
Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente.
William Shakespeare
Iruka estava terminando de guardar seus últimos pertences em seu novo guarda-roupa, agora compartilhado. Parecia até um sonho, mas era a mais pura realidade: ele e Kakashi, finalmente, estavam morando juntos.
Sua atenção foi atraída ao encontrar naquela caixa, uma pelúcia em formato de golfinho, o primeiro presente que ganhou do namorado, em seu aniversário. Aquela lembrança acabou o levando a outra, uma que não pensava há muito tempo. Olhou os demais itens e percebeu que exceto quando comemoravam aniversário de namoro, ou qualquer outra data comemorativa, nunca deu presente de aniversário para Kakashi.
Não porque não queria, pois desejava muito passar por essa data especial ao lado dele, assim como Kakashi estava consigo, no entanto, tinha um detalhe que impedia: Iruka não sabia o dia.
Era difícil acreditar, mesmo após anos de relacionamento. O Umino sempre soube que o jounnin era uma figura misteriosa e reservada, com seu rosto escondido por uma máscara e seu olho esquerdo, o do Sharingan, sempre coberto. Parecia gostar de manter seu verdadeiro rosto tão enigmático quanto a lua em uma noite nublada. Seu jeito calma e postura desleixada escondia habilidades incríveis que o tornaram uma lenda viva. Mas nada disso foi o que conquistou o chuunin. Iruka conseguiu ver através da armadura, da muralha que Kakashi passou anos construindo. Ele viu um homem bondoso, amoroso e capaz de tudo para proteger aqueles que ama, para proteger Konoha. Até mesmo com as diversas reclamações quando assumiu o Time, ele aprendeu a amar os três jovens. Kakashi podia parecer frio e distante, mas Iruka sabia que ele transbordava carinho e afeto.
Os dois se aproximaram quando o mascarado assumiu o Time 7, desenvolveram uma amizade incomum e mesmo após o desentendimento durante os Exames Chuunin, continuaram próximos, e eventualmente, os encontros, os jantares evoluiu para algo mais profundo e começaram a namorar e agora, estão morando juntos.
Iruka é uma das poucas pessoas que viram Kakashi mostrar emoções genuínas e guarda cada uma delas com carinho em seu coração. E apesar de todas as dificuldades e desafios que enfrentaram juntos, o único mistério que envolvia ex-ANBU e que Iruka nunca conseguiu resolver até o momento era: o aniversário do namorado.
O ninja nunca revelou a data e jamais deu qualquer indício que estava próximo do aniversário do mais velho. Iruka sempre sou o quanto o outro era reservado, no entanto acreditava que conseguiria obter essa informação, porém, essa parte permanecia obscura, quase intocável.
Qualquer tentativa de descobrir algo, diga-se de passagem a única vez que o Umino ousou perguntar, sobre o dia do nascimento foram rapidamente rejeitadas pelo Hatake com uma resposta que fez o chuunin recuar: “Não comemoro aniversários, não insista e nunca mais pergunte sobre isso.”
Iruka havia aceitado aquela resposta, mesmo que ainda desejasse saber. Voltou sua atenção à tarefa que realizava e quando foi tirar uma caixa empoeirada de cima do armário para colocar algumas coisas de ensino da Academia, uma foto antiga caiu aos seus pés. Colocou a caixa na cama e pegou a fotografia, estava um pouco desbotada, mas reconheceu quem estava nela. Sentou-se na cama para analisar melhor, na imagem Kakashi estava nos ombros de Sakumo, já com a sua inseparável máscara e o cachecol verde, segurando nos cabelos do mais velho. Os olhos do sensei se encheram de lágrimas, afinal o companheiro raramente falava do pai e ver aquela foto, percebia o quanto eram unidos e o quanto foi difícil para Kakashi perdê-lo. Virou a fotografia e seu coração parou por alguns segundos; ali havia uma pequena nota, com uma caligrafia cuidadosa: 15/09; e logo abaixo, as palavras “Feliz Aniversário”.
O coração de Iruka parecia que sairia da boca quando viu aquilo: era o dia do aniversário de Kakashi.
Aquele homem que tanto amava e que se recusava a comemorar seu próprio aniversário, que escondia suas verdadeiras emoções sob uma máscara (sejam elas literais ou figurativamente), tinha seu dia especial.
O Umino não podia acreditar que, após todos esses anos, finalmente descobriu a informação, que era mantida em segredo absoluto. Agora ele tinha um dilema: como comemorar o aniversário de Kakashi sem que o ninja copiador soubesse que havia descoberto. Era um desafio que Iruka estava disposto a enfrentar.
Olhou para o lado em busca de algum calendário para saber quanto tempo tinha e quando focou na data, outra surpresa: tinha menos de uma semana. Sentiu o desespero começar a tomar conta de si, não teria muito tempo de preparar nada e nem poderia contar que havia descoberto, não sabia exatamente como Kakashi reagiria.
Por isso bolou um plano e esperava que sua “posição” como namorado, ajudasse a esconder a verdade, afinal Kakashi era um prodígio, um ninja que via além do que as coisas parecem ser.
Naquela noite, quando terminaram de arrumar a mudança de Iruka, o Umino o chamou para jantar fora e nem escolheu o Ichiraku dessa vez.
— Quem é você e o que fez com meu namorado? — brincou Kakashi durante o jantar, ganhando um revirar de olhos e um sorriso como resposta.
— Sabe meu amor, encontros especiais, como o nosso, mesmo que seja um jantar após um dia de mudança, sempre ocorrem em dias especiais. Hoje poderia ser um dia especial.
Kakashi entendeu aquela declaração do mais novo como uma espécie de comemoração pela nova fase na vida de ambos.
— Todos os dias ao seu lado são especiais. Eu te amo.
No dia seguinte, Iruka passou em uma livraria na intenção de comprar alguns livros para Kakashi. Levou algum tempo para descobrir que o homem era apaixonado por romances, aventuras, terror e suspense, mas sempre deixava oculto sob as capas do Icha-Icha.
— É um escudo contra conversas desnecessárias — declarou quando o Umino perguntou o motivo.
Quando Iruka usou essa tática no balcão de missões, todos ficaram surpresos e sua tentativa de evitar conversar se tornou um bombardeio de perguntas inconvenientes.
Mas sua missão naquele dia era aproveitar a desculpa do presente aleatório, como presente aleatório.
— Eu vi na livraria e pensei que iria gostar. São lançamentos, o vendedor me contou, é um sucesso — respondeu Iruka ao ser questionado do motivo daquilo.
Dentro do livro, o Hatake encontrou um pequeno bilhete, com a data de dias depois e uma anotação, “Feliz dia Especial”. Sutil.
Alguns dias depois, após uma retornar de uma pequena missão, o casal se encontrava em casa, aconchegados no sofá, conversando aleatoriedades.
— Sabe, muitos ninjas possuem segredos que escondem até de si e acabam por esquecê-los. Tornando-os de verdade, algo ultra-secreto.
Kakashi ficou intrigado com o que ouviu, como se soubesse que era uma indireta, uma provocação do namorado. Não sabia dizer exatamente o que ele planejava com aquilo, mas iria descobrir.
※※
Kakashi estava ansioso naquele dia, naquela sexta-feira que para muitos era tão comum como qualquer outro dia, mas não para ele.
Naquele ano, não havia conseguido uma missão para estar longe da vila como sempre fazia. Nessa época, nessa data, sempre fazia questão de estar em missão, o mais longe possível de Konoha. Algo estava estranho e descobriria o que era até o fim daquela noite.
Suas suspeitas aumentaram quando chegou em casa e encontrou um ambiente um pouco diferente do comum. O calendário na parede tinha o dia 15 de setembro destacado e na estante parecia que tinha velas para bolo. Adentrando mais, encontrou a mesa posta, decorada sutilmente e o cheiro da sua comida favorita enchia o ambiente.
— Iru, o que é tudo isso?
— Bom, estamos fazendo uma semana morando juntos, sei que ninguém comemora, mas pensei que seria bom celebrar. Segui sua receita certinho, meu amor e acho que não estraguei o missô de berinjela dessa vez. E também tem um vinho e sei que não gosta de doces, mas fiz um pequeno bolo.
O Hatake sabia que quando o Umino falava daquela forma, quase afobada, era porque estava nervoso ou escondia algo. Sempre foi péssimo em guardar segredos.
Kakashi suspirou enquanto pensava e logo entendeu o que estava acontecendo. Aproximou-se do namorado, com uma feição séria, deixando o outro tenso.
— Como descobriu?
— D-descobri o quê?
— ‘Ruka…
— Quando me mudei e estava arrumando minhas coisas no guarda-roupa. Fui tirar uma caixa e… espere aqui — era melhor contar a verdade logo e lidar com as consequências.
Logo o chuunin voltou com a fotografia e com as mãos trêmulas a estendeu para Kakashi.
— Encontrei isso.
O mascarado sentou-se na cadeira pesadamente, encarando a foto em suas mãos. Ele havia esquecido da existência dela. E não apenas isso, se tocou quando virou a fotografia e viu a anotação atrás.
— É meu aniversário…
A declaração saiu tão baixa que se Iruka não estivesse bem perto, não teria ouvido.
— Sabe muito bem que não comemora, por que isso então?
Iruka não sabia exatamente o que responder, não sabia como colocar em palavras o que sentia. Era até irônico, justo ele que sempre parecia ter as palavras certas, agora elas lhe faziam falta.
— Por que não? Eu apenas quero saber, poderia compartilhar comigo? Sabe que sempre estarei ao seu lado, como sempre estive.
Kakashi sabia que aquilo era verdade, mas ainda era doloroso, um peso ainda maior que a culpa que carregou durante anos pela morte dos amigos. Mas Iruka merecia saber.
— Minha mãe faleceu quando nasci e meu pai fez o possível para que nunca recaísse sobre mim qualquer culpa e ele obteve sucesso. Até certo ponto. Sabe o que aconteceu com ele, mas não sabe a época. Não sei se ele não notou, mas acho que mal percebia o que se passava ao meu redor, mas sua morte foi na semana do meu aniversário. Eu estava tão ansioso por esse dia, pois sempre fazíamos algo especial, não lembro muito bem como ou que, mas sei que era. Mas quando cheguei em casa e o encontrei, tomei a minha decisão.
— Kashi…
— É por isso que não comemoro meu aniversário e esperava que entendesse isso, entre todas as pessoas.
— E eu entendo, meu amor, mais do que possa imaginar. Tudo o que você passou, todas as provações foram demais para que pudesse suportar, mas você o fez. Está aqui, comigo. Conquistou um Time que é sua família que te ama, tem amigos, colegas, pessoas que se importam com você. Eu te amo e sempre estarei ao seu lado.
Kakashi respirou fundo, sentindo um alivio por finalmente compartilhar aquele detalhe de sua vida com Iruka junto a um aperto em seu coração pela lembrança dolorosa do seu passado. Era uma dualidade que ele aprenderia a lidar. Sentiu a mão do namorado em seu rosto, secando uma lagrima que escorria por seu olho visivel, em seguida sua máscara foi baixada e um beijo singelo foi deixado em sua bochecha. Afastou-se um pouco do sensei para poder olhar nos olhos tão expressivos que agora tmabém estavam úmidos.
— Eu sei disso, meu amor, mas ainda é difícil. Aprendi a valorizar as pessoas ao meu redor, a importância da amizade e do apoio mutuo, por isso gosto tanto do lema “trabalho em equipe”. E também é por isso que estou aqui, com você. Você é uma parte fundamental da minha vida, e não consigo imaginar como seria se nao estivesse ao meu lado, Iru.
O Umino sorriu, voltando a acariciar suavemente o rosto do Hatake.
— Eu também não consigo imaginar minha vida sem você, ‘Kashi. Agora sei que seu é uma lembrança dolorosa, mas talvez possamos encontrar uma maneira de celebrar esse dia de uma forma diferente, algo que represente sua jornada e as pessoas que o sempre estiveram ao seu lado.
Kakashi sentiu-se mais uma vez sortudo por ter alguém tão compreensivo como Iruka ao seu lado.
— Talvez tenha razão — Kakashi assentiu. — Vamos encontrar uma maneira de honrar esse dia, de uma forma que faça sentido para nós. E obrigado, Iruka, mais uma vez, por sempre estar ao meu lado, até nos momentos em que nçai cosneguia expressar meus sentimentos. Eu amo você.
Iruka beijou Kakashi suavemente e sussurrou rente aos lábios do mais velho.
— Sempre estarei aqui, kakashi, para celebrarmos os dias felizes e nos apoiarmos nos dias difíceis. Somos uma equipe, lembra?
— Então, missô de berinjela e bolo? — perguntou sentindo-se mais leve e sem a culpa por comemorar a vida, enquanto a morte parecia o seguir.
Iruka sorriu e terminou de arrumar a mesa, com a ajuda de Kakashi. A data até então esquecida, começou a ter um novo significado e cada ano, se tornava mais especial.