
Terceiro Estágio - A Cura parte I
Kakashi acordou mas não abriu os olhos, esperava que quando o fizesse estivesse em seu quarto, com um moreno ao seu lado e que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo, mas um bip irritante indicava que era totalmente o oposto e ele não estava sonhando. Abriu os olhos e ficou fitando o teto, sabia que não estava sozinho naquele quarto.
─ O que aconteceu? ─ perguntou depois de alguns minutos em silêncio.
─ Você desmaiou ontem num beco, sorte sua que encontramos você e o trouxemos para cá antes que alguém o visse e descobrisse sobre sua doença e sobre seu disfarce como Sukea.
─ Pensei que tinha dito para não falar a ninguém sobre isso, Tsunade.
─ Eu sei. Posso ser uma excelente ninja médica mas há coisas que não posso fazer sozinha e isso é uma delas. Precisarei de ajuda. E tenho certeza que o Jiraya não sairá espalhando para todo mundo sobre isso.
─ Quanto tempo fiquei apagado? ─ perguntou o Hatake e antes que Tsunade pudesse responder o prateado começou a tossir e a cuspir não só pétalas, mas as flores inteiras juntamente com sangue, o que deixou a Hokage nervosa, pois confirmou que a doença estava progredindo muito mais rápido do que esperava.
─ Kakashi, tente se acalmar, sei que é difícil, imagino que deva doer até os ossos, mas quanto mais você tossir mais irá danificar seus órgãos internos. ─ disse Jiraya, que até então apenas observava.
─ Serei sincera com você, isso não era para estar acontecendo ainda, imaginei que teríamos algumas semanas, mas pelo visto não temos todo esse tempo. Preciso de alguns exames específicos e só depois disso saberei o que fazer, qual caminho tomar.
A loira, com a ajuda de Jiraya começou a fazer seus exames no Hatake que vez ou outra tossia. Os mais velhos o olhavam com pesar, pois por mais que ele tentasse se mostrar forte, era perceptível o desconforto e a dor que sentia.
Quando terminou os exames, Tsunade tinha uma expressão ainda mais séria e a tensão exalava por seus poros. Aquilo não estava nada bem.
─ Então, quanto tempo eu tenho? ─ perguntou com uma pitada de humor negro que não foi muito bem aceito pela mulher.
─ Eu deveria te deixar morrer sofrendo, agonizando, apenas para aprender a tratar sua vida melhor e não de maneira desprezível, como se não fosse nada. ─ respondeu irritada.
─ Eu estou cansado Tsunade, mas não quero morrer assim, não dessa forma tão banal..
─ Não é banal amar, sentir o amor, essa é a maior batalha que você irá enfrentar. Ou iria, já que desistiu antes mesmo de lutar…
─ Já conversamos sobre isso.
─ O que aconteceu ontem? Quando foi atrás do Iruka. Pode negar até o final, mas eu sei que no fundo você iria falar com ele, você queria, mas algo aconteceu e não foi coisa boa. Me conte de uma vez. ─ exigiu a loira.
Kakashi apenas suspirou, nada passava despercebido por ela.
─ Eu o vi com outra pessoa, imagino que era seu namorado pela intimidade que estavam. Nunca senti tanta inveja de alguém como ontem, de querer estar no lugar dele, de ter toda aquela demonstração de carinho e afeto. Eu perdi meu pai, meus amigos, meu sensei e agora perdi algo que eu sequer tive, e essa é a pior dor que já senti, se amar for assim, nunca mais quero sentir isso novamente.
─ Não diga isso Kakashi, não é porque não foi correspondido dessa vez que todas serão assim, você ainda encontrará alguém que te ame da mesma maneira que ama o Iruka e quando isso acontecer, será a melhor sensação do mundo. Acredite em mim. ─ disse Jiraya.
Kakashi começou a tossir novamente e estava se cansando, isso porque os sintomas não tinham iniciado a uma semana. Só queria entender porque está acontecendo tão depressa, pois pelo que havia entendido, os estágios seriam longos e dolorosos e estava se preparando para isso.
─ Porque está evoluindo tão rápido Tsunade, você disse que o prazo seria um pouco longo, mas pelo que sinto, não tenho muito tempo.
─ Eu não tenho certeza, minha opinião é que ela quer terminar logo, não sei o motivo, já que além de ser rara, nas vezes que acompanhei casos de Hanahaki ela evolui mais devagar. Pelos exames que fiz, seus órgãos internos como pulmão, vias respiratórias estarão tomadas pelos ramos em menos de uma semana. Esses dias serão muito difíceis, não nego, você não irá conseguir comer, irá tossir ainda mais, sentirá como se seu peito estivesse sendo rasgado de dentro para fora, o coração será cada vez mais apertado. Quando estiver no seu limite, aí poderei fazer a cirurgia para retirar todas flores, folhas e caules.
─ Porque só quando estiver assim? Não pode fazer, tipo, hoje, agora? ─ perguntou Jiraya.
─ Porque ainda está crescendo, preciso que ela diminua o ritmo ou corremos o risco de iniciar tudo de novo. Não queremos isso, não é Kakashi.
─ Uma vez é mais do que o suficiente. ─ respondeu o mascarado deitando na cama novamente. Estava se sentindo exausto.
─ Vamos Jiraya, você me ajudará a preparar o que preciso, buscar algumas ervas para recuperação no pós operatório e para que ele se mantenha vivo e estável até a cirurgia.
─ Mas eu tinha pesquisas para fazer…
─ Tinha, falou certo, agora vamos. Kakashi descanse e me chame se precisar de alguma coisa.
Os dias que se seguiram foram os piores que Kakashi já viveu, piores até do que quando teve suas crises e pesadelos com a morte da Rin onde ele via o sangue delas em suas mãos, não importando o quanto as lavasse ele ainda estava lá. Chegou a preferir aquilo do que o que estava sentindo agora. Não conseguia comer pois nada parava em seu estômago, sua respiração estava cada vez mais difícil, o ar parecia cada vez mais escasso e seu coração parecia pesar o triplo e doía a cada batida. Será que a morte seria uma escolha muito ruim, será que ainda poderia escolher essa opção? Quase morreu, pelas mãos da Tsunade quando fez essa pergunta a Hokage.
Na sala da Hokage, Tsunade e Jiraya conversavam a respeito do caso de Kakashi, quando estavam perto do ninja copiador evitavam o máximo demonstrar sua preocupação, mas ali, só os dois, a vontade da grande ninja médica era de chorar por ver um jovem amando tão intensamente como o Hatake estava e não ser correspondido.
─ Eu não acho que ele não seja correspondido. ─ disse Jiraya de repente fazendo Tsunade erguer a cabeça e o olhar com raiva.
─ Como pode dizer isso? Não viu os sinais da Hanahaki, se ele fosse não estaria morrendo um pouco a cada dia, não estaria sofrendo como está. ─ disse Tsunade num misto de raiva, tristeza e frustração.
─ Deixa-me explicar Tsuna, andei pesquisando, conversando, ouvindo conversas por aí e fiz umas descobertas muito interessantes a respeito do Iruka Umino. ─ começou Jiraya
─ Resumindo, andou fofocando..
─ Chame do que quiser, quer saber ou não o que descobri? ─ perguntou e Tsunade assentiu, não tinha nada a perder ─ Eu acho que o Iruka ama o Kakashi, ou pelo menos o amou, mas ele não sabia se seria correspondido e por medo ou insegurança ele resolveu trancar esse amor no fundo do coração e no caminho acabou encontrando alguém disposto a ajudar, disposto a lhe oferecer todo o amor que ele precisava e lhe deu todo o espaço, todo o tempo para que aos poucos retribuísse o que lhe foi dado. A relação de Iruka com Yamato foi sendo construída aos poucos, hoje é algo sólido e estável…─ Jiraya disse e foi novamente interrompido por Tsunade.
─ Espera! Está me dizendo que Iruka tem um relacionamento…
─ Namoro…
─ Namoro com o Capitão Yamato, que é amigo do Kakashi desde a ANBU, que tiveram um envolvimento rápido e que irá assumir o time 7 enquanto o Kakashi está afastado, esse Yamato? ─ perguntou incrédula.
─ Sim, esse mesmo. Mas pelo que sei, algo em Iruka mudou, não sei se o amor que um dia sentiu está renascendo ou…
─ Nunca morreu Jiraya, um amor nunca morre, ele apenas adormeceu e com Yamato ele acabou criando um novo amor, mas nunca esqueceu Kakashi. Posso estar louca, mas acho que o avanço da doença no Kakashi é para evitar que isso aconteça. Iruka já tem uma vida, alguém para amar e ser amado, É como se o universo, Kami, Rikudou ou sei lá mais quem estivesse tentando impedir isso de acontecer. Iruka ama os dois, de formas e intensidades totalmente diferentes. Um amor como dos dois, que foi construído é para toda a vida. ─ disse a Hokage
─ Mas eu acho que o amor entre o Iruka e o Kakashi é algo maior, algo que deveria acontecer, mesmo com tudo dizendo que não. O que aconteceria se Iruka tivesse dito a Kakashi o que sentia, ou se ele não tivesse demorado tanto para aceitar seus próprios sentimentos? Eu posso estar enganado, mas ali é encontro de almas. E nada, nem o tempo, nem as dificuldades, nem mesmo a morte, é capaz de acabar com ele. Como você mesmo disse, eu acho que no fundo, esse amor está tentando sair de onde ele estiver.
─ Mas não terá tempo, infelizmente o tempo desse amor acontecer já passou. Não há nada que possa ser feito. ─ admitiu Tsunade com tristeza.
─ Tsuna, porque não trás o Iruka para ver o Kakashi antes da cirurgia?
─ Enlouqueceu de vez, seu sapo velho? Quer acabar de vez com o Hatake? Se for isso, deixe que eu faço isso com um só soco, doeria menos.
─ Não, mas pense e se esse amor renascer, reascender e o Kakashi não precisar fazer essa cirurgia?
─ Bateu com a cabeça onde hoje? Não é um conto de fadas ou algum dos seus livros que tudo se resolve magicamente com um beijo e outras coisas. Isso é vida real, não vou arriscar a vida de Kakashi por uma ideia louca. Amanhã faremos a cirurgia e ele precisa estar descansado e calmo. A situação toda já é complicada, não preciso de mais problemas.
Os dois foram interrompidos por batidas frenéticas na porta, a pessoa do outro lado estava realmente nervosa. Mesmo antes de abrir a porta sabiam quem era, só não sabiam o motivo de justo ele estar ali. Tsunade encarou Jiraya, que apenas deu de ombro como se disse “Eu não o chamei”.
─ Entre. ─ autorizou a Hokage.
Pela porta passou Iruka, ele estava visivelmente nervoso, como se não soubesse explicar o motivo de estar ali, diante da Hokage.
─ O que deseja Iruka? Algum problema na Academia ou com algum aluno? ─ perguntou o motivo mais óbvio para o sensei estar ali, não imaginava que a resposta seria outra.
─ A senhora pode me achar louco, mas eu acho que o Kakashi-kun está com problemas.
─ Porque acha isso Iruka? ─ perguntou Jiraya se intrometendo no assunto.
─ Bem, eu… eu não sei como explicar, mas sinto como se ele estivesse ferido ou machucado e que precisa de ajuda.
Tsunade suspirou, entrelaçou os dedos das mãos enquanto apoiava os cotovelos na mesa e encarava o sensei a sua frente. Realmente Jiraya estava certo, não tinha como ele saber sobre Kakashi, como ele estava, a ligação dos dois era profunda, uma pena que perceberam isso tarde demais. Kakashi que a perdoasse pelo que faria, mas deixaria Iruka o ver, mesmo sabendo que não adiantaria nada.
─ Você está certo Iruka. Kakashi não está bem. Ele não foi em missão, isso foi apenas um disfarce para que não soubessem da real condição dele. Se soubesse que o temido Kakashi Hatake está doente, seria um alvo fácil e teríamos sérios problemas. Entende não é? ─ disse Tsunade para surpresa de Iruka e de Jiraya que imaginou que a loira fosse inventar uma mentira e dispensar o jovem sensei.
─ Sim, entendendo, a Vila poderia sofrer algum ataque e ele também. Isso é informação confidencial não é? Porque está me dizendo isso? ─ perguntou o sensei um pouco confuso pela Hokage ter falado tão facilmente o que acontecia ao outro ninja.
─ Porque ela confia em você Iruka, sabe que você não falará para ninguém o que foi dito aqui. Estou certo.
─ Sim, não falarei nada com ninguém. C-Como ele está? Eu… eu… posso vê-lo? ─ perguntou Iruka.
No fundo o sensei não sabia porque estava se sentindo tão mal desde que soube que Kakashi tinha ido em uma missão, sozinho. Sempre soube que ele era um lobo solitário, mas algo no fundo do seu coração dizia que aquela missão era uma farsa e que na realidade o mascarado ainda estava na vila, mas estava mal. Não queria admitir, mas sentia que estava prestes a perder Kakashi, mesmo que nunca tenha sido dele, a sensação de perda o consumia. E isso estava começando a afetar até mesmo seu relacionamento com Yamato. Estava tão perdido em seus questionamentos internos que não viu o olhar de Tsunade para Jiraya, uma pergunta muda se deveria deixar Iruka ver Kakashi.
─ Iruka.. ─ chamou Tsunade ─ Vem comigo, te levarei onde ele está, mas peço que mantenha a calma, ele não está bem, está abatido, não está falando muito, peço que tenha cuidado com o que for falar e se ele quiser te dizer alguma coisa, apenas o escute. Pode fazer isso?
─ Claro, sem problemas. ─ o Umino concordou mesmo não entendendo muito bem o que Tsunade quis dizer.
─ Não deixe ninguém nos seguir ou nos atrapalhar. ─ disse a loira para Jiraya que apenas concordou com a cabeça.
Tsunade se levantou da cadeira e foi em direção da porta, sendo prontamente seguida por Iruka. Andaram pelos corredores da Torre do Hokage até chegar em um local mais afastado e entraram em uma das salas, que mais parecia um quarto de hospital. O local era fechado, não tinha sequer uma janela para entrar uma luz natural ou ar fresco, apesar disso o clima ali dentro era agradável. No local tinha alguns equipamentos médicos que Iruka não sabia dizer para que serviam, mas que estavam ligados ao Hatake. Assim que os olhos de Iruka focaram no homem deitado na cama, todas as palavras e pensamentos o abandonaram. Não acreditava no que via, Kakashi estava mais magro, mais abatido do esperava, não usava a máscara e em suas mãos parecia ter um lenço ou algo do tipo e parecia estar com sangue, mas Iruka não pode confirmar. Iruka só saiu do transe quando ouviu a voz rouca do Kakashi falando e ele parecia irritado.
─ Porque ele está aqui? Porque o trouxe aqui?
─ Se acalme Kakashi, não falei nada e você também não precisa. Ele que veio me procurar para saber de ti e apenas disse que estava aqui e que estava doente, nada além disso…
─ Eu apenas senti que estava mal e vim procurar a Hokage e pelo visto estava certo. O que aconteceu contigo? ─ perguntou em um tom baixo se aproximando da cama onde Kakashi estava.
Tsunade saiu do quarto antes que o jounin dissesse algo, não queria admitir, nem sabia se estava fazendo o certo, mas os dois precisavam conversar, nem que não fosse sobre eles e seus sentimentos. Kakashi queria mandar Iruka embora, ele era a última pessoa que queria ver naquele momento, mas uma parte de si o queria por perto, mesmo sabendo que seria a última vez.
─ Estou doente Iruka, mas amanhã farei uma cirurgia e logo voltarei a ficar bem novamente. Não se preocupe.
─ Eu me preocupo contigo… ─ disse envergonhado
─ Porque? Mal nos falamos ou somos amigos, já chegamos até a discutir por causa do Naruto, Sasuke e Sakura.
─ Eu sei disso… É tarde para dizer que sinto muito por isso? ─ perguntou Iruka se sentando na cama ao lado do prateado.
─ Acho que sim, não podemos voltar no tempo. ─ respondeu Kakashi
─ Eu gostaria de poder voltar no tempo e fazer coisas que não tive coragem.
─ As escolhas que fizemos nos tornaram o que somos hoje.
─ As tuas te transformaram em um dos melhores ninjas de Konoha, o mais temido e conhecido entre as nações e as minhas me transformaram num covarde e inseguro.
─ Mas te trouxeram coisas boas também, não é? ─ perguntou Kakashi.
─ Sim, não posso negar. E agradeço por elas.
Os dois ficaram em silêncio, apenas se olhando, ambos sentiam que aquilo era uma espécie de despedida para eles e se sentiam incomodados com essa sensação que chegava a ser sufocante.
─ Posso te fazer um, na verdade dois, pedidos Iruka? ─ perguntou Kakashi se ajeitando para poder sentar na cama com a ajuda do outro que percebeu sua intenção.
─ P-pode, o que você quiser… ─ respondeu corado.
─ Você… poderia soltar seu cabelo? Sei que é um pedido estranho, mas sempre quis te ver com eles soltos, deves ficar bonito.
Iruka corou com o pedido e com o elogio, não esperava algo assim vindo daquele que amou e que desejou secretamente por muito tempo o ouvir pedindo aquilo. Mesmo com vergonha, o sensei levou a mão ao cabelo e com cuidado puxou o elástico que prendiam seus longos fios castanhos, que cairam como uma cascada nos ombros do sensei o deixando ainda mais belo. Kakashi não conseguiu evitar e levou a mão aos fios soltos fazendo um carinho que foi bem aceito. Iruka não sabe dizer se Kakashi sentiu o mesmo que si, mas quando sentiu o toque do outro, foi como se uma corrente elétrica atravessasse seu corpo e a sensação era tão reconfortante que poderiam ficar assim por horas.
─ Qual… qual o outro pedido? ─ Perguntou Iruka envergonhado, mas mesmo assim não se afastou do carinho que recebia.
Kakashi queria ter a coragem de pedir um beijo ao moreno, mas não poderia, não com ele namorando com seu amigo, mas era algo que desejava e por algum motivo sentia que era o que Iruka também. Inconscientemente ambos se aproximaram até sentirem as respirações se chocarem, não iriam se afastar, não queriam, quando seus lábios iam se tocar, Kakashi começou a tossir como nunca antes, o que assustou Iruka já que além da tosse ele começou a cuspir flores e mais flores de girassóis, suas preferidas, junto com uma quantidade assustadora de sangue. Iruka estava desesperado, não sabia o que fazer, não poderia o deixar ali sozinho e ir atrás de Tsunade. Foram longos minutos até o Hatake se acalmar e parar de tossir. O quarto estava uma bagunça com pétalas, flores, caules e sangue espalhado para todos os lados.
Com cuidado, Iruka deitou Kakashi na cama, ele estava visivelmente cansado, mesmo assim com o pouco de força que ainda tinha conseguiu fazer seu pedido a Iruka.
─ Você… você poderia ficar aqui comigo… até eu dormir, por favor… quero poder ver seu rosto uma última vez antes de esquecer dele para sempre. ─ Pediu Kakashi com um fio de voz.
Iruka apenas assentiu e se aproximou mais de Kakashi e pegou sua mão e a apertou de leve, fazendo um carinho enquanto observava o outro lutar para manter os olhos abertos.
─ Será que as coisas teriam sido diferentes se eu não tivesse sido tão inseguro? ─ Iruka falava consigo mesmo, nem tentava segurar as lágrimas que rolavam por seu rosto.
Fechou os olhos com força numa tentativa falha de impedir mais lágrimas, quando ouviu Kakashi falar, ou pensou ter ouvido.
─ Eu te amo Iruka.
O moreno arregalou os olhos e olhou para Kakashi para ver se ele estava acordado, mas o encontrou com os olhos fechados e a face serena, parecia estar dormindo profundamente. Agora não sabia se tinha realmente ouvido aquilo ou se imaginou aquilo.
Se assustou quando ouviu seu nome ser chamado e uma mão tocar seu ombro. Tentou inútilmente secar as lágrimas com as costas das mãos para encarar quem o chamava. Era Jiraya e Tsunade.
─ Ele tem Hanahaki não é? ─ perguntou retoricamente ─ E a culpa é minha, por ter escolhido enterrar o que sentia e ignorar que o amava. Se não tivesse feito isso, se tivesse o procurado e aberto meu coração, isso não estaria acontecendo com ele. Como pude fazer isso?
Tsunade e Jiraya apenas ouviam o monólogo de Iruka, nenhum deles sabiam o que dizer. Tsunade estava era um tanto surpresa por Iruka saber sobre Hanahaki.
─ Não se culpe Iruka, não tinha como saber o que aconteceria, você fez o que achou melhor na época. Só precisa decidir o que fará de agora em diante. Irá sair por aquela porta sem olhar para trás e seguir sua vida ao lado do Yamato? Ou tentará, de alguma maneira, mesmo que seja difícil, se entender com o Kakashi? ─ Perguntou Jiraya.
Iruka não tinha resposta para aquela pergunta. Seria capaz de fingir que nada aconteceu e seguir ao lado do Yamato com quem tem um relacionamento estável e seguro ou tentaria algo com o ninja computador, mesmo sem saber se dariam certo ou se seria perda de tempo.
─ Eu… eu não sei… é muita coisa para assimilar e processar…. Hokage-sama, o que ele quis dizer quando falou que iria esquecer?
─ Ele escolheu fazer a cirurgia para remover as flores e caules e como consequência dessa operação ele irá esquecer você, esquecer que um dia te amou, que sentiu algo por ti. Ele passará ao teu lado e não saberá quem é Iruka. Sei que poderei parecer cruel com o que falarei, mas o melhor a fazer é esquecer o Kakashi. Definitivamente. Segue sua vida ao lado do Yamato, você o ama e ele também. Siga a sua vida.
─ Eu não sei se conseguirei esquecer tudo o que vi, que ouvi. Não sei se posso e se quero. Preferia não ter vindo aqui hoje, nem ter visto ele nesse estado. Eu sempre faço as escolhas erradas.
─ Iruka, vá para casa, descanse. Se precisar peça um afastamento da Academia, e se for possível, peça um tempo a Yamato, converse com ele, seja sincero. Ele entenderá. Coloque todos seus sentimentos na balança e só depois tome uma decisão. ─ Aconselhou Jiraya.
Antes de sair daquela sala, Iruka juntou algumas flores do chão, mesmo que estivessem sujas de sangue. Não sabia dizer porque fez aquilo, mas precisava levar algumas delas. Cabisbaixo saiu da sala e seguiu pelos corredores da Torre do Hokage até a saída. Já estava noite, poucas pessoas estavam na rua, alguns comerciantes fechavam suas portas encerrando mais um dia de trabalho.
No caminho para casa encontrou Naruto e seu time que o chamaram, mas ele simplesmente ignorou. Os três acharam estranho já que o sensei era sempre simpático e educado com seus alunos. Os dois meninos até pensaram em ir atrás do antigo sensei, mas Sakura os impediu pois notou que ele aparentava estar chorando e segura algumas flores com força contra o peito que aparentavam estar com algumas manchas vermelhas.
─ Acho melhor deixar o Sensei sozinho, ele não parece estar bem. ─ Disse a rosada.
─ Então é melhor a gente ir ver como ele está, se ele está bem, se precisa de algo. ─ Disse Naruto indo atrás do sensei, mas foi impedido por Sasuke.
─ Sakura tem razão Naruto. Os adultos podem resolver seus próprios problemas e nós poderíamos atrapalhar. ─ Disse o Uchiha puxando o loiro para o lado oposto de onde Iruka ia.
Ao chegar em casa, Iruka nem notou que as luzes estavam acesas, sinal de que Yamato o esperava. Abriu a porta, retirou seu calçado e foi direto ao quarto, ignorando totalmente o namorado que o chamava preocupado pelo estado em que ele se encontrava.
─ Iruka! Amor, está tudo bem? ─ Perguntava Yamato preocupado assim que entrou no quarto e viu Iruka sentado no chão chorando enquanto apertava com força as flores.
Yamato conhecia seu companheiro muito bem para saber que a única pessoa capaz de o deixar naquele estado era Kakashi. Por isso se aproximou com cautela de Iruka e com cuidado levantou o rosto do moreno para olhar em seus olhos.
─ O que aconteceu Iruka, por esta assim? E essas flores com… isso é sangue?
Iruka não o respondeu, não conseguia.
─ Iruka, por Kami, fale comigo. Eu não posso ler mentes, você tem que me dizer o que aconteceu para você estar assim, por favor meu amor, me diga.
Iruka olhou para Yamato que tinha uma feição preocupada e imaginou que a sua deveria estar péssima. Precisavam conversar.
─ Ele… ele está doente por minha causa. Eu destruí a vida dele.
─ Do que está falando Iruka? Não estou entendendo.
─ Kakashi está doente. Ele tem uma doença chamada Hanahaki.
─ Hanahaki não é apenas uma lenda? ─ Perguntou confuso.
─ Isso aqui tem cara de ser lenda? ─ rebateu Iruka irritado mostrando os girassóis cobertos de sangue. ─ Ele cuspiu isso hoje… sabe que são minhas flores preferidas não é?
─ Claro que eu sei amor. O que não sei é como você sabe que ele cuspiu isso, hoje.
Yamato não queria parecer possessivo ou ciumento, mas não conseguiu evitar ficar nervoso e inseguro ao ouvir Iruka dizer que tinha estado com Kakashi, já que pelo que sabia o mascarado estava em missão. Iruka se levantou do chão, deixou as flores ao lado da cama e se sentou no colchão chamando Yamato para se sentar ao seu lado e com o resto de coragem que tinha, começou a contar. Disse como estava se sentindo nos últimos dias, os motivos que o levou a procurar a Hokage e a situação em que encontrou Kakashi. Yamato ouviu tudo pacientemente, mesmo que seu interior estivesse uma bagunça de sentimentos e emoções. Mas tudo tinha um limite e ele havia chego ao seu. Por isso se levantou da cama sem falar nada para Iruka e se dirigiu à porta do quarto, precisava de um tempo sozinho para organizar suas ideias.
─ Vai me deixar sozinho? Quando eu mais preciso de ti? ─ pediu Iruka tentando controlar o choro.
─ Eu não consigo Iruka, ficar aqui e te consolar. ─ disse sem se virar para Iruka. ─ Não consigo te consolar enquanto choras por outro homem. Sou teu namorado não teu amigo. Bem, também sou, mas entendeu o que quis dizer. Eu te amo, mas se coloque no meu lugar. Você me disse que foi atrás de outro por sentir que ele não estava bem, ouviu coisas que mexeram profundamente contigo e que claramente abalaram o que sente por mim. Eu não posso… Não posso ficar ao teu lado enquanto não sabe o que quer. Não vou ser seu ombro amigo para chorar por outro e ouvir você dizer o que poderia ter sido se tivesse o procurado antes de mim. É doloroso ouvir isso, por isso é melhor nos afastarmos, por enquanto.
─ Está… está terminando comigo? ─ Iruka questinou em meio as lágrimas.
Yamato se virou para poder encarar o Umino e o sensei viu uma expressão que não pensou que viria no rosto daquele que ama, estava triste, chateado e mais alguma coisa que não conseguiu decifrar.
─ Essa decisão não é minha, queria dizer que estou terminando contigo, que estou te deixando livre para ir atrás dele, mas uma parte minha não quer isso. Não quero te perder. Mas não posso te obrigar a ficar ao meu lado, não enquanto tiver dúvidas. O que posso fazer é te dar espaço, te dar o tempo que for necessário para decidir o que fará. Só peço que pense bem e que não demore tanto. Não o esperarei para sempre.
Yamato saiu do quarto deixando Iruka sozinho. Talvez estivesse exagerando e entregando Iruka de bandeja a Kakashi, mas sabia que Iruka não era um objeto, assim como ele tem emoções e sentimentos que naquele momento estavam confusos. Ambos precisavam de um tempo sozinho.