
Chapter 7
A caminhada até sua casa, passando por moradores do Distrito Vermelho, foi agonizante. Os olhares de pena fizeram com que Sakura continuasse andando firme e com olhos indiferentes. Sakura não queria que eles vissem o quão quebrada ela estava por dentro.
Ela não iria chorar na frente deles.
Ela não iria cair no chão e começar a lamentar pelo que as crianças da academia fizeram.
Sakura não daria esse gostinho a ninguém.
A porta de seu apartamento velho apareceu e Sakura parou lá mesmo.
O cheiro de água de esgoto, junto com fezes, ainda estava escorrendo por seu corpo. O cheiro era forte o suficiente para a criança de cabelos rosados querer vomitar.
No entanto, Sakura aguentou. Como sempre fazia, ela suportou.
Vamos limpar essa sujeira. Ficar parada nesse corredor não vai resolver a situação, Outer.
Sakura sabia disso.
Ela sabia muito bem desse fato, mesmo que seu corpo e mente ainda estivessem repassando o que houve naquela sala da academia e as vozes que jogavam insultos continuassem a repercutir em sua cabeça.
Sakura entrou em seu apartamento decadente e caminhou para seu minúsculo banheiro. As roupas foram tiradas de forma mecânica. A água estava fria, mas a pequena criança de cabelos rosados não deu muita importância.
A água nunca estava quente, nem mesmo no inverno implacável de Konoha.
Sakura pegou uma escova e começou a esfregar os braços.
Esfregar… esfregar…
- HARUNO É UMA PUTA. HARUNO É UMA RATA. HARUNO É UM LIXO HAHAHAHAHAHA!
Esfregar… esfregar… esfregar…
- HARUNO É UMA PUTA. HARUNO É UMA RATA. HARUNO É UM LIXO HAHAHAHAHAHA!
Esfregar… esfregar…
- HARUNO É UMA PUTA. HARUNO É UMA RATA. HARUNO É UM LIXO HAHAHAHAHAHA!
Esfregar… esfregar… esfregar…
- HARUNO É UMA PUTA. HARUNO É UMA RATA. HARUNO É UM LIXO HAHAHAHAHAHA!
Esfregar… esfregar… esfregar…esfregar…
As lágrimas que Sakura segurou por todo esse tempo começaram a aparecer e se misturar com a água que caía em seu pequeno corpo, igual o sangue que começou a sair de seus braços pela brutalidade que Sakura usava a escova em seus braços e corpo, que começou a arrancar a pele pela força que a criança depositava sem piedade.
- HARUNO É UMA PUTA. HARUNO É UMA RATA. HARUNO É UM LIXO HAHAHAHAHAHA!
Esfregar… esfregar… esfregar…esfregar…esfregar…
Sakura contemplou o vermelho carmesim e deixou a escova cair no chão. Contudo, suas unhas deslizaram por seus braços sem piedade, arrancando pedaços de pele e arranhando mais ainda os machucados recentes.
- HARUNO É UMA PUTA. HARUNO É UMA RATA. HARUNO É UM LIXO HAHAHAHAHAHA!
Arranhar… arranhar… arranhar…
Suas pequenas mãos manchadas com seu próprio sangue fizeram Sakura contemplar por alguns segundos o tom carmesim que as manchava.
A cor era tão bonita.
- HARUNO É UMA PUTA. HARUNO É UMA RATA. HARUNO É UM LIXO HAHAHAHAHAHA!
As mesmas mãos puxaram seu cabelo com força.
Pare, Outer.
A dor era bem-vinda para Sakura, fazia as vozes em seus ouvidos diminuírem.
- HARUNO É UMA PUTA. HARUNO É UMA RATA. HARUNO É UM LIXO HAHAHAHAHAHA!
A criança de cabelos rosados continuou a puxar seus cabelos com força e depois começou a arranhar seu rosto.
O velho chão do banheiro aos seus pés continuava a ficar vermelho e Sakura não sabia o porquê.
- HARUNO É UMA PUTA. HARUNO É UMA RATA. HARUNO É UM LIXO HAHAHAHAHAHA!
A ardência em seu rosto era um alívio momentâneo. Por um momento, a criança de cabelos rosados pensou, será que se Sakura cortar ou arrancar seu olho, as vozes irão sumir?
Pare, Outer! PARE!!!!!
A pequena criança parou seus movimentos e sua mão que estava a poucos centímetros de seu olho direito, congelou. Sakura sentiu aquelas emoções começarem a sumir de seu peito já dilacerado.
Sua respiração se acalmou um pouco e Sakura ficou sentada no chão gelado do banheiro velho e mofado, tendo a água fria escorrendo por seu corpo machucado. A água aos seus pés de cor carmesim. Ela não queria sair daquele lugar.
- HARUNO É UMA PUTA. HARUNO É UMA RATA. HARUNO É UM LIXO HAHAHAHAHAHA!
A pequena criança de cabelos rosados e olhos esmeraldas chorou como nunca antes. Sakura não chorou pelo tratamento que recebeu, mas sim porque não tinha mais ninguém a qual ela poderia abraçar e esquecer tudo.
- Mama… Papai…
Chamar por seus pais não os fez aparecer na sua frente.
- Mama… Papai…
Seus pais não estavam mais no mundo dos vivos e sua mente lógica sabia disso, mas Sakura ainda era uma criança que só queria o abraço de seus pais.
Queria sentir o calor de seus braços e amor em seus beijos.
Porém, lamentavelmente, Sakura estava sozinha.
Sakura queria sua mãe, queria seu pai. Ela sentia falta de seus abraços, beijos e sorrisos. Sakura sentia falta de chegar em casa e sentir o calor no peito sempre que os via.
- HARUNO É UMA PUTA. HARUNO É UMA RATA. HARUNO É UM LIXO HAHAHAHAHAHA!
O que Sakura fez para todos a odiarem tanto?
Ela tentou manter distância, se esforçou ao máximo para ficar entre os dez melhores alunos da sala, porque o único sustento que tem é o dinheiro que recebe da academia por sua colocação. Ela quase não dorme de tanto treinar e estudar. Até mesmo sua comida, que ela luta para conseguir ter, seus colegas roubam como uma brincadeira.
Aquelas crianças já sentiram o que é ter a barriga doendo por dias, exigindo comida sem ter?
Eles sabiam qual era a sensação de trabalhar tanto com fome?
Eles sabiam o que era dormir em um chão frio e duro com a barriga vazia?
Eles sabiam o que era ter que comer comida podre dos lixos porque estava com tanta fome que qualquer coisa era melhor do que ter esse vazio doloroso?
Eles sabiam qual era a sensação de fome e como ela era implacável? Como era difícil manter o controle com tão pouco?
No entanto, como eles poderiam saber? Eles eram apenas crianças de clãs shinobis que se acomodavam em suas casas luxuosas e protegidas, onde não sabiam o que era passar frio, fome ou ter que viver sozinho sem ninguém.
Eu estou aqui, Outer. Sempre estarei.
Sakura passou a mão brilhando em iron ninjutsu por seus braços e rosto manchados, curando o estrago que fez a si mesma antes de Inner a impedir de fazer pior.
Sakura permaneceu imóvel no chão gelado do banheiro, a água fria escorrendo por seu corpo, misturando-se com as lágrimas que não conseguia mais conter. O ambiente mofado ao seu redor parecia refletir o estado de sua alma: um espaço pequeno, sufocante, carregado de rachaduras e escuridão.
A voz ecoava novamente em sua mente, uma lembrança cruel que se recusava a silenciar.
- HARUNO É UMA PUTA. HARUNO É UMA RATA. HARUNO É UM LIXO HAHAHAHAHAHA!
A água caía como uma torrente sobre seus ombros, mas não era suficiente para lavar a dor ou o ódio. Sakura abraçou os joelhos, encolhida, enquanto soluços entrecortados escapavam de seus lábios.
- Mama... Papai... - sussurrou, a voz quase inaudível.
Mas eles não estavam lá. E nunca mais estariam.
O vazio era insuportável.
Quando fechava os olhos, ela se via em outro tempo, em outra vida. Sua mãe sorria enquanto preparava algo simples para comer, o aroma preenchendo a pequena casa. Seu pai chegava logo depois, trazendo consigo a poeira das ruas e uma energia calorosa que fazia o mundo parecer menos frio.
Agora, tudo o que restava eram ecos. Ecos de um tempo em que ela não precisava se preocupar com o que comeria ou onde dormiria. Ecos de uma vida que foi arrancada dela sem piedade.
Por que eles não estão aqui?
A pergunta pairava em sua mente, mas Sakura sabia que não havia resposta. Seus pais haviam partido, deixando para trás apenas lembranças e um nome que ela carregava sozinha, como um fardo pesado demais para seus ombros pequenos.
- O que eu fiz para merecer isso? - sussurrou, a voz trêmula.
Sakura sabia que não havia culpa, mas a lógica não a consolava. Tudo parecia conspirar para torná-la um nada.
Ela apertou os punhos, as unhas cravando na pele dos braços já marcados. Olhou para os machucados que havia curado mais cedo, e o brilho de seu chakra ainda pulsava, fraco, como uma promessa de que ela poderia consertar o que havia sido quebrado.
Mas como curar um coração que já não acreditava em nada?
Mesmo assim, a dor das lembranças recentes fizeram Sakura começar a machucar seus braços outra vez. A memória dos gritos e insultos era tão fresca como se Sakura ainda estivesse naquela sala rodeada por todas aquelas crianças de merda.
- HARUNO É UMA PUTA. HARUNO É UMA RATA. HARUNO É UM LIXO HAHAHAHAHAHA!
Outra vez, as emoções de raiva, ódio e fúria começaram a ser afastadas e Sakura parou de se machucar.
- NÃO! NÃO! Não afaste esses sentimentos nem essas lembranças, Inner! - Sakura gritou alto.
Inner estranhou o pedido, mas quando viu que Sakura tinha parado de machucar a si mesma, Inner parou seus movimentos em sua mente.
Sakura respirou fundo quando sentiu que Inner não estava mais afastando essas memórias e os sentimentos que elas causavam.
- Não quero esquecer nada que aconteceu hoje - Sakura respondeu a pergunta não dita de Inner em sua mente - Não quero esquecer os insultos. Não quero esquecer o olhar de prazer que eles tinham ao jogarem água suja, fezes e comida em mim. Não quero esquecer de suas risadas ao me humilharem. Não quero esquecer os sentimentos que me acorrentaram com essas ações.
Sakura fez uma pausa e respirou fundo, seus olhos esmeraldas brilhavam friamente em uma promessa.
- Eu quero lembrar segundo por segundo daquele momento. Quero lembrar palavra por palavra que foi jogada. Quero lembrar rosto por rosto de todos aqueles que estavam lá - Sakura apertou suas mãos em punhos e seus olhos esmeraldas brilhavam de forma eletrizante - Preciso lembrar, Inner.
Inner ficou calada.
- Não quero esquecer nada. Preciso lembrar, Inner.
Sakura secou suas lágrimas e terminou de curar seus novos ferimentos.
Inner já perguntou uma vez o porquê de Sakura ainda continuar indo para academia. Ela não tinha mais nada que a levasse como obrigação naquele lugar. Poderia viver com a pensão que Konoha dá para crianças órfãs até ficar mais velha e arrumar um trabalho civil.
E Sakura seria mais uma no meio de tantos civis.
Esse era o plano delas depois que seu pai morreu. Contudo, Sakura fez uma promessa a sua mãe. Inner entendia isso, mas Sakura também poderia fazer isso como civil, né?
Não, Sakura não poderia.
Ser uma civil, mostrou a Sakura que sua vida estaria à mercê dos ninjas de Konoha.
Ela estaria desprotegida e sem poder defender a si mesma.
No entanto, a imagem de um garoto preguiçoso que trazia comida e dava a Sakura todos os dias, brilhou em sua mente.
O herdeiro Nara.
Sakura tentou evitar qualquer interação e só deixou o Nara se aproximar, para ver qual era o plano por trás de suas ações. Sakura era apenas seu novo entretenimento no meio do tédio de um génio ou um plano para uma brincadeira?
No entanto, com o passar das semanas, Sakura começou a gostar de passar um tempo com o preguiçoso Nara. Entretanto, Shikamaru Nara realmente queria ser amigo dela?
Sakura não era ninguém.
A aproximação com outra criança de sua idade era algo novo para a pequena criança de cabelos rosados e a curiosidade nasceu naquelas interações.
Contudo, a dúvida sempre estava presente em sua mente. E isso a atormentava.
Sakura saiu do banheiro e tentou limpar o corpo ao máximo. Olhando para o seu reflexo na janela quebrada de seu minúsculo apartamento, Sakura pensou que seria bom apenas tentar dormir. Porém, seus pensamentos foram interrompidos pela batida em sua porta.
Sakura não atendeu. Já imaginava quem seria.
Sakura sabia quem era a pessoa atrás da porta. Ele sempre foi persistente, mesmo sendo tão preguiçoso.
- Eu sei que você está aí dentro, Haruno. Se não atender, vou ficar importunando você agora e na academia durante as aulas - Shikamaru ameaçou.
A voz dele era calma, mas firme, carregada de algo que ela não conseguia identificar. Era irritante. Shikamaru sempre tinha uma maneira de se infiltrar, de quebrar as barreiras que ela tentava erguer.
Ignore ele, Outer.
Sakura ficou em silêncio, encarando a porta fechada como se pudesse afastá-lo apenas com a força de sua vontade. Mas a determinação na voz dele foi maior.
Seu palpite não estava errado e Sakura sabia que o Nara iria cumprir sua ameaça. Mesmo assim, Sakura ainda esperou dois minutos antes de abrir a porta de seu apartamento decadente.
O mesmo Nara que sempre mostrou ser um preguiçoso irrefutável e que gostava de olhar as nuvens esperando por um milagre que o transformasse na própria nuvem, estava parado em sua porta com um olhar cheio de raiva e determinação.
Sakura achava que esse olhar ficava bem nele, fazendo Shikamaru Nara parecer mais vivo.
Lá estava ele, com sua expressão entediada, mas os olhos castanhos eram intensos, avaliando-a como se tentasse enxergar algo além do que ela mostrava.
- O que você quer, Nara-san? - Sua voz saiu fria, controlada.
Ele não respondeu imediatamente, mas algo em sua expressão mudou. Irritado, Shikamaru empurrou-a para o lado e entrou no pequeno apartamento sem pedir permissão. Sakura observou, indiferente, enquanto ele colocava sua bolsa na mesa baixa e começava a tirar livros de dentro dela.
O que ele está fazendo, Outer?
Ela ficou parada, de braços cruzados, tentando decifrar o interesse do herdeiro Nara. Sua expressão vazia parecia incomodá-lo, porque, de repente, Shikamaru a encarou, os olhos castanhos cheios de algo que Sakura não reconhecia.
- Você quer tirar essa expressão estúpida da cara?!
Antes que Sakura pudesse reagir, Shikamaru se mudou e segurou seu rosto com força. Sakura sentiu as mãos dele tremerem levemente, mas não recuou. Não mostrou nada em seus olhos ou rosto. Sakura queria ver o que ele faria diante de sua postura tão indiferente, que parecia o irritar mais ainda.
- Por que você não fez nada?! Você não sentiu nada com o que eles fizeram?
As palavras cortaram o silêncio como uma faca. Sakura encarou Shikamaru, deixando que o vazio em seus olhos o enfrentasse. Ela não explicou nada.
- Por que você se importa? Não somos amigos. Não somos “nada” - Sakura respondeu, a voz tão fria quanto o chão sob seus pés.
Ela viu quando aquelas palavras o atingiram. Algo em Shikamaru pareceu ter quebrado com suas palavras. Ele desviou o olhar, mordendo os lábios com força até que o sangue escorresse. Mas ainda não a soltou.
Por que ele não nos deixa em paz, Outer?
Sakura não soube responder a Inner, porque Shikamaru era... diferente. Ele não a tratava como os outros. Não a ignorava, mas também não parecia querer apenas rir de sua dor. Era confuso. E Sakura não gostava de coisas que não pudesse entender.
Mas, enquanto Shikamaru segurava seu rosto e repetia suas perguntas silenciosas aos olhos, ela percebeu que ele realmente queria ser seu amigo.
Amigo? Não precisamos de amigos, Outer.
A palavra é tão estranha em sua mente. Não havia espaço para isso na vida de Sakura para algo tão tangente e ao mesmo tempo complexo. Não mais.
- Não me importa se você quer ou não ser minha amiga, você já é isso! Para mim, isso já é o suficiente.
Sakura piscou, surpresa. Por um momento, algo dentro dela vacilou. Ele parecia tão certo do que dizia, tão determinado, que Sakura quase acreditou.
Quase.
Pela primeira vez, algo atravessou suas defesas, deixando-a vulnerável, mesmo que por um instante. Uma risada escapou de seus lábios antes que pudesse controlar.
- Ha ha ha, amigos… você quer ser meu… amigo?
Sakura não conseguiu evitar o tom cínico. Era ridículo. Alguém como ele querer ser amigo de alguém como ela?
A palavra soava ridícula em sua mente. "Amigo". Algo que Sakura não tinha há tanto tempo que já havia esquecido como era.
- Sim! Independente de sua personalidade horrível.
- Independente de qualquer coisa que eu faça no futuro? - Sakura provocou em tom frio mascarando uma curiosidade que começou a surgir.
Os olhos castanhos dele enfrentaram com uma determinação inabalável.
- Sim.
Sakura estreitou os olhos, avaliando-o. Ela sabia testar as pessoas, sabia empurrá-las até que recuassem. Mas, Shikamaru não recuava.
- Mesmo que eu faça coisas desprezíveis ou quebre leis e regras?
- Sim.
- Mesmo que eu mate alguém?
- Sim, estamos estudando para sermos assassinos, então matar um ou centenas de pessoas não significa nada. E vou continuar dizendo “sim”, independente de você se transformar em um monstro no futuro, vou continuar sendo seu amigo e sempre estarei ao seu lado.
As palavras de Shikamaru eram tão absurdas que Sakura quase quis rir de novo. Mas, em vez disso, havia algo dentro dela que mexeu com essa declaração tão sincera. Algo pequeno, mas significativo.
- Mesmo que esse lado seja o… errado?
- Sim, porque vou arrastar você para o lado certo ou também me tornar um monstro ao seu lado.
A resposta dele a deixou sem palavras. Por um momento, Sakura não sabia o que fazer. Ninguém nunca havia dito algo assim para ela.
Entretanto, Shikamaru continuava a respondendo com uma verdade que a desarmou. Cada "sim" que saiu de sua boca, cada palavra que ele disse, parecia construir algo que a criança de cabelos rosados não sabia se queria aceitar.
Então, Sakura fez a única coisa que sabia fazer: testou-o. Empurrou-o ao limite com essas perguntas perigosas, provocando-o com cenários que fariam qualquer um recuar.
Mas ele não recuou.
Sim, porque vou arrastar você para o lado certo ou também me tornar um monstro ao seu lado.
Aquelas palavras a atingiram de uma maneira que nenhuma outra havia feito antes. Pela primeira vez, em muito tempo, algo dentro dela se moveu de maneira dolorosa em seu peito.
Sakura moveu sua mão e tocou no ferimento machucado de Shikamaru, sentindo o calor do sangue em seus dedos. O gesto foi quase involuntário, mas carregava uma promessa silenciosa.
- Então, aceito seu pedido de amizade, Nara.
O sorriso que Sakura deu a Shikamaru não era vazio, mas também não era inocente. Era um sorriso que misturava algo genuíno com algo predatório, como se ela estivesse aceitando não apenas um amigo, mas um cúmplice.
- Você é problemática, Haruno... Não, Sakura.
- Fico feliz que mesmo assim, “você” vai ser meu amigo, Shikamaru.
Quando o herdeiro Nara se afastou, tentando esconder o rubor em suas bochechas, Sakura observou-o. Algo estava mudando dentro dela. Não sabia o que era, mas, pela primeira vez, talvez... não fosse tão ruim.
Até agora, Outer. Não é ruim até agora.
Sakura ignorou Inner pela primeira vez. Havia algo em Shikamaru que a intrigava, algo que ela não conseguia entender.
"Amigo."
A palavra ainda soava estranha em sua mente, mas pela primeira vez, talvez... não fosse tão ruim.