
Eu o amo… amo com todas as minhas forças…
Mas o ódio e o rancor que guardo em meu peito por sua família é maior que esse amor.
Não deveria ser, mas é…
Eu escolhi o ódio!
Eu jamais os perdoarei por tirarem meus irmãos de mim…
De uma maneira tão cruel
Eles eram apenas crianças que foram obrigadas a bradar uma espada
Não sabiam nada da vida, não tinham vivido nada
Primeiro foi Kawarama, com seus sete anos, ele era bom shinobi, arrisco a dizer que era excepcional, mas ainda era criança quando foi jogado no meio do campo de batalhas entre os Senjus e os Uchihas.
Não soube como meu irmão morreu, não foi dito nada, apenas trouxeram seu corpo que foi colocado junto a tantos outros do nosso clã.
Naquele dia, meu irmão mais velho Hashirama, bateu de frente com nosso pai a respeito daquelas batalhas sem sentido, que ceifavam vidas tão jovens como a do nosso irmão...
Hashirama alegava que Kawarama tinha morrido uma morte sem sentido, sendo tão jovem, e isso irritou muito nosso pai Butsuma, que acabou atacando Hashirama e disse-lhe que Kawarama tinha morrido como um verdadeiro shinobi.
E naquela época eu concordava com nosso pai, acreditava que a paz só seria conquistada através da guerra e da eliminação daquele maldito clã.
A cada dia que passava, a cada morte de um dos nossos por aqueles Uchihas meu ódio crescia.
Tudo piorou quando Itama morreu, de uma forma tão covarde que faz meu sangue ferver só de lembrar...
Mesmo sendo novo, ele tinha o mesmo pensamento de Hashirama sobre a busca da paz para o mundo através das guerras, era preocupado com o que iria acontecer com todo o ressentimento que sentimos pela morte dos nossos parentes…
Itama, também jovem, praticamente uma criança, que mal conseguia segurar uma espada, foi colocado no campo de batalha e em um encontro com Uchihas, foi cercado por vários membros daquele clã maldito, eles eram mais velhos, mais preparados…
E mesmo assim...
Itama não sobreviveu a este encontro e meu ódio cresceu ainda mais, nem sabia que podia aumentar.
Mas como se o destino quisesse brincar com meus sentimentos e bagunçar minha cabeça, colocou no meu caminho a minha perdição.
Izuna Uchiha.
Eu o odiava…
Era o que dizia a mim mesmo e a todos que me perguntavam…
O que não era mentira, naquela época era uma verdade tão clara quanto água.
Nós travamos batalhas intensas, onde a cada encontro um sempre tentava superar o outro.
Eu o odiava até o dia em que nos encontramos longe do campo de batalha, longe dos clãs, das lutas, de todo aquele clima tenso e do cheiro de morte, quando o encontrei chorando pelos seus entes que pereceram e ouvi ele dizer que aquela guerra não tinha sentido.
Só trazia mortes e mais ressentimentos, criando um ciclo sem fim.
Aquela foi a primeira vez que o olhei com outros olhos, a primeira vez que o vi como o jovem que ele era, cheio de medos e angústias, sonhos e desejos que jamais se realizariam por causa daquelas batalhas… por causa daquela Guerra…
Quando eu o ouvi lamentar que ele jamais poderia ter uma família, que jamais viveria em paz.
Aquelas palavras ficaram em minha mente por dias, ver aquele lado frágil de um Uchiha poderia ser considerado uma vantagem para alguns, mas não consegui ver dessa forma…
Por diversos dias eu fui até o mesmo lugar me encontrar com Izuna, apesar de todo meu ser gritar para me afastar ou eliminá-lo quando tinha oportunidade, eu não poderia fazer aquilo, não conseguiria.
O motivo?
Demorei para acreditar, para aceitar o que já estava no meu coração e que só precisava convencer minha mente.
Estava apaixonado por ele…
Mas infelizmente esse amor que sentia não era forte o bastante para me fazer superar o ódio que sentia.
Eu escolhi o ódio.
Nem mesmo quando o ouvi dizer que ele me amava, que se eu quisesse, ele deixaria tudo para trás, abandonaria aquelas guerras, as batalhas, deixaria para trás todo o ódio entre nossos clãs para viver comigo, para vivermos a nossa vida, vivermos o nosso amor.
— Eu amo você, Izuna, mas não posso deixar tudo isso para trás. Não consigo esquecer o que fizeram ao meu irmão, o que seu clã fez aos Senjus!
— Por mim Tobirama, pelo nosso amor, deixe tudo para trás, por favor! Esqueça tudo isso, esqueça esse ódio.
Eu o ouvi implorar, mas não conseguia deixar nada para trás.
Não conseguia esquecer o ódio impregnado em cada célula do meu ser por aquele clã maldito.
— Não posso Izuna!
Eu escolhi o ódio!
Aquele foi o último dia em que o vi fora dos campos de batalhas, ele estava ferido e magoado e eu não conseguia mudar meu pensamento, não conseguia lutar por aquele amor que mesmo não admitindo, me trazia a paz que tanto buscava com a guerra.
As últimas palavras de Izuna dirigidas a mim, ecoavam na minha cabeça, onde ele dizia que eu acabaria o matando naquela guerra sem lógica, que já deveria ter acabado a muitos anos.
Ele estava certo…
Nunca quis o matar, mesmo ele sendo um Uchiha eu jamais quis matar a única pessoa que amei em toda a minha vida…
Em meus braços, com suas últimas forças, ele me disse.
— E agora Tobirama, você alcançará a paz que procura? Ficará em paz sabendo que me matou? Essa guerra precisa acabar… Eu amo você.
Aquelas foram suas últimas palavras antes da morte o levar, antes dele morrer pelas minhas mãos.
Após sua morte, Hashirama e Madara, irmão de Izuna, entraram em um acordo de paz, que só foi possível por causa do meu irmão que se ofereceu para morrer em meu lugar, já que Madara havia dito que só aceitaria a paz caso eu morresse. Uma vida por outra.
Eu já havia aceitado aquilo, não havia mais nada para mim ali, mas Hashirama não deixou e com sua atitude, Madara acabou ficando tocado e assim finalmente colocaram um fim naquela guerra que praticamente dizimou dois clãs.
A guerra acabou, as batalhas terminaram, mas meu ódio não.
Mas agora meu ódio era voltado a uma só pessoa…
Eu mesmo.
Me odiava por não superar aquele ódio aos Uchihas!
Me odiava por não ter sido forte e ter ido embora com Izuna quando tive chance!
Me odiava por não ter lutado por ele, pelo nosso amor!
Me odiava por não ter impedido a morte dos meus irmãos!
Me odiava por matar Izuna!
Afastei-me e me isolei por um tempo, precisava ficar sozinho. Meu irmão ficou preocupado por pensar que eu faria alguma besteira, e ele não estava errado. Mas não faria a loucura que ele imagina, faria algo pior.
E ele não era o único preocupado.
Eu sonhava direto com Izuna e com meus irmãos, os sonhos eram sempre parecidos. Neles, Itama e Kawarama estavam vivos e adoravam Izuna. Nós dois havíamos nos casado, estávamos felizes, era tudo perfeito…
Mas como uma assombração, ou um anjo: ele era bom demais para ser alguma coisa ruim, que veio para me trazer de volta a razão, sonhei novamente com Izuna…
E esse sonho era diferente, parecia tão real, eu podia sentir seu cheiro, a maciez dos seus longos cabelos que tanto amava, a sua pele macia...
— Não faça isso Tobirama, nada será como antes, não importa o que você fizer, não há como alterar o passado — dizia meu amado com a voz triste.
— Porque não? Eu posso ter você de volta em meus braços, ter meus irmãos novamente, dará certo, eu sei que dará… Eu preciso de você Izuna — tentava convencê-lo.
— Por favor, Tobirama, não me traga de volta, eu não quero voltar, eu não posso voltar… as mágoas e as feridas ainda não cicatrizaram e nada voltará a ser como antes, o que foi feito está feito, não pode ser alterado… se ainda me ama… se um dia me amou, não faça isso.
— Eu ainda te amo Izuna, sempre te amarei, não me peça para ficar sem você…— pedi abraçando fortemente seu corpo contra o meu.
— Você que escolheu isso Tobirama, você que escolheu o ódio ao invés do meu amor, agora cabe a você conviver com suas escolhas!
Izuna me deu um último beijo antes de desaparecer e eu acordar daquele sonho.
Eu havia negado seu pedido em vida, não podia negar na morte…
Ele tinha razão, eu precisava conviver com aquilo, foi minhas escolhas que me levaram até ali, fui eu que escolhi odiar ao invés de amar.
Deixaria aquele jutsu profano escondido, proibido de ser usado, selado para sempre.
Ninguém tem o direito de trazer alguém que morreu a vida novamente, mesmo que seja seu maior desejo…
Eu só espero te encontrar novamente Izuna, em outro mundo, em outra vida, em outra encarnação, e espero não cometer os mesmos erros novamente.
Espero escolher o amor e não o ódio.