
Kakashi já havia pensado por muito tempo, ou apenas fingiu considerar o ato por preguiça; talvez, tivesse fingido a preguiça também. Afinal, Kakashi fingia muito, fingia pois no fundo ele era muito inteligente para sequer ponderar sobre algo, porque no fim – ironicamente – ele sabia a resposta desde o começo. E Hatake odiava estar sempre certo, mesmo sobre o desconhecido.
Ele sabia a maldita resposta para aquela inquietação física e psicológica. Já sabia a resposta para o incessante deslizar de cobertas e o remexer desconfortável a noite. Já sabia a resposta para a insônia, e para a ansiedade infernal que lhe alastrava a cada centímetro de raio solar que nascia pela manhã.
Havia dias que não pregava os olhos, ou havia qualquer tipo de descanso, e ele sabia a resposta.
Sua sorte era sua natural falta de transparência, sua feição sempre neutra e desinteressada não deixava um resquício sequer de emoção ou mudança de humor escapar para fora de seu âmago...ou de sua máscara. Era – indiscutivelmente – o contrário de sua mente em meio suas crises noturnas, em que a resposta era mais do que transparente. A voz em sua cabeça, pronunciando diversas desculpas ridículas sobre um atraso, a imagem de um casaco azul marinho, olhos escuros e um sorriso impossivelmente incansável eram mais que transparentes para Kakashi.
Aquele idiota chorão, sequer servia para ser um ninja. Imbecíl sem juízo, levado facilmente pela emoção, com certeza morreria cedo, e Kakashi não poderia se importar menos. Sua disposição inabalável para fazer besteira e justificá-las de forma atrapalhada, e sua queda estúpida pela companheira de time só faziam o Hatake querer enterrar com força os punhos na cara do infeliz.
Não lhe adentrava a cabeça como um ser humano podia ser tão burro e irritante quanto Uchiha Obito. O jeito que ele enfiou naquela cabeça estupidamente grande e oca que tinham uma rivalidade inútil, por conta daquele triângulo nauseante entre os três lhe fazia querer vomitar.
E então, Kakashi fingia.
Fingia estar alheio aos sentimentos de outrem para consigo. Fingia estar alheio aos próprios sentimentos. Fingia não ver o olhar totalmente hipnotizado do Uchiha sobre Rin, como se ela fosse mais brilhante que o próprio céu azul. Fingia não comparar sua aparência à da garota, pois ele não se preocupava com algo tão supérfluo quanto sua aparência; uma vez que tinha consciência de que não carregava nem metade da beleza alheia. Fingia odiá-la tanto quanto odiava o próprio Obito, mesmo que não o conseguisse de verdade.
Mesmo que, as vezes, verdadeiramente desejasse que ela não estivesse ali.
Fingia tanto, que tinha a plena consciência de que ele era, de fato, um grande dissimulado. E no fim, fingia tanto que sequer percebia que, no fim das contas, ele só queria ser ela.