“Você sempre foi minha pessoa favorita, agora não tenho tanta certeza.”
O vento sussurrava uma melodia suave entre as árvores, carregando consigo uma melancolia que se infiltrava no coração da floresta e das almas perdidas que ali se encontravam. Era um lugar que, outrora, havia sido um refúgio, um santuário de risos e segredos compartilhados. No entanto, naquele fim de tarde sombrio, tudo parecia tingido de uma tristeza indescritível.
Kakashi e Iruka estavam ali, lado a lado, no mesmo banco de madeira onde costumavam se sentar, desde muitos anos antes de serem companheiros, as mãos entrelaçadas em um aperto firme, mas um abismo invisível ameaçava separá-los.
Iruka desviou o olhar para o horizonte, a luz do entardecer pintando sua pele com tons de âmbar.
— Você sempre foi minha pessoa favorita. — Sua voz mal passava de um sussurro, trêmula como uma folha na brisa outonal, prestes a se soltar do galho. — Agora não tenho tanta certeza.
Kakashi baixou a cabeça, sentindo o peso das palavras perfurarem seu coração como espinhos. Sabia que alguma coisa havia mudado, um distanciamento que se instalou entre eles. O que antes tinham como certeza, agora não passava de uma incerteza devastadora.
O que havia mudado entre os dois? A resposta, por alguns instantes, parecia clara feito água cristalina, mas logo se tornou turva e escura como o fundo do oceano, onde nenhuma luz alcançava.
— Ruka — ele começou, os olhos fixos no chão, incapazes de encontrar coragem para encarar aquele que jurou amar até o fim dos tempos. — Eu sei que as coisas têm sido difíceis ultimamente, mas eu prometo que podemos superar isso juntos. Nós sempre superamos, não é?
Iruka assentiu com os olhos úmidos, porém havia algo frágil em seu sorriso, como uma fenda em um vidro quebrado.
— Eu quero acreditar nisso, Kakashi. Eu quero acreditar em nós, mas estou cansado de superar. Cansado de todas as batalhas, de todas as lutas. Eu quero paz.
— O que mudou? — o Hatake quis saber, sua voz quase inaudível, tão diferente do tom grave que sempre mexia com os sentimentos de Iruka.
O Umino fechou os olhos por um momento, como se estivesse reunindo coragem para falar a verdade e expressar toda a sua angústia sem ferir os sentimentos do outro.
— Eu sinto que perdi parte de mim, Kakashi. Durante todos esses anos, me dediquei tanto a nós que negligenciei meus próprios sonhos e desejos. E agora, não sei mais quem sou além de nós, isso me assusta, me apavora de tal forma que mal me reconheço quando me olho no espelho.
As lágrimas de Iruka fluíam livremente agora pelos olhos castanhos, refletindo as emoções conflitantes que atormentavam seu coração. Kakashi sabia que ele estava certo, que ambos haviam se perdido no relacionamento, tinham se apagado e anulado. Mas isso não tornou a situação menos dolorosa.
— O que você quer fazer, Iruka? — Kakashi perguntou, embora já tivesse uma resposta.
Os olhares se cruzaram, o castanho e o preto se encarando cheios de tristeza.
— Eu preciso de espaço, Kakashi. Preciso de tempo para me redescobrir, para entender o que realmente quero. Não sei se podemos continuar juntos enquanto eu não sei quem sou de verdade.
Eles permaneceram em silêncio, envolvidos pelo suspiro triste do vento. O passado parecia pairar sobre eles, uma sombra que se esticava até chegar ao presente. As lembranças de tempos mais felizes pareciam desbotadas e, como fotografias antigas desgastadas com o tempo, elas não resistiriam ao futuro, não chegariam até ele.
— Eu te amo, Iruka — declarou Kakashi com sinceridade, embora soubesse que essas palavras não eram suficientes para resolver tudo, não diminuiriam aquele abismo entre eles, nem os reaproximaria.
— Eu também te amo, Kakashi. Mas o amor, por si só, não é o suficiente.
À medida que o sol se punha no horizonte, lançando longas sombras sobre o parque que um dia foi testemunha de sua felicidade, Kakashi e Iruka enfrentavam a realidade. O silêncio se tornava esmagador, trazendo à tona a verdade que não poderia mais ser ignorada. Havia amor ali, ainda existia, resistindo bravamente, mas estava envolto em medos e dúvidas que pareciam crescer a cada dia, fazendo aquele sentimento se encolher a ponto de parecer não existir mais.
Naquela noite que se iniciava, os dois se separaram com um abraço apertado e palavras silenciosas que ecoaram no vazio entre eles. Cada passo parecia um eco doloroso de algo que estava prestes a desmoronar e nada poderia ser feito para impedir.
Com o coração pesado, Kakashi olhou para trás uma última vez, vendo Iruka desaparecer na penumbra, sem ele ao seu lado. O homem sabia que o caminho à frente seria difícil, porém o amor que tinham um pelo outro ainda brilhava, uma pequena chama, que aguardava para ser reacesa.
Talvez não agora, nem amanhã, mas em algum momento no futuro. Ele esperaria ansiosamente por esse momento.
E assim, em meio às sombras do passado, eles se afastaram, deixando para trás o parque que já foi um santuário do amor puro e sincero deles. Caminhando em direção a um futuro incerto, separados, no qual a única certeza era que, de alguma forma, eles, em algum momento, encontrariam o caminho de volta um para o outro.