A respiração doía no peito enquanto caminhava até Namida que a esperava com uma garrafa d'água. Podia sentir o corpo relaxando e o chakra se restabelecendo no corpo enquanto se hidratava. Da arquibancada, visualizou o restante dos genins se preparando para a próxima luta.
- Uchiha Sarada e Akimichi Chocho!
Cuspiu a água no susto.
- Elas vão lutar entre si??? - Wasabi secava a boca e olhava pasma para as amigas. - Cada minuto que passa eu duvido mais que eles realmente sortearam esse negócio...
- Você acha? Mas o...
- Namida, Inojin contra o aluno do pai dele, embate entre melhores amigas e logo eu contra o cabeça de pedra do Iwabe? - a garota ria de puro deboche olhando para onde o Hokage se encontrava. - Aposto que foi o Sai, ele parece gostar de intrigas.
- Bom, você já é chunin, certo? Não precisa ficar pensando nisso... Você venceu!
Wasabi suspirou enquanto Tsubaki voltava com Denki para as arquibancadas. Shikadai e Inojin foram encontrar Chocho a fim de apoiar e provavelmente dar dicas de combate. Boruto e Mitsuki ainda não tinham dado sinal de vida.
- Pelo jeito os meninos do time 7 não vão estar aqui pra apoiar a Sarada... Vamos torcer por ela, certo?
- Esperava que você dissesse isso. - Namida sorriu e guardou a garrafa vazia na bolsa.
- Wasabi! Parabéns pela vitória! - Denki sorria com Tsubaki ao lado. Ambos já deviam ter consciência que lutariam entre si.
- Obrigada, hehe... - passou a mão na nuca meio envergonhada. Não esperava e não tinha gostado de ter vencido daquele jeito.
- Já temos nossa chunin... Então já estamos a um passo na frente do seu time, Denki-kun. - a samurai falou erguendo as sobrancelhas, toda orgulhosa.
- Vamos ver por quanto tempo na frente! - a voz de Metal se fez presente ao lado da equipe médica que levava Iwabe para uma ala do estádio. - Não vamos perder pra vocês!
Wasabi olhou para o garoto estendido em uma maca meio inconsciente, meio acordado. Ele desperdiçou todo o chakra só para construir um gato de pedra.
Céus, onde ele estava com a cabeça? Poderia ter ganhado facilmente dela visto como estava insegura e com a cabeça longe da batalha.
"Que idiota..."
A equipe de ninjas médicos passou por eles para a sala da enfermaria. Iwabe não estava ferido, mas se quisesse acompanhar as próximas lutas teria que recuperar as forças. Denki acenou e foi atrás dos companheiros de time.
- O que foi Wasabi-chan? - Namida perguntou tirando as palavras da boca de Tsubaki. A samurai percebia que, apesar de ter ganhado o título de chunin, ela não parecia muito... animada?
- Você está meio estranha. Achei que iria estar pulando e gritando como sempre faz.
- Não, é que... Eu preferia ter ganhado de um jeito justo. - a Izuno suspirou e quase praguejou novamente o seu ex-adversário de luta. - Eu não consigo entender a razão dele ter feito aquilo. A vitória deveria ter sido por meio de uma luta de verdade.
- Eu não costumo dizer muito isso pra ninguém. - Tsubaki sorriu levemente. - Mas mesmo que não tenha sido uma "luta de verdade", aquele seu poder foi incrível.
Wasabi se permitiu sorrir com a lembrança de ter conseguido usar o jutsu da sua família convenientemente no momento em que mais precisava.
"Pra proteger ele..."
A garota estancou por um momento.
Ainda bem que suas amigas estavam concentradas conversando sobre a próxima batalha. Sua cabeça começou a jogar flashes da luta um por cima do outro até que sua consciência pesasse como uma força absurda por cima da sua cabeça.
"Saco... Tenho que falar com ele."
Vislumbrou Metal e Denki voltando da enfermaria e viu sua oportunidade.
- Meninas, eu vou ali rapidinho, ok? Volto já! - avisou sorrindo amarelo. Namida acenou e pediu que não demorasse.
Tsubaki nada disse, mas não era realmente preciso visto como a áurea alegre e festiva de sua amiga estava acendendo de novo.
- Tente não quebrar nada na cara dele! - Tsubaki sibilou com um humor até então desconhecido para as outras duas.
A chunin da equipe virou surpresa. A samurai sabia exatamente para onde ela iria e por algum motivo - que ela não se importou em pensar a razão - isso a deixou nervosa.
Saiu correndo antes que seu cérebro lhe desse alguma ideia do porque seu rosto estar ardendo feito brasa.
•°•°•
Já conseguia ficar sentado. O ato de se levantar ainda o deixava tonto, mas o enfermeiro da equipe médica garantiu que em alguns instantes ele já estaria pronto pra se levantar e assistir ao restante das lutas, sem se esforçar muito. Do lado da maca tinha duas garrafa d’água e algumas frutas.
A cabeça doía um pouco então decidiu, por enquanto, apenas ficar sentado, comer uma maçã e beber a água. O céu estava claro, um belo dia pra virar chunin, mas não para ele. O sonho de se tornar Hokage estava um pouco mais longe.
"Tudo bem, pra quem repetiu na academia isso aqui não é nada..."
Certamente ele deveria estar se sentindo um idiota. A luta era sua, claramente era sua. Qualquer um no seu lugar teria simplesmente nocauteado a garota e se graduado chunin. Mas não, "idiota" era a última coisa que ele se descreveria agora.
O Sétimo, Uzumaki Naruto, tinha passado por ele antes de parabenizar a recente vencedora. Mesmo tendo perdido, seu ídolo aprovou sua ação.
"- Você foi muito bem, Iwabe! Gostei da sua atitude de ajudar sua amiga."
O moreno sorriu ao lembrar do comentário.
"Amiga, é?"
Wasabi e ele não eram o que se podia chamar de amigos. Pelo menos não do jeito convencional. Eles tinham uma história engraçada. Depois de virar amigo de Boruto e dos outros, "a do jutsu esquisito" - como costumava se referir a ela - foi a primeira garota que lhe dirigiu a palavra.
Shino ainda estava na sala dos professores e todos os meninos estavam acoplados na porta de entrada fazendo nada e várias coisas ao mesmo tempo. Simplesmente empatando a entrada da sala de aula. Iwabe estava literalmente na frente da porta e antes que pudesse responder o comentário de Boruto sobre uma nova leva de cards que sairia no dia seguinte, uma cabeça bateu contra suas costas, o machucando.
Era ela. Com uma cara, diga-se de passagem, nada agradável.
Os dois discutiram sobre ele estar atrapalhando o caminho e ela não olhar para frente enquanto andava até que Shino chegou com a paciência por um triz. A fala gélida do ex-membro do time 8 fez todos se sentarem em seus lugares na hora.
"Ela não se intimidou como os outros..."
Iwabe lembrou que demorou três segundos para assimilar que aquela garota dos cabelos curtos e caninos afiados estava mesmo brigando com ele. Ele, que a pouco era conhecido como " o delinquente repetente" em toda a Academia. Daí por diante, uma rivalidade foi estabelecida e aumentou após se graduarem genins.
Estava tão absorto em seus pensamentos que não ouviu passos pesados de alguém correndo no corredor. Algo no íntimo de Iwabe vibrou ao revisitar suas memórias. Não tinha assimilado aquilo tudo como uma simples "amizade". Era divertido implicar com ela para ver até onde iria se irritar. Ele conseguia fazer a pobre garota ficar com tanta raiva que logo em seguida pagava ficando com mais raiva ainda após as respostas da mesma.
- Ah, você já está sentado...
Iwabe ergueu a cabeça dando de cara com sua recém-adversária na entrada da ala.
- Quero ficar melhor logo pra assistir as próximas lutas. Principalmente a do Denki, ele se preparou muito. - Ele olhava desconfiado para Wasabi que se aproximou da cama olhando para os lados. - Quem vai lutar agora?
- Sarada e ChoCho.
- Sério? - Ela ainda não tinha ousado olhar na sua cara. - Ah...
Iwabe não sabia o que pensar. A ninja a sua frente olhava fixamente para as frutas postas ao lado de sua cama, como se fossem as coisas mais interessantes do mundo.
- O que você tá fazendo aqui? - perguntou sem fazer rodeios. - Se veio tirar sarro da minha cara, olha...
- Não! Eu não ia fazer isso. - Finalmente o olhou nos olhos. - Pelo menos não agora.
Wasabi pode ver a boca do garoto se apertar. De certo tentava não desferir nenhuma ofensa à ela.
- E o que você quer, então? - Iwabe levantou apoiando as mãos na cama, mas antes que alcançasse sua arma que parecia funcionar como um martelo às vezes, Wasabi se pôs na sua frente com um olhar pra lá de esquisito.
- Eu preciso fazer uma pergunta importante. É rápido, então escute.
Ele não teve outra saída a não ser cruzar os braços e esperar.
- Porque diabos você fez aquilo?
- Como assim?
- Você me deixou ganhar.
O repetente da academia piscou incrédulo.
- Você acha que eu iria mesmo deixar você ganhar de mim, Wasabi? Que diabo de pergunta é essa?
Fosse o tom que ele lhe lançou ou a forma que lhe olhou - como se fosse uma criança, deixou Wasabi muito irritada. Ela perdeu a falsa calma que tinha vestido ao entrar na ala médica e disparou contra ele.
- Aquele gato enorme de pedra seu maluco! Não precisava ter feito aquilo, você sabe! Além disso, - A garota baixou o olhar com vergonha de si mesma e das suas habilidades. - do jeito que eu estava você teria vencido fácil...
- É... Teria mesmo. - respondeu secamente.
- Por isso estou fazendo essa pergunta, idiota!
- Não me chama de idiota!
Já era costume ele puxar a gola do casaco verde dela nas discussões. Não sabia bem o porquê, tinha virado uma espécie de hábito e o repetiu em consequência ao xingamento, mas lá estava ela, lhe devolvendo no mesmo tom seco.
- Chamo sim, porque é!
O garoto apertou mais forte as mãos ao redor do casaco dela.
- Você não estava bem, o taijutsu estava desajeitado e você não estava olhando para mim que era seu adversário. - Iwabe bufou falando como um professor ao aluno. - Não estava concentrada e obviamente não tinha motivação.
- E você se importa? Era só vencer.
Ela não estava de todo errada. De fato, era só vencer. A vitória estava lá, na palma de sua mão, mas alguma coisa no rosto dela não parecia bem. Não estava animada como ele, nem lhe respondeu como sempre fazia. Ele jurava que ela lutaria com tudo contra ele porque simplesmente, era ele, afinal, os dois não perdiam a oportunidade de brigarem. Essa era uma excelente chance de descontar todas as farpadas anteriores.
Iwabe retirou as mãos da gola do casaco da menina a sua frente e suspirou.
- Você não sabe ou não quer me dizer? – os olhos verdes da kuinochi o encaravam com ansiedade.
Ela não tinha um sonho. Ser uma ninja comum sem ambições parecia ser o limite para ela naquela luta. Iwabe ficou com tanta raiva do desprezo dela pelo seu sonho de ser Hokage na hora do embate... Mas nada o deixara com mais ódio do que vê-la se menosprezando na frente dele, do Hokage, de seus amigos e pais.
- Eu fiz por... - Sua mente estava vazia.
Olhou para sua bandana pendurada na lateral da calça e em seguida para a própria bandana dela amarrada na testa.
- Não deixamos nossos amigos pra trás. Não sou um lixo que vê um companheiro sem ambição, sem querer lutar e não faz nada.
Wasabi olhou para ele admirada. Pela segunda vez naquele dia, aquele cretino tinha lhe clareado a mente.
- Bem... Obrigada. – Desviou o olhar - Não sei se chegou a... Bom, naquela hora lá na arena já que você meio que perdeu um pouco a consciência e...
- Seu poder? Ah, eu vi. - Iwabe a interrompeu se lembrando de ouvir seu nome sendo gritado e um enorme gato laranja se lançar por cima dele fazendo chover pedras minúsculas com a força do soco. - Foi incrível... Digo, foi legal. Eeerr, bem, eu nunca tinha visto aquilo.
O garoto atropelou as palavras seguintes se pondo a dizer que de fato existia o gato gigante que a avó lhe dissera e ela não acreditou “de idiota que era”.
Fazer aquele gato de pedra realmente tinha sido estranho. O que ele queria mesmo provar? Que ela estava sendo patética em achar que não podia ser poderosa? Ele se importava tanto assim com os sentimentos dela?
- Não era isso na verdade, mas obrigada. De novo. - As bochechas de Wasabi adquiriram um tom rosado. Era estanho ouvir elogios dele.
O maior notou que ela tinha se envergonhado, sua atenção tinha ido diretamente para a coloração avermelhada na face dela. Ele se repreendeu mentalmente por a ter achado fofa.
- Não era isso? O que você ia dizer então? - Tentou não parecer muito curioso, mas a vermelhidão que subiu até às orelhas dela o deixou encantado.
Iwabe se sentiu meio estúpido com os próprios pensamentos. Uma vontade de sorrir e ficar olhando o rosto dela pelo resto da manhã emergiu em seu peito de repente e preenchendo todos os pensamentos.
- Não é que... - suspirou nervosa. - Eu tinha te agradecido, por ter aberto meus olhos.
Ele a estava olhando de uma forma estranha. Wasabi se perguntou se seu rosto ainda estava sujo da luta. Ou era estranheza por finalmente estarem conversando normalmente sem brigar ou gritar?
- De nada... - Definitivamente ele estava se sentindo estúpido.
Se antes não se achava idiota, agora tinha certeza. Ela agradeceu por ele ter lhe aberto os olhos?
"Ok, isso é bem... novo." Pensou inquieto.
Ela sibilou alguma coisa sobre voltar para as arquibancadas e Iwabe quis se bater no segundo seguinte. Sua mão puxou o braço dela, impedindo-a de ir embora.
O arrependimento queimou seu corpo. O que pretendia exatamente? Fazê-la ficar um pouco mais com ele? Mas para quê? De onde tinha vindo essa necessidade de ficar com ela sem ser com raiva de alguma implicância?
- O que foi? – Wasabi encarou o suposto amigo nervosa. A mão dele era quente e macia. Achou irônico que alguém que usasse o jutsu de terra não tivesse a pele dura.
“Merda.” Iwabe não conseguia formar uma só palavra agora.
Estava pronto para falar qualquer besteira sobre seu time ser melhor que o dela ou algo do tipo, mas... Aqueles olhos pareciam ler sua mente. Eram de um verde claro e bonito. As pupilas eram finas como as de um..
- Gato...
- Ainda quer falar do gato?
- Quê? Não! Não, não é isso, é que...
Estúpido agora era seu nome do meio.
“Qualquer coisa! Pensa em qualquer coisa, idiota!”
- Só queria dizer que... – Tinha soltado o braço dela e colocou a própria mão na parte de trás da cabeça. – Eu quero uma revanche.
Ok, não era bem nisso que tinha passado os últimos minutos pensando, mas vendo o sorriso desafiador da menor em resposta, tinha sido uma boa saída. Além do quê, uma revanche seria muito bom.
- Tudo bem, cabeção. Se prepare pra perder qualquer dia desses.
- Sonha mais.
Com isso Wasabi deixou de vez a ala médica indo em direção à próxima batalha que já era anunciada por Konohamaru.
Iwabe bebeu outra garrafa de água ainda pensando sobre o ocorrido enquanto também se dirigia à luta. E mesmo quando já tinha se sentado na arquibancada do lado de seus companheiros de equipe apostando quem das duas oponentes venceria, seu interior de vez em vez formigava com a memória das bochechas vermelhas e os olhos de gato de Wasabi.