A primeira e última noite

Arcane: League of Legends (Cartoon 2021)
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A primeira e última noite

Chapter 1

Um sorriso puxava um pouco mais o canto dos lábios quando a moça percebe ganhar mais uma rodada de um jogo de cartas, já deveria ser a quinta rodada aquela noite, os homens simplesmente não desistiam em tentar derrotar Sevika.

"Que droga!" Vociferou o adversário de Sevika, um homem humanoide com traços de alguma criatura marinha que poderia ser encontrada nas profundezas do oceano ou em relatos de marinheiros traumatizados. Ele bufou irritado, empurrando o dinheiro da aposta em direção á Sevika, se levantou se sentindo humilhado e foi afogar suas mágoas na bebida do bar.

A jovem de cabelos pretos e longos recolhe o que havia conseguido naquela noite. Obviamente, essa não era a vida que Sevika havia imaginado para si alguns anos atrás, mas muitas coisas haviam mudado desde a morte do seu pai. Zaun se encontrava mais abandonada do que nunca, os porcos fardados de Piltover sufocavam mais e mais a subferia, seguindo ordens como se fossem cãezinhos de caça.

Sevika suspira e já se prepara para sair, quando uma mão de unhas vermelhas joga algumas moedas de prata na mesa de madeira manchada pela bebida. Ela ergue seus olhos acinzentados e levanta uma das sobrancelhas ao ver a moça.

"Será que você tem energia para mais uma rodada? Se você vencer, pode ficar com as moedas e eu te pago uma bebida!" Falou a moça de olhos pequenos e puxados, com um sorriso que formava pequenas covinhas em suas bochechas gordinhas.

Sevika ficou em silêncio por alguns segundos, ela pensou consigo mesma que aquela moça parecia um coelho branco por causa da sua pele pálida e cabelos e cílios de um tom loiro esbranquiçado, e seus olhos eram vermelhos. Ela nunca havia à visto por Zaun, ficou um pouco apreensiva, poderia ser algum espião de Piltover.

 

Mas, por fim, Sevika assentiu e indicou para que ela se sentasse na sua frente. A moça albina sorriu como se tivesse ficado aliviada por receber aquela permissão, se sentou e observou Sevika organizando as cartas.

"Aliás, meu nome é Mei-Yue, mas pode me chamar só de Mei, ou Yue, ou Mei-Mei!"

 

"Meu nome é Sevika. Só Sevika." Respondeu a jovem morena enquanto pegava suas cartas, até mesmo havia feito questão de separar as de Yue. Sevika não entendia o porquê de tanto entusiasmo vindo da garota, mas ela achou de certa forma... Adorável ter uma adversária tão energética.

"Muito bem, vamos começar."





Sevika ria meio bêbada ao ver a frustração no rosto levemente rosado de Yue. Elas já haviam jogado quatro rodadas e bebido uma boa quantidade de cerveja. Yue era insistente, sempre pedia por mais uma rodada e Sevika aceitava, percebendo que era apenas um pretexto vindo da garota que queria passar mais tempo com ela. E também, Sevika não estava achando ruim receber umas moedinhas e bebidas.

"Tudo bem, princesa. Acho que já está bom por hoje." Sevika falou com um sorriso ladino, recolhendo as cartas e as moedas.

"Nãooo, e-eu ainda tenho algumas moedas aqui, eu posso ganhar na próxima..." Yue choramingou, seus lábios redondos e pequenos formam um pequeno beiço.

Sevika riu com aquela cena, balançando sua cabeça de maneira negativa. Não conseguia entender o porquê de tanta insistência, era até mesmo um pouco irritante.

"Não, querida, fique com suas moedas. Eu já ganhei o suficiente por hoje."

Sevika falou sorrindo e se levantou, iria embora mas algo fez ela virar o rosto de volta na direção de Yue, percebeu que a garota parecia um cachorro que caiu da mudança. Por quê Sevika de repente sentiu um pouco de remorso?

"Tsc... Que droga..." Sevika resmungou e se aproximou de Yue, apoiando a mão em seu ombro. Agora um pouquinho mais perto, Sevika percebeu que a garota parecia ainda mais frágil, como se estivesse doente. Sua pele pálida e levemente rosada, exibia um pouco das veias de tom acinzentado. Muitas pessoas ficavam doentes em Zaun, poucas crianças sequer sobreviviam devido as doenças causadas por envenenamento do ar e da água.

"É muito grave?" Sevika perguntou num tom sério de voz, e Yue sabia ao o que ela estava se referindo. A jovem de cabelos brancos levantou seu rosto, seus olhos pequenos carregavam também algumas olheras que deixavam óbvio seu estado frágil de saúde.

"Não posso sair muito de casa, pelo menos é o que minha tia diz... Eu sempre fui doente, nunca mudou." Ela respondeu meio cabisbaixa, pensativa sobre o quão sem sorte ela havia nascido.

"E por que raios você está aqui!? The Last Drop não é o lugar mais adequado para uma menina como você." O tom de voz de Sevika era ríspido, mas não era por ela ter raiva de Yue, ela não sentia raiva alguma da pobre moça. Sevika sentia raiva de Piltover, o sangue dela fervia ao pensar que muitas pessoas estavam sendo impedidas de viverem bem por causa da ganância e egoísmo daqueles burgueses ridículos.

Yue piscou algumas vezes, abrindo a boca algumas vezes, se sentindo um pouco nervosa com aquele interrogatório. "E-eu só queria me divertir um pouco, conhecer algumas pessoas, ou sei lá..." Ela falou com um pequeno nó se formando na sua garganta, seus olhos miúdos brilhavam um pouco com as lágrimas que se formavam ao redor. "E-eu só quero me lembrar de alguma coisa boa! Pensa que não sei que não irei viver por muito tempo? Eu já tenho 22 anos, mas é como se eu não tivesse vivido nada! Eu não sei quem eu sou, eu só sei que eu quero me permitir correr esse risco ao menos UMA VEZ na minha vida, eu tenho esse direito!" Yue falou num tom um pouco mais alto, algumas lágrimas já escorriam pelas suas bochechas.

Sevika engoliu à seco, suspirando e desviando brevemente o olhar. Sua mão, que estava no ombro de Yue, apertou suavemente, como se buscasse consolar aquela garota desconhecida. Sevika não sabia o que fazer, nunca havia consolado alguém antes, ainda mais uma pessoa que ela sequer conhecia direito, mas sentia uma empatia pela sua situação. Sevika sabia que não era justo, nada daquilo era.

"Ei, para com isso... Não tô brava com você, é sério. Eu só..." Sevika pausou a fala e pensou no que poderia fazer. "... Só vem comigo, hm? Vamos dar uma volta, aqui não é um lugar bom para chorar." Ela falou num tom de voz mais manso, tentando acalmar a moça que assentiu com a cabeça e se levantou, enxugando as lágrimas enquanto era guiada por Sevika em direção a saída do bar.