
Você gosta de crianças?
Kawaki e Sumire caminhavam lado a lado na calçada da Avenida Principal, a essa hora havia movimento na região de restaurantes e lanchonetes, os dois precisavam se desviar constantemente da pessoas que transitavam. Kawaki não gostava de lugares com tumulto, então andou mais rapidamente para passar logo por aquele trecho. Sumire andava mais de vagar, se distraiu ao ver duas menininhas do outro lado da rua, por volta de 4 anos de idade, que estavam andando de mãos dadas sozinhas, Sumire parou e olhou ao redor procurando por algum adulto que estivesse com elas, logo uma mulher chegou correndo, as abraçou, em seguida um homem alcançou as três e disse pegando as duas filhas no colo enquanto elas davam risada:
_Vocês duas me deram um susto enorme! Não fiquem mais longe do papai e da mamãe, nunca mais!
_Nunca mais!_ uma delas disse concordando.
_A mamãe diz que nunca é uma palavra muito forte, papai_ a outra disse divertida.
A família atravessava a rua e ria passando por Sumire que observava a cena com as sobrancelhas unidas e um sorriso.
_Tá distraída hoje, hein roxinha!_Kawaki surgiu de repente ao lado de Sumire, ele havia voltado para procurá-la assim que notou sua ausência na caminhada.
Sumire, que não se surpreendeu com Kawaki ao lado dela, apenas concordou com a cabeça e disse voltando a caminhar junto dele:
_Eu gosto de observar as pessoas.
Kawaki tinha visto o casal com as crianças e um sorriso diferente no rosto de Sumire por causas deles. Ele ficou pensativo por uns segundos e disse:
_Você gosta de prestar atenção nas crianças com seus pais?
Sumire:
_É, sorte a delas... por não estarem sozinhas.
Kawaki engoliu em seco ao notar o ar meio triste que pairou no semblante de Sumire após dizer tal frase. Ele tinha uma noção que a infância de Sumire havia sido tão conturbada quanto a dele, e que desde que tinha se mudado para Konoha, a garota continuava morando sozinha. Ele teve a sorte de ser adotado pela família Uzumaki, embora ainda tivesse dificuldades de se sentir parte dela, devido a tanto traumas que tivera. Kawaki pensou em falar alguma coisa pra fazer Sumire se sentir melhor:
_Você gosta de crianças, né?
Sumire:
_Sim, gosto bastante, faço o que estiver ao meu alcance ou até fora para protegê-las.
Kawaki:
_Com certeza, o seu projeto para recuperação das crianças que nasceram sem um dos membros ou alguma outra deficiência está a todo vapor, não é?
Sumire sorriu e acenou a cabeça afirmativamente:
_Sim, sim, hoje concluímos a primeira fase de teste com nossos primeiros voluntários, um casal de irmãos gêmeos com ausência congênita de cóclea e má-formação do palato, era uma condição que além de gerar surdez, afetava o equilíbrio, elas nem conseguiam andar direito e também tinha a dificuldade de alimentação e de fala, ainda vão precisar de fisioterapia e fonoaudiologia por um tempo, mas tenho certeza que estarão completamente normais daqui alguns meses.
Kawaki ouviu com atenção e compreendeu como Sumire ficava satisfeita em usar do seu trabalho para ajudar pessoas, sentiu certo orgulho da arroxeada, pois ela havia transformado algo originalmente terrível em algo tão benéfico, que era a nanotecnologia criada por Amado. Kawaki disse de maneira encorajadora:
_O mundo precisa de mais pessoas como você, Sumire.
Ao ouvir aquilo Sumire ficou atônita, a voz e a expressão facial de Kawaki demonstravam uma admiração e um carinho que Sumire nunca tinha visto vindos dele, não direcionados a ela, a verdade é que Kawaki fez isso sem perceber. Sumire respondeu humilde, como sempre, porém estava um pouco nervosa:
_Ahhh, imagina... não é como se eu fosse extraordinária nem nada... existe uma equipe competente e capacitada envolvida..._ela gesticulava com as mãos.
Kawaki fazia uma expressão ligeiramente engraçada olhando para Sumire enquanto ela respondia um tanto afobada olhando para os lados, Kawaki sussurrou para si mesmo pensando alto:
_Com certeza você é acima da média, roxinha...
Sumire continuou:
_...e tivemos suporte inter-setorial também, quer dizer, tem muita gente trabalhando junto pra fazer acontecer!
Sumire então focou o olhar novamente em Kawaki percebendo a expressão que ele fazia olhando fixamente para ela. Sumire apertou os lábios num biquinho discreto e disse:
_Bem, de qualquer forma... obrigada, Kawaki-kun!
Kawaki arregalou ligeiramente os olhos, depois desviou o olhar e disse:
_Tá agradecendo por quê?
Sumire exclamou honesta:
_Por incentivar o meu trabalho!
Kawaki olhou novamente para Sumire:
_Hã, tá... eu nem sei se tô fazendo isso mesmo.
Sumire:
_Claro que está, você sempre escuta quando eu desenrolo a falar empolgada sobre o meu trabalho e, mesmo que você não entenda metade do que eu falo, você não duvida quando eu conto meus objetivos.
Kawaki coçou a nuca respondendo simples:
_Hã, eu acho que você exagerou, eu só faço cara de paisagem basicamente.
Sumire semicerrou os olhos pensando: “Ele está se fazendo de durão ou realmente não percebeu?”. Então disse astuta:
_Não é cara de paisagem quando você presta atenção e se lembra de me perguntar tempos depois do assunto.
Kawaki ergueu as sobrancelhas, então torceu a boca para o lado, abaixou o braço e disse dando-se por vencido:
_Tá certo, então, “de nada”, roxinha.
Sumire deu um riso curto vendo a resposta de Kawaki, ela notava como ele queria manter a pose de pouco sentimental, mas que na verdade ele escondia um coração enorme. Kawaki colocou as mãos nos bolsos e olhou o caminho a sua frente, disse irônico:
_Dá próxima vez que você disser que gosta bastante de criança eu vou só ficar com o clichê e vou perguntar “você quer ter filhos?”, assim dá menos polêmica.
Sumire:
_Hein?! Quem disse que esse clichê não dá polêmica?
CONTINUA