
No Restaurante
Antes de saírem do corredor, Kawaki já havia soltado a mão de Sumire, esta lhe estreitou o olhar e disse:
_Parece que você faz questão de irritar o sr. Amado.
Kawaki deu de ombros:
_Ele não merece meu respeito.
Sumire torceu a boca:
_Hã, talvez, mas...não é questão de merecer..._ ela hesitou em continuar sua fala.
Kawaki olhou de canto e exalou o ar pelo nariz:
_Vamos mudar de assunto, onde você quer almoçar?
Nessa altura eles já estavam no Hall de entrada do prédio Principal do Departamento Científico.
Sumire:
_Tem um restaurante que eu costumo ir com as meninas, é um lugar calmo e de comida caseira.
Kawaki:
_Tá, mas não tem risco de alguma das suas amigas aparecer por lá?
Sumire:
_Hmm, acho que até é possível.
Os dois pararam na frente da porta do departamento e estavam na calçada.
Kawaki revirou os olhos:
_Não tô a fim de topar com a Sarada ou a Chocho, menos ainda com a Wasabi ou aquela tampinha de rabo de cavalo.
Sumire:
_Huh, achei que você já estava se dando bem pelo menos com a Sarada e a Chocho.
Kawaki:
_Acho que me dar bem é uma expressão muito forte, mas nem é por isso que não quero ver essas daí.
Sumire suspirou:
_Okay, vamos pensar num lugar diferente, você tem alguma sugestão?
Kawaki:
_Os lugares que eu conheço são só o Raioburguer e a loja do Ichiraku, fora a de Taiyaki...
Sumire:
_Hum, eu prefiro lamen a hambúrguer de almoço.
Kawaki:
_Olha, eu disse que conhecia, mas não coloquei como opção.
Sumire colocou as mãos na cintura:
_Acho que entendi, você prefere um lugar menos cheio e onde não tem chance de aparecer alguém que te conhece?
Kawaki coçou a nuca:
_Basicamente...
Sumire colocou uma das mãos sob o queixo ficando pensativa:
_Hmm, só se agente fosse pra... bem lá é mais requintado.
Kawaki:
_Um restaurante chique?
Sumire deixou as mãos pendentes ao lado do corpo:
_Sim, no jantar é até chique mesmo, mas o ambiente é mais casual no almoço. É bem frequentado pelos empresários de Konoha no intervalo do expediente e tem pratos mais em conta nessa refeição.
Kawaki arqueou a sobrancelha:
_Ah sei, quer dizer que só tem uns velhotes ricos?
Sumire deu um riso:
_Ergh, mais ou menos.
Kawaki cruzou os braços:
_E você vai muito lá?
Sumire:
_Já fui três vezes, duas no jantar e uma no almoço.
Kawaki fez careta:
_Mas tem aquela frescura de um monte de talher pra usar e ter que segurar cada coisa de um jeito diferente?
Kawaki se lembrava das aulas de etiqueta que Himawari lhe dera antes de ele ir ao chá da tarde na casa de Kae.
Sumire estreitou o olhar:
_Bem, não me lembro de ter nenhum prato muito rebuscado que exigisse utensílios diferenciados, eu usei colher e hashi.
Kawaki estalou a língua:
_Sei, mas a comida é gostosa?
Sumire:
_Sim, os ingredientes são bem selecionados, os cortes são nobres e especiarias da melhor qualidade, por isso o preço mais elevado, mas no final das contas não é nada mirabolante, a comida é saborosa, talvez não dê pra comparar com as da dona Hinata, mas você deve gostar.
Kawaki uniu as sobrancelhas:
_Tá bom...
Sumire:
_Ahh, não se preocupe com o preço, eu faço questão de pagar pra você.
Kawaki arqueou a sobrancelha e disse jocoso:
_Hum, então é verdade que o salário de assistente cientista é maior que o de um gennin?
Sumire piscou o olho e disse travessa:
_"Dá pro gasto"_ citou a frase de Kawaki tentando soar como ele.
Kawaki fez uma leve careta:
_Você está engraçadinha, hein.
Sumire voltou a sua expressão meiga e disse melodiosa:
_Bem, mas você aceita ir a esse restaurante então, Kawaki-kun?
Kawaki puxou o canto da boca:
_Tá, pode ser esse mesmo.
Sumire sorriu e uniu as mãos em contentamento e disse:
_Que ótimo! Então podemos ir. Não é muito longe daqui, vem comigo.
Sumire, apesar de ter as pernas mais curtas, andava mais rápido que Kawaki, que estava um pouco distraído e pensativo, com as mãos nos bolsos de sua bermuda preta, ele usava a regata verde de costume, neste dia não estava com a regata branca nem a calça azul de cós alto com as quais costumava ir à Academia e também tinha preferido não colocar nenhuma das suas jaquetas sem mangas. Já Sumire usava um vestido roxo curto de mangas longas, e gola estilo marinheiro, que passou a adotar nos dias em que não treinava.
Foi um percurso de pouca conversa, em cerca de oito minutos, os dois já estava na rua onde se localizava o restaurante, era num bairro residencial próximo aos prédios comerciais na parte alta da cidade, uma região nova para Kawaki. A rua tinha algumas lojas de roupas no estilo boutique, perfumarias, docerias e uma praça pequena com um coreto no meio e com canteiros com flores vistosas e coloridas, as calçadas eram de ladrilhos perfeitamente encaixados e limpos, e tinha bancos de madeira intercalados por uma árvore jovem, mas que já dava uma sombra agradável.
O restaurante tinha uma fachada elegante, com vidraçaria e acabamentos em madeira nobre, no letreiro dourado se lia em kanji "Kishimoto's bistrô". Kawaki sentiu que estava em outra cidade.
Ao entram no restaurante se encontraram numa antessala sendo recebidos por uma jovem recepcionista bonita e sorridente, ela tinha os cabelos longos e alaranjados, olhos castanhos, pele clara e era formosa de corpo:
_Sejam, bem-vindos, mesa especial para dois?
Sumire respondeu cordial:
_Especial? Não, não fizemos reserva. A casa está cheia hoje?
Recepcionista:
_Oh, deixe-me verificar a disponibilidade das mesas.
Ela conferiu num tablet e disse:
_Temos algumas vagas no terraço, no lounge e temos o espaço do rodízio, onde querem se sentar?
Sumire:
_Ah, hoje tem rodízio?
Atendente:
_Sim temos, e por uma taxa extra temos o open bar de... ah, desculpe, vocês não tem idade para beber, que cabeça a minha._cochichou para si mesma_nem eu tenho.
Kawaki torceu a sobrancelha e cochichou confuso com Sumire:
_Beber o quê? Aqui é um bar ou restaurante?
Sumire ficou um pouco sem graça e cochichou de volta:
_É restaurante, mas eles têm bebidas alcóolicas também.
Kawaki fez uma careta de repúdio e respondeu em um tom de voz mais alto:
_É sério que você me trouxe pra um lugar de gente bêbada, Sumire?!
Sumire ficou um pouco atônita sem entender a reação de Kawaki.
A atendente respondeu Kawaki resoluta:
_Escute rapaz, este é um estabelecimento requintado, não é nenhum bar de esquina. Nós temos drinks sofisticados para clientes adultos, que os consomem de maneira moderada, não se preocupe que não existe embriaguez neste ambiente.
Naquele momento o gerente do restaurante, um senhor de meia idade, de boa aparência e bem trajado, apareceu na antessala para conferir o que estava acontecendo, pois ele já estava de olho nos dois adolescentes desde que Kawaki e Sumire tinham cruzado a porta de entrada. Ele falou cordialmente, mas com certa preocupação em sua voz:
_Olá, temos algum problema por aqui?_se voltou à atendente e sussurrou para ela_Orihime, por que essa comoção toda?
Orihime respondeu olhando nervosa para seu chefe, ainda era o primeiro mês dela naquele emprego e sentia-se constantemente pressionada:
_Foi só um mal entendido, senhor, está tudo sob controle.
Kawaki cruzou os braços sobre o peito, já ficando na defensiva, pois não tinha simpatizado nenhum pouco com o gerente. Sumire estreitou o olhar sentindo o nervosismo da atendente e tendo empatia ao ver a opressão que a presença do gerente causava em Orihime. Sumire fez uma reverência e falou elegantemente:
_Perdoe-nos, senhor, apenas estávamos pedindo informações sobre o estabelecimento e a senhorita Orihime , que foi muito gentil, nos explicou perfeitamente.
O gerente olhou para Sumire atento, sentiu a confiança da arroxeada e pareceu satisfeito, Orihime fitou Sumire com os olhos brilhando, ela sentiu-se mais aliviada depois palavras de Sumire, sorriu e disse:
_Tudo certo, vocês vão querer uma mesa no espaço do rodízio?
Sumire sorriu também e respondeu amável:
_Sim, por favor.
Kawaki descruzou os braços, sentindo-se mais confortável. Orihime sinalizou com a mão para a saída da antessala:
_Podem me acompanhar.
Antes que Kawaki e Sumire se movessem, o gerente interferiu, os interrogando:
_Esperem um instante, vocês dois estão desacompanhados? Qual a idade de vocês?
Kawaki franziu o cenho e disse ríspido:
_Por acaso tem idade mínima para entrar no restaurante também?
Sumire segurou no punho de Kawaki, o fazendo olhar para ela, a qual lançou para ele um olhar como se dissesse: "Fica calmo, deixa comigo."
Orihime:
_Senhor, nós não temos regras que os impeçam de-
O gerente interrompeu direcionando a fala para Kawaki e Sumire:
_Creio que vocês tenham noção do nível das pessoas que frequentam este lugar, aqui não é uma lanchonete qualquer.
Kawaki bufou. Mas se conteve, por causa de Sumire que imediatamente respondeu ao gerente:
_Senhor, eu já frequento este lugar há um tempo, sei perfeitamente da qualidade e dos valores dos pratos do seu cardápio. Eu só lamento pelo senhor estar prejulgando dois clientes apenas pela idade, ou... o quê? Aparência? Justamente em Konoha onde gennins começam a ter salário desde dez anos de idade.
O gerente ficou um pouco constrangido com a fala de Sumire e tentou emendar:
_Vocês são genins então?
Kawaki não se conteve mais e retrucou altivo:
_Eu sou, já ela está na folha de pagamento mais alta dos membros da Equipe Científica de Konoha.
O gerente entreabriu a boca em seguida falou num tom humilde:
_Ahh sim, equipe científica, me perdoem, eu havia me esquecido que o Departamento Científico conta com funcionários tão jovens_olhou sorrindo para Sumire, dando um leve tapinha na cabeça dela, Kawaki torceu a cara com esse gesto_ vocês são clientes frequentes nossos..._ o gerente continuou_ ah bem, lamento a desconfiança, vocês podem ficar à vontade._olhou para atendente_Orihime, por favor coloque os dois naquela mesa exclusiva.
Orihime estava impressionada com a mudança da atitude do chefe e teve que repetir a frase dele para entender:
_Mesa exclusiva, senhor?
Gerente:
_Sim, a mesa que arrumamos para a família Kunijirō ontem, hoje o salão está livre.
Orihime:
_Ahh sim, no setor luxo, claro, senhor.
Kawaki e Sumire se entreolharam meio atônitos com aquela conversa. Orihime cochichou para eles:
_Não se preocupem, vai ser cortesia da casa.
O setor luxo era o melhor espaço do restaurante, onde havia vista para o jardim de inverno, iluminação natural que deixava o ambiente acolhedor, além de um acesso rápido à cozinha, também era climatizado numa temperatura amena, um lugar com sete mesas redondas, com quatro cadeiras cada, sobre elas, toalhas bordadas em dourado e um arranjo de tulipas amarelas frescas. A mesa para a qual Orihime levou Kawaki e Sumire, era considerada a melhor da casa, exatamente a primeira a ter o acesso da cozinha, a melhor vista do jardim, e ainda se matinha numa posição mais reservada do espaço e em vez de cadeiras era envolvida por um grande banco estofado em U.
Orihime disse alegre enquanto apresentava o salão, que no momento não tinha outros clientes:
_Gostaram?
Kawaki estava com uma cara meio ressabiada, achando tudo aquilo chique de mais o fazendo se lembrar da dificuldade que fora cumprir um comportamento elegante quando foi comer na casa da princesa Kae. Sumire deu um sorriso tímido e acenou com a cabeça dizendo em seguida:
_É tudo muito lindo e elegante, mas parece de mais pra um almoço casual de meio de semana.
Orihime desfez o sorriso:
_Uhh, vocês não vão querer ficar aqui?
Kawaki arqueou a sobrancelha e falou na brincadeira:
_O salão todo vai ficar pra gente?
Orihime:
_Exato, este salão funciona como reserva do ambiente inteiro, com aluguel antecipado. Não é utilizado para a função das refeições gerais do restaurante, apenas eventos privativos. Mas vou pedir para serviço do rodízio passar por aqui para vocês dois, ou se preferirem a la carte, também terá garçons disponíveis para fazer e trazer os seus pedidos.
Kawaki ficou surpreso com a explicação da atendente, mas sorriu em seguida satisfeito. Sumire sentiu-se um pouco constrangida por estar recebendo um tratamento tão requintado e disse:
_Bem... eu não sei se... Kawaki-kun, o que você acha?
Kawaki comentou jocoso:
_Ué, gostei da ideia de ser um salão só pra nós dois, assim não vai ter gente rica me julgando se eu tô mastigando errado.
Sumire deu um risinho para Kawaki:
_Entendi, é um boa vantagem._virou-se para Orihime_Vamos ficar. Vai ser o rodízio mesmo, obrigada.
Orihime:
_Ótimo, vou avisar aos garçons. Ah, eu preciso dos nomes de vocês, eu devia tê-los anotado na entrada, mas depois do que aconteceu eu- uh, eu me atrapalho, às vezes.
Sumire:
_Sumire e Kawaki. Não se preocupe, você está fazendo seu trabalho muito bem.
Orihime:
_Obrigada, você é muito gentil. Quais os sobrenomes?
Sumire:
_Kakei, basta o meu, Kakei Sumire, a conta fica no meu nome.
Orihime anotou no livro de registros que levava consigo:
_Muito bem.
Então Orihime se aproximou de Sumire cochichando:
_Eu já vi que é você quem manda, ele deve ser caidinho por você, não é mesmo?_moveu a cabeça na direção e Kawaki que naquele momento estava distraído olhando para o jardim através da porta de vidro, a visão dele de perfil era encantadora.
Sumire arregalou os olhos e ficou com as bochechas coradas respondendo atônita:
_Quê?! N-não, não é nada disso...
A resposta de Sumire chamou atenção de Kawaki que voltou o olhar na direção das figuras femininas.
Orihime quis disfarçar sua insinuação e falou num tom normal de voz:
_Bem, senhorita Kakei, eu só sei que fiquei impressionada com o seu poder argumentativo com o gerente, ele virou outra pessoa depois do que você falou, bem que eu queria ter a sua confiança.
Sumire sorriu tímida:
_Aiai, imagina...
Kawaki se aproximou das duas e comentou num tom provocante:
_É, ela, tem uma lábia boa. Até eu caio nos argumentos dessa roxinha.
As bochechas de Sumire ficaram mais coradas, ela lançou um olhar de repreensão sobre Kawaki, mas não foi convincente pela cara envergonhada dela, Kawaki só reagiu com um sorriso ladino.
Orihime deu risinho e comentou:
_Vocês são um casal divertido.
Dessa vez o rosto de Sumire ficou tomado por inteiro do tom vermelho e Kawaki limpou a garganta virando o corpo para andar em direção à mesa principal:
_Bem,eu já vou me sentando._ ele tentou dissimular o constrangimento, mas um leve rubor em suas bochechas não pôde passar despercebido.
Orihime entendeu a situação e cochichou com Sumire:
_Ah, desculpa, vocês não são um casal?
Sumire mordeu o lábio inferior e disse:
_Não. Nem perto disso.
Orihime:
_Ahh, claro, claro, vocês são quase crianças, melhor esperar uns anos mesmo.
Sumire ficou sem reação. Orihime notou que estava extrapolando sua função profissional, se recompôs e se despediu saindo do salão.
Sumire sentou-se no banco em formato de U a cinquenta centímetros de Kawaki. Logo um garçom apareceu mostrando no cardápio os pratos que seriam servidos durante o rodízio perguntando se queriam já separar qual deles era da preferência deles, Sumire pediu por dois tipos de peixe, e Kawaki quis que fosse servido de tudo o que eles estavam oferendo, pois ele queria experimentar todos os pratos.
O garçom voltou trazendo dois pratos fundos e dois rasos, duas colheres de sopa, duas colheres de sobremesa dois garfos de jantar, dois garfos de salada, duas facas de jantar e duas facas de peixe e dois pares de hashi, também trouxe duas taças altas e dois copos, todos de cristal, enquanto os talheres eram de prata e os pratos de porcelana trabalhada. Eram simplesmente as melhores peças do local.
Kawaki trocou um olhar um pouco assustado com Sumire, diante da quantidade de utensílios na mesa e diante a evidente fineza de seu material. Sumire uniu as sobrancelhas e disse para ele:
_Não se preocupa, usa só o que você achar mais fácil, se quiser comer até com mão, eu não ligo.
Kawaki abafou um riso, sentindo-se confortado, ele pensava: "Ela sabe exatamente o que dizer pra me fazer sentir bem."
Enquanto esperavam a comida começar a chegar Kawaki comentou:
_Olha que você disse que aqui era casual.
Sumire:
_Sim, nos outros espaços do restaurante é mais normal, este lugar aqui é fora de série, nunca tinha visto tanto luxo.
Kawaki:
_Hã, nem eu, e olha que eu já frequentei a casa de uma princesa.
Sumire torceu as sobrancelhas:
_Princesa?!
Kawaki torceu a boca:
_Huh, é... eu quis dizer... _limpou a garganta, afinal a missão dele em proteger a princesa Kae era sigilosa e já bastava Himawari e a própria Kae terem descoberto.
Sumire sorriu de canto:
_Você ficou amigo da princesa do País dos Bambus? Ela é sua colega de classe não é mesmo?
Kawaki arqueou a sobrancelha:
_Como você sabe disso?
Sumire:
_Ora, é notícia na cidade que a princesa Kae está passando uma temporada conosco. E você acha que eu não ia saber que você está frequentando a Academia Ninja?
Kawaki:
_O Boruto te contou?
Sumire:
_A Tsubaki. Os meus amigos foram naquele festival que vocês fizeram.
Kawaki:
_Ergh, verdade. Você não quis ir também?
Sumire:
_Hum, eu não fiquei sabendo a tempo, não recebi o convite. Você não comentou nada comigo na época também né, Kawaki-kun. Imagino que não estivesse querendo chamar muito a atenção das pessoas que te conhecem, eu sei como é ter que "trabalhar disfarçado".
Kawaki coçou a nuca:
_É complicado.
Sumire sorriu dizendo:
_Espero que você consiga concluir a sua missão lá. Mas também espero que consiga fazer amizades verdadeiras.
Kawaki repuxou o canto da boca:
_Hmmm.
Sumire continuou num tom nostálgico, falava enquanto olhava para um ponto fixo à sua frente:
_Sabe, foram as amizades que eu construí nos meus dias de Academia que me salvaram da escuridão.
Kawaki arqueou a sobrancelha:
_Você está falando do Boruto?
Sumire virou o rosto olhando para Kawaki:
_Sim, mas não só dele, o Boruto me salvou porque me fez lembrar dos meus outros amigos também, ele me fez lembrar que eu me preocupava de verdade com meus colegas, que minhas reações não podiam ser fingimento. Provavelmente se eu nunca tivesse entrado na Academia, eu continuaria enganada pelas ideias de vingança que meu pai implantou em mim. Eles também me perdoaram e me aceitaram de volta, a Academia foi o primeiro lugar onde eu fui acolhida. Bem... depois da minha mãe e do Nue.
Kawaki olhava concentrado ponderando as palavras de Sumire, essa trajetória dela fez parte da primeira conversa de verdade que eles tiveram na vida, quando estavam sentados em um beco de Ryutan após ajudar um cão de rua ferido.
Sumire desviou o olhar e continuou, com os olhos um pouco marejados:
_Mas eu quase cometi o mesmo erro do meu pai com o Nue, quando quis torná-lo meramente uma arma de destruição, mas na verdade nós dois já tínhamos um laço de família, ele também não permitiu que eu me entregasse ao destino sombrio que meu pai tinha traçado pra mim.
Kawaki não sabia realmente como reagir, não sabia dizer alguma palavra de empatia ou fazer uma reflexão pessoal em cima da fala de Sumire, então resolveu simplesmente contar algo a respeito do próprio passado:
_Eu não tenho nenhuma lembrança da minha mãe. E meu pai..._Sumire voltou o olhar para Kawaki com os olhos atentos e a boca entreaberta Kawaki respirou fundo_ ele era um bêbado desgraçado e violento, eu tenho nojo só de ouvir qualquer menção a álcool.
Sumire engoliu em seco:
_Me desculpe, Kawaki-kun, jamais pensei que...
Kawaki interrompeu:
_Que isso? Não precisa se desculpar, não tinha como você saber. Mas a tal da... Orihime, né? É meio estabanada.
Sumire uniu as sobrancelhas:
_Ai, tadinha, eu achei que ela é um amor, deve estar começando a trabalhar aqui agora, talvez seja o primeiro emprego dela, ela não tem nem dezoito anos.
Kawaki:
_Hmm, ela até te disse a idade dela?
Sumire:
_Não disse, mas ela deixou escapar que também não tem idade pra beber.
Kawaki:
_Ah tá, achei que ela já estava virando sua amiga, cheia das conversinhas.
Sumire:
_Hã, ela foi muito querida. Percebeu que em momento algum nos tratou diferente só por sermos novinhos?
Kawaki:
_Hmmm, de repente ela nem é mais velha que eu.
Sumire:
_Acho que é sim, ela não tem cara de quatorze anos.
Kawaki ergueu o queixo:
_Eu tenho praticamente quinze. E as meninas amadurecem mais cedo.
Sumire deu um riso questionador e disse:
_Faltam sete meses pra você ter quinze anos, Kawaki-kun.
Kawaki torceu as sobrancelhas:
_Hein, você sabe o meu aniversário? Nem eu sei direito.
Sumire uniu as sobrancelhas:
_Hã? É, acho que nunca tinha alguém pra falar as datas pra você... bem, o dia do seu nascimento está na sua ficha que o Sr. Amado trouxe da Kara.
Kawaki franziu o nariz:
_E como que ele sabe o dia em que eu nasci? O Jigen me aprisionou quando eu tinha uns oito anos.
Sumire:
_Sim, mas ele usou uma data aproximada, existem exames que calculam a idade óssea de uma criança, RX de mão e punho, deve ter sido assim que o Sr. Amado estimou a data do seu nascimento.
Kawaki cruzou os braços:
_Ou aquele velhote tá me rastreando faz tempo.
Sumire arregalou os olhos:
_Será?! Vou tentar investigar isso também.
Kawaki descruzou os braços e tocou no ombro de Sumire:
_Não esquenta com isso, foi delírio meu, não tem como ele saber de mim antes de eu ter nascido.
Kawaki tirou a mão do ombro de Sumire, que ficou apenas pensativa. Kawaki olhou para ela preocupado, querendo confirmar que ela tinha abandonado a suspeita dele.
_Escuta, é melhor não ficar fuçando de mais nos segredos do Amado, ele é perigoso.
Sumire mordeu o lábio inferior e disse:
_Eu sei tomar cuidado._manteve-se séria e introspectiva.
Kawaki arfou, sentindo desagrado daquela conversa. Ele nunca confiou em Amado, mas sabia que era necessário passar pelos procedimentos de manutenção em seu corpo, ele não entendia bem o que sentia com a presença de Sumire como assistente dele. Ele sabia que ela estava lá para vigiar Amado de certa forma e ao mesmo tempo aprender a fazer os mesmos procedimentos, ele confiava em Sumire e queria o bem dela (só não era bom em admitir isso), por isso, mesmo gostando da companhia da garota, às vezes, ele pensava que era melhor que ela ficasse longe de Amado. "Acho que isso só resolve no dia que a Sumire souber o suficiente pra ela não precisar mais daquele velhote pra cuidar do meu corpo" Refletia Kawaki "É melhor eu cooperar com a roxinha... sorte que ela leva jeito pra coisa e até que eu gosto dela- opa! não é que eu goste dela!" Kawaki sacudiu a cabeça negando seus próprios pensamentos "eu gosto de-, bosta, para com isso, Kawaki! É só que não é ruim ter ela por perto, só isso!".
Sumire suspirou depois do silêncio de introspecção que envolveu os dois. Então disse mudando completamente o tom da conversa:
_Mas me conta, onde foi que você aprendeu sobre "o amadurecimento das meninas" pra dizer que elas fazem isso mais cedo?
Kawaki fez uma cara intrigada:
_Eu não aprendi nada não, foi só uma frase que eu ouvi, sei lá se foi da Osuka ou da Sosha... ou foi da própria Himawari ou da Kae.
Sumire sorriu de lado:
_Você estava escutando a conversa das meninas da sua sala?
Kawaki repuxou o canto da boca:
_Bem, elas estavam discutindo com os meninos, o Eiki e o Eho estavam retrucando. Eu só fiquei quieto. Porque não dá pra aguentar um bando de criança discutindo sobre maturidade.
Sumire disse sorridente e peralta:
_Os seus colegas parecem legais. Me fala mais sobre eles.
Kawaki fez uma careta:
_Legal onde? Eles são tudo meio doido, fora Himawari e talvez a Kae, aquele povo lá não bate bem da cabeça.
Sumire não se conteve, dando uma gargalha gostosa de escutar, Kawaki acabou rindo também, mas um pouco mais contido.
Então Sumire disse:
_Ahh, mas os doidinhos são os mais divertidos.
Naquele momento o garçom começou a servir a comida e um prato novo chegava a cada dois minutos, não dando tempo para conversas, pois Kawaki nunca havia ido a um rodízio e estava aceitando tudo e comendo exageradamente, Sumire não fingiu comer pouco, ela comeu mais do que o seu usual, mas manteve o seu ritmo de mastigação compassado, e não escolhia algo a mais caso ainda não tivesse quase terminado o que já tinha começado a comer.
Depois de meia hora, Kawaki estava estourando de cheio, ele passou a recusar os pratos, e Sumire estava aceitando pouca coisa, levando mais dez minutos para terminar sua refeição. Eles não haviam pedido nada para beber e preferiram manter assim, Sumire Sugeriu que esperassem mais meia hora para ingerir algum líquido. Os garçons recolheram os pratos e talheres, Kawaki e Sumire ficaram mais um tempo sentados à mesa.
Kawaki começou a contar sobre os acontecimentos do seu dia a dia na Academia e estava se divertindo com isso, principalmente porque conseguia arrancar boas risadas de Sumire, ele estava adorando aquilo, nem parecia o Kawaki mal-humorado e de poucas palavras. Estudar na Academia realmente tinha deixado Kawaki mais sociável e para ele era mais fácil contar qualquer coisa para Sumire, que estava encantada com as experiências que Kawaki estava tendo.
Sumire:
_Eu queria ter te visto interpretando a Katsuyu!
Kawaki:
_Aff, nem rolou apresentação com aqueles atentados no festival. Mas é mico de mais, só aceitei ser aquela lesma por causa da Kae.
Sumire:
_Mico por quê? A Katsuyu é o animal de invocação mais poderoso e indestrutível que existe, a questão é que depende de muito chakra pra conseguir invocá-la. Você sabia que na quarta guerra ninja a lady Tsudade e a Sakura-sama juntas e usando Byakugo só conseguiram invocar dez por cento do corpo dela que já ela é do tamanho de uma cordilheira?
Kawaki uniu as sobrancelhas:
_Sabia não. Não tivemos aula sobre a Quarta Guerra ninja ainda.
Sumire:
_Ah, a aula que dão na Academia é bem resumida, esses detalhes você só fica sabendo quando lê nos pergaminhos ou se alguém que participou da guerra contar pra você.
Kawaki:
_No seu caso, você leu ou alguém te contou?
Sumire:
_Eu li, mas também perguntei sobre a Katsuyu pra tia Sakura.
Kawaki:
_Hmm, e a lady Tsunade você nunca conheceu, né?
Sumire:
_Bem, só de vista. Mas a Sarada já conversou com ela algumas vezes e o Boruto-kun também.
Kawaki:
_E o sanin Orochimaru?
Sumire:
_Nunca nem vi de longe, a Sarada já falou com ele, e até o Lee, Iwabe e Denki já foram visitá-lo pra pegar um autógrafo.
Kawaki:
_Será que o Mitsuki se dá bem com o próprio pai?
Sumire:
_Hã, eu acho que sim. Mas o relacionamento deles é um tanto não convencional.
Kawaki franziu cenho:
_Como assim?
Sumire:
_Bem, pra começar o Mitsuki não é exatamente filho, ele é um clone do Sr. Orochimaru.
Kawaki:
_Huh, tipo criado em laboratório?
Sumire:
_Sim e com várias modificações no organismo dele a nível biomolecular.
Kawaki:
_É, eu sei que foi graças ao poder do corpo do Mitsuki de criar anticorpos que a gente se safou dos vírus do Boro, quando o enfrentamos para resgatar o Nanadaime.
Sumire:
_Sim, aquele vírus do Boro era uma arma biológica terrível. Mas sabe que contra vírus comum o seu corpo tem uma defesa impenetrável, Kawaki-kun, graças à nanotecnologia.
Kawaki:
_É, eu sei bem, e eu já cheguei de comentar com você que não fico doente, né.
Sumire:
_Sim, sim. Mas eu sinceramente fiquei preocupada que você fosse ter uma indigestão depois do tanto que você comeu hoje.
Kawaki jogou o tronco para trás escorando no encosto do assento e colocou a mão sobre a barriga dizendo zombeteiro:
_É, eu acho que até a calça ficou mais apertada.
Sumire também tocou na própria barriga e comentou:
_Eu também comi de mais, sorte que meu vestido tem um corte solto.
Kawaki observou a roupa de Sumire e comentou:
_É tem uma folguinha aí, dá até pra levar comida escondida por baixo dele.
Sumire:
_Credo, Kawaki que ideia é essa? Nem quando eu passava fome eu roubei alguma coisa, nem comida.
Kawaki voltou à posição normal na cadeira:
_Foi mal, era brincadeira, sei bem como é isso...
Sumire uniu as sobrancelhas comovida:
_Acho que nossas versões mais novas nunca sonhariam em ter um banquete como esse de hoje, não é?
Kawaki ficou um pouco pensativo, mas não quis deixar o clima triste então disse ladino:
_Que bom que quando eu te conheci você já era rica.
Sumire deu um risinho. Então disse nostálgica:
_Quando você me conheceu não iria aceitar que eu te pagasse um almoço.
Kawaki torceu as sobrancelhas:
_Cara, se em vez de uma injeção naquela bolsa você tivesse uma marmita eu teria aceitado.
Sumire arqueou a sobrancelha:
_Teria... o problema foi a agulha.
Kawaki uniu as sobrancelhas:
_Ei, eu já te pedi desculpa por aquilo né...?
Kawaki se referia ao fato de ter atacado Sumire agarrando-lhe o pescoço logo que ela ofereceu uma injeção de nutrientes quando ele estava passando mal na Vila de Ryutan.
Sumire acenou com as mãos:
_Já sim, e você está mais que perdoado, deixa isso no passado.
De fato, em uma das primeiras oportunidades que Kawaki teve de ficar a sós com Sumire, depois que ele chegara em Konoha, ele acabara lhe pedindo desculpas pela forma agressiva que havia se comportado com ela em Ryutan, no dia em que eles se conheceram. Nessa ocasião, Sumire também reforçara pedido de desculpas que tinha feito sobre Nue ter ferido o braço de Kawaki.
Kawaki se lembrou do que aconteceu antes de ser encontrado por Sumire na Vila de Ryutan, lembrou-se da primeira vez em que a viu, quando ele estava sentado em uma cama hospitalar, com os punhos manietados, em um dos quartos do Laboratório de Tecnologia e Sumire acompanhada de Boruto e Mitsuki lhe trouxe comida.
Kawaki disse pensativo:
_Pior que nunca te pedi desculpa por ter derrubado aquela bandeja de você. Desperdicei comida...
Sumire balançou a cabeça, como se dissesse que não havia problema e justificou:
_Você tinha seus motivos pra isso.
Kawaki arqueou a sobrancelha:
_Você ia mesmo me dar comida na boca?
Sumire mordeu o lábio inferior e disse tímida:
_Eu ia...
Kawaki franziu o cenho:
_Cara, ninguém faz isso com um prisioneiro perigoso, você não estava sendo inteligente naquela hora, hein.
Sumire respondeu convicta:
_Ora, pois eu achei que você merecia um pouco de gentileza. Não vi nenhum bandido perigoso quando te vi a primeira vez na minha frente.
Kawaki abafou um riso pelo nariz e disse:
_Você também não bate bem da cabeça, roxinha.
Sumire fez um biquinho e disse:
_Hãm, mas eu não estava errada.
Kawaki olhou para a palma da mão esquerda onde já não tinha mais a marca do karma e suspirou dizendo:
_Talvez.
Nesse momento o garçom voltou perguntando se os dois gostariam de beber algo. Sumire pediu uma xícara de chá verde sem açúcar e Kawaki pediu um copo de suco de abacaxi com hortelã, ambas bebidas na intenção de ajudar na digestão.
Enquanto o suco não vinha, Kawaki decidiu ir ao banheiro, mas resolveu usar outro banheiro que não fazia parte do salão reservado onde eles estavam. Sumire não entendeu o motivo. Ela, por sua vez, aproveitou para usar o banheiro anexo ao salão mesmo.
Sumire ficou esperando sozinha por um tempo, logo o seu chá veio, ela o tomou e nada de Kawaki aparecer. O suco dele também não veio. Sumire ficou pensativa: "Bem, eu sei que ele não deu o golpe de ir embora sem pagar, porque eu já tinha deixado claro que eu iria pagar a conta... será que ele está passando mal do banheiro por ter comido de mais?! Melhor tentar encontrá-lo pra ver se ele está bem!".
CONTINUA