
"Aconteça o que acontecer amanhã, ou para o resto da minha vida, agora estou feliz porque te amo."
Filme: Feitiço do Tempo
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"Aconteça o que acontecer amanhã, ou para o resto da minha vida, agora estou feliz porque te amo."
Filme: Feitiço do Tempo
Kakashi Hatake é o Capitão do 5º Batalhão do Corpo de Bombeiros de Tóquio, seguiu os passos do seu pai que também foi Bombeiro, é muito bom no que faz, muitos dizem que é o melhor. Tem muitas condecorações, prêmios e títulos, mas para ele nada disso importa, ele apenas diz que é o seu trabalho e que não o faz em busca de algum reconhecimento ou premiação.
Na realidade a maior conquista do Hatake, que na verdade ele que foi conquistado, é o seu namorado Iruka Umino, um professor que se desdobra para dar aulas em três escolas para se manter. Ele ama muito o professor de longas madeixas castanhas sempre presas em um rabo de cavalo, de pele amendoada que parece brilhar com o sol e uma cicatriz que cruza seu rosto indo de uma bochecha a outra passando por cima do nariz, que ele tem o costume de coçar quando está nervoso.
Nem parece que vai fazer três anos que estão juntos e agora o Hatake quer elevar aquele relacionamento, algo que já devia ter feito a muito tempo, porém sempre foi enrolando, deixando para depois, mas agora seria diferente, finalmente iria pedir Iruka em casamento.
Se engana quem pensa que os dois já dividem o mesmo teto, os dois até querem, mas são dois enrolados, não por não achar importante, apenas não haviam tido tempo de falar sobre o assunto, pois nos últimos tempos estavam sempre ocupados, se vendo com menos frequência e quando se encontram a última coisa que fazem é conversar.
Kakashi estava em sua sala, olhando mais uma vez dentro da caixinha de veludo azul, as duas alianças douradas simples com uma fina linha vermelha, sabia que Iruka gostava de coisas daquele jeito sem muitos enfeites, dentro das alianças estava gravado “Akai Ito”, uma parte em cada uma junto com o nome de cada um. Kakashi estava decidido a fazer o pedido naquele dia, depois do trabalho. Foi tirado dos seus pensamentos ao ver Gai entrar em sua sala, animado como sempre.
— Finalmente decidiu pedir Iruka em casamento? Já estava na hora, quem sabe assim ele deixa de me olhar com aquele olhar assassino — disse Gai em tom de brincadeira.
Kakashi tinha apenas duas certezas na vida, uma era a morte e a outra era que Iruka nunca deixaria de sentir ciúmes de Gai. Não importava o que fizesse, ou o quanto demonstrasse amor para o namorado, o ciúmes estava presente, mesmo que ele negasse ou tentasse disfarçar, como quando decidiu começar a praticar atividades físicas com Kakashi, a o acompanhar em algumas aventuras pela mata como trilhas e acampamentos, coisas que ele jamais sonhou em fazer, mas fazia apenas para evitar que Gai o acompanhasse.
— Toda vez que falo o nome do Iruka você se perde em pensamentos — brincou Gai.
— Fazer o que se ele é o dono dos meus pensamentos e do meu coração — falou Kakashi como um bobo apaixonado.
Antes que Gai pudesse implicar mais um pouco com Kakashi, ouviram o alarme de incêndio e rapidamente se levantaram e saíram da sala. Kakashi guardou as alianças no bolso da calça no automático, nem se atentando ao fato que poderia perder elas durante a ocorrência.
Iruka podia estar na cabeça de Kakashi o tempo todo, mas quando estava atendendo uma ocorrência sua mente focava somente no trabalho e em salvar vidas. Isso era tão automático, tão natural, que Kakashi nem prestava muito atenção ao endereço em si ou se algum conhecido morava, focava em entender a intensidade e a gravidade da ocorrência e onde ela seria. Deixava para pensar em algum conhecido quando chegasse no local.
Assim que chegou no caminhão foi informado sobre as condições do incêndio, soube que era em uma região com prédios mais antigos, alguns em situações precárias, por um momento o endereço lhe soou muito familiar, mas não se esforçou para pensar se algum conhecido morava lá, pensaria nisso depois.
Quando chegaram ao local, Kakashi foi separando a equipe e dizendo onde cada uma deveria ir e o que deveriam fazer, mas quando focou no prédio a sua frente, sua voz morreu e o coração começou a acelerar.
— Iruka…
Kakashi fez menção de ir em direção ao prédio, mas foi impedido por Gai.
— Ele não está trabalhando? Ligue para ele primeiro.
Antes de Kakashi pegar seu celular, olhou para as equipes que ainda estavam paradas no lugar e ordenou que fossem logo começar a apagar o incêndio e procurar por feridos e sobreviventes. Só então Kakashi pegou seu celular e ligou para Iruka.
Ligou uma. Duas. Três. Cinco. Dez vezes e nada dele atender. Kakashi já estava entrando em desespero. Mas tentava pensar que o namorado estava em sala de aula, ou na sala dos professores preparando aula. Mesmo assim, só ficaria tranquilo quando ouvisse a voz do namorado, por isso resolveu ligar para a melhor amiga de Iruka, a qual era sua amiga também. Kurenai. Ligaria para ela e pediria para falar com Iruka ou saber onde ele estava e se estava bem.
Na primeira ligação, no segundo toque a mulher atendeu.
— Kakashi, o que… — começou a falar com certa preocupação, pois ele nunca ligava, mas foi interrompida por ele.
— Onde está o Iruka? — perguntou Kakashi preocupado.
— Ele saiu mais cedo hoje, não tinha mais aulas e decidiu ir para casa para corrigir as provas com mais calma — disse Kurenai para desespero do Hatake.
— NÃO! — Kakashi praticamente gritou
— Kakashi, o que houve? Aconteceu algo com Iruka? — perguntou a mulher preocupada, mas o que recebeu foi uma ligação desligada em sua cara sem nenhuma resposta.
Kakashi rapidamente foi até um dos caminhões em busca de uma roupa apropriada com proteção contra as chamas e o calor para poder entrar no local, deixando os seus colegas surpresos e Gai preocupado.
— O que foi Kakashi, falou com Iruka?
— Ele… ele está em casa, saiu mais cedo… eu preciso ir buscá-lo e nem tente me impedir.
— Eu vou com você — disse Gai já pegando uma roupa para si.
— Não! Você ficará aqui e coordenará as equipes no meu lugar, ficarei no rádio o tempo todo — falou Kakashi sério, de uma maneira que não estava aberta a discussões e coube a Gai somente acatar a ordem do Hatake,
Depois de devidamente preparado, pegou um machado, que pensou ser útil e entrou rapidamente no prédio onde Iruka morava. A cada passo que dava suas pernas pareciam pesar ainda mais, seu coração batia com tanta força e o medo que sempre manteve sob controle em situações extremas como aquela, ameaçava tomar conta de si.
O prédio estava tomado pelas chamas, Kakashi podia ouvir os gritos de socorro de algumas pessoas que estavam em seus apartamentos, o som das paredes rangiam alto e davam a impressão que o prédio desabaria a qualquer momento, o que não era impossível, pois o prédio era antigo e sua manutenção era precária, para não dizer nula. Ao chegar no apartamento de Iruka, abriu a porta com um único chute na pressa e na esperança de encontrar Iruka bem, nem que fosse um pouco ferido e assustado, mas bem e vivo.
Porém o destino estava contra si.
O apartamento de Iruka estava tomado pelas chamas e pela fumaça, no local havia alguns destroços que caíram do teto e Kakashi não via Iruka em nenhum lugar da pequena sala nem na cozinha onde ele costumava ficar, só havia sobrado um lugar para o procurar, o quarto do Umino. No local Kakashi sabia que havia uma pequena escrivaninha onde ele deixava o computador, e naquele lugar a situação parecia pior, pois as chamas estavam mais altas no corredor que ligava a sala ao quarto, mas Kakashi não tinha outra saída a não ser ir até lá para ver.
Com dificuldade chegou ao quarto que conhecia tão bem, que teve bons momentos ao lado do namorado, mas jamais esperou ver aquilo. Iruka estava caído ao chão e ao seu lado tinha um pedaço de concreto que parecia ter soltado do teto e acertado Iruka e em cima do seu corpo uma viga de madeira. Kakashi correu até o namorado, retirou a máscara de oxigênio que usava, não se importando com a fumaça que começava a incomodar seus olhos e atrapalhava sua respiração. Usou sua força para retirar primeiro a viga de cima de Iruka e depois se sentou no chão e com cuidado ajeitou a cabeça do namorado em suas pernas e tentou sentir sua pulsação, mas não conseguia sentir nada. Tentou sua respiração e teve a impressão de ter sentido algo leve, por isso colocou a cabeça dele no chão com cuidado, tentando o deixar o mais reto possível.
— Iruka, meu amor, por favor, abra os olhos… Dê algum sinal que está vivo...não posso te perder — pedia Kakashi com a visão embaçada por causa da fumaça e das lágrimas que não conseguia mais segurar.
Kakashi estava se sentindo impotente, como se todos aqueles anos de treinamento para lidar com situações não tivessem servido para nada, pois não conseguia colocá-los em prática, apesar de saber que precisava para poder salvar Iruka. Por isso reuniu todas as suas forças para controlar suas emoções, para fazer o que era certo, não perderia Iruka. No rádio Kakashi podia ouvir Gai coordenando as equipes, onde deveriam ser os pontos para apagar as chamas, onde os paramédicos deveriam esperar os feridos, se sentia orgulhoso do amigo, dos companheiros de Batalhão, todos.
— Iruka, vamos, meu amor, não brinque assim comigo, não hoje. Hoje era para ser um dia especial…
— K-Ka-ka-shi…
Kakashi ouviu a voz do seu amado e ficou feliz por um momento, até ouvir o som das paredes rangindo alto e mais destroços começarem a cair ao lado dos dois e instintivamente Kakashi cobriu o corpo de Iruka com o seu. Não demorou muito e os destroços pararam de cair, mas o Hatake sabia que era por pouco tempo, tinha pouco tempo para sair dali com Iruka, mas como não sabia as extensões dos seus machucados e se conseguiria sair dali sem causar algum dano permanente.
— Ka… shi… — Iruka chamou o namorado com um fio de voz.
— Por favor, não se esforce, vou tirar você daqui, você vai ficar bem, eu prometo.
— Vo… cê…
— Não ouse me pedir para ir embora e te deixar aqui, eu não farei isso.
Iruka com dificuldade levou a mão ao rosto de Kakashi tentando secar as lágrimas do mesmo, mesmo que as suas tivesse correndo soltas.
— Sabe, eu devia ter pedido para você ir morar comigo a mais tempo, aí você não estaria aqui, sempre soube que aqui não era um bom lugar, mas sempre deixei de lado, pois quando nos encontramos conversamos pouco e nos amamos muito.
Kakashi notou um sorriso mínimo no rosto de Iruka e se aproximou lentamente do namorado e deu um selinho rápido antes de continuar a falar.
— Hoje eu ia te fazer um pedido especial, que também deveria ter feito a mais tempo. Porque a gente sempre pensa que terá mais tempo e no final, não temos tempo nenhum e só nos resta arrependimento de não ter feito as coisas antes? — dizia Kakashi entre lágrimas.
No rádio Kakashi podia ouvir seus companheiros e Gai dizendo que o prédio estava muito comprometido, que não iria aguentar muito tempo.
— Iruka, não temos muito tempo, meu amor, queria ter mais — com um pouco de dificuldade, Kakashi se levantou, tirou toda aquela roupa de proteção e tateou nos bolsos até encontrar a caixinha.
Kakashi a pegou com cuidado extremo para não deixá-la cair, a abriu e mostrou a ele as alianças. Iruka estava surpreso, mesmo que seu corpo estivesse todo dolorido e sua mente tivesse dificuldade de se manter atenta, não pode deixar de ficar emocionado.
— Iruka Umino, a melhor pessoa que eu já tive o prazer de conhecer, que me fez feliz durante todos esses anos, apesar das brigas, dos ciúmes, apesar de tudo isso você me fez feliz e espero ter te feito feliz também. Eu te amo tanto Iruka, por isso eu peço, aceita casar comigo?
Antes que Iruka pudesse tentar dizer alguma coisa, foram interrompidos pela voz de Gai em total desespero.
— Kakashi? Está aí? Está na escuta? — perguntou Gai.
— Sim, estou.
— Encontrou o Iruka?
— Sim — respondeu com a voz embargada.
— Como ele está?
— Nada bem Gai, eu acho que ele não… — Kakashi não conseguiu terminar a frase e Gai entendeu a gravidade da situação.
— Eu, sinto muito por isso Kakashi.
— Não sinta Gai, eu o pedi em casamento, mas você atrapalhou a sua resposta — disse Kakashi com um sorriso tímido para Iruka que tentou retribuir.
— Capitão, o senhor precisa sair daí agora, as estruturas estão todas comprometidas, o prédio vai desabar — disse Gai com seriedade.
— Eu não posso, não tem como sair...
— Capitão, por favor, saia agora — Gai praticamente gritou.
— Conseguiram retirar todos os sobreviventes? — perguntou Kakashi ignorando a fala do amigo
— Sim, capitão, só resta vocês dois até onde sabemos — respondeu Gai.
— Gai, abra o sinal para todos, por favor — pediu Kakashi e ouviu o amigo suspirar antes de fazer o que foi pedido — Como sabem aqui é o Capitão Hatake e quero agradecer a todos por seus esforços, por sua bravura, por sua dedicação. Peço que continuem sendo bons homens, bons soldados, que continuem com o bom trabalho… Agradeço a todos pelo esforço, pelo trabalho duro, mas esse é fim para mim — olhou para Iruka que tinha os olhos marejados, não acreditava que Kakashi estava fazendo aquilo — Peço que se afastem, sei que o prédio irá desabar e pelo cheiro e pelo barulho é capaz de ter mais uma explosão, então sem mais mortes e feridos desnecessários. Obrigado a todos.
Kakashi desligou o rádio e o lançou para longe, não queria ouvir os pedidos para que saísse dali, para que abandonasse Iruka, não era capaz de fazer aquilo.
— Você não me respondeu — disse Kakashi puxando Iruka para seu colo novamente, mesmo com reclamação de dor do outro.
Do lado de fora, a uma distância segura como o capitão havia ordenado, alguns bombeiros seguravam Gai que queria voltar lá e buscar o capitão e amigo, mas parou de tentar se soltar quando ouviram a explosão.
Após horas de combate ao incêndio, evitando que se espalhasse para os prédios vizinhos, começaram as buscas por corpos que por ventura pudessem estar por lá, além é claro de Kakashi e Iruka. Gai estava a frente das buscas, tentando se manter o mais informado possível, até que ouviu um dos bombeiros o chamar dizendo que havia encontrado algo. Gai saiu empurrando quem estivesse na frente, sem se preocupar em ser educado, se desculparia mais tarde. Ao se aproximar do local viu outros colegas retirarem os destroços de cima do que parecia ser duas pessoas. Quando terminaram de tirar tudo, confirmaram que eram realmente duas pessoas, uma bem conhecida dos bombeiros, seu Capitão e a outra apenas tinham visto apenas de longe, muitos não chegaram a conhecê-lo pessoalmente, mas sabiam que se tratava do namorado do capitão.
Um detalhe chamou a atenção de Gai, que parecia reluzir naquele amanhecer, um detalhe que fez os olhos de Gai transbordarem de emoção e tristeza. Além de estarem abraçados, com Kakashi o envolvendo de maneira protetora, em seus dedos anelares tinha as alianças que Kakashi havia mostrado ao amigo.
— Você conseguiu, não é meu amigo e ele pelo visto aceitou.