realmente é.

 

Em tantos anos, não foi até que Yelena lhe estendeu a mão oferecendo uma conexão que ela percebeu.

 

Sharon esteve solitária esse tempo todo.

 

Sem amigos, sem família, sem um lar para chamar de seu.

 

Por conta própria, decidindo matar ao invés de morrer. Se corrompendo até o ponto irreversível.

 

Ela não queria um amor para arruinar sua vida como o último, nem apenas mais uma pessoa para esquentar sua cama e distraí-la da apatia. Ela não sabia se era algo que ela ainda conseguia de fato. Mas Yelena não esperava um grande amor, e não dava a mínima para aquilo que suas mãos e sua boca conseguiam fazer entre quatro paredes. Ela simplesmente a queria.

 

E aquela mulher conseguia derrubar e manter suas muralhas ao mesmo tempo.

 

Porque Sharon também queria Yelena.

 

— Isso soa muito bom, na verdade — foi a afirmação que escolheu.

 

— Muito bom mesmo — Yelena sorriu, a distância entre elas diminuindo, seus cílios tocando a face de Sharon num beijo de borboleta.

 

Aos poucos, as mãos dela deixaram sua cintura, para entrelaçar os dedos aos seus.

 

— Eu ainda posso beijar você? — Sharon perguntou, mas com um sorriso conhecedor nos lábios.

 

— Claro que pode — deu de ombros — Beijos são ótimos, gosto de beijos.

 

— Eu vou brindar a isso — ela ergueu a cerveja.

 

O tilintar das garrafas se mesclou ao riso.

 

Não era nenhum final feliz de conto de fadas. Isso era para pessoas boas, nenhuma delas era boa.

 

Também não era um amor que incendeia o mundo. Isso também não era para elas.

 

Mas era bom o bastante.