
— Wednesday! — Quase caí da minha cama quando ouvi o grito de Enid, que por pouco não me deixou surda.
— O que foi? — resmunguei com extrema infelicidade; afinal de contas, estava tendo um sonho — e diga-se de passagem, muito bom se me perguntassem — com o Jared Leto da era do single The Kill.
— Ontem você colocou suas roupas pretas para lavar com as minhas? — Ela parou em frente a mim com as sobrancelhas franzidas e braços cruzados.
— Ah... — De fato, era verdade. Tinha voltado supertarde do meu treino de esgrima no dia anterior e, por estar muito cansada, nem sequer me atentei à divisão dos vestuários.
— Todas as minhas roupas estão pretas! Pretas! — ela exclamava, impaciente.
Minha companheira de quarto, para corroborar o acontecimento, jogou as suas peças recém-escurecidas em minha cama e, realmente, se antes tudo o que eu veria seriam tom coloridos, atualmente, avistava um copiar e colar do meu guarda-roupa.
— Você fez de propósito, não é? — Enid apontou o dedo para mim, acusando-me.
— Eu juro que não! — Desde que a conheci, havia brincado que nunca a tinha visto vestindo preto, e que seria meu sonho de consumo vê-la com uma peça de roupa menos colorida.
Ela tentou me dar o tratamento silencioso, o que até entendia, pois se acontecesse o mesmo comigo, um sentimento de raiva mordaz me invadiria e mal seria capaz de contê-lo. Porém, como a extrovertida que era, diferente de mim, uma hora depois já estava sorrindo como se nada tivesse ocorrido.
— Wes, está bom? — minha amiga me perguntou súper sem graça.
Mesmo tendo inclinado a cabeça para conseguir vê-la melhor, já que havia parado no limiar da porta, ainda não obtive sucesso.
— Ed, eu não consigo te ver. Venha para cá.
Ela deu um suspiro antes de fazer o que pedi.
Todas as peças de sua vestimenta, assim como a gravata e até a tiara, eram pretas. A única coisa colorida que usava era a sua bota vermelha.
— Ai, meu Deus… Eu sabia! Estou horrível! — Ela fez beicinho, pois, por ter ficado chocada, não consegui dizer uma única palavra.
Após tê-la conhecido, sempre esperava vê-la vestindo roupas com todo tipo de cores claras, sendo assim, era muito impactante avistá-la somente de preto, ainda que calçasse algo rubro.
Dava um ar mais pesado a Enid, que não combinava em nada com a sua personalidade.
— Você só precisa se acostumar. Vamos, estamos quase atrasadas — finalmente me manifestei e, para que não continuasse pensando demais em suas roupas, logo a arrastei para fora do quarto, rumo à nossa próxima aula.
Sempre que olhava para Enid, ela prosseguia mantendo aquele sorriso de dentes alinhados, entretanto, era só observá-la mais atentamente que conseguia sentir todo o seu desconforto, TEMPprincipalmente quando algum conhecido ficava surpreso ante sua escolha de guarda-roupa.
No final do dia, encontrei-a na biblioteca, e ao perguntar o que ela estava fazendo lá, respondeu-me que tinha ido pegar um livro — o qual, por sinal, era o mesmo que atualmente se encontrava na cabeceira de sua cama. Percebi claramente que era uma desculpa muito mal dada para não ser obrigada a escutar mais alguém falando de suas roupas pretas ao se deparar com ela andando pela Nunca Mais.
Ainda que não houvesse sido intencional, eu quem tinha feito aquela merda, então o mínimo seria fazer algo para deixá-la feliz novamente.
(...)
— Wes, você pediu alguma coisa pelo correio? — Enid me perguntou quando o carteiro solicitou que ela assinasse o papel.
— Na verdade, são para você — comentei enquanto pegava com o entregador várias caixas e as colocava em cima de cama dela. — Pode olhar — complementei por fim, apontando em direção às encomendas.
— Para mim? Por quê? Não é meu aniversário. — A Sinclair me olhava confusa ao começar a abrir os objetos embalados.
— Porque eu gosto de te ver feliz.
Ao se deparar com o conteúdo das caixas, ela deu um grito superempolgado quando viu várias peças de roupas coloridas.
— Ed, eu sei que antes você me perguntou se havia sido de propósito que as deixei pretas, mas juro que não foi. E sabe de uma coisa? Li em algum lugar que se a pessoa que você ama usa a sua cor favorita, ela automaticamente fica mais bonita. No entanto, quando você usou roupas pretas, essa teoria caiu por terra, já que não estava feliz, e então não gostei disso. Dessa forma, descobri a minha cor da atração? E sabe qual é?
Ela me encarou com hesitação, incerta do que responder.
— Você — eu disse finalmente. — Você fica linda vestindo as cores que te deixam feliz, não as que eu gosto.
— Você também fica linda de preto. — Ela deu um beijo em minha testa e me abraçou em agradecimento.
Às vezes, você não precisa de uma causa concreta para amar ainda mais a pessoa que ama, pois ao vê-la agindo como ela mesma, já é o suficiente.