
Os ventos que às vezes
Levam para longe o que amamos
São os mesmos
Que trazem algo mais para ser amado
Nós não podemos chorar pelo
Que nos foi tirado
Nós não iremos… (Não irei…)
Amarei o que me foi dado
Nota: Tradução (adaptado) de um trecho da música "Frozen Valley" da banda Silent Heart, que tem vindo a ser erroneamente atribuído a Bob Marley.
— Shikadai! — gritou Temari ao ver o filho ser lançado alguns metros longe.
Mãe e filho estava treinando naquele dia, mas Shikadai parecia distante e era facilmente atingido pelos golpes da kunoichi. Ataques que evitaria facilmente, algo estava muito errado.
— Estou bem, mãe. Não se preocupe — garantiu o jovem Nara enquanto sentava no chão, sinal claro que não iria continuar com o treino.
— Uma pausa — constatou a loira, fincando seu leque no chão e sentando ao lado do filho. — Está distraído, o que aconteceu? Problema com sua equipe? — perguntou com certa curiosidade.
A Sabaku conhecia o filho e sabia que ele estava pensativo demais sobre uma coisa, pensava tanto que mal notava as coisas ao seu redor, muito parecido com Shikamaru.
— Não é nenhum problema com Inojin ou Cho-Cho, estamos bem. É outra coisa… — Shikadai hesitou um pouco, não sabia como falar aquilo com sua mãe, mesmo que sua mente dissesse que não é nada de mais.
— Sabe que pode me falar qualquer coisa, não precisa ter medo — garantiu Temari.
O adolescente entendia isso e confiava na mulher, mas também parecia um assunto deliciado. Se não falasse, ficaria com aqueles questionamentos por mais tempo que o necessário. Precisava de respostas.
— Posso ver as engrenagens da sua mente funcionando. Diga de uma vez o que lhe incomoda. — paciência não era uma das virtudes da mãe e Shikadai sabia tão bem quanto seu pai.
— De quem é aquela casa amarela que fica no meio da floresta? Eu… um dia vi o pai indo até lá e ficou um dia inteiro dentro dela. Voltei outro dia, mas não parecia ser habitada, e tinha um selamento a protegendo. — o garoto contou sua descoberta para a mãe.
Shikadai quase nunca via a mais velha ficar sem palavras, pensativa, com um olhar vago. Suspirando pesadamente a loira bagunçou o cabelo dos filhos antes de se levantar e retirar seu leque do chão, para enfim responder ao filho.
— Deve perguntar diretamente ao seu pai, é algo que somente ele deve responder, uma história que apenas Shikamaru tem o direito de contar.
Temari não esperou uma resposta de Shikadai e retornou para casa, deixando o garoto sozinho no campo de treinamento.
— Por que só o pai pode me explicar sobre aquela casa? O que tem de tão importante nela? Herança do Clã? Do vovô? Viviam lá quando ele era vivo? — o Nara estava com ainda mais questionamentos do que antes. Iria enlouquecer. — Problemático. — bufou antes de se levantar e seguir o mesmo caminho da mãe.
No jantar naquela noite, o clima na residência dos Nara parecia pesado, Shikamaru alternava o olhar entre a esposa e o filho, tentando entender o que havia acontecido. Sabia que ambos foram treinar juntos naquele dia, talvez tenha acontecido algo durante o treinamento. Temari poderia ser um pouco rígida às vezes, mas se fosse esse o caso, Shikadai estaria reclamando até agora.
— Tá bom, o que aconteceu? Porque esse clima? — questionou o Nara mais velho.
— Shikadai encontrou aquela casa — declarou Temari com simplicidade, olhando para o marido com seriedade, um olhar que dizia que devia contar ao filho sobre aquilo.
O gênio de Konoha olhou para o filho com os olhos levemente arregalados e precisou conter seu coração que queria acelerar apenas pela menção daquela casa.
— Quando… Como descobriu? — conseguiu perguntar.
— A algumas semanas, vi o senhor saindo mais cedo e estranhei, nunca sai cedo de casa… O segui e devo estar aprendendo a suprir melhor meu chakra, já que aparentemente não me notou. Então o vi entrar na casa amarela, que fica bem no interior da floresta Nara e ficou lá por um bom tempo… não sei dizer ao certo quanto, porque tinha encontro com meu time. Voltei lá depois, achei que algum parente morava l[a, mas não tinha ninguém. Ela tem selamento de barreira, de proteção, como aqueles que o Iruka-sama faz? — Shikadai esclareceu tudo de uma vez.
Porém, para sua surpresa, o pai apenas se levantou, olhou para Temari como se pedisse desculpas e se retirou, indo para seu quarto. O garoto encolheu os ombros e abaixou os olhos, pensando ter feito algo muito errado, quebrado alguma regra para o mais velho ter aquela reação.
— Filho, não se preocupe, não fez nada de errado — Temari pareceu ler o pensamento do filho. — Seu pai só precisa de um tempo para processar sua descoberta. Confie em mim, ele vai esclarecer tudo. — garantiu a loira.
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Shikadai sabia que a mãe nunca se engana ou mentia sobre alguma coisa, mas naquele momento, começava a duvidar.
Fazia três dias que havia falado sobre a bendita casa amarela e até agora não tinha nenhuma resposta e as dúvidas em sua mente, aumentavam. Shikamaru parecia mais nervoso e todo notavam sua inquietação, mas ninguém perguntava nada, não receberiam resposta. Apenas uma pessoa precisava de resposta e ele estava enrolando para dá-la, não por não querer, mas por não saber qual seria a reação do filho quando soubesse de tudo, se ainda o olharia da mesma maneira.
— Faz tempo que não te vejo tão pensativo dessa maneira, como se estivesse em uma missão — a voz de Kakashi o tirou do seu transe. — Naruto precisa de algo ou…
— Preciso falar com Iruka-sensei, por favor — pediu Shikamaru um pouco hesitante.
Algo muito sério deveria estar acontecendo com o Nara para estar ali na casa do ex-Hokage atrás de seu marido, se bem que o Hatake imaginava o motivo da visita, mas não se intrometer, não lhe dizia respeito.
— Otto, Shikamaru está aqui e quer falar com você — Kakashi chamou Iruka, que logo apareceu, preocupado com o motivo do aluno estar ali.
— Obrigado, anata. Poderia ir terminar a louça enquanto converso com Shikamaru? — pediu o Umino recebendo um breve beijo mascarado antes de sumir pelo corredor, deixando os dois sozinhos.
— Algum problema com as proteções e barreiras? Precisa de ajuda para reestabelecê-las? — perguntou o ex-sensei da Academia.
Shikamaru nunca teve problemas com a barreira e o selamento, aprendeu exatamente como deveria fazer para reativá-la, reestabelecê-la, adicionar permissão de entrada e tudo mais. O motivo que o levou até ali, era outro. Não queria falar sobre barreira e selamento e Iruka entendeu.
— Ele a encontrou? — perguntou o Umino, indicando o banco na varanda para o outro sentar.
— Sim, demorou mais que o esperado — respondeu Shikamaru.
— Deveria ter contado para ele, sabia que uma hora ou outro Shikadai descobriria, afinal é um gênio assim como os pais.
— Eu sei, mas… por que é tão difícil?
— Porque envolve um passado, envolve sua vida e da Temari, envolve um amor que teve e perdeu.
Por isso Shikamaru havia ido atrás de Iruka, ele foi o primeiro a saber, o primeiro a notar que o Nara apaixonado e não estava sabendo lidar com aquilo, afinal ele próprio passou pela mesma situação.
— E se ele me odiar quando souber?
— Shikadai jamais te odiaria! Pode ficar um pouco chateado por não contar para ele antes. Seu filho é muito inteligente, tem a mente aberta e saberá lidar com tudo, isso. Não deveria duvidar dele, afinal é o defensor número um de Gaara e Rock Lee — garantiu Iruka.
— Sim, ninguém é louco em falar dos tios perto dele. Obrigado, Iruka-sensei, acho que precisava ouvir isso.
— Não fiz nada de mais. Você ainda o ama, depois de todos esses anos. E também ama a Temari e ela você. Lidou bem com tudo quando foi honesto e sincero, poucas pessoas teriam agido daquela forma.
— Todos temos um passado, uma história antes da pessoa com quem estamos, não é mesmo?
— Temos mesmo. Agora vá lá falar com seu filho, não tenha medo da sua reação, ele irá te surpreender — afirmou Iruka e viu Shikamaru concordar com um aceno e se despedir.
— O amor dele por Neji nunca morreu, não é? Não importa quanto tempo passe, ele ainda resiste. É bonito — declarou Kakashi se aproximando do marido.
— É realmente bonito. Assim como o seu pelo Obito.
— Otto, eu amo você, é tudo para mim, não duvide disso.
— Não duvido, Kakashi. Em nenhum momento.
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Shikamaru se aproximou de casa e viu o filho com Cho-Cho e Inojin no que parecia uma discussão, aqueles três lembraram a si próprio e seu time quando tinha aquela idade. Quando notaram a presença do mais velho, os três rapidamente ficaram em silêncio.
— Tem alguma missão agora, Shikadai? — perguntou o mais velho.
— Não, estávamos apenas conversando. — respondeu o Nara mais novo.
— Me acompanhe então — pediu Shikamaru, dando as costas para filho e os amigos, nem se dando ao trabalho de se despedir.
Shikadai se despediu rapidamente dos amigos e seguiu o pai, ambos em completo silêncio. Ele até tentou saber para onde estavam indo e a única coisa que ouviu era que saberia quando chegassem.
Logo o garoto começou a reconhecer o caminho e entendeu para onde iriam. “Será que finalmente conseguirei minhas respostas?”, pensou o garoto ficando um pouco ansioso.
Caminham por um bom tempo, os dois com suas típicas posições de preguiça. Shikamaru caminhava com as mãos nos bolsos e Shikadai com as mãos atrás da cabeça. Pararam quando chegaram ao centro da Floresta Nara, o mais novo percebeu que alguns cervos estavam nos arredores, como se protegessem a pequena casa amarela com cerca branca diante de si.
— Chegamos. Quero que escute tudo com atenção o que irei falar e respondei toda e qualquer pergunta que queira me fazer. Estamos entendidos? — pediu Shikamaru com uma seriedade que Shikadai presenciou em poucas ocasiões.
O mais velho pegou a mão do filho e colocou numa marcação, transmitindo um pouco de chakra, permitindo que Shikadai tivesse acesso ao interior da casa. O garoto sorriu ao entender o que aconteceu e queria muito perguntar como aquilo funcionava. Teria que ficar para outra hora.
— Bem-vindo a minha casa, a primeira que fiz junto ao meu primeiro amor.
Aquela primeira pequena explicação paralisou completamente o garoto e hesitou por alguns instantes, sem saber como reagir aquela informação. Então, lembrou do pedido do pai, para o ouvir com atenção e faria isso.
— Vai me contar que ela era? — não evitou o questionamento inocente.
— Te contarei tudo — garantiu, cedendo passagem para o menor passar.
A casa amarela era pequena e aconchegante, parecia ter sido feita sob medida para quem fosse morar ali. Shikadai reconheceu algumas coisas que lembraram seu pai e outras muito delicadas para serem do Nara. A sala continha um único sofá grande o suficiente para poder deitar nele, uma estante com alguns livros sobre culinária, taijutsu, ninjutsu, alguns sobre o seu Clã e outro sobre Clã Hyuuga. Aquilo era estranho. Havia também uma pequena mesa baixa próximo ao sofá, onde pode notar três porta retratos, não conseguia ver quem era de onde estava, mas imaginou que seria o pai e o seu primeiro amor, seja lá quem fosse e um jogo de shogi aberto, com uma partida iniciada. A cozinha era simples, com uma mesa e apenas duas cadeiras, um fogão e uma geladeira, ambos pareciam que não eram utilizados, um armário onde encontrou um jogo de chá delicado e elegante, nada daquela cozinha lembrava seu pai. A única coisa que dizia que seu pai entrava naquele comodo era uma caneca para café com uma estampa peculiar e sugestiva. Nuvens e cervos. Ao lado da cozinha, tinha uma porta fechada, imaginou que deveria ser o quarto, pelo jeito que o mais velho olhava para a porta, não era um local aberto para visitas.
Shikadai notou que apesar da casa estar claramente desabitada, tudo estava limpo e organizado, como se esperasse seus donos voltarem de um dia exaustivo de trabalho. A casa tinha até mesmo um cheiro amadeirado, misturado com cidreira e camomila, era calmo, acolhedor.
Shikamaru indicou o sofá para o filho sentar, se acomodando ao seu lado, pensando por onde deveria começar a história sobre a casa. O mais novo queria fazer muitas perguntas, mas sentiu sua mente virar uma meleca quando finalmente pode ver as fotos que estavam nos porta-retratos. Ele olhou para as fotografias, depois para seu pai e voltou para as fotos. Aquilas três fotos respondiam a muitas perguntas.
Shikadai pegou a primeira foto, que era uma de Neji, que sabia ser tio de Boruto e que havia morrido na Guerra, não sabia muito sobre o homem, apenas que era tão inteligente quanto seu pai. Na foto, Neji estava escorado em uma árvore, que o garoto poderia jurar que era aquela que havia do lado de fora, olhos fechados, feição serena.
— Essa foto foi tirada quando ele tinha 15 anos, logo após ele se tornar jounin. Aquele Hyuuga arrogante foi o primeiro dos 11 a alcançar o posto. Ficou insuportável por alguns dias — declarou Shikamaru sem olhar para o filho.
O porta-retrato foi devolvido a mesa e outro foi pego, naquele estavam Shikamaru e Neji, os dois embaixo da mesma árvore, com o Nara quase dormindo enquanto mexia nos longos cabelos do outro e o Hyuuga estava deitando entre suas pernas, apoiado em seu peito enquanto lia um livro.
— Às vezes passávamos horas assim, sem dizer nada, apenas apreciando a companhia um do outro e o silêncio. Aqui ninguém nos incomodava, quase ninguém sabia da existência dessa casa. Poucos sabem, na verdade. Era nosso refúgio, pode-se chamar assim. — explicou o mais velho e o filho percebeu ser difícil para o pai falar sobre aquilo.
Colocou a porta-retrato ao lado do primeiro e hesitou em pegar o último. A foto poderia ser simples ou uma que não teria muitas informações se Shikadai não conhecesse aquele olhar de Shikamaru. Aquele olhar era o mesmo que dirigia à sua mãe em diversos momentos. Eram tão parecidos, mas de alguma forma eram diferentes. Na foto, estavam o antigo Time Ino-Shika-Cho e o que Shikadai deduziu ser o time de Neji, com Rock Lee e Tenten. O que chamava a atenção era o olhar de admiração de seu pai para o Hyuuga, junto a um sorriso que poderia chamar de “bobo”, sorriso apaixonado. O Hyuuga parecia que não queria tirar aquela foto e foi praticamente arrastado e saiu com uma careta séria.
— Ele não queria tirar essa foto, havia acabado de retornar de uma missão, mas a Ino não queria saber e o obrigou a participar mesmo assim. Ele ficou emburrado o resto do dia, inflando as bochechas como uma criança mimada, uma grande criança mimada e fofa — Shikadai não evitou acompanhar o pai na risada.
— Você construiu essa casa para ele? — perguntou o mais novo direto, havia entendido que Neji era o primeiro amor do mais velho.
— Na verdade, fomos nós dois. Queríamos um lugar só nosso, longe dos olhares acusatórios do Clã Hyuuga e dos intrometidos dos nossos amigos. Levamos alguns meses para deixá-la pronta, como queríamos. Ele se mudou para cá logo depois, deixando o domínio do seu Clã. Acho que o nunca vi tão leve e feliz quanto nos dias que se seguiram depois da mudança.
— Como vocês ficaram juntos? — quis saber o mais novo.
— Nós éramos tão parecidos em algumas coisas e tão diferentes em outras que talvez não tenha uma resposta para isso. Neji era mais velho que eu, muito certinho, rígido, soberbo, arrogante e presunçoso. Não acreditava que tinha alguém que o pudesse o superar em suas habilidades e estava certo. Acreditava fielmente em destino e que tudo que acontecia era porque tinha que acontecer, não importava o quanto tentassem mudá-las. Felizmente mudou de pensamento ao lutar contra Naruto nos exames chunnin, a partir de então começou a lutar para mudar seu destino. E eu, comecei a vê-lo com outros olhos.
— Logo começaram a namorar?
— Não.. não foi nada fácil fazer aquele cabeça-dura ceder, e eu também. Tinha alguns pensamentos distorcidos e não queria admitir que estava gostando de outro homem, especialmente alguém como Neji, que parecia esta acima de qualquer um. Lembro que comecei a ver o Hyuuga de uma forma mais… humana, quando fizemos uma missão juntos, uma missão para ir atrás de Sasuke e ela foi um fracasso total, quase não voltamos com vida. A partir daquele dia, percebi que ele não era inalcançável, era alguém como qualquer um de nós, acho que foi quando comecei a me apaixonar, posso colocar assim. Foi um bom tempo até ter coragem de assumir para ele e para mim, o que sentia e isso só foi possível com a ajuda do Iruka-sensei, acho que ele percebeu antes de mim o que sentia por aquele Hyuuga problemático. E mais um tempo até me aproximar. Começamos jogando shogi, depois conversamos sobre alguns livros, sobre a vida, ele me contou sobre sua vida dentro do Clã e como se sentia preso. Passamos a ficar muito tempo juntos quando não estávamos em missão ou em treinamento e isso significa sempre que tínhamos um tempo. Começou a visitar minha casa com frequência, mas a sua avó às vezes o deixava envergonhado, apesar de sempre o receber o bem. Foi constrangedor quando a dona Yoshino chegou em casa mais cedo que o esperado e nos flagrou no que era o nosso primeiro beijo.
— Foi estranho beijar um garoto? — Aquela não era uma pergunta que Shikamaru esperava ouvir, mas tinha algumas hipóteses para ela.
— Um pouco, mas não foi estranho por ser um garoto e sim por ser nosso primeiro beijo, literalmente, nunca tínhamos beijado ninguém antes. E quando aconteceu, foi… nem sei explicar. Apesar da nossa falta de experiência e de nos atrapalharmos, foi bom. Nunca pensei que teria coragem para aquilo. Não me arrependo. Depois disso as coisas ficaram um pouco estranhas e não sabíamos como agir um com o outro, até Neji com aquele jeito marrento me pegar pelo colarinho e não foi metaforicamente e dizer que não queria continuar daquele jeito, que gostava de mim, da minha companhia e não queria perder a melhor coisa que tinha acontecido em sua vida. Deveria ter dito que ele também era especial e importante. Decidi que não o deixaria ir e começamos a nos relacionar, não sei se era namoro ou o que, mas gosto de pensar que sim. Quando fizemos um ano juntos, em uma conversa ele falou que gostaria de sair do Clã e falou que iria arrumar um lugar para si, então, sugeri para ele ficar aqui, comigo. Nem preciso dizer que ele surtou e disse estarmos sendo precipitados, que éramos novos, mas no fim acabou cedendo. Meu pai autorizou a construção da casa e junto a minha mãe nos deram sua benção. Neji ficou emocionado, me contou depois que se sentiu pertencente a uma família desde a morte do seu pai. Infelizmente nem tudo era flores e alegria, a sombra da Guerra se aproximava cada vez mais e não sabia que estava prestes a perder tudo o que havia conquistado.
Shikamaru lutava contra as emoções, sempre era difícil lembrar das perdas que teve, de como tentou se fechar e afastar todos, de como se sentiu inútil. Shikadai raramente ou nunca viu o pai chorar e ver aquela lágrima, que o outro rapidamente secou, o deixou abalado.
— Primeiro foi meu sensei, Asuma. Fiquei devastado com sua morte, desejei vingança e quase fui imprudente. Se não fosse Neji naquela noite chuvosa… nunca fiquei tão feliz em ter um lugar para mim, com alguém que não me julgaria. Aquele dia foi a primeira vez que disse que o amava. Nesse tempo, antes da guerra, tivemos nossos melhores momentos, os mais inesquecíveis, apesar do futuro incerto, fizemos planos, tantos planos… Não conseguimos realizar nenhum deles. Com aquela maldita Guerra perdi meu pai e meu amor, pela primeira vez em muito tempo, me senti tão perdido, vazio, sem nenhuma vontade de seguir em frente. Ficar com sua avó me fazia lembrar do meu pai e ficar aqui, sozinho, sem Neji era pior. Mas de uma forma estranha e talvez doentia, sentia a presença dele em cada lugar, em cada canto e mesmo tendo prometido que não me deixaria abalar, que haviam pessoas que precisavam de mim, me permiti ficar de luto, me permiti sofrer e chorar pelas pessoas que perdi. Eu sentia tanta falta dele… Aquele idiota presunçoso teve que bancar o herói… teve que seguir o propósito da família secundária, proteger a família principal — Shikamaru nem sabia porque estava falando aquilo, era um desabafo de algo que guardou em seu peito durante anos e só queria colocar para fora, desengasgar.
— E você e a mamãe? — Shikadai não queria parecer insensível e o pai reconhecia isso.
— Temari… foi um alento, meu filho. Ela teve paciência, não forçou presença, nem eu a usei como âncora. Antes de pensar em algo, em amar outra pessoa, me aproximar novamente precisava ficar bem comigo mesmo. Sua mãe, antes de qualquer coisa, foi minha amiga. Antes de torná-la minha esposa, a mulher que quero passar o resto dos meus dias, ela me salvou de mim. E antes que pergunte, sim, ela sempre soube de Neji, o que tivemos, o planejávamos. Até mesmo sobre essa casa e o que significa para mim. Merecia saber. Poucas pessoas teriam a maturidade que ela teve e por vezes me peguei pensando se realmente a merecia, se era digno de tudo o que ela fez por mim. Então entendi que todos merecem uma nova chance para amar e ser amado. Construí uma vida linda ao lado da Temari, temos você, Shikadai, nosso maior tesouro. Amo muito vocês dois.
Shikamaru puxou o filho para um abraço apertado, sendo retribuído da mesma forma. Iruka estava certo, seu filho era espero demais e inteligente, jamais o julgaria por suas escolhas. Apesar disso, não pode evitar a pergunta.
— Filho, você… como se sente em relação a tudo isso?
— Pai… essa é sua história e sempre me falou que tudo que passamos nos torna o que somos hoje. Não entendo muito de amor, ou primeiro amor, mas sei que também sofreria se um dia perdesse alguém que fosse importante para mim, que me importasse a ponto de querer dar minha vida para ela. E… achei bonito o gesto de manter a casa como uma lembrança, uma homenagem ao Neji e ao que viveram. Agora sei que é apenas isso, você visita aqui todo ano ou…
— Venho aqui em duas ocasiões apenas. No dia do falecimento do Asuma-sensei e do meu pai e Neji.
Um silêncio se instaurou entre os dois, não era pesado ou triste, ou qualquer sentimento que não fosse paz e tranquilidade. Shikadai compreendeu que o pai precisava daquele lugar só para si, que não compartilhou com os outros pelo que significava, pelo que recordava. Entendeu que não precisava sentir ciúmes, não que tenha dito em algum momento. Aquela história sem final feliz, de um amor que teve no passado, tornou seu pai quem ele é hoje e ele tem muito orgulho de Shikamaru.
Ficaram mais um tempo na casa, com o mais novo fazendo mais algumas perguntas para o pai sobre como ele era na juventude, como foi seu relacionamento e viu uma face pouca conhecida do mais velho, uma que misturava tristeza e saudosismo.
Retornaram para casa quase no final da tarde, não foi preciso palavras para o mais novo entender que aquela casa amarela, no meio da floresta, deveria ficar do jeito que estava. Em segredo, protegida e guardada.
Em casa, apesar do que o pai falou sobre sua mãe, preferiu ficar em silêncio e não fazer comentários sobre o que achou do local ou da história. Sua mãe era o presente de seu pai, ficar recordando o passado, apesar de não afetar em nada a loira, deveria ficar no seu lugar. No passado.
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Temari estava do lado de fora da casa, contemplando a bela lua que iluminava o céu quando sentiu seu corpo ser abraçado e um beijo depositado em seus cabelos.
— Sabe que eu amo você, não é? — perguntou Shikamaru.
— Eu sei… — parou por alguns instantes, deixando o Nara preocupado, afinal Temari nunca hesitava. — Mas sei que você o amou e sofreu quando o perdeu, muito mais do que a morte de Asuma.
Shikamaru abriu a boca para falar algo, mas nada saiu, apenas apertou um pouco mais os braços ao redor da esposa.
— Sou feliz com nossa vida, com nosso filho, amo cada parte dela e nunca duvidei dos seus sentimentos. Porém, tenho certeza que se Neji ainda estivesse vivo, esse amor, essa felicidade seria dedicado a ele e estariam vivendo naquela casa amarela de cerca branca.
Temari girou dentro do abraço que era mantida e o Nara pode ver seus olhos um pouco úmidos, queria revidar aquela fala, contestar a mulher, mas seria inútil. Ambos sabiam que ela estava certa. Ficaram se encaram por alguns momentos, nada precisava ser dito, nenhuma declaração, reafirmação, ou promessa. A loira deixou um breve beijo nos lábios do marido antes de se desvencilhar dos braços que a seguravam e retornar para interior da casa.
Shikamaru sentiu uma estranha vontade de acender um cigarro, como se aquilo fosse o ajudar a relaxar, retirar a tensão que sentia sem motivo. Olhou para lua perolada brilhando no céu e viu nela os olhos de Neji, como sempre acontecia.
Não mentiu quando falou que amava Temari, nem ela mentiu quando disse que estaria com Neji se as coisas tivessem terminado diferente durante a Quarta Guerra.
Temari era seu presente, seu futuro.
Neji foi seu passado, seu primeiro amor, o amor da sua vida. Com ele aprendeu o que era amor, o que era realmente dar sua vida por outra pessoa. Aprendeu a ser um verdadeiro shinobi.
E ainda o amava. Sempre o amaria.
Olhou mais uma vez para lua antes de se virar e entrar em casa, para o seu presente.