Sementes que não germinam

Naruto (Anime & Manga)
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Sementes que não germinam
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Summary
Quando Kakashi solicita uma reunião com seu antigo Time 7, e isso inclui Sai, e pede as “sementes” que entregou há muito tempo, um sentimento nostálgico toma conta de todos.Naruto, Sakura, Sasuke e Sai finalmente percebem que, apesar de impossível, elas germinaram, não na terra, mas em seus corações. E era algo que eles levariam para a vida e nunca esqueceriam. Kakashi Week 2024 | Dia 5 | 19 de setembro | Prompt A - Frutificação / Prompt B - Qualquer AU
Note
Confesso que quando vi o tema eu fiquei sem entender é nada e a tradução não ajudava, mas graças a @Uzumakiken consegui clarear a mente e entender o que significava.Por isso quisemos trazer uma analogia, onde as sementes que Kakashi deu aos alunos, quando eram gennins, não germinariam, mas dariam frutos no coração de cada um deles. É uma das fics que mais gostei de escrever, pois acho que é uma visão do Kakashi sobre cada um dos seus alunos.Espero que gostem e que concordem com cada semente.Boa leitura!

Finalmente o grande dia estava próximo, ele não aguentava mais e não via a hora de poder passar um tempo descansando e aproveitando a vida ao lado do marido, Iruka e do filho, Houki. Kakashi já não aguentava mais! Se ele fosse sincero, ele não aguentava mais desde o primeiro dia como Hokage e contava os dias para Naruto assumir finalmente aquele posto. 

Mas antes de passar o comando da vila para o Uzumaki, ele tinha apenas mais uma coisa importante para fazer, uma reunião. E essa ele nem reclamaria por horas no ouvido de Shikamaru, sequer chegaria atrasado. Ou talvez sim, apenas para lembrar-se dos velhos tempos. 

Quando solicitou uma reunião com seu antigo Time 7, incluindo a presença de Sai, que apesar de muitos não o considerarem como parte dele, ele foi uma peça importante para o crescimento e amadurecimento, especialmente de Sakura e Naruto.

— Você vai se atrasar! — Kakashi ouviu Iruka o advertir enquanto brincava com Houki mais um pouco.

— Eles já estão acostumados. — Argumentou o Hatake enquanto colocava o filho no chão, que reclamou da ação. — Prometo que logo teremos muito mais tempo juntos. — Se desculpou com o pequeno, que foi logo procurar Pakkun para perturbá-lo.

— Velhos hábitos nunca mudam, não é? Vai deixá-los esperando muito tempo?

— Por quê? Quer fazer algo enquanto esperam? — Provocou puxando Iruka para perto e deixando alguns beijos em seu pescoço.

— Não comece… Não temos tempo e Houki está em casa, não quero situações embaraçosas com nosso filho. Mais tarde… Se você não os deixar esperando demais. — O Umino se afastou antes que ficasse preso naqueles braços e mãos traiçoeiros.

— Umas duas horas apenas… — Finalmente respondeu, recebendo um olhar acusador e logo levantando as mãos em rendição. — Tudo bem, eu já estou indo! — Deixou um beijo nos lábios do marido, querendo aprofundar, mas sabia que seria enxotado se o fizesse e se despediu de Houki.

Se atrasou mais um pouco, pois passou no Memorial, como sempre, e encontrou Gai e Yamato no caminho, uma bela desculpa para seu atraso.

Ao finalmente chegar na Torre, Shikamaru apenas o olhou preguiçosamente, cobrar pontualidade do Rokudaime era o mesmo que pedir a ele para levantar na cama cedo, o que só fazia porque seu estimado companheiro o enxotava a pontapés e alguns trigramas em outras ocasiões.

O Hatake mal entrou na sala e ouviu um coro de quatro vozes irritadas.

— Está atrasado! — sorriu, pois o fez lembrar de quando eram pirralhos recém-formados na Academia.

— Me perdi nos caminhos da vida e acabei cruzando com um gato preto, então… 

— Mentiroso! — Os quatro o interromperam outra vez.

— Se sabem a verdade, por que insistem em questionar?

— Pensei que a convivência com Iruka-sensei faria você melhorar! — Acusou Sakura.

— E melhorou, eu saí de casa do horário, mas como disse…

— Não queremos ouvir suas desculpas, não somos mais crianças. — Sasuke o repreendeu.

— Por que nos chamou aqui? — Sai quis saber.

— E ainda pediu para trazer as coisas que nos deu quando éramos crianças, ‘ttebayo! Tive que revirar toda a casa! — Reclamou Naruto.

— E vai arrumar quando voltarmos. — Sai garantiu, fazendo o loiro corar.

— Poderiam parar de enrolação e dizer logo por que nos chamou aqui, Kakashi. — Pediu Sasuke cansado de toda aquela enrolação, conhecia muito bem todos eles e sabia que se deixasse, ficariam discutindo por horas intermináveis.

— Tudo bem, Sasuke, está com tanta pressa assim, tem algo para fazer, alguém esperando? — Provocou o mais velho.

— Isso não é da sua conta.

— Ei, por favor, sem brigas. Sabem o quão difícil é reunir o antigo Time 7 e deveríamos aproveitar um pouco esse tempo, não é, Kakashi-sensei? — Há muito tempo ele não era chamado daquela forma e sentia até saudades daquela época.

— Sim, é isso. Vocês têm as sementes que dei a vocês, antes da Guerra? — Pediu o Hokage, se referindo aos itens que entregou a cada um, quando adolescentes, como forma de criar um momento profundo e simbólico com cada um dos seus pupilos. 

Os quatro sabiam que ele não referia exatamente a sementes realmente, eram mais itens como simbolo de representação de um valor, de uma lição que ele queria passar a eles e que esperava que levassem para toda a vida. E agora, com cada um formando sua família, traçando o seu destino, queria saber se obteve sucesso e se conseguiu deixar uma marca em cada um dos seus pupilos.

Naquela época, ele entregou para Naruto o que chamou de “Semente da Esperança”, que era uma pequena pedra envolta em fios de ouro, que representava algo comum, com um valor inestimável oculto.

— Naruto, você ainda tem a sua semente da esperança? — Perguntou Kakashi, sabendo que o jovem a tinha, pois concordou acenando a cabeça diversas vezes. — Lembra o que falei que ela significava?

— Bom, algo sobre esperança, que vem do coração e superação, não lembro muito bem. — Respondeu coçando a nuca envergonhado, quando jovem ele nunca foi bom em guardar as coisas.

— Quase isso. Ela é uma semente que não brota na terra, mas sim no coração de quem nunca desiste e nesse quesito, o seu é o mais fértil que já conheci. Seu coração é cheio de resistência e persistência, sempre acreditou no impossível, mesmo quando todos duvidaram de você. Essa esperança que levou adiante, que te fez superar qualquer obstáculo, pois você não era apenas um garoto com o sonho de se tornar Hokage, mas alguém que faz seus sonhos se tornarem realidade. Como agora, está prestes a realizá-lo. Você nunca deixou a esperança morrer e admiro muito isso em você.

O Uzumaki lutava contra o bolo em sua garganta, naquela época ele não entendeu totalmente os significados daquelas palavras, nem o peso que elas teriam em sua vida, mas agora, tudo fazia sentido.

Ele percebia que ele realmente foi tudo aquilo, que sempre carregou e ainda carregava consigo uma determinação inabalável de nunca desistir e inspirava todos ao seu redor a acreditar que o impossível pode ser alcançado. Demonstrou essa força durante a Guerra e agora, desfrutavam de tempos de paz.

— Obrigado, Kakashi-sensei. Acho que nunca disse isso, nunca te agradeci por tudo o que fez. Tivemos nossas divergências, mas sem você, não estaríamos aqui, nenhum de nós. — Agradeceu Naruto, abraçando o mais velho, que graças aos anos de treinamento, conseguia manter as emoções sob controle. Não sabia até quando.

— Sakura, e você? Tem sua semente da força interior?

A mulher mostrou um colar que carregava, com um cristal de quartzo rosa.

— Sempre que posso, o mantenho comigo, sensei, ele sempre vai me lembrar da resiliência que existe em mim. — Respondeu Sakura.

— E a beleza, mas essa você mostra para todos. E todas. — afirmou, deixando a ex-aluna levemente ruborizada.

Quando eram jovens, apesar de toda a evolução que teve ao lado de Tsunade, a Haruno ainda tinha algumas inseguranças e aquela “semente” foi a forma de Kakashi dizer que a verdadeira força não estava no que ela mostrava aos outros, mas no que guardávamos dentro de nós. Ele disse que ela sempre teve força, apenas não a conhecia e foi essa força que a guiou nos momentos mais difíceis.

— Você mostrou sua força na batalha contra Sasori, durante a Guerra, quando despertou seu Byakugou, tudo isso apenas se externalizou, você já tinha tudo em ti.

— Confie em si, pois é mais forte do que imagina. — Kakashi repetiu a frase que ficou na mente de Sakura por muito tempo. Sempre que desanimava, que tudo parecia ir contra si, ela se lembrava das palavras do sensei e seguia em frente.

— Sakura, sua confiança cresceu , assim como sua força, seja ela física ou mental. Você se tornou uma kunoichi que não cuida apenas dos outros, mas também se mantém firme em suas convicções e emoções. Você assumiu o controle da sua vida, do seu destino. Sabe quais batalhas travar, quais merecem esforço e quais devem ser deixadas. — Tanto Kakashi quanto Sakura sabiam que ele se referia a Sasuke e quão difícil foi para ela deixá-lo ir, mas agora, ao que parecia, ambos estavam felizes com sua nova vida.

— Obrigada também, sensei. Apesar de tudo, de todas as adversidades, os imprevistos, só temos a te agradecer. Sem você e seus ensinamentos e lições para a vida, que passava quando não atrasava tanto, talvez não tivesse encontrado a minha felicidade.

— Minha menina cresceu e se tornou uma bela mulher. — Afirmou Kakashi com um carinho que os quatro poucas vezes viram.

— Ficou molenga com o tempo, é? — Provocou Sasuke, com um sorriso que beirava ao deboche.

O mais velho até pensou em revidar, mas preferiu apenas sorrir, mesmo que este não aparecesse pela máscara, mas sabiam do ato, apenas pela forma como os olhos do Hatake se fecharam e inclinava a cabeça para o lado. Ele se divertia às custas deles, como sempre.

O Hokage olhou para Sai, que mesmo tendo chegado depois e ter passado mais tempo com Yamato a frente do Time 7, ele não é menos parte daquela família. Nem foi preciso perguntar se ele ainda tinha a sua “semente”, pois o ninja entregou o pergaminho, um pouco mais amarelado devido ao tempo.

— A semente da compreensão. — Disse Sai.

O pergaminho continha um desenho inacabado, feito pelo próprio Kakashi, que simbolizava o aprendizado contínuo e o desenvolvimento emocional, algo que o jovem ninja aprendeu muito e boa parte daquele desenvolvimento, deu-se ao seu envolvimento com Naruto. E claro com Sakura, mas não de uma forma tão íntima e intensa.

— Talvez essa tenha sido a semente que mais desabrochou, que mais floresceu. — Começou o mascarado. Era a semente da compreensão, que brotaria quando abrisse seu coração para entender os outros, para ver além das aparências. Sua jornada foi única e nunca se esqueceu que a verdadeira arte não está no que cria, em seu jutsu ou habilidades, mas no que você cultivou no seu coração…

— E entender os outros é uma arte que ainda estou aprendendo a dominar. — Concluiu Sai, sorrindo minimamente para os companheiros. 

O sorriso, mesmo pequeno e tímido, era sincero, não como aqueles que ele oferecia quando se conheceram, que chegava a assustar e por vezes parecia beirar a psicopatia. Entendiam agora que era por não saber muito como lidar com as pessoas, como ter tato e saber como falar as coisas sem magoar ou ofender os outros.

Ele aprendeu a se conectar com outros mais profundamente, aprendeu a se abrir, a ouvir os outros. Desenvolveu suas emoções e não agir como um “robô”, como uma máquina programada para apenas executar ordens e construiu laços verdadeiros e aprendeu o valor de um amigo, de um companheiro. Aprendeu a amar e descobriu o que era ser amado também.

Com certeza Yamato também estava orgulhoso do jovem, que considerava quase como um irmão e vê-lo feliz, se permitindo tantas coisas, deixava seu kouhai em êxtase.

Kakashi não precisava ouvir qualquer agradecimento, apenas poder contemplar o brilho no olhar de Sai e Naruto, fazia tudo valer a pena, ver seus alunos tão felizes, se apoiando era tudo que poderia pedir.

O último a ter sua vez de fala, foi Sasuke, que imaginavam que não diria nada, ou no máximo mostraria a sua “semente”. Porém, os demais foram pegos de surpresa.

— Eu ganhei a “semente do perdão” e demorei muito tempo para aceitar e permitir que ela germinasse, como disse. Ele está quebrado, pois não queria ter nada que me lembrasse de Konoha ou de vocês. Talvez eu tenha ganhado a semente muito antes, quando sai da Vila. — Começou o Uchiha, deixando os demais surpresos.

Kakashi havia dado aquele pequeno espelho simples, para representar o processo de reflexão e aceitação de quem era e de quem gostaria de ser. Imaginava até mesmo que Sasuke tivesse se desfeito e não tivesse guardado aquele item, muito menos ouvido e de alguma forma, guardado suas palavras. Pode ter levado muito mais tempo que os outros, mas a semente do Uchiha, germinou, criou raízes em seu coração e agora, parecia, finalmente, desabrochar.

— Eu não iria vir hoje, para ser honesto, mas até parecia que o destino estava brincando comigo, pois enquanto guardava algumas coisas, encontrei ele no meio daquela bagunça. Parecia que era um aviso sobre o que seria esse encontro. E tive que vir, parecia… errado eu ignorar tudo outra vez. — Aquele parecia ser o maior número de palavras que Sasuke havia dirigido a todos, e que envolvia sentimentos e emoções. Ele era a maior mudança e evolução entre os alunos de Kakashi.

— Sasuke, a sua semente representava o perdão. O caminho que você escolheu, foi cheio de escuridão, mas a luz só pode brilhar onde há sombra. Perdoar não é esquecer ou se render, mas encontrar a paz dentro de si próprio. Talvez não a tenha encontrado completamente, mas está no caminho certo e estaremos aqui para o que precisar. Você já deu o passo mais importante, já perdoou a si próprio e é isso que precisa para continuar seguindo em frente. Você mostrou que apesar de tudo, seu desejo de vingança, seu ódio não consumiu tudo o que você é. — Declarou Kakashi, deixando todos emocionados.

— O perdão não te enfraquece, ele te liberta. Agora eu entendo. — Concluiu Sasuke, sentindo pela primeira vez em anos, uma leveza em seu peito, como se tivesse tirado mais um peso de seus ombros. Ainda tinha muita coisa em suas costas, quem sabe algum dia, ele se livraria de todo aquele fardo.

Sasuke aprendeu que o perdão, tanto para outros quanto para si, era essencial para encontrar a paz interior e deixar de lado o ódio que o consumia e com isso, se permitiu encontrar um propósito maior em sua vida.

Como se esperasse por aquilo, Naruto abraçou o amigo, suas lágrimas rolando sem a menor cerimônia, feliz pela evolução e amadurecimento do amigo que lutou tanto para trazer de volta.

— Teme! Sabia que você não era tão insensível!

— Cale a boca, Dobe! Me solte, que saco! Vá abraçar o Sai. — Tentava afastar inutilmente o loiro, sem sucesso.

Como para provocar o Uchiha ainda mais, os outros três se juntaram no abraço, o deixando ainda mais irritado, mas sem se afastar. Não iria dizer que gostou de sentir aquele carinho e amor. Eles eram sua família, independente de tudo e sempre estariam ao seu lado.

Kakashi poderia ter falhado com eles em alguns momentos. Talvez ter dado preferência para um, deixando os demais de lado, mas uma coisa era certa, ele amava aqueles quatro, com todo o seu coração e tinha orgulho em poder fazer parte do processo de crescimento e evolução de cada um, os tornando os adultos que são hoje.