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Agatha All Along (TV)
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PT-BREu precisava escrever isso e eu espero que gostemComo Agatha teve o seu bebê e conheceu Rio.

Rain

Em algum lugar no passado

 

 

A floresta se fechava em torno de Ágatha como um grande organismo vivo, respiração e sombra se misturando ao som constante da chuva. As gotas grossas escorriam pelas folhas e arbustos, caindo pesadamente sobre a terra encharcada. O ar estava denso com o cheiro de musgo e terra molhada, e o vento sussurrava entre as árvores, trazendo consigo uma sensação de solidão que parecia engolir o mundo.

 

Ela estava sozinha.

 

Completamente sozinha.

 

Seu corpo tremia de dor e frio enquanto se apoiava em um tronco caído. As contrações vinham em ondas, implacáveis, cada uma pior do que a anterior. Seus dedos cravavam-se na cascata da árvore, buscando algum alívio, mas a madeira parecia ceder sob sua força, incapaz de dar a estabilidade que ela tanto precisava. A água escorria pelo seu rosto, misturando-se com o suor, o cabelo grudado na pele. As roupas molhadas pesavam em seu corpo, encharcadas pela chuva implacável, mas ela mal as sentia agora.

 

Seu ventre se contraía novamente, e ela se encolheu, soltando um grito sufocado. O som se perdeu no ruído da chuva, ecoando fraco entre as árvores. Ela não sabia quanto tempo já havia passado desde que as dores começaram. Minutos? Horas? Dias? O tempo parecia derreter em meio ao tormento, e tudo o que ela sabia era que, a cada contração, a vida dentro dela estava mais próxima de emergir.

 

Tentando se levantar, Ágatha cambaleou alguns passos para frente, tropeçando em raízes expostas, as pernas bambas, já sem forças. A dor no ventre se intensificou, e ela caiu de joelhos, o corpo se curvando involuntariamente. Lágrimas se misturavam com a chuva enquanto seus dedos afundavam na lama, e ela arquejou, buscando ar.

 

— Por favor... — murmurou para ninguém, ou talvez para a floresta, para os espíritos invisíveis que talvez estivessem observando, em algum lugar entre as sombras das árvores antigas. Mas não houve resposta.

 

A solidão parecia consumir cada fragmento de sua coragem. Ela sentiu o bebê se mover dentro dela, uma pressão crescente, cada vez mais forte. Não havia ninguém para ajudá-la. Ninguém para segurar sua mão. Ninguém para guiá-la, dizer o que fazer, ou mesmo garantir que ela sobreviveria naquele momento.

 

Ela respirou fundo, tentando encontrar algum resquício de controle sobre seu corpo. A próxima contração veio com uma força quase insuportável, fazendo-a gritar de dor. O som rasgou a escuridão da floresta, mas logo foi sufocado pela chuva. Seu corpo estava em um limiar onde a dor e a exaustão se fundiam, deixando-a tonta, e sua visão começou a ficar turva.

 

Agarrando-se a uma raiz próxima, ela tentou se ajeitar no chão, seu corpo forçando a posição de cócoras, o instinto primitivo assumindo o controle. O bebê estava vindo, e não havia mais como segurar. A respiração se tornava ofegante, e ela sabia que estava por perto. Sentia o peso do nascimento se aproximando, mas o medo de que pudesse acontecer a seguir também a consumir.

 

Ela se inclinou para frente, apoiando-se nas mãos e nos joelhos, sentindo as contrações cada vez mais fortes, impiedosas. O som de sua própria respiração se misturava ao rugido da tempestade, que agora parecia ter engolido o mundo ao seu redor. O frio penetrava seus ossos, mas a dor... a dor era quente, latejante, viva. Ela mordeu os lábios com força, tentando se concentrar, tentando fazer seu corpo obedecer.

 

Com uma força que ela não sabia que ainda tinha, fez força, gritando através da dor lancinante que parecia dilacerá-la. Seu corpo tremia violentamente, cada músculo tensionado, lutando contra a natureza impiedosa do parto. Sentiu o bebê começar a descer, o peso aumentando a cada segundo. Tinha sangue, ela sabia, embora não conseguisse ver.

 

E então, de repente, houve um momento de quietude. A dor atingiu um pico, um limite que parecia insuportável, e ela relatou uma última vez antes de sentir o colapso momentâneo quando a cabeça do bebê finalmente emergiu.

 

Suas mãos tremiam para tocar o chão enlameado, tentando estabilizar-se, enquanto seu corpo se preparava para a última força. A chuva martelava em seu rosto, escorrendo pelos olhos, misturando-se com as lágrimas de agonia e exaustão. Ela mal conseguia respirar, mas sabia que não podia parar agora.

 

— Vamos... — sussurrou para si mesma, como se sua voz pudesse dar-lhe a força necessária para continuar. — Vamos... sai...

 

A próxima contração veio, mais intensa que todas as outras, e com um grito primal que reverberou pelo seu peito, Ágatha fez força uma última vez, sentindo o bebê escorregar para fora de seu corpo.

 

Por um momento, tudo parecia parado.

 

Ela respirava fundo, com dificuldade, seus braços tremendo de cansaço, a cabeça baixa, incapaz de processar completamente o que acabara de acontecer. Ela mal consegue enxergar através da chuva, seus olhos desfocados, mas sente o pequeno corpo do bebê em seus joelhos. Um choro fraco ecoou na escuridão.

 

Lá estava ele.

 

Ela o pegou com as mãos trêmulas, o corpo do bebê coberto de sangue e líquido amniótico, tão pequeno e frágil em suas mãos. Por um instante, a vida parecia mais forte que a dor. Ela o segurou contra o peito, sentindo a pele quente e escorregadia do recém-nascido, e, por um momento, o som do seu choro era a única coisa no mundo.

 

Mas sua visão ficou cada vez mais turva. Seu corpo, exausto, dava sinais de que não aguentaria mais. O frio penetrava até sua alma, e a adrenalina que a havia mantido viva até aquele momento começava a desaparecer. Suas mãos, ainda segurando o bebê, tremiam descontroladamente.

 

Ela tentou respirar fundo, mas o mundo à sua volta começou a rodar. A chuva continuava a cair, implacável, e o som se tornava mais distante, como se estivesse mergulhando em uma água profunda.

 

— Eu consegui... — murmurou, sua voz fraca, quase inaudível. O choro do bebê ainda ecoava em algum lugar distante.

 

E então, lentamente, a escuridão tomou conta.

 

Seus olhos se fecham, o corpo desabando sobre a lama úmida, com o bebê ainda seguro contra seu peito. O mundo desapareceu, e tudo se tornou silencioso.