— Ele é tão perfeito — Iruka suspirava pela milésima vez aquele dia para Kurenai e Obito, deixando os dois amigos tensos.
— Por Kami, Iruka. Vocês se viram uma única vez e já está todo apaixonado — disse Kurenai para tentar trazer o amigo à realidade.
— Eu não entendo vocês. Vocês vivem dizendo que eu preciso sair, conhecer alguém e quando eu faço isso, quando encontro alguém que me interessa, ficam querendo me dar um banho de água fria!! — reclamou Iruka.
— Não estamos querendo te dar um banho de água fria, só estamos pedindo para ir com calma — falou Obito.
Os três estavam na casa de Obito aproveitando aquele domingo preguiçoso, enquanto eram atualizados sobre o encontro de Iruka na noite anterior com o tal de Kakashi. Obito e Kurenai sabiam quem era o homem com quem o Umino havia saído, não que fosse um conhecido de algum deles ou algo assim.
Na verdade, Kakashi havia sido contratado através da Family Romance, uma empresa especializada em aluguel de amigos e familiares. A empresa tem vários funcionários e o Hatake é um deles. Pelo que Obito e Kurenai pesquisaram, esses funcionários estão prontos para serem pais, mães, primos, tios e até mesmo namorados.
A intenção da dupla era tirar o amigo de casa, da solidão que insistia em ficar. Sabiam que o Umino evitava relacionamentos, não por não querer, pois ele era um romântico que sonhava com um grande amor e pensaram que se ele tivesse uma boa companhia durante um dia, se abriria novamente para esse sentimento.
Por isso entraram em contato com a empresa, que indicou o Kakashi. Um homem alto, cabelos platinados, corpo definido, tinha uma cicatriz em seu olho esquerdo e usava sempre uma mascara que ia até a pote do nariz, deixando-o com um ar misterioso. Passaram as informações do amigo como gostos, hobbies, manias. Iruka era alguém de gostos simples, amava lecionar para crianças, gostava de ler, assistir filmes e séries e gostava de ouvir rock clássico. Por isso Kakashi sabia tudo do Umino e fez todos seus gostos e isso acabou encantando Iruka que pensou que tinha encontrado alguém perfeito, mal sabendo que o outro sabia de todos seus gostos por causa de seus amigos.
Kurenai e Obito estavam tensos pois a tempos não viam Iruka tão animado com algo e sabiam que ele ficaria bravo quando soubessem que tinha dedo deles por trás daquilo. Tinham que contar logo a verdade para ele. Mas como diriam que contrataram um cara para sair com ele?
Os três amigos ficaram o resto do dia conversando, com Iruka suspirando por Kakashi a cada minuto.
— Queria encontrar com ele novamente, mas nem peguei seu número. Você tem Obito, já que falou que era seu amigo — pediu Iruka com olhinhos brilhando de animação.
Obito não tinha o contato dele e sim da agência e não tinha como passar o número para ele.
— Bem, eu não tenho o numero dele, aquele ser troca mais de numero do que tudo — disse Obito nervoso.
— Ué porque? — quis saber Iruka
— Ah, ele diz que tem um ex-namorado que fica o perseguindo e sempre acaba descobrindo seu número, fazendo assim ele ter que mudar — tentou desconversar o Uchiha.
— Hm, entendi. A conversa tá boa, mas preciso ir para casa preparar minha aula de amanhã — falou Iruka tentando esconder o desanimo pela resposta do amigo, se levantou e se despediu dos amigos para poder ir embora,
— Precisamos contar para ele, Tobi, antes que ele descubra por outra pessoa e perdemos um amigo — disse Kurenai quando se viu sozinha com Obito.
— Essa semana falaremos com ele, antes que ele se apaixone de vez.
Durante aquela semana, Iruka ficou pensando em Kakashi, tentou de todas as formas o número dele, mas não obteve sucesso.
Obito e Kurenai não conseguiram falar com o amigo pois acabaram ficando atarefados e o assunto acabou ficando de lado. Isso até a sexta-feira, quando os dois estavam na sala dos professores.
— Hoje no final da aula vamos conversar com Iruka, contar que Kakashi foi contratado através do Family Romance, mas não foi por mal, queríamos apenas que ele não se sentisse sozinho, não esperava que ele fosse se apaixonar de cara — disse Obito.
— Mas acho que exageramos um pouco, demos todas as informações para Kakashi sobre os gostos do Ruka e quem não se encantaria por alguém que nos acompanha em tudo? — falou Kurenai preocupada.
— Espero que Iruka nos perdoe. Estou me sentindo culpado. Deveríamos ter falado a verdade antes do encontro e pedido sua opinião — falou Obito com tristeza, fazendo Kurenai lhe dar um tapa na nuca.
— Agora você diz isso, idiota. Eu falei isso antes, mas você disse ‘Não, ele vai gostar, será bom para o Ruka, ele não vai ficar bravo" — disse Kurenai imitando horrivelmente a voz do amigo.
— Mas você concordou também. Nós dois erramos e pronto. Agora temos que consertar isso o quanto antes — afirmou Obito.
O que os dois não imaginavam é que Mizuki, colega de trabalho dos três e que tinha uma paixão, na verdade obsessão por Iruka, havia escutado toda aquela conversa e daria um jeito de se aproveitar daquela informação. Mas precisava ser rápido, pois as aulas estavam no final e logo Iruka sairia da sala e Kurenai e Obito falariam com ele.
Rapidamente Mizuki bolou um plano, mas não podia simplesmente falar, Iruka não acreditaria em si, por isso pegou seu telefone e foi pesquisar sobre a tal Family Romance e logo a encontrou. Procurando um pouco mais, encontrou a foto e o perfil do tal de Kakashi. Como era o único com aquele nome, deduziu que foi aquele homem que os amigos de Iruka contrataram para sair com o Umino.
No final do dia, munido de tudo o que precisava, Mizuki foi atrás de Iruka o encontrando terminando de guardar seus materiais para poder ir para casa.
— Posso falar com você um minuto, Iruka? — perguntou Mizuki entrando na sala.
— Não tenho nada para falar com você Mizuki, nem mesmo assunto do trabalho.Se me der licença — respondeu Iruka com rispidez.
— Mas eu tenho, Iruka. E você vai me ouvir.
— Não irei, Mizuki.
— Nem mesmo se for sobre alguém chamado Hatake Kakashi? — perguntou e sorriu quando viu Iruka parar o que fazia e o encarar confuso.
— Como sabe sobre ele? — perguntou Iruka.
O professor sabia que o outro estava obcecado por si e não deveria ficar surpreso por ele saber sobre Kakashi, mesmo assim, sentiu um frio subir por sua espinha.
— Sei mais do que você, aparentemente — respondeu na intenção de atiçar a curiosidade do Umino.
— Cale a boca Mizuki, não vou cair nesses seus joguinhos, já os conheço bem.
— Mas não é joguinho, Iruka. Aliás, você sabia que ele trabalha para a Family Romance? Uma empresa especializada em “alugar” pessoas para se passarem por amigos e familiares, até mesmo namorado?
— Do que está falando, Mizuki?
— Disso aqui — falou Mizuki entregando seu celular para Iruka que estava com o site da Family Romance aberto.
Iruka se sentou em sua cadeira enquanto lia as informações do site e pensava quem faria aquilo, quem alugava pessoas desconhecidas para se passarem por pais, irmãos, avós, primos, tudo só para passar uma boa impressão aos outros ou para não se sentirem sozinhas. Era um absurdo para ele.
— E o que isso tem haver com Kakashi, está me dizendo que ele trabalha com isso?
— Sim, clica em “Nossa equipe” e verá as pessoas que trabalham lá, até parece um cardápio — falou Mizuki com deboche.
Quando Iruka fez isso, seu coração quase parou. Logo no começo estava a foto de Kakashi, com as especificações do mesmo, que tipo de público atendia, e ia desde irmão até namorado ou noivo, para ambos os sexos.
— Quem faria isso? Quem contrataria alguém para… sair comigo? — perguntou Iruka.
— Talvez seus amigos possam te responder isso — respondeu Mizuki como se não fosse importante.
— Está querendo dizer que Obito e Kurenai estão por trás disso? Não é verdade.
— Se não acredita em mim, pergunte a eles.
Iruka jogou sem o menor cuidado seus pertences dentro da mochila e foi atrás dos amigos, praticamente jogando o celular de Mizuki em sua cara. Mas antes de sair, Iruka ainda teve que ouvir Mizuki dizendo.
— Deveria escolher melhor seus amigos. Que amigo paga alguém para sair com outro, ignorando seus sentimentos e sem o outro saber? Se você estivesse comigo Iruka, não precisaria passar por isso — falou Mizuki.
Iruka ignorou a fala do colega e saiu de sua sala rapidamente, queria ouvir dos seus amigos que aquilo era mentira, que nunca fariam aquilo, que Mizuki com sua loucura conseguiu inventar tudo aquilo.
Obito e Kurenai estavam de pé na sala dos professores, prontos para irem atrás de Iruka, quando o mesmo entrou como um furacão. Os dois haviam se atrasado porque algum engraçadinho havia trancado a porta da sala de Kurenai, aí até o diretor chegar com a chave reserva levou um tempo.
— Me digam que não é verdade? — perguntou Iruka jogando a mochila em cima da mesa.
— O que aconteceu Iruka? — perguntou Kurenai preocupada e indo em direção ao amigo que se afastou, deixando os dois preocupados.
— Me digam que não pagaram para ele sair comigo — continuou Iruka.
— Do que está falando? — pediu Obito.
— Do Kakashi e do Family Romance — Iruka praticamente gritou.
Obito e Kurenai se entreolharam surpresos pelo fato do Iruka saber daquilo e não era nada bom. Seria bem mais difícil fazê-lo entender os motivos dos amigos.
— Porque fizeram isso? É algum tipo de pegadinha sem graça? Queriam ver se eu me apaixonaria novamente para depois falar que foi pago para me conquistar? — Iruka falava alto e o silêncio dos amigos o deixava mais irritado.
— Não foi isso, Ruka, se acalme — pediu Obito.
— Foi como então? Porque diabos acharam que seria uma boa ideia contratar alguém para sair comigo? Acharam que estou desesperado para encontrar alguém?
— Claro que não. Estávamos apenas cansados de ver você triste, sozinho e mentindo para nós e para si mesmo que está bem sozinho. Sei que estar em sua própria companhia é bom, mas não precisa se isolar.
— Porque não me disseram, não perguntaram minha opinião antes de fazer isso. Estou me sentindo um idiota e o pior enganado por vocês dois e por ele também. Passaram minha ficha completa para ele? Para saber tudo o que eu gosto?
— Iruka, desculpe a gente vai, não foi por mal, não queríamos te enganar, brincar com sentimentos, nem nada disso — falou Kurenai se aproximando do amigo, que se afastou novamente.
— Espero que tenham gastado uma nota para me proporcionar uma noite maravilhosa — disse Iruka com ironia.
— Como assim uma noite? O nosso contrato foi para apenas duas horas — disse Obito surpreso.
Iruka entrou em choque ao ouvir aquilo do amigo, pensando em tudo que conversaram naquela noite, do passeio que fizeram pela cidade e como terminaram aquela noite de uma maneira tão prazerosa que nem parecia que haviam se conhecido a poucas horas atrás, mas logo voltou a realidade e encarou os amigos.
— O que querem dizer com isso? — perguntou Iruka tentando ignorar os pensamentos que surgiam em sua mente.
— Parece que ele quis ficar com você mais tempo. Acho que você não foi o único a ficar interessado — brincou Kurenai.
— Então vocês irão o contratar de novo e quem sabe consigo saber se ele também se interessou, como dizem. Aí depois pensarei se desculpo vocês dois — disse Iruka com um sorriso.
— Tá pensando que estamos nadando em dinheiro, querido? — perguntou Kurenai sem acreditar no que ouviu.
— Aí já não é problema meu, vocês que começaram com essa história de encontro falso para mim, agora se virem — respondeu Iruka.
— Tem uma coisa que não entendi, como ficou sabendo sobre isso? Sobre o Family Romance? — perguntou Obito.
— Mizuki que me contou, parece que apesar da sua obsessão, foi mais sincero que vocês.
— Não seja ingênuo querido Iruka, ele apenas fez isso para você ficar chateado com a gente e ele poder ter uma desculpa para se aproximar e tentar te consolar. Não caia nessa armadilha.
— Eu sei disso. Ou acham que iria correr para os braços daquele louco só porque vocês mentiram para mim, me enganaram, me fizeram de idi..
— Já entendemos Umino. A gente marca um novo encontro, mas se não der certo ou não for como imagina, nem vem querer culpar a gente.
— Pensarei com carinho — respondeu Iruka pegando sua mochila para poder ir finalmente embora — Quero encontrar ele amanhã — falou o Umino já na porta da sala dos professores.
— Ele vai nos levar à falência, mas foi melhor do que esperava, pensei que ele nunca mais falaria com a gente — desabafou Obito assim que Iruka saiu — Mas agora, se me der licença minha querida amiga, preciso ter uma conversinha com o Mizuki, sei que ele deve estar na escola. Ele nunca vai embora antes do Iruka.
— Ok, só não o mate — disse Kurenai com um sorriso perverso — Mas se precisar de ajuda para esconder o corpo, me chame. Enquanto isso, entrarei em contato com a Family Romance para ver se o crush do nosso amigo está disponível. Estou me sentindo uma cafetina — brincou Kurenai.
— Mas ao invés de ganhar dinheiro, está gastando dinheiro. Vou logo atrás daquele verme antes que ele vá embora. Depois me passa o valor que ficará essa brincadeira. Tadinho do meu suado dinheiro… Iruka terá que nos ressarcir depois — falou Obito se despedindo da amiga e indo atrás do Mizuki.
[...]
No dia seguinte, Iruka estava sentado à mesa do restaurante onde tinha sido marcado o encontro com Kakashi. O mesmo estava ansioso, pois não sabia o que aconteceria naquela noite, se as coisas sairiam como planejado ou não.
Sua tensão e nervosismo aumentou um pouco mais ao receber uma mensagem da Family Romance avisando que o encontro havia sido cancelado pelo funcionário da empresa, alegando que não poderia ir por questões pessoais. Havia um pedido de desculpas enorme e a opção do valor pago ser devolvido ou deixado de crédito para uso futuro. Iruka respondeu a mensagem pedindo o reembolso, não seria justo com os amigos, ou talvez sim, já que quem começou tudo aquilo foram eles.
Estava prestes a se levantar para ir embora, quando ouviu uma voz conhecida falando consigo.
— Pensei que tínhamos um encontro — questionou Kakashi quando Iruka o olhou.
— E eu pensei que ele havia sido cancelado por motivos pessoais — rebateu Iruka.
— E foi. Cancelei o encontro pela agência porque queria um encontro normal contigo, a menos que não queira.
Iruka ficou surpreso com a fala do outro e por um momento esqueceu como se falava.
— Queria, se possível, começar de novo contigo. Como se estivéssemos nos conhecendo agora — esclareceu Kakashi e viu Iruka apenas acenando com a cabeça confirmando.
— Me chamo Hatake Kakashi, posso me sentar? — falou Kakashi com um sorriso, que mesmo com a mascara era possível perceber e estendeu a mão para o outro.
— Umino Iruka, prazer em te conhecer. Claro, sente-se — disse Iruka com um sorriso.
Os dois conversaram por bastante tempo, sobre coisas aleatórias até que chegaram no assunto trabalho. Onde Iruka acabou questionando se ele se sentia bem enganando os outros.
— Tecnicamente eu não engano ninguém. Quando me contratam sabem o que estão fazendo, como agirei e tudo mais, sempre tenho tudo planejado. Mas com você, nada saiu como planejado.
— O que quer dizer?
— Quero dizer que depois de conversar um pouco com você naquele dia, percebi que não precisava fingir que gostava das mesmas coisas que você, claro que em algumas coisas somos bem diferentes, mas isso não impediu de pensar em você durante esses dias, dos momentos bons que passamos juntos.
— Então quer dizer que também pensou em mim?
— Claro, não nego. Queria sair contigo novamente, mas como não tinha seu telefone, tive que esperar a sorte de você voltar a ligar para a Family Romance, por isso que quando disseram que havia entrado em contato para um novo encontro eu aceitei, mas depois cancelei quando soube onde nos encontraríamos. Espero que não tenha ficado chateado por isso.
— Não fiquei, na verdade gostei. Apesar de termos nos conhecido através dos meus amigos sem noção que inventaram um encontro falso para mim, fico feliz de ter sido com você.
— Eu também, Iruka. Espero que esse possa ser o começo de uma relação que espero que cresça e evolua — falou Kakashi olhando nos olhos de Iruka e em seguida pegando a sua mão e a segurando gentilmente sob a mesa.
Iruka se inclinou sobre a mesa, sendo imitado pelo outro. Se aproximaram até sentirem a respiração um do outro, estavam imersos naquela atmosfera, ignorando os olhares curiosos e alguns descontentes pela cena que presenciavam, mas não ligavam. Kakashi foi quem encerrou a distância, juntando os lábios com o do homem à sua frente. Um simples beijo para alguns, mas para os dois tinha um grande significado.