Don't give me flowers

Naruto
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Don't give me flowers
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Summary
Kagami e Izuna, irmãos gêmeos inseparáveis, compartilham uma ligação profunda que transcende o comum. Mas quando Kagami descobre que Izuna está sofrendo da doença hanahaki e que o causador dela é ninguém menos que Tobirama, seu namorado, ele se vê dividido entre dois amores cruciais em sua vida.Agora precisam enfrentar juntos essa jornada de aceitar o amor e a doença que ameaça separá-los.
Note
Chegando com mais uma contribuição para esse o MultishipperPjt, apesar de quase fazer as ADM chorar, seguimos firme.É uma angst bem como gosto e com Hanahaki.

“A dor de tossir pétalas é a minha punição por ousar amar alguém que nunca poderá me amar de volta.”


 


Kagami e Izuna eram irmãos gêmeos inseparáveis desde o nascimento. Muitos duvidavam daquele fato simplesmente por não serem idênticos. Às vezes, as pessoas se esqueciam da existência de gêmeos bivitelinos, em que dois óvulos distintos eram liberados durante o período de ovulação e ambos fertilizados. 

Os meninos cresceram compartilhando tudo, desde brinquedos até segredos. Mas havia um que Kagami guardava somente para si, algo que ele estava prestes a revelar naquele dia de primavera.

Não era mistério para ninguém que tinha um amor especial por flores, que apesar de não ser compartilhado de forma tão árdua por Izuna, o irmão ainda o ajudava com elas. 

Embora não fosse amante das flores, auxiliava o outro a criar e cuidar do belo jardim que havia em sua casa. Gostava de ver Kagami passar horas naquele lugar, zelando cada planta com carinho e amor. O jardim se tornou sua paixão, seu refúgio em diversos momentos, fossem eles bons ou ruins. 

E essa conexão entre os dois era tão grande que Kagami sabia que, assim como ele, Izuna guardava um segredo. Era estranho, pois nunca houve esse tipo de coisa entre eles, bastava uma troca de olhares para praticamente lerem a mente e a alma um do outro. 

E esse sentimento de desconfiança estava começando a abalar a relação que tinham. Era como se aquela conexão tão especial estivesse ameaçada, como se a qualquer momento ela fosse se desfazer feito um castelo de cartas quando um vento o atingia. Eles sempre estiveram lá um para o outro, enfrentando juntos todas as alegrias e tristezas da vida. 

Todavia, nem todo o amor, carinho e ligação que tinham, preparam Kagami para o que viria. Ele amava seu irmão acima de qualquer coisa, no entanto, a vida estava prestes a colocar esse sentimento tão forte e sólido à prova.

Então, o Uchiha ficou um pouco surpreso e receoso quando encontrou o irmão parado no meio do seu jardim. Izuna não costumava ir lá sozinho. Estranhou ainda mais ao notar que, aos pés do outro, algumas pétalas de uma flor que conhecia bem até demais — e sabia que não estava plantada ali, muito menos florida — jaziam por perto.

— Izuna! — Kagami chamou o irmão, que pareceu secar os olhos antes de se virar. Ele não precisava ver o rosto para confirmar aquilo.

Quando Izuna se virou e se deparou com o outro, as lágrimas simplesmente escaparam sem sua permissão, assustando Kagami que correu para abraçá-lo.

— O que aconteceu? Por que está assim? — As perguntas saíam desesperadas; era quase como se sentisse a dor de Izuna.

Em meio às lágrimas, o rapaz começou a tossir e, para a descrença de Kagami, as pétalas  azuis, pertencentes a uma flor tão rara e criada por ele próprio para uma pessoa especial, vinham de seu irmão. Aquilo significava apenas uma coisa.

— Estou doente, Gami. — A voz rouca e machucada de Izuna o tirou do seu torpor. — Eu não queria te preocupar, por isso não contei antes, mas odeio mentir ou esconder as coisas de você — desabafou o irmão ainda em meio às lágrimas que teimavam em continuar descendo por seu rosto.

— Quem é a pessoa, Izu-nii? 

— C-Como?

— Você disse que está doente e vejo que tossiu pétalas de crisântemo azul, a flor favorita de alguém. Isso só significa uma coisa: hanahaki.

— Por que amar e não ser correspondido tem que ser tão doloroso? Eu só queria que ele olhasse para mim, que me visse além de ser o irmão do cunhado ou aquele garotinho que ficava fascinado sempre que o via treinando artes marciais.

A cada palavra do irmão, Kagami sentia o peito apertar, pois sabia a quem Izuna se referia. Apesar disso, ainda era como se o chão tivesse sido arrancado debaixo dos seus pés. Se contasse o seu segredo, veria o irmão quebrar ainda mais, e os dois acabariam no fundo do poço.

— Kagami, me desculpe — declarou Izuna intensificando o aperto dos braços em torno do irmão.

— Por que está me pedindo desculpas?

— Por amar aquele que te ama.

O choque percorreu todo o corpo de Kagami, que procurou os olhos de Izuna e encontrou culpa neles; além de arrependimento e uma pitada de medo por confessar seus sentimentos por aquele que estava ao seu lado.

— Como soube?

— Sou seu irmão gêmeo, sei tudo sobre você. — Izuna riu sem humor. — E quando te vi mais sorridente, sonhando acordado, cuidando ainda mais do seu jardim a ponto de criar uma nova variedade de flor, apenas juntei os fatos. Estava apaixonado. Quando tossi a primeira pétala, igual a que você criou, não quis acreditar. E no dia que fui atrás de você para te contar, vi você e Tobirama juntos — esclareceu Izuna sem olhar para Kagami, pois se sentia envergonhado.

— Nós não escolhemos quem amar, nem quem será a pessoa que fará nosso coração bater mais forte, ocupando todos nossos pensamentos. Você não tem culpa de nada, Izu. O que posso fazer para te ajudar, meu irmão? Por favor, me diga! Faço qualquer coisa.

— Continue sendo meu irmão que tanto amo, não me odeie, não pense nem por um minuto que fiz de caso pensado ou que desejo te separar de Tobirama — pediu Izuna antes de mais uma crise de tosse atingi-lo.

— Prometo. — Kagami não conseguia formar mais nenhuma frase, nem sabia o que pensar, desejava apenas tirar toda a dor de Izuna, sentindo-a como se doesse nele próprio.

Ficaram mais um momento abraçados, até Kagami levar o irmão para o quarto. Percebeu que fazia tempo que não ia até o cômodo, pois a doce fragrância das pétalas que saíam dos lábios do irmão, preenchia todo o lugar. Levando em conta o período que estava com Tobirama, devia ser esse o tempo desde que Izuna adoeceu. Fazia semanas que ele vinha sofrendo em silêncio apenas para não machucar o irmão, tentando protegê-lo da triste verdade.

Naquela tarde ensolarada, a vida de Izuna e Kagami começou a ficar cinza, como uma tempestade prestes a desabar. Também o amor de um deles pelas flores, passou a murchar, mesmo que não percebesse.

 

(...)

 

Após descobrir sobre a doença que afligia o irmão, Kagami se afastou de todo mundo, passando os dias na companhia do outro, que começava a se sentir sufocado. Ironia aquilo.

Izuna entendia e apreciava a preocupação dele, mas não queria vê-lo sofrendo ainda mais, muito menos que se afastasse do namorado por sua causa. E esse era um dos motivos de não ter dito nada antes, sabia como o irmão reagiria.

— Kagami, eu te amo, mas… não precisa ficar ao meu lado o tempo todo. Vá viver sua vida, não há nada que possa fazer para mudar essa situação — implorou mais uma vez.

— Izuna tem razão. Posso estar odiando aquele albino um pouco mais e, mesmo que eu deseje transformá-lo em cinzas agora, isso não resolverá nada e terei dois sofrendo por aquele imbecil — reclamou Madara, que tentava ajudar os irmãos mais novos, porém era péssimo para lidar com todo esse sentimentalismo.

Ademais, o fato de não se dar bem com o causador (indireto) disso tudo, piorava ainda mais a situação. 

— Sei que pode parecer insensível da minha parte, mas você ficar o tempo todo com Izuna, não está ajudando. E por mais que não concorde com a escolha dele de não fazer a cirurgia, devemos respeitá-la. Mas ainda tenho vontade de te apagar e levar a força para o hospital — reclamou o Uchiha mais velho, dirigindo a última frase a Izuna.

Aquele tópico havia gerado uma discussão enorme entre os três irmãos, pois os dois não aceitavam a decisão dele de se deixar ser consumido por sua doença. Segundo Izuna, não desejava perder todas suas emoções e sentimentos, correndo o risco de esquecer boa parte de sua vida, além de ter que lidar com quem fosse se lembrar dela. Não, ele não conseguiria encarar isso.

Foi chamado de tolo por “morrer por amor”, mas não se importava, estava fazendo o que seu coração dizia ser o correto.

— Tudo bem, eu vou sair, mas qualquer coisa, me chame, meu número está na emergência. Eu te amo, Izu — Kagami cedeu, a contragosto, porém entendia, ou tentava, o lado do irmão.

Deixou o quarto de Izuna e a casa, ignorando mais uma vez seu jardim, já que não conseguia colocar os pés lá. Tudo naquele lugar lembrava o irmão e Tobirama.

O Senju era outro que não entendia o afastamento repentino do namorado, afinal, Kagami não havia lhe dado nenhuma satisfação. Não era como se ele fosse chegar em Tobirama e dizer: “Meu irmão está doente, morrendo de amor, literalmente, por sua causa e não sei o que fazer”. Preferia manter o albino no escuro.

Se Kagami fosse ser sincero, desde que descobriu sobre o hanahaki em Izuna, vinha sentindo um misto de emoções avassaladoras. Não conseguia acreditar que Tobirama, o homem que amava profundamente, era o causador do sofrimento de seu irmão. Que era o responsável por toda a dor que corroía o interior do outro de forma tão cruel e pungente. Em seu íntimo, uma tormenta de raiva e confusão ameaçava se apossar dele, então se viu dividido entre dois amores cruciais em sua vida. Sentia que ele próprio deveria fazer uma escolha, e não Izuna.

O Uchiha passou noites sem dormir, uma pelas tosses incessantes do irmão, outra de tanto pensar em como poderia resolver essa situação que beirava ao insustentável. Diversas vezes cogitou a ideia de abrir mão de seu relacionamento com Tobirama para salvar Izuna do sofrimento causado por aquele amor. Mas como faria isso? Não queria magoar Tobirama, que significava muito para ele, nem perder o irmão com o qual tinha uma ligação tão forte. Esse dilema estava o levando ao limite.

Conforme os dias se passavam, e a doença de Izuna se agravava a ponto de estar vomitando flores inteiras, sinal que seu fim estava próximo. Kagami reuniu coragem para compartilhar seus pensamentos e angústias com o irmão.

Entrou no quarto de Izuna e o encontrou observando as flores no jardim, que apesar do descaso de Kagami, ainda estava vivo e florido. Como se fosse uma conspiração do destino, ou uma piada de muito mal gosto dele, o canteiro onde os crisântemos azuis se encontravam estava para desabrochar...

— Logo elas vão florescer, não é? — Izuna perguntou sem desviar os olhos da janela. — Espero poder vê-las, sem estar manchadas de sangue de preferência.

A voz do irmão era baixa e saía arranhada, Kagami mal a reconhecia.

— Izuna, não sei o que fazer! Não suporto mais te ver sofrendo assim por minha causa — começou a falar com um timbre trêmulo e hesitante, ignorando propositalmente o que o outro disse.

Izuna desviou os olhos da janela, olhando para o irmão com ternura e compreensão. O remorso ainda estava presente no fundo das íris tão escuras quanto o céu sem a lua.

— Gami, não é sua culpa, nem de Tobirama. Você não deve, nem irá abrir mão do seu amor por causa da minha doença. Isso não vai me curar e só fará com que todos fiquemos infelizes. Não quero te ver infeliz. Promete que não fará nenhuma tolice?

— E acha isso justo? Tobirama é o motivo da sua dor e não posso simplesmente ignorar isso e agir como se tudo estivesse bem. Você vai morrer! Eu vou perder meu irmão que esteve ao meu lado desde o momento em que fomos concebidos!

A desolação de Kagami era compreensível e também dolorosa para Izuna. Para deixar o momento ainda mais dramático, mais pétalas saíram dos lábios de Izuna com uma tosse, seguida de uma grande quantidade de flores. Ele não tinha muito mais tempo. As pétalas azuis caindo no chão, eram como pequenas confissões silenciosas.

— Kagami, entenda que Tobirama não sente nada por mim. Se ele sentisse, eu não estaria sofrendo dessa forma. Talvez fosse você nessa situação e eu no seu lugar. Nii-san, Tobirama escolheu você, e eu não odeio nenhum de vocês por isso. O coração, por vezes, é imprevisível, e o amor não pode ser forçado, nem imposto a alguém. 

Kagami abaixou a cabeça, as lágrimas começando a encher seus olhos mais uma vez. Entendia a verdade das palavras de Izuna. Não era justo para ninguém abrir mão do seu amor, especialmente quando o sentimento era genuíno e mútuo como o dele e de Tobirama. O hanahaki era uma tragédia, não havia culpados. O que importava naquele momento, era encontrar uma maneira de confortar Izuna e ajudá-lo a passar por aquilo da melhor maneira possível, mesmo que parecesse impossível.

Aproximou-se do irmão e o abraçou com todo carinho que tinha, apoiou a cabeça de Izuna em seu peito e sentiu sua roupa ficar molhada pelas lágrimas do irmão. 

Izuna poderia dizer que havia aceitado seu destino, mas não significava que não doía, afinal, em seu peito, desejava em algum momento ser correspondido e ter toda aquela dor arrancada de dentro dele. Entretanto, ainda encontrava motivos para sorrir, seu irmão, aquele que sempre foi seu companheiro, melhor amigo, confidente, seria feliz. Viveria um amor que lhe foi negado.

Quando a tosse de Izuna piorou, Kagami tentou chamar ajuda, mas foi impedido pelo irmão. Na casa, naquele momento, só estavam os dois, Madara havia saído e não retornaria tão cedo.

Não havia nada que Kagami pudesse fazer a não ser amparar Izuna enquanto pétalas, botões, flores e ramos inteiros de crisântemos azuis saíam de sua boca. Ele queria gritar, xingar, brigar com o outro, mas de nada adiantaria.

Quando a tosse de Izuna cessou, o quarto e as roupas de ambos estavam uma bagunça de azul e vermelho.

Nos olhos de Izuna a vida se esvaía lentamente, e a última coisa que Kagami ouviu da voz fraca, foi um pedido, que soou mais como uma ordem.

— Seja feliz com Tobirama. 

O grito de dor de Kagami ecoou pela casa, saindo pelas janelas, ganhando os céus que despejavam as primeiras gotas de uma chuva totalmente fora de época.

 

(...)

 

Tobirama soube do acontecido, não em sua totalidade, apenas sobre a morte de Izuna, que Kagami pediu que a causa não fosse revelada, preferiu dizer que foi um mal súbito.

O Senju procurou pelo namorado em todos os cantos da cidade e não o encontrou, amaldiçoou-se por não ter ido ao lugar favorito dele: o jardim.

Assim que cruzou o pequeno portão, ficou estático, não conseguia mover um músculo.

O que antes era o mais belo dos jardins, agora estava totalmente destruído. Os vasos jogados para todos os lados, as flores arrancadas dos seus canteiros, as mudas reviradas, as ferramentas quebradas, um verdadeiro caos. Em meio a tudo isso, sentado no chão, abraçando os joelhos, estava Kagami. Sua feição era indecifrável, parecia fora de si, em um estado de choque emocional, mas notando algo da aproximação rápida e preocupada do Senju.

— Kagami, o que aconteceu aqui?

Levou um tempo e diversas tentativas de Tobirama para o namorado olhar para ele, ou quase isso, pois seus olhos pareciam vidrados.

— Nunca, nunca mais, daqui para a frente, me dê flores. Me prometa!

— Eu prometo! — garantiu sem entender o que aquilo significava, pois queria apenas que o namorado voltasse ao normal.

 

(...)

 

Tobirama cumpriu sua promessa, ainda mais após ouvir de Kagami que ele não desejava mais ter um jardim. O Senju imaginou que aquela atitude era por causa do irmão, mas nunca teve uma resposta concreta ou efetiva e não insistiu.

Ele jamais soube a verdadeira causa da morte de Izuna, nem a razão para Kagami deixar de gostar de flores.

A única flor que ele mantinha, era uma pequena muda de crisântemo azul, que resistiu à sua destruição e agora ornava o túmulo de Izuna, um lembrete para nunca esquecer sua promessa e a causa da sua partida.