promises, oceans deep (but never to keep)

X-Men - All Media Types X-Men (Movieverse) X-Men (Alternate Timeline Movies)
M/M
G
promises, oceans deep (but never to keep)
author
Summary
Só mais uma vez, e ele sempre prometia a si mesmo que aquela seria a última, ele queria saber como Erik estava. Como a vida era, como as coisas estavam quando eles estavam tão longe um do outro. Ele tentava se enganar, dizendo que fazia aquilo porque Erik era algum tipo de ameaça à humanidade, mas, não tinha mais como fazê-lo.Há dois anos, Erik percebeu que aqueles não eram sonhos que ele tinha. Ele perguntou para Charles se aquele era realmente ele, se aquela era uma maneira que ele havia encontrado para entrar em sua mente, e pediu para que ele não o fizesse mais, porque, para Erik, aqueles encontros de nada valiam se não fossem de verdade. Enquanto Charles se recusasse a sair do seu pequeno escritório, dentro de uma mansão e um Instituto, ele não poderia ir até Erik, ele não poderia desistir da ideia de representar os mutantes perante a sociedade, não poderia desistir do sonho de igualdade e paz. Enquanto ele tentava curar o mundo, manteria-se distante da única coisa que lhe importava nele.ouCharles descobre que os olhos do amor de sua vida estarão em uma garotinha que ele não conhece.
Note
eu escrevendo essa fic: STOOOOOOOOOOOP FIGHTING!!!obrigada pra carol q testou a leitura e que aprovou a ideia dessa fic pra eu fazer. espero q nossa amizade se recupere deste baque minha amiga. e um beijo pra kitty e cris que sofreram por antecipação feito duas gravidas.tumblr: lovesickstrawbsky: mcavoyeur sla oq

Faziam exatos seis anos, três meses e quatorze dias desde que os olhos azuis, tão selvagens e coloridos quanto o oceano, de Charles Xavier encontraram os de cor similar, mas tão frios quanto o céu em um dia nublado, de Erik Lehnsherr.

Os dias eram tranquilos no Instituto Xavier para Jovens Superdotados. Desde a reabertura da escola, a quantidade de alunos só crescia e Charles não podia negar o quanto isso o fazia se sentir feliz, grato, por ressignificar a mansão que, um dia, foi uma casa quase mal-assombrada. Por muito tempo, ele acreditou que aquelas paredes antigas, as bibliotecas que estavam sempre vazias, os quartos e os bunkers criados por seu padrasto, fossem o verdadeiro problema. 

Talvez, por isso, sua mãe nunca tenha sido realmente feliz ali. Talvez fosse o chão de madeira que, segundo seu padrasto, era do século XIX e precisava ser encerado algumas vezes ao ano, ou talvez fossem as pinturas - que ele guardava no sótão pois elas assustavam as pinturas. Talvez fossem as festas que eles davam toda semana, mas Charles nunca participava pois estava trancado em seu quarto, afinal, ele era uma criança e crianças “estragavam as festas.”

Talvez fossem os corredores vazios, talvez fosse o ar, que fizeram com que ele partisse.

As noites no Instituto eram consideravelmente piores, isso ele devia admitir. Charles deixou os seus olhos deslizarem pelo copo de uísque de mel que ele havia herdado de sua mãe após a morte dela, quase vinte anos antes. Uma mansão enorme e um grande estoque de bebidas, essa era a herança deixada por seus pais. Por anos de sua vida, Charles estudou, criou, escreveu incansavelmente teses e artigos que foram de grande importância para a universidade de Oxford e, posteriormente, à raça mutante, na intenção de que a sua herança para o mundo fosse significativamente mais importante que a de sua família.

Era engraçado como, após conseguir tudo que desejava e ainda mais, com o seu Instituto e todas as crianças que ele havia acolhido sob seu próprio teto, Charles não tinha alguém que pudesse herdar os seus bens. Claro, Hank McCoy poderia ser um ótimo herdeiro, afinal, era seu melhor amigo e era a única pessoa em que confiava a função de cuidar do Instituto. E ele tinha uma boa relação com Jean Grey, desde que ela chegou ao instituto, dois anos antes. Hoje, aos dez, Jean era uma de suas alunas favoritas e uma telepata brilhante - não seria um exagero confiar nela na hora de deixar suas propriedades a alguém. 

Isso só não era justo.

Não era justo como, após todos aqueles anos, após inúmeras tentativas - porque, acredite, ele tentou -, ele ainda não tinha uma família. Claro, as crianças, o Instituto, tudo aquilo era realmente reconfortante e bom e fazia parte de um bem maior que sempre foi priorizado por Charles. O mais perto que ele havia chegado de ter algo parecido com uma família, um casamento, era quando ele estava ali. Quinze anos antes, quando Erik Lehnsherr e ele se uniram para treinar a primeira classe de estudantes do Instituto, antes de ele sequer existir.

Charles sentiu sua mandíbula trancar enquanto suas mãos subiam devagar, levando o copo da bebida até sua boca. O barulho das pedras de gelo batendo denunciavam que ele estava tremendo apenas de pensar sobre aquilo. Era tão injusto, que após tanto tempo, todas as discussões e batalhas travadas entre ele e Lehnsherr, o outro ainda sempre era a primeira coisa a aparecer em seu cérebro sempre que ele pensava na possibilidade de amor. 

Erik Lehnsherr deixou um legado e tanto.

Um dos mutantes mais infames do mundo, responsável pelo principal assassinato da história americana, o de John F. Kennedy, pelo ataque a Bolívar Trask, e por quase assassinar a ele mesmo umas três vezes, se ele fosse parar para contar. Mas não ia. Charles jamais iria parar para contabilizar o dano causado por Erik, assim como jamais colocaria nessa conta a fratura em sua espinha que lhe deixou assim, naquela cadeira de rodas. Ele também não contaria as noites como aquela, em que ele ficava preso em uma espiral de pensamentos que o levavam sempre à imagem de Erik.

Porque, no final das contas, não importava o quanto ele fugia, o quanto ele tentava negar, Erik sempre voltava. Era um jogo que ele, apesar de jogar há tanto tempo, só perdia: Sua mente era sua maior inimiga e as imagens do pouco tempo que tiveram juntos eram a sua arma favorita. Será que era tão óbvio assim para as outras pessoas? Será que Hank e os outros percebiam que, toda vez que ele via um garoto que perdeu os pais, via Erik em seus olhos? Será que eles sabiam que todas as vezes que algum aluno ia embora, Charles pensava que eles poderiam encontrar Lehnsherr por aí e ele não? E quanta inveja ele tinha dessa possibilidade.

Silenciosamente, Charles deixou o copo de uísque em cima da mesa de seu escritório. Ele usou uma mão para destravar as rodas de sua cadeira, e, com a mesma, começou a girar as rodas para avançar na direção do corredor. As luzes baixas denunciavam que já era a hora de dormir e que, assim como as crianças, ele já deveria estar em sua cama. Nenhum tipo de ideia boa saía de sua cabeça bêbada, Hank o repreenderia se soubesse quantas vezes Charles já pensou em fazer aquele mesmo caminho, de seu escritório até o Cérebro, com as mesmas intenções distorcidas e egoístas.

Mas, só mais uma vez.

Só mais uma vez, e ele sempre prometia a si mesmo que aquela seria a última, ele queria saber como Erik estava. Como a vida era, como as coisas estavam quando eles estavam tão longe um do outro. Ele tentava se enganar, dizendo que fazia aquilo porque Erik era algum tipo de ameaça à humanidade, mas, não tinha mais como fazê-lo. Há mais de seis anos, quando ele deixou o capacete cair ao chão, ele renunciou ao título de Magneto, para apenas ser Erik, ou seja lá qual fosse o nome que ele adotava para passar despercebido.

Há dois anos, Erik percebeu que aqueles não eram sonhos que ele tinha. Ele perguntou para Charles se aquele era realmente ele, se aquela era uma maneira que ele havia encontrado para entrar em sua mente, e pediu para que ele não o fizesse mais, porque, para Erik, aqueles encontros de nada valiam se não fossem de verdade. Enquanto Charles se recusasse a sair do seu pequeno escritório, dentro de uma mansão e um Instituto, ele não poderia ir até Erik, ele não poderia desistir da ideia de representar os mutantes perante a sociedade, não poderia desistir do sonho de igualdade e paz. Enquanto ele tentava curar o mundo, manteria-se distante da única coisa que lhe importava nele.

Entrou na sala silenciosamente. Ele já não precisava da supervisão de Hank para mexer no Cérebro, ele já sabia bem como deveria mexer naquela boa e velha máquina para encontrar exatamente quem ele sempre procurava. Ele alcançou o capacete pesado, o colocando em sua cabeça perfeitamente enquanto observava a sala inteira iluminando em luzes vermelhas. O Cérebro era realmente uma máquina incrível, cada ponto de luz mostrando os mutantes e os não-mutantes era realmente um avanço da tecnologia. Ele até se sentia mal em usá-lo por motivos tão egoístas.

Apenas uma pessoa lhe importava em todo aquele mapa, Erik. Ele fechou os olhos, se concentrando para que conseguisse entrar na projeção.

Charles sentiu todo o peso de seu corpo cair sobre suas pernas novamente, o fazendo perder o equilíbrio por alguns segundos antes de achá-lo de volta. Estava de pé, como sempre estava dentro de sua mente e em seus sonhos, como se a guerra na baía de Cuba nunca tivesse acontecido. Charles olhou em volta, ainda tentando identificar exatamente onde ele estava. O ar era frio e úmido, com cheiro de terra molhada, como se tivesse acabado de chover o dia inteiro. 

A casa era pequena, toda construída na madeira, diferente da confortável mansão em que ele estava apenas alguns segundos antes. Era, também, diferente de onde Erik estava da última vez que ele o havia encontrado. Ele não conhecia aquela casa, não conhecia o modo que a luz da lua ultrapassava a janela para iluminar os móveis simples, apesar das árvores altas. Seus olhos azuis estudaram o cômodo antes de deslizarem até um quarto no final do corredor, de onde vinha uma luz quente. 

Sleep, little darling, do not cry, and I will sing you a lullaby. — Ele reconheceria a voz de Erik em qualquer lugar. Erik não admitia mas adorava música, portanto, durante seus dias juntos, Charles costumava acordar com o outro cantarolando enquanto fazia sua barba pela manhã ou durante o café da manhã, minutos antes dos outros aparecerem. Mais recentemente, Erik cantava para ele durante seus “sonhos”, em seus encontros. Ambos nus, com seus corpos perdidos um no do outro. Ele fechava os olhos mas não dormia, enquanto Erik sussurrava qualquer coisa em seu ouvido e, às vezes, cantava.

Seus pés andaram, cambaleantes pela falta de uso, mas determinados a entrar naquele quarto para vê-lo. Sua respiração era tão alta; ele mesmo havia mudado, ele já estava com quase quarenta anos, o seu cabelo, apesar de ainda estar longo, estava bem aparado e ele não usava mais calças boca-de-sino, mas ternos bem cortados e sweaters de cashmere. Ele entrou no quarto devagar, com medo de que o som dos seus passos assustassem Erik. 

O seu velho e conhecido amigo estava debruçado sobre… sobre um berço. Acima do berço, pouca coisa por cima da cabeça dele, tinha um móbile com pelúcias de coelhinhos que rodava devagar. A luz quente que ele via do corredor vinha de um abajur no canto do quarto. Ele podia ver pouca coisa através da escuridão, mas os itens eram irreconhecíveis. Um guarda roupa de madeira branca, com algumas flores pintadas, detalhes que só poderiam ter sido feitos à mão, e maçanetas de prata. Charles sabia bem do bom gosto de Erik. Brinquedos espalhados, e eles variavam de pelúcias a blocos de madeira. Ele sabia reconhecer o quarto de uma criança, mas já não sabia se o homem que ele via a sua frente era realmente quem ele conhecia. — Erik? — Sua voz saiu como um sussurro.

Erik vestia uma flanela. E isso quase fez Chafles rir porque, porra, uma flanela? O Erik que ele conhecia e amava não trocaria suas calças de alfaiataria, as blusas de gola alta e as jaquetas de couro por jeans surrados e uma flanela. Seu cabelo, que ele sempre cuidava tão metodicamente, estava cortado em um corte simples, mas o mesmo não podia ser dito sobre sua barba. Ele se virou na direção de Charles. Ele estava tão diferente, lindo como sempre, mas tão irreconhecível que se não fossem aqueles olhos que ele adorava, ele não saberia dizer se era realmente Lehnsherr à sua frente.

— As pessoas me chamam de Max agora. — Foi o que o outro respondeu, e Charles sentiu o seu estômago se contorcer. Max? Ele não conhecia nenhum Max. Não era nenhum Max, aquele homem que ele havia resgatado de se afogar enquanto ele tentava afundar o submarino de Shaw. Não foi Max quem o beijou no quarto barato de hotel enquanto percorriam o país atrás de novos mutantes. Max não tinha gosto de conhaque. — Olá, Charles, faz muito tempo.

Charles não teve tempo para processar. — O que é isso?

Isso é minha filha. — Erik disse baixo, nenhum traço de sorriso ou carinho em sua voz. Ele apenas encarava Charles como quem olhava a um estranho. E talvez Xavier o encarasse do mesmo jeito.

— Ah, claro. Me desculpe. — Ele pediu. — Eu-...

Erik tinha uma filha.

Não era chocante que Erik tivesse relações sexuais com qualquer tipo de pessoa, e que qualquer uma dessas relações fosse acabar gerando uma criança, mas era, de fato, um tanto desconcertante o fato que ele estava ali, cantando uma canção de ninar para a menina, naquele quarto confortável e infantil. Os olhos de Charles pousaram na garotinha adormecida. Ela tinha cabelos escuros e bochechas enormes. Sua chupeta movia-se devagar, indicando que ela estava, aos poucos, deixando de chupar o objeto para adormecer. 

— Ela é linda, Erik. — Charles disso, sentindo o seu coração partir enquanto seus olhos examinavam a garotinha, o berço, o cobertor que provavelmente tinha cheiro de neném. Isso, essa domesticidade, lhe dava uma sensação de aperto no peito, uma saudade de algo que ele não conhecia, a sensação de uma oportunidade perdida.

— Você não precisa fazer isso. — Erik murmurou baixo. Charles não sabia se era porque ele queria que aquele fosse um segredo entre os dois ou porque tinha medo de acordar a garotinha.

— Não, é sério. Ela é uma gracinha e o quarto… O berço. — Ele não fazia questão de reconhecer as lágrimas que desciam por seu rosto silenciosamente.

— Charles. — Erik disse entre seus dentes. — Pare com isso agora.

— Parar com o que? Eu estou falando-

Erik deu passos largos na direção do outro, posicionando suas mãos em seus ombros de modo que ele pudesse chacoalhar o seu corpo, o fazendo olhar para si. Estavam tão próximos novamente que isso poderia ser perigoso, tentador, se seus olhos não estivessem cheios de ressentimento: — Pare com isso agora. Pare de fingir que não se importa e que está tudo bem. Caralho, Charles, para! 

— O que você espera de mim, Erik? Hm? — Ele praticamente cuspiu as palavras, ouvindo-as ofegantes entre as batidas do seu coração. — Você quer que eu brigue com você, que eu grite com você, porque você-...

— Não, eu quero que você seja honesto pelo menos uma vez em sua vida. Eu quero que você seja honesto consigo mesmo, e comigo. — Charles sentia o ar que saía das narinas de Erik batendo em seu rosto. Era impossível não lembrar dos beijos que partilhavam, dos momentos que tiveram juntos. Da última vez que brigaram, em um avião a caminho de Paris, quando estavam juntos em uma missão para salvar o mundo, Charles sentia tanta raiva que quase se esqueceu o quão magnético Erik era, sempre o puxando para perto de si. 

Mas, agora, ele não sentia raiva. Não, era um sentimento muito mais poderoso, que o consumia dos pés à cabeça, que remoía seu estômago e lhe fazia derramar lágrimas sem que percebesse. Não era decepção, ele não podia dizer que esperava qualquer coisa de Erik àquela altura do campeonato. Não era tristeza. Era a certeza que, enquanto Lehnsherr e os seus momentos eram o final de todos os seus percursos mentais, Charles não estava mais em sua lista de prioridades. Era a noção que o tempo fez questão de apagá-lo da mente e do coração de Erik, enquanto ele mantinha sua memória viva por puro hábito. 

— Eu não acredito que você fez isso comigo. — Charles sussurrou. 

Era injusto, era uma traição. 

Se algum dos dois merecia esquecer aquele romance, superar os sentimentos trazidos por um caso que aconteceu há mais de quinze anos antes, esse alguém era ele, não era? Ele havia sido aquele que perdeu tudo. Ele perdeu Erik, seus alunos, seu prestígio em Oxford, Raven, o movimento de suas pernas. Ele havia dado tudo que ele tinha pelo Instituto, para construir aquele legado, para honrar aqueles como Erik e ele, mas, agora, ele não passava de um pensamento em segundo plano para o amor de sua vida. 

Os braços do outro envolveram o seu corpo com facilidade, como se ele fosse incapaz de esquecer o modo que se conheciam tão bem. Erik não disse nada, mas Charles podia sentir a sua respiração ofegante contra sua orelha. Ele não tentou esconder as suas lágrimas, apertando o rosto contra o ombro de Erik enquanto os dedos achavam a flanela dele, segurando-o com força. Isso era patético, mas, novamente, toda a sua vida estava parecendo meio patética. 

— Está tudo bem. — Ele disse, preservando o pouco de orgulho que ainda o restava. Deu um passo para trás, usando uma mão para arrumar seu cabelo. O ar que escapou por seus pulmões enquanto chorava imediatamente fazia falta já que ele estava ofegante. — Eu só… eu só achava que nós dois-...

Achava que os dois acabariam juntos, de alguma forma. 

Que aquele final, com uma casa pequena no interior de qualquer lugar do mundo, com filhos, pertenceria aos dois.

— Não, Charles. É impossível. — Erik o interrompeu. 

— Erik.

— Charles, eu te falei. Eu te queria do meu lado, desde o início. Eu desisti da minha causa, eu estou vivendo entre os humanos. Eu me casei com uma humana, do jeito que você sempre propagou que deveríamos fazer, e você, nem por um segundo, pensou que eu poderia fazer isso. Você… nem por um milésimo de segundo… você nunca pensou em abrir mão da sua causa, dos seus ideais, por mim, por nós.

— Você está sendo injusto. — Charles cuspiu as palavras, mas Erik não se importou.

— O que você sabe sobre injustiça, Charles? Você está aqui, mas você está do outro lado do mundo agora. Se você quer falar sobre injustiça, comece pensando sobre o fato que você me deixou ficar preso por dez anos, por um crime que eu não cometi.

— Você me deixou! — Agora, eles já estavam gritando um com o outro. — Eu te pedi para ficar, e você me deixou de novo. Você e a Raven me deixaram quando eu mais precisava de vocês dois. A gente poderia ter vivido juntos, Erik. Você sempre foi mais do que bem-vindo.

Os olhos dele eram frios quando disse: — E daí, Charles? Literalmente, e daí? — Ele pausou. — Eu poderia te deixar mais de um milhão de vezes, eu poderia te pedir para ficar comigo mais de um milhão de vezes, e nada mudaria. Nada mudaria porque você não quer. Você não quer abrir mão daquela merda, e você não quer me deixar ir embora, também, então eu decidi por nós dois.

— O que você quer dizer?

— Fazem mais de quinze anos, Charles, e eu estou cansado. — Erik passou as mãos por seus cabelos. Ele percebeu, então, que toda a gritaria não havia acordado a menina. Eles estavam dentro de sua mente, afinal, poderiam gritar o quanto fosse. — Estou cansado de esperar, estou cansado de esperar algum futuro hipotético que só chegaria após um acordo de paz, no qual eu nem acredito. Eu me casei, e ela é uma boa mulher.

Um soco no olho doeria menos. Charles não se considerava um romântico desesperado, que sonhava com cerimônias tradicionais e convenções como casamentos, mas ele sabia que tampouco Erik o fazia. Então, era cortante como um caco de vidro ou uma flecha que o atingia direto no coração, o fato de que outra pessoa havia o convencido a casar. Que não ele, mas sim uma mulher que ele não conhecia, havia recebido o anel deixado pela avó de Erik. Que ela tinha a casa, tinha a filha, tinha o amor que ele nunca poderia ter.

— Você a ama? — Ele perguntou.

Erik pareceu ponderar por alguns segundos, calculando cada passo. — Sim, eu amo. — Ele respondeu honestamente.

Charles sentiu o gosto salgado de uma lágrima chegar em sua boca, o fazendo suspirar. Ele não conseguia suportar a ideia de ele mesmo se apaixonar por outra pessoa, afinal, aquilo pareceria uma traição a Erik e tudo que eles tinham juntos. Agora, amar era outro departamento, era tranquilo como um dia de sol, como o som das árvores batendo no lado de fora daquela pequena casinha.

— Mais do que-...

— Não. — Erik sabia o que ele queria perguntar antes mesmo de completar a frase. — Nunca. 

Ele nunca amaria alguém mais do que ele amava Charles. 

Nada, nem ninguém do mundo, seria capaz de comparar ao laço único que partilhavam. Nenhum tipo de sentimento de contentamento chegaria aos pés dos poucos dias e noites em que foram um do outro, nada jamais seria sequer parecido. E Erik já havia aceitado aquele fato. Mas, aquela mulher, apesar de não ser nada excepcional, de ser péssima no xadrez e de não ser brilhante, era a mãe de sua filha. Ela havia lhe dado um bem tão maior do que qualquer um que ele já conhecera em vida. Ela confiou nele, ela acreditou que ele poderia ser algo maior e melhor do que um assassino. Ela acreditou que ele poderia ser um pai.

Mas Charles sentia o coração doer com toda aquela indiferença. 

Ele engoliu seco, falando com dificuldade: — Eu te amo, Erik. 

Lehnsherr voltou a se aproximar devagar do outro, como quem move uma peça xadrez com a certeza de que será capturado. O mais velho levou suas mãos até o rosto do outro, segurando suas bochechas delicadamente com as mãos até as bochechas dele para que pudesse ver seus olhos enquanto as palavras saíam de seus lábios: — Eu sempre vou te amar, Charles. 

O mais baixo se inclinou, então, para que seus lábios finalmente encontrassem aqueles de quem tanto sentia falta. O beijo era doce e amargo, com gosto salgado pelas lágrimas que ambos haviam derrubado durante todo aquele encontro. Não tinha gosto de conhaque desta vez, mas era recheado pela saudade e pelo ressentimento. Beijá-lo doía porque ele sabia que, desta vez, seria a última vez que Charles Xavier e Erik Lehnsherr se beijariam. 

Era lento e delicado, como se tivessem medo que o tempo passasse e precisassem se afastar. Todo o amor que ele sabia que Erik sentia ainda estava tão presente que era quase como se ele conseguisse pegá-lo em suas mãos. Ele queria fugir, queria abrir mão de todas as responsabilidades, todos os prêmios e os alunos, mas ele não podia. Ele tinha um dever, ele tinha uma missão naquela vida e, infelizmente, o seu amado não se encaixava nela.

Se separaram devagar, deixando selinhos suaves um nos lábios do outro. Charles manteve os olhos fechados, respirando pesado, enquanto sentia as palavras duras subindo por seu estômago, entalando a sua garganta e saindo como um sussurro. Ele não queria, não conseguia dizer, mas disse mesmo assim: — Adeus, Erik.

E, assim, Charles estava de volta ao Instituto.