
Depois do treino
Sumire percebeu o que Kawaki estava fazendo, dizer que algo não importava era só uma maneira evasiva que ele tinha para não dar explicações. Em outras situações ela teria insistido, mas Kawaki parecia claramente desconfortável, Sumire preferiu não pressioná-lo, mesmo porque ela também não saberia lidar com a resposta caso ele confessasse alguma intenção romântica ou uma simples atração física, a arroxeada teria que conviver com a dúvida. Isso a deixava um pouco angustiada então quis fazer uma última pergunta:
_Bem... então não devo me preocupar com próximas tentativas?
Kawaki cerrou os punhos e sentiu um aperto no peito, ele interpretou a pergunta de Sumire como uma rejeição, o que não era, então ele apenas respondeu seco:
_Não. Eu disse que não ia acontecer de novo. Mas eu entendo se você não quiser mais treinar comigo.
Sumire deu três passos chegando ao lado esquerdo de Kawaki e disse gentil olhando para o rosto de perfil do rapaz:
_Eu ainda quero treinar com você. Não tem motivo pra eu não querer.
Kawaki virou o rosto olhando novamente para o par de olhos púrpuras que o faziam se perder da realidade, ele sentiu um alívio no peito, entendendo que Sumire não o rejeitaria, ela estaria ao lado dele, ele só precisava agir com calma. Aquela troca de olhar durou alguns segundos em silêncio, até Sumire rompê-lo dizendo:
_Bem, é melhor eu pegar a espuma cicatrizante agora._ela esticou o braço alcançando a própria bolsa no banco e a arrastou para ficar em frente de si.
Sumire abriu a bolsa e pegou o frasco com espuma cicatrizante, o deixando ao lado da bolsa em cima do banco. Em seguida Sumire abriu o zíper frontal de sua blusa, que era muito parecida com a que ela usava aos 12 anos de idade, só diferindo pelo estilo da gola, que não era mais de marinheiro, com menos tecido na borda e da mesma cor da blusa que era lilás. Sumire colocou a blusa sobre o banco e ergueu a malha de proteção que ela usava por baixo, esta era de um tecido cinza e grosso, com um decote em “u” que revelada o top de elastano preto de gola alta que Sumire sempre usava nos treinos ou missões. A queimadura mais grave estava na região de flanco direito, de segundo grau, com cerca de sete centímetros de diâmetro, era a parte imediatamente abaixo do buraco que se formou na blusa e onde o queimado era mais “preto” na malha de proteção, embora esta não tenha sido danificada ao ponto de formar um buraco. Junto à queimadura principal, cerca de 60% do hemi-abdome direito de Sumire estava avermelhado, correspondendo a uma queimadura de primeiro grau adjacente. Avaliando o tamanho do dano em sua pele Sumire exclamou sem refrear a língua:
_Droga!_imediatamente Sumire cobriu a boca se reprimindo por ter xingado.
Kawaki sorriu de canto vendo a reação da arroxeada e pensava “Acho que estou sendo má influencia pra roxinha”, mas em seguida ele teve a mesma reação de surpresa ao ver a queimadura da garota:
_Droga, é feia mesmo!
Sumire franziu o cenho dizendo irônica enquanto alcançava o frasco da espuma:
_Obrigada pelo elogio.
Kawaki torceu a boca:
_Foi mal, eu tava falando que a queimadura está pior do que eu imaginei, sua barriga é bem bonita, não é feia não, só a queimadura que é..._coçou a nuca.
Sumire corou de leve as bochechas exclamando tímida:
_Você acha minha barriga b-bonita?!
Kawaki desviou o olhar e também corou ligeiramente as bochechas:
_É, hã, até que é..._limpou a garganta_de qualquer forma, eu fui mesmo sem cabeça por ter jogado um fogo de temperatura tão alta, eu não queria ter te machucado de jeito nenhum.
Sumire abriu o frasco de espuma e começou a aplicar no local lesionado iniciando da parte da queimadura mais grave e disse:
_Acho que você não teria rompido a redoma tripla de água se não tivesse usado aquela temperatura, eu não fui rápida o suficiente pra desviar do canhão de fogo que você lançou.
Kawaki:
_Me desculpa.
Sumire olhou para Kawaki interrompendo a aplicação da espuma:
_Já tá desculpado, Kawaki-kun, é normal esse tipo de dano num treino desse nível. Eu acho que podemos repetir essa intensidade de treino outras vezes, o que você acha?
Kawaki uniu as sobrancelhas:
_Sério? Eu achei que eu tinha passado dos limites quando usei o Karma.
Sumire:
_Não. Acho que é válido, você apenas potencializa o Katon, não usa outros jutsus. Eu achei empolgante, foi mais desafiador pra mim._sorriu de canto.
Sumire pensava se recordando das cenas finais do treino: “Ele fica assustador mas ao mesmo tempo muito lindo quando ativa o karma”.
Kawaki arqueou a sobrancelha esquerda:
_Quer dizer que eu te deixei empolgada? Pelo visto, você achou entediante conseguir apagar o meu fogo em todos os 11 treinos antes desse...
Sumire riu e voltou a aplicar a espuma em seu abdome:
_Nada disso, eu nunca fico entediada com você por perto, Kawaki-kun.
Kawaki deu um sorriso largo sem mostrar os dentes, como Sumire não olhava para ele, não percebeu, mas notou um tom alegre quando Kawaki completou:
_É, você também é impressionante. Aquele dragão de água foi muito irado, e eu não sabia que você conseguia fazer tantos clones, qual é o seu recorde?!
Sumire:
_Hã, eu normalmente eu não preciso de muitos, hoje que usei 15 foi o máximo que eu já tinha usado, mas se for só contar com a reserva de chacra que eu tenho, sem a ajuda do Nue, e for exclusivamente pra produzir clones, hmmm, talvez uns 500.
Kawaki:
_Caraca! Tudo isso? Você tem reserva de chakra no nível de uma Uzumaki? O Nanadaime fazia 1000 clones, mas era maior loucura e ele é cara dos clones mesmo, o Boruto dá conta de dez já se matando, pra ele é mais fácil ficar nos quatro de sempre e eu sem karma quase me acabo pra fazer dois.
Sumire:
_Ergh, é mas esses 500 seriam se eu gastasse todo chacra apenas nos clones, e estou falando de clones de água, eles gastam menos chacra que o os clones das sombras, pra um bom usuário de Suiton é bem mais fácil de usá-los, eles também são mais limitados do que os clones das sombras.
Kawaki:
_Você também sabe fazer clone das sombras?
Sumire falou baixo:
_É, eu já fiz... é um jutsu proibido mas isso era fichinha pro que meu pai me ensinava.
Kawaki mordeu o lábio inferior e disse:
_Ahh, foi mal, não queria que você tivesse que lembrar dele...
Sumire balançou a cabeça para os lados e dizendo:
_Hã, tudo bem, falar dele não me machuca mais. Ele não pode mais me fazer mal.
Kawaki tentando sair do tom melancólico disse:
_Pois é, os clones de água então são bem mais vantajosos pra um usuário de suiton. Pena que não tem clone de fogo... ou tem?
Sumire respondeu num tom instrutivo:
_Não, só temos clone de água, clone de barro, clone de madeira, o clone comum e o clone das sombras. Ahh, também tem clone com animais de invocação como cobras e corvos e já ouvi falar de clone papel.
Kawaki:
_Nossa, muita coisa, hein.
Sumire deu um risinho:
_Aham, mas confesso que seria interessante um clone feito de fogo, talvez não seja impossível, você não quer tentar criar um?
Kawaki arqueou as sobrancelhas:
_Sério? Nahh, essa onda de criatividade não é comigo. Eu já tenho muito trabalho com os jutsus já prontos, imagina inventar um novo. Deixa isso pro Nanadaime e pro Boruto.
Sumire ergueu o rosto e olhou para Kawaki dizendo:
_Não se subestime, Kawaki-kun, você tem capacidade de criar muita coisa, é só ter vontade, você é inteligente e habilidoso. Só precisa ter mais paciência.
Kawaki sorriu de canto:
_Hã, tá aí meu ponto fraco.
Sumire olhou nos olhos de Kawaki e disse:
_Você já melhorou bastante nesse aspecto.
Kawaki arregalou minimamente os olhos:
_Valeu. Você sempre acreditou em mim, né?
Sumire sorriu:
_Claro e sempre vou acreditar.
Kawaki sorriu de canto admirando a garota a sua frente, de alguma forma ele se sentia especial por causa dela. Sumire novamente abaixou rosto pra continuar aplicando a espuma na queimadura, então Kawaki perguntou um pouco tímido:
_Hein, ainda falando sobre os clones, a memória de um clone de água funciona igual ao clone da sombra?
Sumire lambeu o lábio inferior e respondeu:
_Sim, igual...
Kawaki corou as bochechas percebendo que as de Sumire também estavam coradas, os dois revisavam em suas mentes o quase beijo e dessa vez Kawaki não se sentiu frustrado, ele deu um suspiro pensando: “Espero que não tenha sido uma memória ruim pra ela.” Kawaki ficou um pouco perdido em seus pensamentos que nem notou quando Sumire virou de costas e começou a tirar a blusa de malha, ela tinha percebido que ficaria melhor para aplicar a espuma, pois a parte embolada da blusa erguida não permitia expor totalmente a área queimada de seu abdome. Kawaki arregalou os olhos quando se deparou com a visão das costas expostas de Sumire, boa parte do top dela subia por conta do atrito com o tecido justo da blusa de malha, se fosse uma visão frontal ele teria visto parte do corpo de Sumire que ela só pretendia revelar para seu marido.
Kawaki havia ficado desnorteado pensando que o top de Sumire iria sair por inteiro, o que não aconteceu. Sumire tirou a blusa de malha a colocando ao lado da outra blusa no banco, e rapidamente puxou seu top para baixo, notando o quanto ele tinha subido, ficando com o rosto todo vermelho apesar de já ter previsto isso e justamente ter se virado de costas por esse motivo. Sumire, ainda de costas para Kawaki, terminou de aplicar a espuma na área queimada na parte superior do abdome, depois guardou o frasco na bolsa e dela pegou algumas ataduras a qual ela começou a enrolar ao redor do abdome para proteger a área ferida.
_Eu te ajudo._Kawaki se ofereceu pegando uma ponta da atadura.
Sumire deu risinho vendo Kawaki compenetrado cuidadosamente enrolando a atadura ao redor do abdome dela. Kawaki olhou para Sumire um pouco receoso:
_Hã, eu tô fazendo certo?
Sumire sorriu dizendo:
_Tá sim, obrigada.
Kawaki mordeu o lábio inferior e continuou o curativo por mais algumas voltas, Sumire mostrou como finalizar com um nó, depois guardou as duas blusas bem dobradas em sua bolsa.
Kawaki:
_Eu compro uma blusa nova pra você substituir essa.
Sumire ergueu as mãos as balançando:
_Não se preocupe com isso.
Kawaki passou a própria bolsa à tira colo e pegou a de Sumire a carregando no ombro:
_Deixa que eu levo. Agora que sua barriga está queimada, vai ficar ruim de prender na cintura.
Sumire arqueou a sobrancelha:
_Mas eu posso carregar no ombro igual você está fazendo.
Kawaki estalou a língua:
_Hã, você prefere carregar então?
Sumire pegou a bolsa:
_Você não precisa ficar agindo diferente só porque me queimou num treinamento.
Kawaki torceu a boca, os dois começaram a caminhar para voltarem para casa. Kawaki disse:
_Mas eu posso ser um cavalheiro de vez em quando...
Sumire uniu as sobrancelhas:
_Humm, é mesmo? E o que você acha que um cavalheiro faz?
Kawaki coçou a nuca:
_Ergh, eu posso começar acompanhando você até a sua casa hoje.
Sumire ergueu as sobrancelhas e então sorriu dizendo:
_Ah, sim, eu gosto da ideia.
Kawaki sorriu discretamente, ele finalmente estava tendo coragem de levar Sumire até a casa dela, algo que ele tinha receio de fazer depois da primeira e última vez que o fizera após uma ida ao cinema dois anos antes. O rapaz ainda tinha insegurança de repetir o ato, por conta de uma lembrança embaraçosa que ocorrera naquela citada vez: não havia sido a intenção de Kawaki, que então tinha 14 anos e poucos meses convivendo em sociedade, mas este resolvera se despedir com um abraço o qual fora um tanto invasivo fisicamente e deixara a garota de 12 anos de idade assustada ao ponto de esta sair correndo para entrar em casa e fechar a porta na cara dele. Kawaki havia ficado bastante confuso com aquilo, mas depois de uma conversa com Naruto, acabou entendendo certos aspectos sobre contado físico com o sexo oposto, mas aspectos que do que ele gostaria de saber.
Sumire também se lembrava muito bem dessa única vez em que Kawaki a levara em casa, o encontro que eles tiveram (não tinha sido programado como um encontro romântico) havia sido muito agradável, depois do cinema eles haviam ido para uma feirinha numa praça, Kawaki parecia uma criança descobrindo coisas novas, e também tinha habilidades sociais bem inocentes para alguém da idade dele na época. Ela nunca tinha conversado com ele a respeito da reação dela ao fatídico abraço, depois do ocorrido ela havia refletido e reconhecido que Kawaki não tivera má-intenções ao unir tanto seus corpos. Eles haviam levado alguns dias para se encontrarem pessoalmente após o episódio, o assunto nunca havia vindo à tona, embora pudesse ter passado pela cabeça dos dois algumas vezes, sem que eles tivessem coragem de abordá-lo. De fato, os dois voltaram a conviver sem demostrar ressentimento ou constrangimento, entretanto não quiseram repetir nenhum abraço depois daquilo.
Essas lembranças ficaram mais fortes quando os dois viraram a esquina do quarteirão da casa de Sumire, a qual se perguntava se na despedida seria uma oportunidade de quebrar essa “política de zero abraços”.
_Entregue em seu destino, bela dama._ Kawaki disse parando a beira portão e curvando o corpo movendo a mão numa reverência.
Sumire deu um risinho, passando por Kawaki, ela se virou para ele e disse acenando com a cabeça num gesto cortês:
_Eu agradeço a companhia, caro senhor.
Kawaki torceu as sobrancelhas:
_“Caro, senhor”? Eu não sou nenhum velho, Sumire._ comentou brincalhão.
Sumire fez um biquinho:
_Ah, mas não é assim que as damas respondem aos cavalheiros?
Kawaki ergueu o rosto olhando para cima reflexivo:
_Humm, eu nem sei, você tirou isso de um filme de época?_ele voltou a olhar para Sumire.
Sumire arregalou os olhos minimamente ao ouvir a palavra “filme” a qual a fazia lembrar-se do abraço pós-encontro no cinema. Ela desviou o olhar e respondeu:
_Deixa pra lá, obrigada por me acompanhar até em casa hoje, Kawaki-kun.
Kawaki curvou-se novamente em seu gesto cavalheiresco e disse:
_O prazer foi meu.
Eles se olharam em silêncio por cinco segundos, começando a ficar um pouco tensos, era inevitável que os dois pensassem no que tinha acontecido da última vez em que estavam naquela mesma posição.
Sumire:
_Bem, eu já vou entrar. Tchauzinho.
Kawaki:
_Tchau, eu vou esperar você entrar.
Sumire:
_Tá bem.
Sumire se virou fazendo menção de passar pelo portão, mas ela hesitou, então se virou novamente para Kawaki, se aproximou dele rapidamente dando-lhe um abraço sem que Kawaki tivesse tempo para corresponder, já que Sumire havia soltado os braços de ao redor dele imediatamente. Então ela o olhou nos olhos e disse:
_Boa noite, querido.
Kawaki levou alguns segundos para processar aquilo ficando boquiaberto até conseguir responder:
_B-boa noite._nesse momento Sumire já abria a porta da casa e se virava uma última vez acenando para Kawaki, ele acenou de volta com um sorriso bobo no rosto.
Kawaki tomou o caminho para casa andando sem pressa, ele revisava em sua mente diversas lembranças que ele tinha com Sumire e tentava refletir sobre tudo o que estava acontecendo entre ele e a garota de olhos ametistas que o atraía tanto. Ele reconhecia que a companhia dela era maravilhosa e que ele não deveria jamais agir sem pensar nos sentimentos dela em primeiro lugar.
CONTINUA