Aeternum

Naruto
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Aeternum
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Itachi Uchiha nasceu em uma pequena cidade na Áustria, chamada Hallstatt e levava uma vida normal até sofrer um grave acidente de carro, onde toda sua vida mudou completamente.Itachi passou a viver uma existência solitária, nunca se permitindo criar laços com ninguém para não ter seu segredo revelado. Mas tudo muda quando ele conhece o jovem e belo Kisame Hoshigaki, um bibliotecário por quem pode valer a pena arriscar tudo o que acreditava até então.
Note
Chegando no último dia da postagem do Amigo Secreto de pascoa do nosso grupo do whatts...Nunca senti tanta pressão para escrever algo para minha deusa e inspiração desse shipp e minha linda @DhnolisFiz com todo carinho e espero muito que goste.Uma breve explicação, terá algumas partes em Itálico que serão lembranças do Itachi no decorrer da sua vida, no final, entenderão bem o que aconteceu, eu espero.Não betada porque eu, literalmente, acabei de escrever ela.Boa leitura!

A neve cobria toda a estrada que o levava para casa de seus pais no pequeno vilarejo de Hallstatt, na Áustria. Sabia que não deveria ter saído durante uma nevasca, principalmente a noite, mas precisava buscar seu filho de apenas cinco anos que estava com eles.

Era uma noite gelada, dia 15 de novembro, e Itachi Uchiha seguia pela rodovia. Poderia ter deixado o filho de um ano e meio com os avós, mas não conseguia dormir longe dele. Nem o pequeno dormia sem ele, aquele último ano havia sido difícil para os dois.

Dirigia em velocidade média, tentando ser cauteloso, mesmo com a condição climática desfavorável e o gelo se acumulando no asfalto. Em uma curva, o carro derrapou e Itachi não conseguiu o controlar, rodou na pista, ultrapassando a cerca de proteção, fazendo com que o veículo caísse no lago.

A água praticamente congelada dos lagos começou a entrar, na mente do jovem de 29 anos, tudo o que se passava era seu filho, não poderia deixá-lo sozinho. A temperatura congelante fazia os batimentos cardíacos diminuírem.

— Sasuke — murmurou Itachi.

Prestes a fechar os olhos, pode ver nuvens se formando no céu, junto aos olhos escuros do filho, um clarão surgiu entre as nuvens e segundos depois, um raio atingir o carro.

 

⏳⏳⏳⏳

 

Itachi acordou assustado. Odiava sonhar com aquele dia. O dia em que sua vida mudou para sempre. Olhou pela janela do avião e ouviu o piloto informar que logo chegariam ao Aeroporto Internacional de Viena. Logo estaria em casa novamente.

O sonho de jovem era poder voltar a morar em Hallstatt, o vilarejo com menos de mil habitantes. Ou talvez estivesse mais para uma aldeia na costa ocidental, na região montanhosa de Salzkammergut, na Áustria. As casas e as ruelas alpinas são todas do século XVI e apesar de pequena, a vila possui diversos cafés e lojas. Para muitos poderia ser considerado um local isolado e solitário, mas amava aquela minuscula Vila com todo seu ser e se tudo desse certo, nas próximas semanas voltaria para o lugar que nasceu, cresceu, casou e morou até seus vinte e nove anos.

Muitas coisas mudaram desde que fez vinte e nove anos.

O Uchiha voltava de mais uma de suas viagens pelo mundo, a última se tudo desse certo. Depois, viveria na casa mais afastada de todas, que já comprara, e viveria recluso, com o mínimo de contato com as pessoas. Plano perfeito.

Fechou os olhos para aproveitar os últimos minutos do voo e começar a contar os minutos para voltar a sua antiga cidade e rever a única pessoa que importa em sua vida. Seu filho.

Itachi Uchiha nasceu em na pequena vila em 6 de junho, morou toda sua vida naquela cidade minuscula, a deixando para trás após o acidente que sofreu. Por mais que quisesse ter passado a vida toda naquele lugar, não poderia, aquele dia trouxe muitas consequências que afetaram não apenas ele, mas seu filho.

Como estava com saudades de Sasuke. Sua família. A única que restou. Infelizmente as pessoas não viviam eternamente. Nem todas até onde sabia.

O Uchiha tinha uma vida perfeita quando mais jovem, apesar de pequena, Hallstatt tinha uma escola, saiu dali apenas para fazer faculdade de Economia e foi durante a curso que conheceu Izumi, seu primeiro amor. Namoraram durante todo o período da faculdade de Itachi e no após terminar, ele ainda ficou no campus mais um ano apenas para ficar com a namorada.

 

 

“ — Ita… posso fazer uma pergunta estúpida? — Perguntou Izumi enquanto acariciava os cabelos do namorado com uma mão e na outra, segurava uma taça de vinho.

— Sabia que a maioria das perguntas são sobre coisas estúpidas? — respondeu o mais velho, ganhando um tapa no topo da cabeça, seguido de um beijo, como amava aquela mulher.

— Quer mesmo voltar para Hallstatt? Não deseja conhecer o mundo, viajar, conhecer outras pessoas, culturas?

— Não, sempre fui muito quieto e amante da solidão. Quanto mais longe de pessoas puder estar, melhor. Em Hallstatt posso ser eu, sem precisar pensar muito em como agir com os outros, no que vão pensar de mim, todo já me conhecem como o garoto esquisito e sozinho e apaixonado pela lua — divagou o Uchiha.

— A lua é responsável por muito do que acontece na superfície da terra, me trouxe até você — comentou Izumi despretensiosamente, fazendo o namorado rir, afinal se conheceram em uma noite de lua cheia como aquela.

— Quantas taças de vinho já tomou, senhorita? — questionou levantando e tirando taça da mão de Izumi e a deitando no sofá.

— Oh, senhor Uchiha… Anos, amantes e taças de vinho. São coisas que nunca se deve contar.

 

 

Seus pais, Mikoto e Fugaku, a adoraram assim que a conhecera, e mal esperavam o casamento deles, de trazer a jovem para a família.

O casamento aconteceu no dia 5 de acosto, nos jardins da casa dos pais de Itachi, não poderia estar mais realizado. Para sua sorte, Izumi era uma mulher simples que não pensou duas vezes em abandonar sua vida em Viena e se mudar para Hallstatt e abrir uma pequena cafeteria, a Belle Coffee.

Itachi fechou os olhos mais vez e se deixou levar pelas lembranças do seu passado, memórias de um tempo que foi feliz e teria aproveitado mais se soubesse como tudo acabaria.

 

⏳⏳⏳⏳

 

Assim que chegou em Hallstatt, antes de ir para sua própria casa, tinha um lugar que ele precisava ir antes de qualquer outro. Um local onde vivia a pessoa mais importante para Itachi e que não via há quase cinco anos.

Logo que chegou na pequena casa e bateu na porta, um jovem de cabelos tão claros quanto a neve abriu a porta enquanto brigava com o outro morador. As coisas nunca mudam.

— Olá, Suigetsu, tudo bem? — Itachi cumprimentou o homem a sua frente que levou alguns segundos para processar o que via antes de pular no mais velho, que não aparentava ter a idade que tinha.

— Vovô! Por que não falou que estava vindo? O pai nem vai acreditar — Suigetsu falou emocionado, foi poucas às vezes que pode estar na presença do outro.

— Eita, que algazarra é essa? — os dois ouviram uma voz grave e mal-humorada ecoar pela casa.

— Continua o mesmo revoltado, Sasuke? A vida não lhe ensinou nada? — Provocou Itachi e quase teve que correr quando viu o citado tremer e quase cair diante do que via.

— Pai? — a voz mal passava de um sussurro.

— Voltei e agora, vou ficar. — garantiu abraçando o filho, com Suigetsu se juntando a eles em seguida.

Quando os ânimos se acalmaram e as emoções ficaram sobre controle, os três estavam no sofá, conversando, ou melhor, com Itachi falando sobre suas viagens, os lugares que conheceu, as pessoas, culturas, tudo o que um dia disse que nunca faria, que não tinha interesse de realizar.

Itachi olhou a casa com curiosidade, nada havia mudado e não lembrava em nada a grande casa em que nasceu, cresceu e viveu até ir para a faculdade e se casar. Notou diversas fotografias na estante, de Sasuke e sua família. A família que lutou tanto para manter mesmo com todo o preconceito e dificuldade. Como queria ter passado mais tempo ao lado dele, infelizmente isso lhe foi tirado quando sofreu aquele acidente. Nas fotos podia ver Juugo, marido de Sasuke que infelizmente faleceu ainda jovem, mas a maioria era de Suigetsu em diversas fases de sua vida. Perdeu não apenas a vida do filho, como a do neto. Um item acabou chamando a atenção do Uchiha, uma Kodak Brownie Flash III.

— Isso ainda existe? — perguntou surpreso, se levantando e pegando o objeto em suas mãos.

— E ainda funciona — garantiu Suigetsu com um sorriso. — Eu mesmo a arrumei e…

 

 

Com o passar do tempo, Itachi começou a perceber que sua aparência não mudava, não dava sinais de que estava envelhecendo, começando a atrair curiosidade dos amigos e parentes, o forçando a tomar uma decisão. Por isso chamou seu filho, que se encontrava com seus 13 anos, para uma conversa séria, para explicar os motivos de sua partida.

— Filho, precisamos conversar sobre um assunto muito sério — começou Itachi olhando no fundo dos olhos do filho.

— É sobre você nunca mudar? — perguntou Sasuke, se referindo a aparência do pai.

— Sim. Como percebeu, eu não mudo, não envelheço, sempre aparento a mesma idade desde aquele acidente e isso está começando a chamar muita atenção e se isso se espalhar posso atrair pessoas indesejadas e cruéis. Não quero acabar em um laboratório dissecado. — tentou brincar para aliviar a tensão, era impossível, sentia os olhos ficarem úmidos, assim como os do garoto.

— E o que fará? — era inteligente e sabia o que seguiria, ainda tinha esperanças de estar enganado.

— Vou me mudar e de tempos em tempos trocarei meu nome, aparência, pelo menos o que conseguir.

— Vou te ver novamente? — perguntou o jovem com os olhos marejados.

— É claro, meu filho, darei um jeito de mantermos contato. Mas sabe que não poderá falar nada a ninguém, não é?

— Eu sei, pai — disse Sasuke com pesar — Podemos tirar uma última foto juntos?

— Claro, vem aqui — disse Itachi pegando a câmera Kodak Brownie Flash III que havia dado ao filho de aniversário e juntos tiraram a última fotografia de Itachi.

Após uma despedida emocionante, Itachi partiu para o Japão, seu primeiro destino. Iria buscar informações sobre seus antepassados e ver se conseguia alguma informação sobre sua condição.

 

 

— Pai… pai… — Sasuke tentava chamar a atenção de Itachi, que parecia ter se desligado do mundo.

— Vô… Ei… está tudo bem? — perguntou Suigetsu preocupado com o outro.

— Me desculpe, Sasu, Sui, eu… eu deveria ter ficado, deveria ter encontrado uma forma de me manter escondido, deveria ter visto você crescer, os dois, na verdade.

— Pare de se culpar, eu não te culpo. Fez o seu melhor para estar presente e conseguiu, apesar da distância física, sempre foi meu pai e eu te amo por isso. Pode não ter passado muito tempo ao meu lado, mas estava nos momentos mais importantes. Estava quando me casei, quando Juugo se foi, quando Suigetsu chegou. Então, não ouse, nem por um momento, dizer que foi ausente.

Com a ajuda de Suigetsu, Sasuke foi até Itachi e o abraçou mais uma vez, estava feliz por tê-lo novamente por perto, especialmente agora sabendo que o pai não tinha planos de ir embora outra vez.

 

⏳⏳⏳⏳

 

As semanas após o retorno de Itachi passavam rapidamente e enquanto pai e filho desfrutavam daquele tempo, Suigetsu vinha para casa quase todos os finais de semanas e quando não podia vir, devido à faculdade ou de uma certa ruiva, ouvia implicâncias dos mais velhos.

— Quando vai nos apresentar sua namorada? — perguntou Sasuke apenas para ver o outro ficar envergonhado.

— Já falei que a Karin não é minha namorada. Ela me odeia! Já ouviu a forma que ela fala comigo? — retrucou Suigetsu.

— E acha que Izumi era como? — questionou Itachi divertido, há muito tempo não doía mais falar sobre ela, tanto que havia contato tudo sobre a mulher para Sasuke, tinha direito de saber, conhecer um pouco sobre aquela que lhe trouxe ao mundo. Não a conheceu, mas a amava.

— Tá, tá… mas quero saber se teremos comemoração esse ano do centenário? — o mais novo tentou desviar o foco de si, mesmo sabendo que o avô não gostava de comemorar aniversário.

Claro que Sasuke e Suigetsu entendiam a aversão de Itachi a aniversário, especialmente os seus, mas desejavam que pelo menos uma vez, ele cedesse e comemorasse com eles.

Para Itachi, era mais ano que completava, ou se passava, deixou de contar sua idade quando percebeu que nada mudaria. Em seu coração havia diversos sentimentos sufocantes, que com passar dos anos aprendeu que não tinha escolha a não ser aceitar o que sua vida havia se tornado. Queria, sim, pode acompanhar, compartilhar cada momento com eles, mesmo que alguns fossem mantidos distantes. Não queria soltá-los, mas foi obrigado. Por toda sua vida aprendeu que quando nascemos, chegaria o dia que iríamos envelhecer, que talvez não viveria muito e quem nem conheceria seus netos ou bisnetos, já que a vida era incerta e imprevisível e que o destino gostava de brincar com as pessoas. Ninguém sabia exatamente o dia da sua morte, se morreria devido a uma doença, na velhice ou até mesmo na juventude. Porém, depois daquele acidente sua vida parou, enquanto a vida das pessoas ao seu redor seguiam seu curso pré-definido.

Seu filho havia completado 75 anos e Itachi o viu criar uma família e alcançar uma felicidade que estava muito distante dele. Sasuke na sua adolescência apresentou seu namorado e foi um grande choque para o mais velho, não negaria, afinal fora criado de uma forma, mas o entendeu e o acolheu, o amou e o apoio. O mundo já era cruel demais para não ficar ao lado do filho. Aquele que escolheu para amar tornou-se seu companheiro por mai de quatro décadas, infelizmente o Juugo acabou sofrendo por uma doença e faleceu depois de três anos. Itachi nunca se sentiu tão culpado por não estar ao lado do filho, mas naquela época, ainda não conseguiu voltar. Mesmo sabendo que ele não ficou exatamente só, tinha Suigetsu, que no momento estava fazendo faculdade, a mesma que o avô curso, mas a trancou para ficar ao lado do pai, retornando a pouco tempo. O neto, além do seu filho e o genro, sabia sobre o mistério da vida do avô Itachi.

O Uchiha pegou o primeiro táxi após receber a ligação do filho dizendo onde se encontrariam. O local escolhido foi uma cafeteria, no mesmo lugar onde seria a dele e da Izumi a tantos anos atrás, que agora era uma Book Coffee, gerencia por um estrangeiro, como chamavam qualquer um que não era de Hallstatt. A cafeteria, junto a uma pequena biblioteca, era bem conhecida por toda cidade entre os jovens e também 'jovens adultos', já que conseguia unir o antigo e o novo em um só ambiente.

Ao chegar Itachi se sentiu em casa, como se o tempo não tivesse passado e estava indo se encontrar com os amigos ou com a esposa. Foi recebido por umas atendentes e levado para o idoso que o esperava. Assim que avistou Sasuke, ele recebia no momento um chocolate quente de um dos funcionários da livraria e sorriu, sabia que o filho não era adepto de coisas doces, mas gostava muito daquela bebida em especial. “Puxou a mãe”, pensou enquanto sentava de frente ao homem de cabelos grisalhos. “Era para ser o contrário, meu filho”, o pensamento invadiu a mente sem permissão, logo o tratou de afastá-lo, não era momento para aquilo.

Pai e filho sorriram um para o outro em cumprimento e ficaram em silêncio por alguns segundos antes de Sasuke lhe entregar um embrulho preto com um laço vermelho.

— Feliz aniversário de 800 anos — brincou o homem, fazendo com que outro sorrisse abertamente.

Antes que Itachi pudesse revidar aquela brincadeira, o mesmo garçom de antes trouxe os pedidos que Sasuke já havia feito.

— Engraçadinho! E você completou quantos mesmo? 650? — zombou Itachi.

— Ha-Ha! Meu netinho adora zombar do seu avô, não é? — provocou Sasuke trocando olhares entre o pai e o jovem, que riu com a intimidade do neto com seu avô. Se soubesse da verdade, não seria tão simpático. — Não vai abrir o presente? Sabe que não deve ser mal-educado quando um idoso lhe da presentes.

— Idiota! — resmungou baixinho levando um chute por debaixo da mesa. — Ai! Isso doeu muito, sabia? — declarou Itachi fingindo chorar e só então perceberam que o jovem continuava parado olhando para os dois com olhar meio perdido e um pouco preocupado. — Moço, está se sentindo bem?

— Ahn? Oh, desculpa-me, espero que gostem do lugar… e estou bem, sim, obrigado por preocupar. É só que… bem, achei tão lindo esse carinho de vocês, que pensei no meu passado, quem me dera que meu vovozinho ainda fosse vivo, então aproveite muito ao lado seu avô, e também feliz aniversário para senhor. Qualquer coisa, só me chamar — disse o jovem solicito.

— Obrigado! — agradeceram em uníssono assim que o jovem saiu envergonhado.

— Ele daria um ótimo neto! — declarou Sasuke despretensiosamente, sabia da única relação do pai depois do acidente e da sua mãe.

— Por favor, não comece, já conversamos sobre isso — respondeu Itachi soltando longo suspiro.

— Tá, tá… Eu nunca pensei que um dia seria eu a lhe dizer isso, sempre imaginei que seria ao contrário. — comentou Sasuke cortando seu pedaço de bolo. — Você deveria se apaixonar sem medo, amar verdadeiramente, se entregar, dar uma chance a felicidade, conhecer alguém. Para que ter tanto medo? As coisas mudaram, os tempos são outros, as pessoas são outras e não viverei muito. Pa… Itachi, eu te amo muito, só quero terminar meus dias sabendo que você está feliz com alguém ao seu lado e não vivendo uma vida solitária como essa que está vivendo. — Explicou Sasuke olhando para o rosto do pai que também olhava com carinho, sabia que seu filho queria vê-lo feliz, mas essa felicidade também poderia lhe trazer muita dor.

— Eu também te amo, peço perdão por ficar tanto tempo longe queria poder estar cada segundo ao seu lado, mas você sabe que… sabe que não é fácil, e por que tenho medo. Já pensei muito sobre tudo isso, ainda assim, não é uma decisão tão simples. E eu me acostumei a viver assim, não precisa se preocupar, eu estou bem. Ficarei bem — respondeu Itachi segurando na mão do outro.

— Eu sei, por isso que tenho orgulho de ser seu filho — Sasuke sussurrou a última palavra enquanto pegava seu lenço do bolso e limpava as lágrimas que escorriam pela pele enrugada. — Hoje não é dia de tristeza, é seu aniversário por isso, eu te trouxe aqui, está tendo uma feira livre, eu sei o quanto gosta de livros — respondeu ele.

— Primeiro, vou abrir meu presente — afirmou Itachi, abrindo seu presente e não evitou a risada que saiu. Era uma gravura dos dois, uma espécie de caricatura, onde Itachi estava velho, com rugas e todas as marcas de expressão e Sasuke jovem.

— A namorada que não é namorada do Suigetsu que fez. E não se preocupe, não falou nada, apenas disse que era uma brincadeira. — garantiu Sasuke.

Enquanto aproveitavam e conversavam tranquilamente, pouco antes de irem embora, decidiram dar uma olhada na seção que acontecia a feira livre. Eram tantos livros, algumas réplicas de livros antigos que Itachi adorava ler antes do incidente acontecer. Não que tenha perdido o hábito, ainda perdia horas na companhia de um bom livro. Naquele momento que passeavam entre as prateleiras e escolhiam alguns livros, ouviram uma pequena discussão entre dois homens.

Um deles gritava com outro que era o dobro do seu tamanho, já o grandalhão usava o uniforme da livraria e com a cara que estava, com certeza, segurava-se o máximo para não partir para cima do encrenqueiro.

— Senhor, apenas pague a multa e pare de arrumar briga, está chamando muito atenção dos clientes — pediu tentando manter a voz baixa.

— Não irei pagar! Vocês estão cobrando um absurdo por simples rasgo!! — gritou.

— Eu mereço! Senhor amado! — declarou o homem fechando os olhos com certa força. — Um simples rasgo? O senhor demorou mais de três meses para devolvê-lo, ainda tem a cara de pau de falar que estamos cobrando caro pela sua falta de responsabilidade? Se não pagar pelos dados serei obrigado a chamar a polícia. O que acha de resolver na delegacia? — perguntou o homem exasperado.

— Polícia por um simples livro? — revidou o outro, balançando o livro diante dos olhos do maior.

— Não é um simples livro. Pelo que vejo é uma das primeiras edições de “A Odisseia”, capa dura, em bom estado apesar dos rasgos. Então, melhor pagar a multa do que ser obrigado a pagar pelo valor original que ele vale. Nem sei porque um exemplar desses está para empréstimo — a voz de Itachi se fez presente.

— E você, quem seria? — quis saber aquele que segura aquela preciosidade em mãos.

— Um bibliotecário, estudioso de livros clássicos e raros como esse que tem na mão — acrescentou Itachi, fazendo o homem abaixar o livro e o olhar assustado.

— Quanto seria o valor dele, original? — quis saber.

— Por baixo, o valor de um carro popular.

Sem esperar mais, o homem entregou o valor da multa ao grandalhão e se retirou rapidamente dali ainda irritado. Ao passar por Sasuke o empurrou com brutalidade e só não caiu porque foi amparado pelo homem que começavam a achar que era muito maior que qualquer outro habitante de Hallstatt.

Enquanto segurava Sasuke e o ajudava a se manter firme, Suigetsu apareceu e ao ver o pai sendo amparado, correu para o seu lado.

— O que aconteceu? — perguntou o jovem rapidamente.

— Nada de mais, apenas um idiota que saiu apressado e o empurrou — informou o ainda desconhecido.

— Ah, mais quem ele pensa que é para tratar os outros assim? Especialmente uma pessoa mais velha. Eu vou quebrar a cara dele — declarou Suigetsu se preparando para ir atrás do homem.

— Sui… não precisa… isso só… isso só… — Sasuke começou a falar, mas começou a sentir-se mal, não queria isso, aquilo não poderia estar acontecendo.

— Pai…

— Sasuke…

Foi as últimas coisas que ouviu antes de ser envolvido pela escuridão.

O homem que ainda não sabiam o nome, pegou o senhor nos braços e o segurou.

— Tenho um carro parado na frente da livraria, posso levá-los ao hospital — ofereceu.

— Sim, vamos, por favor. E obrigado, senhor…

— Kisame. Hoshigaki Kisame, me mudei para Hallstatt não tem muito tempo e as pessoas não tem sido tão… receptivas com “estrangeiros”...

— É melhor irmos logo, Sasuke ainda está desacordado — afirmou Itachi, interrompendo Kisame.

As pessoas que estavam na Book Coffee abriram caminho rapidamente, de relance Itachi viu o jovem rapaz que havia os atendido logo cedo, os olhando preocupado, provavelmente lembrando do que aconteceu com seu avô. Itachi o encarou e moveu os lábios dizendo “O vovô ficará bem”.

Quando saíram, Kisame parou de frente para seu carro, um modelo antigo, mas que Itachi o reconheceu, afinal teve um daqueles quando foi laçado. Sem demora, o Uchiha abriu a porta traseira e o Hoshigaki colocou o mais velho com cuidado no banco, Suigetsu entrou logo em seguida, segurando as mãos enrugadas de seu pai. Itachi sentou-se na frente, vendo Kisame entrar e ligar o carro, antes de dar a partida, notou que o homem ao seu lado estava tendo dificuldade para colocar o cinto e soltando alguns palavrões baixos.

— Com licença — pediu o grandão se aproximando e puxando o cinto para desemperrar. — Sinto muito, meu carro às vezes tem vida própria. — riu sem graça.

— Ele precisa se aposentar, isso sim — Suigetsu comentou um pouquinho alto.

— Suigetsu! Me resolvo com você depois, isso são modos, moleque! — ralhou Itachi dando um tapa desajeitado na perna do neto.

— Está tudo bem, o garoto tem razão — concordou Kisame dando partida. — Vou pegar um atalho, pirralho segura o vovô aí, ou melhor, se segure — pediu aumentando a velocidade. Suigetsu soltou um grito agarrando o seu pai como seu mundo dependesse disso, Itachi apenas segurava o cinto com toda sua força, olhando para o maluco que dirigia com olhar feroz para a rua.

“Espero chegarmos vivos e inteiros”, pensou.

Em poucos minutos chegaram no hospital, Kisame e Itachi foram os primeiros a sair, um enfermeiro que passava por ele, foi chamado pelo grandão, que pediu uma maca para o senhor e não demorou muito para Sasuke ser levado para o interior do prédio. Os três ficaram em sala de espera, enquanto o médico cuidava do Uchiha mais velho, ao passar uma hora e meia, Kisame foi procurar saber como estava o idoso, era nítida sua preocupação, mesmo que não fosse parente, muito menos alguém conhecido. Ele se dirigiu até a recepção, todos olhavam apreensivos e visivelmente com medo, talvez por culpa da sua altura e feição séria de poucos amigos. Itachi o agradecia mentalmente, graças aquele homem seu filho foi atendido rapidamente.

Itachi ficou sozinho na sala de espera, Suigetsu havia saído para comprar algo para eles, enquanto Kisame foi falar com médico, que era conhecido dele. Apesar de ouvir que estava a pouco tempo na cidade, conhecia algumas pessoas, talvez o tivessem ajudado na sua mudança ou algo assim. O Uchiha ficou andando de lado para outro, relembrando a conversa que teve com Sasuke no Book Coffee, pensando se o ocorrido seria algum aviso do destino.

“A quanto tempo seu filho estava tendo esses problemas no coração? Será que foi a primeira vez? Ou houve outras? Por que ele não me contou nada?”, se questionava mentalmente.

— Merda! Não sei o que farei se algo te acontecer — falou para si.

— Ei, moço? — chamou Kisame meio sem jeito, não havia lembrado de pedir o nome do homem a sua frente.

— Itachi — se apresentou rapidamente. — Então, como ele está? — perguntou o se aproximando, ficando bem perto do grandão, que ficou envergonhado e se afastou um pouco, Itachi o imitou, tentando controlar o rubor em sua face.

— Sasuke está bem, está descansando, o médico disse que foi apenas estresse, não precisa se preocupar. — garantiu Kisame.

— Graça a Deus, já pensei o pior — afirmou Itachi se permitindo relaxar.

— Não pense nisso, Zabuza disse que ele viverá muito ainda, agora só precisa repousar, porém, terá que ficar em observação pelo resto do dia e amanhã estará liberado para ir para casa.

— Obrigado, Kisame, e nos desculpe pelo incômodo — agradeceu o Uchiha.

— Não foi nada, eu que tenho que pedir desculpas, tenho uma parcela de culpa por seu pai estar no hospital, sinto muito — contestou Kisame.

— Vovô, não tinha café aqui, então fui à lanchonete da esquina e aqui está — falou Suigetsu ao entrar na sala, pensando que seu avô estaria sozinho.

— Vovô? — perguntou Kisame sem entender, olhando para Itachi, que de velho não tinha nada, mais que isso era jovem e principalmente bonito, muito, para ser considerado um avô.

— É uma piada de família, dizem que tenho alma de velho, é isso. Aí vivem me chamando de vovô, já acostumei. — desconversou Itachi olhando sério para o Suigetsu.

— Isso, e hoje esse ancião ‘tá fazendo 800 anos, com esse corpinho de jovem de 18.

— Suigetsu, eu juro que o próximo a ficar no hospital será você se abrir a boca mais uma vez — ameaçou o Uchiha, vermelho, percebendo que Kisame o encarava com certo afinco.

— Sobrinho? Vovô? Então tá né — declarou Kisame desviando olhar para o rapaz ao seu lado

“Povo de Hallstat é estranho”, pensou o Hoshigaki.

— É que o Sasuke é meu avô, e esse moleque é o único filho dele que ainda está vivo. Meu tio, adotado, foi achado em caçamba de lixo… — provocou Itachi sorrindo diabólico para o neto, que se escondeu atrás do Kisame, sussurrando por ajuda, mas não deixando de provocar o outro.

— Velho ranzinza, vai ficar sem café! Mal-educado, vou contar tudo pro meu pai e você que é adotado — revidou Suigetsu, escondendo o rosto em seguida quando viu Itachi dar um passo para o lado, pronto para ir em sua direção.

— Vocês estão mais para duas crianças, dois irmãos brigando — Kisame riu da cena que presenciava. — Bem, infelizmente terei que ir, mas vou deixar meu cartão com vocês, se não se importarem de me avisar quando o senhor Sasuke sair do hospital, quero me desculpar pessoalmente com ele, por favor — pediu o homem se despedindo, mas antes de sair ouviu seu nome.

— Senhor Hoshigaki, muito obrigado, se não fosse pelo senhor meu a situação do meu pai poderia ser pior, eu não sei conseguiria viver sem ele — afirmou o jovem tentando controlar suas emoções. — Obrigado — agradeceu abraçando rapidamente o maior.

— Como eu disse para o Itachi, digo seu sobrinho, tio… é sério, isso é complicado — falou Kisame rindo, literalmente confuso, nunca havia visto algo assim, tio e sobrinho com quase a mesma idade.

“Essa geração está cada vez mais avançada” — pensou Hoshigaki

— Então, está tudo bem, por favor me avise quando ele sair, até mais — se despedindo novamente.

Assim que o Hoshigaki saiu, Itachi sentou na cadeira respirando pesadamente, o seu aniversário foi cancelado, e transformou-se em loucura que nunca imaginou.

— Ele é educado e bonitão, prestativo, atencioso, como diz o senhor Sasuke: “Um bom partido — Suigetsu tentou imitar a voz de Sasuke, fazendo Itachi rir. — Ele vai ficar bem, vô. O pai é duro na queda.

— Eu sei disso e não pense que não notei o que está tentando fazer. Estou bem assim e pretendo continuar dessa forma. Parem de tentar arrumar pretendes.

— Se eu tivesse sua beleza e energia, eu me apaixonaria amanhã, ou hoje, agora para ser exato. — afirmou o mais novo.

— Você já é apaixonado, só não admite. — pontou Itachi. — Pela Karin. Não esqueça de agradecê-la por mim, pelo presente.

 

⏳⏳⏳⏳

 

Itachi deveria ter imaginado que Sasuke e Suigetsu não o deixariam em paz por causa de Kisame. Não sossegaram até admitir que ele era tudo o que o neto apontou naquele dia.

Infelizmente para o Uchiha mais velho, Hallstatt não era uma cidade com muitas opções de lazer, então acabou se tornando um visitante quase assíduo da Book Coffee e tentava evitar conversar com Kisame além do necessário, mas descobriu ser uma missão impossível. Afinal, cidade pequena, poucos funcionários, dono sempre presente.

Kisame estava fascinado pelo Uchiha, ele nunca escolhia nada convencional para ler, gostava dos clássicos antigos e não se importava se não estavam em seu idioma. Ele lia livros em inglês, japonês, alemão e jurou que viu um que estava em latim. Não invocando nenhum demônio para dentro do seu estabelecimento, tudo bem. Outra coisa que deixava o Hoshigaki intrigado, era o fato de Itachi diversas vezes parecer se perder em pensamentos, como se tivesse pensando em algo, ou lembrando e sempre que isso acontecia, ele rapidamente ia embora.

Itachi sentia o olhar de Kisame, mas fingia não ver e apreciava que o outro não insistia, apesar de sempre dar boas recomendações de livros e parecer saber de tudo um pouco, ser uma pessoa centrada, apesar do incidente de dias atrás. Naquele dia, estava folheando um livro de medicina, nada muito profundo, apenas teorias e tratamentos alternativos para algumas doenças. Se tivesse algum para sua condição, mas procurou intensa e exaustivamente por uma cura e nunca encontrou.

 

Quando se despediu do filho, quando Sasuke fez seus treze anos, Itachi começou sua jornada em busca de respostas para sua condição, precisava entender o que aconteceu e quem sabe, uma forma de reverter aquilo. Sua primeira parada foi o Japão, especificamente a região de Tohoku, indo direto para a cidade de Sendai, onde ficava a Universidade de Tohoku, a terceira mais antiga do Japão, fundada em 1907. Conseguiu emprego como auxiliar da secretária e por conta própria começou a estudar sobre genética e medicina em geral para tentar descobrir se havia algo que pudesse ser feito para voltar ao normal, para voltar e envelhecer como qualquer outra pessoa. Infelizmente não encontrou nada, nem uma cura, nem uma explicação para o que aconteceu consigo naquele dia. Teria que conviver com aquilo até o dia que encontrasse uma solução. Pelo menos, durante o tempo que ficou em Sendai, aprendeu japonês.

A partir dali, Itachi viajou o mundo, aprendeu novas línguas, conheceu os mais diferentes lugares. Mas sem deixar de dar notícias ao filho e o visitar quando podia. Sofria com a distância, por não poder acompanhar o crescimento da pessoa mais importante em sua vida. E a única. A cada local que visitava, lembrava-se de Izumi e da sua afirmação que nunca sairia de Hallstatt. Como as coisas mudaram.

O que nunca mudou foi seu pensamento de não se permitir criar laços, fazer amigos que pudessem ter muita intimidade e o mais importe, nunca se apaixonar novamente, se envolver. Primeiro, em memória a Izumi, poderiam chamá-lo de antiquado, não ligava e segundo, não via futuro com alguém, já que ele nunca envelhecia, jamais mudaria e teria que ver mais uma vez, alguém que ama, partir.

Conseguiu seguir com esse pensamento até ir para a Austrália, para a cidade de Melbourne, capital do estado de Victoria. Lá ele conheceu um parente distante, podia-se dizer que era um herdeiro de algum parente de seus pais, Uchiha Shisui, um jovem médico recém-formado que trabalhava no combate direto a um surto de influenza que acontecia na cidade.

 

 

— Itachi… Itachi — saiu do seu pequeno transe ao escutar seu nome e assim que levantou os olhos, encontrou os de Kisame preocupado. — Está tudo bem? Ficou olhando fixamente para um ponto que pensei que tinha sido hipnotizado.

— Desculpe, estava apenas… lembrando — respondeu vagamente.

— Coisa boa ou ruim?

— As duas, eu acho. — lembrar ou falar de Shisui era tão doloroso quanto falar de Izumi para Itachi.

— Itachi, eu… gostaria de tomar um café — Kisame parou e riu do próprio convite, afinal era dono de uma cafeteria e o Uchiha bebia o item naquele momento. — Desculpe, foi uma bola fora. Posso recomeçar?

Itachi assentiu divertido, gostava de ver aquele homem daquele tamanho se enrolando nas palavras.

— Itachi, gostaria de jantar comigo? Hoje a noite? — perguntou direto, sem hesitar.

Uma voz no subconsciente do Uchiha dizia para negar aquele convite, sabia o que estava por trás daquilo, mas antes que pudesse evitar, as palavras saltaram de sua boca.

— Claro.

— Ótimo. Te busco as oito — garantiu Kisame e se retirou para ir atender outro cliente que chegou.

Itachi guardou o livro que estava lendo, se despediu do Hoshigaki e dos outros dois funcionários e se retirou, precisava passar na casa do filho e do neto para uma conversa.

Não deveria ter ficado surpreso ao saber que os dois haviam passado seu endereço para Kisame, muito menos ao apoiarem a ideia do convite. Aqueles dois estavam piores que casamenteiras.

No horário marcado, com alguns minutos de atraso, Kisame chegou para buscá-lo. O homem se desculpou pela demora. O caminho até o restaurante foi tranquilo, com ambos conversando sobre quase tudo. Itachi descobriu que o Hoshigaki veio de uma pequena Vila no Japão e que estava se acostumando com a cidade e as pessoas, que muitos ainda o olhavam com desconfiança devido a sua aparência e tamanho. Não era todo dia que um homem com quase dois metros de altura, tatuado, algo que o Uchiha havia acabado de descobrir, aparecia em Hallstatt e abria uma cafeteria.

Assim que Kisame estacionou seu carro, um Aston Martin Vantage 72, azul-escuro, novamente Itachi teve problemas com o cinto, que dessa vez, não queria soltar.

— Parece que Samehada gostou de você — brincou o Hoshigaki, ganhando um olhar confuso como resposta. — Vai me achar um tolo, mas dei nome ao meu carro, é meu companheiro a tanto tempo que é quase uma extensão minha.

— Você chama seu carro de “pele de tubarão”? — perguntou Itachi segurando o riso.

— Claro que o poliglota Uchiha saberia o significado do nome — provocou um pouco o outro.

— Dessa vez não tem nada a ver com o idioma e sim com um desenho que gostava de assistir, onde um cara grandalhão, como você, tinha uma espada com esse nome se alimentava de algo… como era o nome… ah, sim… chacra — explicou Itachi.

— Bom, Samehada não se alimenta de “chacra” e sim de gasolina — Kisame riu enquanto soltava o cinto do outro.

No restaurante, os dois homens chamavam atenção, especialmente por estarem no que parecia um encontro e ainda causava estranheza e olhares tortos dos mais velhos.

— Sabe, Itachi, desde a primeira que te vi, antes do incidente com seu pai, pensei, melhor, decidi que precisava conhecer você. Não sabia quando ou como, mas sabia que aconteceria. Você chamou minha atenção, tem um ar enigmático, misterioso, como se tivesse algo a mais do que realmente demonstra.

— Acredito que todos temos um lado que ninguém conhece…

— Também, mas você vai além disso, não sei explicar ao certo… Se pudesse arriscar um palpite, diria que esconde algo.

— É algum tipo de agente? Detetive? — brincou Itachi.

— Garanto que sou o oposto de um agente da lei.

— Um criminoso que está se escondendo em Hallstatt — sussurrou, conspiratório, fazendo Kisame rir um pouco alto, atraindo atenção dos demais.

— Juro que não sou criminoso — levantou as mãos em rendição.

— Seu carro é um Aston Martin Vantage, de 72, não é? — mudou de assunto, desviando o foco de si como sempre fazia.

— Itachi Uchiha, existe algo que não saiba? É inteligente, intelectual, devorador de livros, amante de desenhos antigos e conhecedor de carros, falta algo? — perguntou Kisame com admiração.

— Apenas tenho gostos variados e carros é um deles, especialmente esse modelo, comprei um quando foi lançado e… — Itachi quase se engasgou quando percebeu o que falou.

— Tá bom, não era nem nascido, como poderia ter comprado? É algum tipo de vampiro e não me contou? — brincou o Hoshigaki.

— Com certeza… não. Meu pai comprou e falava tanto dele que era como se eu estivesse lá com ele. — emendou rapidamente. “Por que parece tão fácil falar as coisas para Kisame?”, pensava o Uchiha.

— E você, como veio parar em Hallstatt com a Samehada? — perguntou com um sorriso e notou o outro ficar tenso. — Assunto delicado?

— Um pouco.

— Quer falar sobre isso? — pediu solicito.

— Se isso não te fizer fugir de mim…

— Kisame, a menos que me diga que é um assassino a sangue-frio, não irei embora. — garantiu Itachi, pegando na mão do homem sob a mesa.

— Provavelmente irá, então… — admitiu e viu Itachi arregalar os olhos e quase puxar sua mão.

— O que…

— Estou brincando… apenas quis mudar de vida. Onde morava não tinha mais nada para mim. Nenhuma família, pai, mãe, irmãos, nada. Nada que me prendesse naquele lugar, então girei o globo e vim parar aqui.

— Por um segundo acreditei que era criminoso, não me assuste assim — brigou Itachi, não tão sério quanto pretendia. — Não imaginei que tinha senso de humor.

— Eu tenho, você que é sério demais — provocou o outro. — Então, vovô, me conte mais como “comprou” o Aston 72.

De alguma forma, Itachi sentia-se confortável para conversar com Kisame sobre tudo, claro que ainda evitava assuntos que poderiam assustar o grandão, como, por exemplo, o fato dele ser pai de Sasuke e não neto dele. Não sabia se algum dia conversaria sobre isso com alguém. Fora isso, os dois falaram sobre todo e qualquer assunto e aquela noite, foi uma das mais divertidas em muito tempo. Ele sabia o que estava acontecendo, que não era apenas um jantar entre amigos, mas naquele momento não queria pensar muito naquilo

A noite rendeu um pouco mais do que imaginavam, se passava das onze horas da noite, quando deram por si o restaurante estava quase vazio, Kisame chamou o garçom e pediu pela conta. O retorno para casa do Uchiha foi bem mais descontraída, Itachi ria das piadas horríveis de Kisame e encontravam qualquer motivo para render uma boa conversa e entre eles. Por muito tempo Itachi não se sentia tão relaxado e confiante com alguém, como estava sendo com Kisame, perto do grandão tudo se tornava fácil e agradável.

Hoshigaki lentamente estacionou o carro de frente a casa do Uchiha, era visível como os dois estavam, nenhum queria que aquela noite tivesse fim, queria que tivessem mais horas para apreciar a companhia um do outro.

— Foi muito bom conhecer um pouco mais sobre você, Itachi. — afirmou Kisame quando o silêncio começou a predominar.

— Eu também. Faz muito tempo que não me divertia assim. Posso te pedir uma coisa?

— O que quiser…

— Me diga algo que eu possa guardar para sempre e nunca esquecer. — pediu o Uchiha, deixando o outro surpreso.

— Isso foi…

— Estranho?

— Não… profundo — pausou um momento enquanto pensava no que dizer. — É engraçada… Não importa quão velho você fique a véspera de Ano Novo ainda parece uma noite onde tudo é possível. — declarou Kisame.

— Gostaria que fosse véspera de Ano Novo hoje e que amanha tudo fosse diferente —- sussurrou Itachi desviando o olhar.

— Pode não ser, mas amanhã pode ser um novo dia, um novo começo. Até mesmo agora…

— Você não entende, Kisame, ninguém entenderia. Adorei a noite, mas preciso ir. Boa noite...

Kisame notou que Itachi parecia estar fugindo de algo, de si e do que parecia sentir. Talvez tivesse lido os sinais erroneamente e o outro não o visse da mesma forma, não poderia deixá-lo ir sem saber. Quem sabe se teria outra chance como aquela.

— Acredito que seja a última coisa que quer ouvir agora e que talvez esteja me precipitando. Mas, estou me apaixonando por você. Você me fascina, me atrai, não apenas fisicamente, há algo que faz com que sempre queira estar perto, conversar, ouvir sua voz, contemplar tua beleza, tua inteligência, carisma, seu senso de humor um pouco duvidoso.

— Kisame…

— Me dê uma chance — pediu o maior, segurado gentilmente o rosto de Itachi.

 

“Você não tem que ficar sozinho para sempre.”

“Você tem um futuro todo pela frente.”

“Você sobreviveu todos esses anos, mas nunca teve uma vida.”

 

As frases e conselhos de Sasuke ecoavam na mente de Itachi num ciclo sem fim e pela primeira vez ele quis acreditar que poderia ter uma vida ao lado de alguém, que poderia ser feliz, amar sem se preocupar com o futuro. Naquela noite, nem que fosse uma única vez, deixaria seus medos e receios para trás.

Itachi pousou sua mão na do outro e fez um breve carinho enquanto inclinava a cabeça, não querendo que Kisame se afastasse. Se aproximou lentamente do maior, ou tentou, sendo impedido novamente pelo cinto da Samehada.

— Seu carro está com ciúmes de você? — brincou o Uchiha.

— Espero que não, quero te ver mais vezes. Terá que se acostumar — garantiu o grandão, soltando o seu cinto e em seguida o do Itachi.

Assim que se viu livre, o Uchiha finalmente juntou sua boca na de Kisame, pegando o outro de surpresa, que durou apenas alguns segundos antes de corresponder. Pela primeira vez em muito tempo, Itachi se sentiu vivo, como se não apenas sobrevivesse. E queria mais, ansiava por mais, precisava de mais.

— Quer entrar? — pediu quase sem fôlego.

— Apenas se tiver certeza.

— Nunca tive tanta certeza quanto agora — afirmou Itachi saindo apressado do carro. Kisame riu daquela atitude, mas logo o seguiu para dentro da casa onde o outro morava.

Deixaria para pensar nas consequências, ou se arrepender, dos seus atos depois, aproveitaria o momento e aquela felicidade. Mesmo que fosse efêmera.

 

⏳⏳⏳⏳

 

Infelizmente, o arrependimento veio quando os primeiros raios de sol invadiram o quarto e Itachi abriu seus olhos. Sentiu o calor do corpo de Kisame o envolvendo e um braço em sua cintura de forma protetora. Como queria poder acordar todos os dias daquela forma, mas sua realidade era outra, não poderia. Aquele encontro, aquela noite, por mais maravilhosa que tivesse sido, fora um erro.

Com cuidado, retirou o braço do outro e se levantou, indo em busca das suas roupas e saindo do quarto o mais silencioso que pode, ou pensou.

— Por que parece que está tentando fugir? Da sua própria casa? — a voz rouca do Hoshigaki ecoou e Itachi não teve coragem para se virar.

— A minha vida tem sido difícil por mais tempo do que pode imaginar. Eu não deveria ter me envolvido…

— Itachi, me conte o que te impede, o que te prende? — quis saber o grandalhão enquanto se sentava na cama. Aquela não era a forma que imaginou acordar ao lado de Itachi.

— Não acreditaria se contasse.

— Você pode me dizer qualquer coisa e vou acreditar. Sabe disso não é?

— É melhor ir embora, Kisame. Não me procure, esqueça que essa noite aconteceu. Me esqueça. Sabe onde fica saída — pronunciou Itachi ainda sem virar, não conseguiria encarar o Hoshigaki.

Terminou de colocar suas roupas e se retirou do quarto, se ficasse mais um minuto, voltaria na sua decisão. Entrou no banheiro e se trancou lá, esperaria que Kisame fosse embora. Encarou sua feição no espelho e foi atingido por uma lembrança que tentava evitar a todo custo, apertando a cicatriz na mão.

 

— Não é vaidade. Só não gosto que tirem fotos de mim. — declarou Itachi pela incontável vez para Shisui.

Shisui apenas riu e o abraçou, deixando um beijo casto nos lábios do outro, gostava de implicar com o ele.

Itachi nunca imaginou que pudesse se sentir atraído por outro homem, mas Shisui era diferente, em todos os aspectos. Era um jovem envolvente, apaixonante, aventureiro, não tinha medo de se arriscar, de se envolver, de se jogar de cabeça em qualquer coisa que se dispunha a fazer.

Os dois se davam tão bem que foi difícil para Itachi não se apaixonar, mesmo que tentasse a todo custo ignorar aquele sentimento. Shisui mostrou para Itachi seus hobbies que não eram nada convencionais, gostava de se adrenalina, aquelas que envolviam velocidade e altura eram suas favoritas.

Em uma das aventuras dos dois, algo mais leve para variar, apenas uma trilha na mata, enquanto observavam as estrelas e aproveitam aquele momento de tranquilidade, Shisui percebeu que as coisas estavam prestes a mudar e não poderia fazer nada para impedir.

— Itachi, você realmente tem que ir embora? — perguntou Shisui puxando Itachi parra mais perto de si.

— Sim, irei para a Inglaterra no final do mês — respondeu Itachi.

— Não poderia ficar mais um pouco?

— Infelizmente não posso, Shisui.

— Posso tirar uma foto sua? — insistiu mais uma vez, queria uma lembrança de Itachi, daquele momento tão importante em sua vida.

— Sabe que não gosto que tirem fotos minhas — respondeu Itachi abaixando o rosto para evitar o olhar intenso de Shisui.

— Só uma, prometo não mostrar a ninguém — pediu Shisui com o que poderia ser descrito como um beicinho e olhar de cachorrinho abandonado.

Itachi suspirou, sabia que o outro não mostraria a foto a ninguém.

— Se jurar nunca mostrar a ninguém, eu deixo.

Shisui sorriu e puxou do bolso da calça sua Polaroid SX-70, que havia lhe custado uma boa quantia e tirou uma foto dos dois, mas pegou Itachi de surpresa ao lhe dar um beijo enquanto tirava a foto, deixando-o num misto de vergonha e raiva. Assim que a foto foi revelada, Shisui guardou sua câmera e ficou admirando o belo homem que tinha ao seu lado.

— Você é tão lindo, Itachi — declarou o mais velho, guardando a foto no bolso junto a câmera e o abraçando em seguida.

— Obrigado, mas não poderei ficar

 

 

Itachi se encontrava sentado no chão do banheiro, abraçando as próprias pernas quando ouviu a porta de fechar com certa força e o barulho inconfundível do Aston 72 se afastando. Sentiu-se tão pequeno e indefeso, como se fosse uma criança e queria o conforto do pai. Ele não tinha, mas tinha um substituto que sabia que o ouviria. Lavou-se rapidamente, se arrumou rapidamente e se dirigiu a casa de Sasuke.

Assim que chegou na residência e Suigetsu abriu a porta, notou que tinha algo muito errado com o mais velho.

— O que aconteceu, vovô? — quis saber o jovem.

— Onde está, Sasuke?

— Estou aqui, pai. O que aconteceu?

— Fiz uma besteira, muito grande… eu o deixei se aproximar, deixei me envolver e agora… ‘tá tudo errado, eu não podia… não deveria… — as frases saiam cortadas e sem sentido para Sasuke.

— Itachi! Calma, não estou entendo nada. Deu errado o encontro com Kisame? Ele te fez algum mal? — quis saber o filho, enquanto sentava no sofá, puxando o pai consigo e Suigetsu em frente aos dois.

— Não… foi tudo perfeito…

— Então, o que aconteceu, vovô?

— Eu o mandei embora e pedi para ele me deixar em paz. Foi horrível. Cruel. Principalmente depois da noite incrível que tivemos. Sou uma pessoa horrível — proferiu abalado, sentindo-se ainda pior depois de dizer aquilo em voz alta.

— Você não é uma pessoa horrível. É apenas alguém que já viveu muito, que passou e ainda passa. Mas precisa dividir esse fardo com mais alguém além de mim e do Suigetsu e Kisame é uma boa pessoa, mais sensato e mente aberta que muitas pessoas. Dê a ele uma chance.

— Não sei se ainda vai querer me ver depois de hoje — admitiu derrotado e arrependido, sabia que Sasuke tinha razão e que deveria dar uma oportunidade, mas tinha tanto medo.

— Vovô, sei que está com medo e apavorado com esse sentimento, mas o amor é uma prova que estamos vivos. Sentir o coração acelerar e questionar todas as suas ações e pensamento por alguém é normal. É assim para todo mundo. Quantas vezes eu já tive o coração partido e mesmo assim ainda insisto no amor?

— Quando você se tornou tão sensato? — brincou Itachi, bagunçando o cabelo do neto.

— Isso eu sei, desde que encontrou o amor na Karin. Pai, vá em frente, não seja bobo. A vida é curta demais, mesmo que para você seja diferente, pense em Kisame. Aproveitei todos os momentos que tivemos juntos e os levarei comigo até o fim.

— Posso fica aqui? — pediu Itachi se ajeitando no sofá para que deitasse no colo de Sasuke, não querendo pensar em mais nada, querendo ficar apenas na companhia do filho e do neto.

Sasuke e Suigetsu entenderam que Itachi não diria mais nada e respeitarem seu espaço e tempo, não insistiriam no assunto, por enquanto.

As próximas semanas, muito mais do que os dias que pensaram que Itachi ficaria recluso, foram tensos, para se dizer o mínimo. O Uchiha ficou recluso, quase não saia de casa e a única vez que saiu foi para uma viagem em cima da hora, não dando detalhes para onde iria ou o que iria fazer, deixando os filho e neto preocupados.

— Onde você vai e o que vai fazer? — quis saber Sasuke enquanto se despediam.

— Não se preocupe, volto logo — respondeu enigmático.

— Não estou gostando disso. Por que ainda não procurou Kisame? Porque não falou com ele, contou tudo? O que está esperando? Quando irá entender que pessoas como ele não aparecem todos os dias e…

— Eu sei, acredita em mim, sei muito bem disso. Prometo, assim que voltar, falarei com ele — garantiu Itachi, deixando um beijo nos cabelos grisalhos de Sasuke.

 

⏳⏳⏳⏳

 

Itachi passou quase dois meses longe, não sabendo que em Hallstatt Sasuke e Kisame conversavam bastante, o grandão estava quase se tornando da família. Por diversas vezes pensou em dizer sobre sua relação com Itachi, a verdadeira, mas não podia fazer isso com o pai, era ele quem tinha que contar. Esperava que quando retornasse, esclarecesse tudo, tinha pressentimento que o pai e Kisame seriam um ótimo casal.

Itachi retornou no Dia de Ação de Graças com uma nova esperança em seu coração e quem sabe um futuro não mais tão solitário como imaginava.

Ao chegar na casa do filho, parou e hesitou por alguns momentos ao ver o Aston 72 azul parado em frente a casa. Não deveria ficar surpreso, afinal Suigetsus não cansava de falar o quanto o pai e o bibliotecário estavam próximos, até pareciam pai e filho. Se ele sentiu uma pontada de ciúmes no jovem, não comentou. Respirou fundo e bateu na porta, que foi aberta por uma jovem de cabelos ruivos e óculos. Karin.

— Olá, você deve ser o famoso Itachi, conhecido por todos como vovô — declarou a jovem sorridente. Suigetsu tinha realmente muita sorte.

— Não me diga que aquele pirralho te corrompeu e também vai me chamar de vovô? — brincou Itachi e viu a garota ficar corada. — Não se preocupe, não me importo, na verdade. Desde que possa te chamar de neta, ou heroína, já que atura aquele ser ali — apontou para Suigetsu que surgiu atrás da garota.

— Vovô! Por que não avisou que vinha? Pai ficará feliz e o grandalhão também. — provocou o jovem, ganhando um tapa na namorada. Finalmente haviam se entendido.

Assim que entrou, os olhos de Itachi foram atraídos para o homem grandalhão que se movia com destreza pela cozinha e sala da casa de Sasuke. E quase derrubou a travessa que carregava quando notou o Uchiha parado.

Sasuke surgiu segundos depois, atraído pela voz do filho e abraçou o pai, feliz por ele estar ali.

— Espero que não se importe do Kisame estar aqui. Ele não tinha ninguém para passar o feriado, então…

— Tudo bem, preciso mesmo falar com ele. Já adiei demais essa conversa. Só espero que ele ainda queira me escutar — a voz soou hesitante e preocupada.

— Claro que vai — garantiu Sasuke com meio sorriso.

Itachi e Kisame trocaram um cumprimento breve, teriam tempo para conversar mais tarde.

Durante o jantar, era perceptível para todos a troca de olhares entre os dois e os sorrisos que tentavam evitar, pareciam dois adolescentes tentando esconder seus sentimentos e falhando miseravelmente. Suigetsu tentou provocar um pouco Itachi, mas foi repreendido sem sutileza por Karin, não restando outra alternativa a não ser ficar quieto. Emburrado.

Após o jantar, todos bebiam um pouco de vinho quando Itachi reuniu sua coragem para se aproximar de Kisame.

— Podemos conversar? — perguntou baixo.

— Não vai fugir novamente depois? — retrucou, mas não parecia irritado.

— Prometo que não.

— Ok. — concordou rapidamente.

— Pode ser lá em casa, quero te mostrar uma coisa. — pediu Itachi com nervosismo, era um grande passo que daria.

— Sasuke, Sui, Karin, obrigado pelo jantar, preciso ir agora, tenho algumas coisas para resolver. Prometo voltar em breve. Se cuide e Suigetsu… melhor, Karin, cuide desse idiota, ele é desajustado, mas te ama — declarou Itachi vendo o citado ficar tão vermelho quanto o cabelo da garota e saindo logo depois.

— Eu também já vou indo, obrigado pelo convite. Espero o senhor na Book Coffee, para nosso café e Karin, ainda aguardo a minha gravura, não esqueci — lembrou o Hoshigaki dando um abraço na jovem e depois nos outros dois, se retirando.

Quando estavam os três sozinhos, trocaram olhares cúmplices e riram da atitude de Itachi e Kisame

— Sutis…

 

⏳⏳⏳⏳

 

Em casa, Itachi esperava ansioso a chegada de Kisame, na mesa de centro uma caixa que nunca esperou pegar novamente, que guardava seu maior segredo e que estava pronto para compartilhar com o Hoshigaki.

Não demorou muito para escutar a campainha e correu apressado para abri-la, quase tropeçando nos próprios pés. Não evitou sorrir quando encontrou o grandão parado, o olhando com curiosidade e outra coisa que se ousasse dizer, mesmo que talvez não merecesse, carinho e saudade.

— Olá, Itachi — cumprimentou Kisame.

— Estou tão feliz de ver você e por aceitar meu convite. Entre — pediu, indicando o sofá.

Um silêncio se formou, Itachi não sabia como começar, passou diversas vezes essa conversa em sua mente, mas agora as palavras haviam desparecido. Felizmente, quem iniciou a conversa, foi Kisame.

— Por que foi embora? Sem nenhuma explicação, além daquela desculpa esfarrapada daquele dia.

— Estou cansado de fugir, de mentir para pessoas boas, de mentir para você. Lembra que me falou que acreditaria em qualquer coisa que dissesse? — pediu e o grandão assentiu. — Meu nome é Itachi Uchiha e nasci do dia 09 de junho de 1919, aqui em Hallstatt — contou e esperou a reação de Kisame, que estava absorvendo aquela informação. — E no dia 18 de novembro de 1958 sofri um acidente que me deixou com uma condição incomum. Não envelheço, nunca mais.

— Bem, isso explica muita coisa — declarou Kisame, não tão afetado quando Itachi esperava.

— Somente isso que vai me dizer? Nada de surtos e acusações que estou mentindo e inventando desculpas? — perguntou surpreso.

— Não seja tão presunçoso, Itachi, ou negligente, as pequenas coisas te entregam. Você tem bons modos, até demais para alguém tão jovem, gosta de livros antigos e clássicos, conhece muitas línguas, fala com propriedade sobre assuntos e fatos que somente quem vivenciou poderia fazer. Isso faz parte do seu charme e uma das coisas que mais me atrai em você. Você teve uma vida incrível, viu e presenciou coisas que poucos ousariam sonhar. É um privilégio.

— Não é, gostaria que fosse, mas não é. Eu me casei, tive um filho e deveria tê-lo visto crescer, casar, formar sua família eu deveria envelhecer mimando meus netos para desespero do pai deles.

— Não percebe que fez isso? Agora entendo sua relação com Sasuke e Suigetsu, tudo está claro como água. Você é pai de Sasuke e avô do Suigetsu. Não sei exatamente tudo o que aconteceu na sua vida e não vou obrigá-lo a me contar se não quiser…

— Agora percebo que você foi e ainda está sendo incrivelmente gentil comigo e fui burro demais para aceitar isso. — interrompeu Itachi. — Me deixe te contar um pouco da minha história, de tudo o que passei.

— Itachi, tudo o que passou te trouxe até aqui, te colocou no meu caminho, na minha vida e isso basta por enquanto. O que acontecerá daqui para frente, é um mistério e isso torna tudo especial. O futuro tem seu charme também.

— O meu futuro é diferente do seu, eu ainda estarei aqui quando… por muito tempo. Isso parece não importar agora, estou apaixonado por você e não posso evitar. E acho que nem quero. Não consigo imaginar a minha vida sem você.

— Eu também não consigo. Vamos aproveitar o tempo que temos, da melhor forma que pudermos e quando chegar o momento, veremos o que faremos. O que acha?

— É um bom plano — concordou o Uchiha, esquecendo completamente da caixa com suas memórias, com sua história e se aproximou do Hoshigaki, que não hesitou em puxá-lo para perto e o beijar como se sua vida dependesse disso e talvez fosse.

Quando se afastaram, sorriam como dois apaixonados que eram e estavam dispostos a tudo para ficar juntos. Fosse pelas próximas cinco horas, cinco dias, cinco anos ou cinquenta.

— Eu só te peço, não fuja. Não desapareça novamente, por favor.

— Eu prometo, não irei a lugar algum. O que você mais tem é futuro. E quando digo futuro, me refiro a um futuro juntos, envelhecer juntos. Ou o melhor que conseguirmos.

— E quando eu chegar ao final, estarei te esperando para que você venha e cuide de mim.

 

⏳⏳⏳⏳

 

60 anos depois

 

Kisame sentia todo seu corpo adormecido, efeito dos remédios para suportar a dor, ao seu lado, sentiu uma mão apertar a sua e aquele sorriso tão conhecido o confortar.

— Você continua lindo, como no dia que te conheci — declarou o Hoshigaki, já sabendo o que ouviria.

— Talvez porque eu esteja do mesmo jeito — respondeu com falsa seriedade.

— Obrigado por estar aqui, comigo, não precisava. Sei que é doloroso para você.

— Eu te amo, Kisame, sempre vou amar e eu prometi, não foi? Além disso, você esteve comigo quando Sasuke se foi, quando Suigetsu casou, quando minha bisneta nasceu e quando ela teve seu filho. Estarei sempre com você, até o final — garantiu Itachi deixando um breve selar nos lábios do outro.

Itachi sabia que seu companheiro de tantos anos estava partindo e pela primeira vez não sentiu medo de ficar sozinho, afinal esperava por isso e sabia o que fazer.

Kisame Hoshigaki partiu meses depois e agora, o Uchiha se encontrava na casa que dividiu com seu grande amor durante todos aqueles anos, os mais felizes de sua vida.

Na sua frente, sua caixa de memórias, repleta de lembranças de tudo o que viveu e que agora não doía mais, pelo menos não tanto quanto antes. Suas mãos tremulas, escrevia uma última carta para se juntar as lembranças do seu passado, de sua vida.

 

“Eu nunca vou entender porque tão poucas pessoas se preocupam com a história. Mas aqui, contarei um pouco da minha, que é maior que a da maioria das pessoas. Prometo que serei breve.

Meu nome é Itachi Uchiha. Nasci em Hallstatt, uma pequena cidade na Áustria, no dia 09 de junho de 1929 e aqui vivi até meus 29 anos.

Dia 05 de agosto de 1945 me casei com Izumi Uchiha, meu primeiro amor e mãe do meu único filho.

Dia 23 de julho de 1948 nascia Sasuke, meu primeiro e único filho e também foi o dia que perdi Izumi devido a complicações no parto. Fiquei viúvo e com um filho para criar.

Dia 15 de novembro de 1958, sofri um acidente automobilístico e morri por alguns minutos. Porém, devido às condições climáticas do lago congelado onde aconteceu o acidente e mais um raio que caiu no carro e me atingido, meu corpo voltou à vida. Um verdadeiro milagre. Ou talvez não, como descobriria com o tempo. Nesse dia, parei de envelhecer.

Dia 04 de março de 1961 deixei meu filho com meus pais e parti em busca de uma cura para minha condição. Infelizmente nunca encontrei.

Dia 20 de novembro de 1963 conheci Shisui, a primeira pessoa que me apaixonei depois de Izumi, infelizmente não contei a ele sobre minha condição e o abandonei sem explicação. Ele merecia muito mais e naquele tempo, não sabia se conseguiria retribuir o seu amor da maneira que ele merecia.

Passei muito tempo sem visitar meu filho algumas vezes, deveria ter ido mais, mas tinha medo de ser descoberto e acabar preso em um laboratório como um rato de experimentos.

No dia 31 de março de 1973 voltei a Hallstatt para o casamento do meu filho, não foi realmente um casamento porque as pessoas eram preconceituosas com a união de duas pessoas do mesmo sexo. Mas Sasuke e Juugo estavam felizes e era isso que importava.

Dia 18 de fevereiro de 1983, um garotinho de três anos foi adotado pelos dois e ganhei um neto. Suigetsu foi uma luz na vida do meu filho e seu genro.

Dia 26 de maior de 2013, Juugo partiu e deixou um vazio na vida de Sasuke, por sorte, ele tinha Suigetsu com ele.

Dia 10 de abril de 2020 voltei para Hallstatt, onde planejava viver recluso até quando pudesse, se fosse pela eternidade, não me importaria.

O destino tinha outros planos.

Dia 09 de junho de 2020, no dia de meu aniversário, conheci Kisame Hoshigaki, aquele que mudaria para sempre.

Dia 15 de setembro de 2021 me casei com Kisame, com ele sabendo de tudo, ou quase tudo.

Dia 19 de julho de 2082 eu o perdi e não me arrependo de nenhum dia ao seu lado.

Dia 07 de agosto de 2082 eu finalmente posso me despedir desse mundo. Espero que Kisame me perdoe, mas não posso vier em um mundo onde ele não está. Planejei isso há quase 60 anos, sem ele saber, sem ninguém saber, antes mesmo de aceitar que não viveria sem ele na minha vida.

Logo nos veremos novamente, me espere meu amor.