
A missão havia sido desgastante e tudo que Kakashi queria era chegar em casa, tomar um banho e descansar.
Assim que cruzou a porta, sentiu um cheiro familiar invadir suas narinas e rapidamente abaixou a máscara para sentir mais daquela maravilha.
— Parece que gostou do cheiro. Espero que o gosto esteja tão bom quanto. — A voz de Sakumo o tirou do leve transe, fazendo-o olhar para o mais velho.
— Missô de berinjela?
— Seu prato favorito! Vá se lavar que logo estará pronto. — Informou o mais velho, voltando para a cozinha.
Kakashi terminou de tirar suas sandálias e seus equipamentos, deixando-os próximo à porta e seguiu para o quarto.
No caminho, encontrou um brinquedo que não parecia dos cães e sim de criança. Balançou a cabeça negativamente, pensando que o pai deveria ter comprado algo novo para os ninkens.
Durante o banho, Kakashi sentiu uma forte dor de cabeça, tendo em sua mente imagens de uma legião de shinobis, de várias nações. Se apoiou na parede enquanto tentava voltar à realidade. Piscou algumas vezes e se viu novamente em sua casa, em seu banheiro, ouvindo o pai cantarolar algo na cozinha e o cheiro de comida fresquinha. Se secou e saiu do cômodo, a cabeça ainda doendo um pouco.
Na cozinha, o mais novo tinha uma expressão dolorida, a cabeça ainda latejando.
— Missão difícil? — Perguntou Sakumo, terminando de servir-se.
— Um pouco, minha cabeça dói, devo ter me esforçado demais.
— Deve tomar cuidado e não querer fazer tudo sozinho. Por isso, tem um time. Rin e Obito estão lá para te ajudar, assim como Minato. — Repreendeu o mais velho.
Ao ouvir aqueles três nomes, Kakashi olhou para o pai surpreso, como se eles estarem juntos fosse um sonho. Ou impossível.
— Que cara é essa, filho? Não é como se não estivessem juntos todos os dias desde aquele incidente. Se bem que acho que ando ficando de vela entre Obito e a Rin. — Riu Sakumo.
Kakashi se lembrava daquele acidente, daquela missão onde quase tudo deu errado. Obito o tirou do caminho, foi esmagado e pensando que seria o seu fim, lhe entregou o Sharingan. Mas Minato logo apareceu e conseguiram salvar o Uchiha e até Tsunade voltou para Konoha para ajudar no tratamento e recuperação do ninja. Foram meses complicados.
— Também acho, aqueles dois estão ainda mais grudados, me dá até ânsia. Pai, comprou brinquedos novos para os ninkens? — Kakashi mudou de assunto drasticamente. Não é que não gostava de falar dos amigos ou que não gostava de vê-los felizes, mas aguentar a melosidade deles o dia todo, era demais. Nunca ficaria daquela forma com alguém. Isso tinha certeza.
— Não que me lembre. Talvez esteja ficando velho e esqueci…
Kakashi abriu a boca para concordar, mas ao olhar para onde havia visto o brinquedo, não havia nada lá.
— Essa missão foi realmente desgastante, estou vendo coisas. — o mais novo terminou de comer rapidamente, despediu-se do pai e se retirou, quem sabe uma boa noite de sono o ajudaria a se recuperar.
Infelizmente a noite foi recheada com o rosto de três crianças o seguindo, como se ele fosse o sensei delas e uma, poderia jurar, que era o filho de Minato.
Ficou uns dois em casa, se recuperando da missão, mas no terceiro dia, sua casa foi praticamente invadida por Obito e Rin. O casal estava de mãos dadas e o olhar apaixonado que trocavam a cada dois segundos, fazia o Hatake revirar os olhos.
— Pare de fazer isso! Tenho certeza que ficará pior que nós quando se apaixonar. — Reclamou o Uchiha.
— Quando não, se… um “se” bem grande! Nunca vou me apaixonar! — Garantiu Kakashi, arrancando risos dos amigos.
— Sei, um dia alguém vai te pegar de jeito, vai baixar essa sua crista, te fazer engolir o orgulho. — Previu Rin, rindo da cara enojada do amigo.
— E ainda terá um mini Hatake, mas que não seja igual a você, pelo menos na aparência. Um Bakashi já está bom. — Brincou Óbito, automaticamente uma imagem de uma criança de cabelos castanhos invadiu sua mente e ele podia jurar que sentia as pequenas mãos em seu rosto.
O Hatake ficou paralisado por alguns momentos, e só voltou a si ao ser chamado pela quarta vez pela Nohara.
— Você ficou pálido! Quer ver a senhora Tsunade? Ou comer algo? No Ichiraku, sei que não gosta de lamen, mas…
— Naruto… — O nome do filho do sensei saiu de seus lábios como um sussurro.
— Talvez ele esteja lá. Ele sempre foge da Kushina para ir lá com o Sasuke e a Sakura. Sabe disso, sempre os vemos por lá. — Afirmou Obito.
Rin concordou, e logo entrelaçou um braço em cada um dos ninjas e praticamente os arrastou até a pequena banca. De alguma forma parecia tão reconfortante e familiar estar ali com aqueles dois, rindo, brincando, mas, no fundo, parecia que alguma coisa faltava. E parecia importante, mas tentou não pensar muito naquilo, afinal tinha tudo o que precisava.
Os dias se passaram e a normalidade parecia retornar à vida de Kakashi. Ele saia para missões, treinava com seus companheiros de time, era desafiado por Gai em toda oportunidade, até provocava Asuma em relação a Kurenai. E era provocado da mesma maneira, com os amigos sempre o pressionando para encontrar alguém, que precisava se apaixonar. Algumas vezes em sua língua, sentia formar as palavras “eu já sou”, mas aquilo era um absurdo, pois ele não estava interessado em ninguém. Amor era a última coisa que passava pela sua cabeça. Quem sabe em outro momento, talvez em outra vida.
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Kakashi e Sakumo caminhavam pelas ruas de Konoha, tinham acabado de sair de uma reunião com o Yondaime. Seriam enviados para uma missão em Uzushio, a Vila dos Redemoinhos, aldeia natal de Kushina e que estava passando por alguns problemas.
Passavam em frente a Academia Ninja quando o Hatake mais novo parou e ficou encarando fixamente uma das janelas, como se esperasse alguém aparecer.
— Esperando ver alguém? — Provocou Sakumo, empurrando o ombro do filho, que apenas revirou os olhos.
— Não. — Respondeu, mas não tinha tanta certeza na voz, deixando o mais velho curioso e intrigado.
Kakashi ficou olhando para a janela, que provavelmente era de alguma das salas e sentiu o coração palpitar, mas por uma leve decepção, ao ver um homem de bandana e óculos escuros aparecer no local.
— Por que parece errado? — Questionou-se baixo, mas Sakumo ouviu.
— O que parece errado?
— Não sei, pai… mas desde aquela missão, parece que tem alguma coisa de errado, como se faltasse algo, porém é impossível! Eu tenho tudo aqui, não me falta nada e me sinto egoísta por desejar mais do que tenho.
— Não é egoísmo, filho, mas acho que você precisa de uma companheira, ou companheiro, não me importa. Falta alguém para chamar de “seu”. Quem sabe o Yamato, ele parece gostar de você.
— Ele é só meu amigo. — Respondeu fazendo careta e em sua mente, coques apareceram. — E acho que não é bem de mim que ele gosta. — Afirmou sorrindo sob a máscara, ao poder ver seu kouhai feliz ao lado de quem quer que fosse aquela pessoa.
Outra vez, não focou muito naquilo e pai e filho voltaram a caminhar pelas ruas da Aldeia, discutindo detalhes da missão que logo fariam.
Com o passar dos dias, tudo estava como deveria estar. Mesmo com alguns pesadelos com o que parecia uma guerra, ninjas inimigos como aliados, o filho do seu sensei gritando que seria Hokage, Sasuke deixando a Vila e Sakura demonstrando uma força monstruosa. Mas estavam em paz e nem mesmo a instabilidade com algumas aldeias, davam indícios que começariam um novo conflito, muito menos uma guerra de tamanho colossal. Tudo estava bem, até a noite que antecedia a partida para Uzushio.
Sem aviso, ou sequer indícios, uma chuva torrencial caiu sobre Konoha. Os trovões e raios faziam um belo espetáculo, que também era assustador. No complexo Hatake, Kakashi virava-se na cama, sua mente lhe trazendo imagens tão nítidas como se as tivesse vivendo realmente, como lembranças gravadas pelo Sharingan que Obito deixou consigo, mesmo após se recuperar.
Nos sonhos de Kakashi, o ninja corria o mais rápido que podia sob a chuva, precisava chegar em casa logo, alguém precisava dele naquele momento e ele parecia saber disso. Ao chegar em casa, escutou o chamar, não pelo nome, mas de uma forma que o fazia tremer inteiro: “Alfa”.
Aquele forma de falar, aquele tom, o deixava inquieto, pois sabia que viria do seu ômega, do seu companheiro. Mas ele não tinha nenhum. Os gritos se tornaram de dor e seu coração apertou, mas pareciam ser por um bom motivo. Nunca pensou que gritos de dor pudessem significar coisas boas.
Assim que entrou na casa, foi chamado outra vez, porém não conseguia ver nada, não podia ver quem era aquele ômega que o chamava.
“Vem, ‘Kashi, vem conhecê-lo”, ouviu e ao aproximar-se mais, sentiu um peso ser colocado em seus braços e quando olhou para baixo, para ver o que era, encontrou um par de olhos como os seus, cabelos castanhos, que chorava a plenos pulmões, mas que foi se acalmando ao sentir o seu cheiro. O pequeno filhote o reconhecia, pois aquele ser, era seu filho.
Acordou chamando por um nome que sabia ser da criança, mas assim que abriu os olhos, não conseguia se lembrar. Sakumo apareceu segundos depois, com uma kunai em mãos, pronto para uma luta. Soltou a lâmina ao ver os olhos do filho banhados em lágrimas, enquanto encarava as mãos vazias.
— O que está acontecendo, pai? Onde ele está?
— Onde quem está? Kakashi, não estou entendendo…
— O meu filho… onde ele está?
— A menos que não tenha me contado que sou avô, você não tem um filho. Foi apenas um sonho. Tente descansar, dormir, logo sairemos em missão.
Naquela noite, como não fazia há muito tempo, Sakumo ficou ao lado de Kakashi até que ele voltasse a dormir, mesmo que balbuciar algumas palavras, que pareciam nomes, especialmente um, que conseguiu identificar com clareza: Houki.
No dia seguinte, enquanto se preparavam para a missão, Sakumo tentou falar sobre o acontecido na noite anterior, mas teve uma negação ríspida por parte do mais novo, por isso, resolveu deixar aquele assunto de lado por hora.
Durante toda a viagem até Uzushio, o mais velho sentia o chakra de Kakashi agitado, demonstrando o quão abalado estava e o quanto suas emoções estavam bagunçadas, mas por fora, se mantinha calmo e centrado. Não sabia por quanto tempo.
Kakashi e Sakumo estavam próximos à Vila dos Redemoinhos quando fizeram uma última parada. O mais novo estava estranhamente quieto, nem mesmo havia pegado aquele livro de Jiraya.
— Vai me dizer o que está acontecendo? — Sakumo começou, de maneira um pouco desinteressada, mas ansiando por tentar descobrir o que se passava na cabeça do filho.
Kakashi suspirou, levantou os olhos para o céu, contemplando as estrelas e a lua que deixavam tudo mais bonito. Os pontos brilhantes na escuridão trouxe uma lembrança, ou uma ilusão, de olhos que brilhavam daquela mesma forma e aquele brilho era direcionado a si.
— É um desejo egoísta desejar mais para a vida? Eu tenho tudo o que sempre desejei, o que sempre quis, mas parece que falta algo. Como se em algum momento eu já tenha tido e agora se perdeu. Isso está me fazendo sentir mal. Consegue entender?
— Compreendo como se sente. É normal desejar mais, mas é importante entender sobre o porquê desses desejos. O que está fazendo você se sentir assim?
— É complicado… Eu vejo Obito e Rin sendo felizes juntos, tendo algo que não tenho, mas dentro de mim, parece que já tive isso, que já vivi essa felicidade, esse amor que eles demonstram. Mas, ao mesmo tempo, sinto que deveria ser mais grato pelo que já tenho.
— É natural se comparar com os outros, mas lembre-se de que cada pessoa tem um caminho diferente. O importante é reconhecer o que você já conquistou e ser grato por isso. Desejar mais não é necessariamente ruim, desde que não se torne uma obsessão.
— Tentarei fazer isso, pois acho que estou pensando demais nas coisas e estou para enlouquecer. Obrigado por me ouvir.
— Sempre estarei aqui para você, meu filho. Para te ouvir e te apoiar em cada momento da sua vida. Até quando você está questionando a sua realidade, a sua vida. — Kakashi achou estranha a fala do pai, mas sua mente já estava tão cheia que não queria mais nada nela ou realmente ficaria louco.
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Os dois Hatake chegaram em Uzushio junto aos primeiros raios de sol, sendo recebidos por um homem que não era estranho para Kakashi. Na realidade, era estranhamente familiar.
— Bom dia, ninjas da Folha, me chamo Ikkaku Umino e sou o anfitrião de vocês. — O homem apresentou-se e Kakashi mantinha os olhos fixos nele, sem dizer uma palavra, parecia atordoado.
O homem tinha cabelos castanhos que ele amarrava para trás em um rabo de cavalo, olhos escuros e um bigode fino. Tirando o bigode e os olhos, sentia que o conhecia, ou outra versão de si. E aquele sobrenome era tão familiar aos seus ouvidos, como se tivesse dito diversas vezes, de diversas formas diferentes, das mais irônicas até as mais ousadas e atrevidas.
— Bom dia, Umino-san, espero que não estejamos atrasados. Quando podemos conversar sobre a nossa missão? — Perguntou Sakumo ao ver que o filho permanecia em transe.
— Se não se importarem, podemos compartilhar uma refeição primeiro, devem estar cansados. Descansem um pouco e logo podemos tratar de todos os detalhes.
Após a refeição, o Hatake mais novo ainda permanecia em silêncio, apenas concordando com o que os outros dois falavam. Enquanto se dirigiam ao prédio onde o líder da Vila ficava, Kakashi foi atingido por um cheiro tão familiar, tão envolvente, que fez até mesmo seu lado alfa vibrar em expectativa e felicidade. Era um cheiro de tinta, misturado com chá de maracujá. Aquele aroma com certeza era de um ômega. Do seu. Tinha certeza absoluta daquilo.
Sem poder controlar seus instintos, seguiu em direção à origem daquele cheiro e quando viu o ômega, com uma criança em seus braços, discutindo com um alfa de cabelos azulados, não se controlou. Partiu para cima do outro, o jogando para longe. Tanto Sakumo quanto Ikkaku ficaram sem reação, especialmente o Umino, pois o ômega em questão, era seu filho Iruka.
— Fique longe do meu ômega! — Rosnou se colocando na frente de Iruka e da criança. — Ele é meu! Eles são. Meu ômega e meu filhote. — Nem parecia Kakashi falando, sua presença era tão forte que poderia fazer qualquer um ficar acuado e seu olho visível assumiu uma coloração dourada. Não estava no controle, o seu lado animal havia tomado conta de si.
— Seu? Está louco? — Questionou o alfa de cabelos azulados, parando de frente a Kakashi, ambos prontos para um embate, por uma disputa que poderia acabar em tragédia.
— Kakashi… por favor, pare. Me escute. Eles não são seus, acabamos de chegar em Uzushio e nunca vimos nenhum deles.
— Meu! — Afirmou com a voz ainda parecendo um rosnado.
Kakashi não notava, mas a sua volta se formava uma aglomeração e até mesmo alguns ninjas e Anbu da aldeia se aproximavam para conter uma provável luta. Os dois alfas não davam sinais de recuar, nem se afastar, deixando todos tensos. Porém, quando a criança nos braços do ômega começou a chorar, isso pareceu trazer Kakashi de volta, assumindo novamente o controle de suas ações e se virando para os dois, visivelmente assustados, especialmente Iruka.
A cada segundo o menino parecia chorar descontroladamente, não dando sinais que se acalmaria com facilidade e Kakashi começou a se sentir culpado e se afastou um pouco.
O alfa, pai da criança, mesmo todas as células de Kakashi dizendo o contrário, pegou o bebê bruscamente do colo de Iruka e tenta acalmá-lo, mas só o que consegue é um choro mais estridente.
— Essa criança não me aceita, ele está me rejeitando e isso tá muito estranho, Umino.
— Isso é coisa da sua cabeça, Mizuki! Vai começar a suspeita de mim? Novamente? — Revidou Iruka, chateado e irritado com aquelas acusações.
— Como posso aceitar isso? Meu próprio filhote me rejeita, desde que nasceu!
— Ele não te rejeita. É apenas uma fase, ele está mais apegado a mim, apenas isso.
Para tentar contornar a situação e tentar causar uma boa segunda impressão, Sakumo se intrometeu no assunto.
— Eu sei que começamos com o pé esquerdo, peço desculpas pelo meu filho, ele anda muito estressado ultimamente. Eu posso segurá-lo? Eu levo jeito com os bebês. — Pediu Sakumo, já esticando os braços para a criança, que soluçava e se debatia nos braços de Mizuki.
— Eu não vou fazer nenhum mal a ele, eu prometo. — Garantiu Sakumo, tentando demonstrar confiança ao ômega, que começava a achar aquele alfa mais velho uma boa pessoa.
Iruka então, decidido, pegou o filho e entregou a ele.
— Ele se chama Houki. — Informou o Umino e Kakashi ficou ainda mais agitado e Sakumo lembrou do nome que o filho disse durante um pesadelo dias atrás.
Ao pegar Houki em seus braços, o pequeno praticamente se aconchega contra ele, os gritos desesperados começaram a cessar e não passou despercebido de ninguém, nem de Mizuki, que o pequeno procurava outra pessoa com os olhos vermelhos. A criança apenas cessou a busca quando encontrou Kakashi, que ainda estava furioso, ou melhor dizendo, emburrado. Sakumo então, começou a cantar uma melodia tradicional do folclore, que costuma cantar para o próprio filho quando ainda era uma criança..
Oka-san (Mãe)
Na-ni (O quê?)
Oka-santee i-nooi (Mãe, você cheira bem)
Sentaku shite ita nioi de sho (Provavelmente é o cheiro da roupa que estou lavando)
Shabon no wa no nioi de sho (Provavelmente é o cheiro das bolhas de sabão)
Oka-san (Mãe)
Na-ni (O quê?)
Oka-santee i-nooi (Mãe, você cheira bem)
Oryo-ri shite ita nioi de sho (Provavelmente é o cheiro do que estou cozinhando)
Tomagoyaki no nioi de sho (Provavelmente é o cheiro de omelete)
Oka-san (Mãe)
Na-ni (O quê?)
Oka-santee i-nooi (Mãe, você cheira bem)
A cada estrofe, Houki se acalmava e Kakashi parecia que iria cair ali mesmo. Ele conhecia essa canção e o mais importante, ele a cantava, para o filho. Sakumo intercalava o olhar para os pais de Houki e para o filho.
— Ele me lembra você, Kakashi! Sua mãe ia gostar de saber que você se tornou pai, que tem uma família. Agora entendo seus sonhos, sua angústia, suas visões. Você não pertence a esse lugar, meu filho, então, acorde! Precisa acordar, precisa voltar para eles. Eles precisam de você.
Kakashi começa a sentir tudo girar e a visão ficar embaçada, como se estivesse caindo em algum genjutsu. Antes de apagar totalmente, ele vê Obito, Rin, Minato e Sakumo, todos acenando, uma despedida, parecendo felizes.
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Kakashi abriu os olhos devagar, sentia seu corpo doer em todos os lugares. Olhou em volta vendo o caos instaurado. Apesar de um pouco desnorteado, logo percebeu que estava num campo de batalha, lembrando da Guerra e do plano de Obito e Madara para colocar todo o mundo shinobi num genjutsu, o Tsukuyomi Infinito.
Então, sentiu o cheiro de tinta e chá de maracujá, de lar, antes de realmente o ver. Quando virou o rosto, encontrou Iruka vindo em sua direção, os olhos marejados e sem nenhum receio, se jogou nos braços do seu alfa.
— Você está bem? — Foi a primeira coisa que o Umino perguntou, enquanto enterrava o rosto ainda mais no pescoço do mais velho, sentindo o cheiro de terra molhada depois da chuva, de floresta. Sua casa.
— Estou bem! Eu estou bem, Iruka. — Não sabia se estava respondendo ou tentando se convencer daquilo. Um pouco dos dois talvez. — Houki? — A primeira pessoa mais importante de sua vida estava bem, viva, e em seus braços, mas precisava saber do segunda.
— Está seguro, protegido, longe disso, eu garanto.
Tudo o que o Hatake queria era correr até o filho e o abraçar, senti-lo em seus braços e o proteger de tudo, mas ainda havia uma guerra para vencer, nada estava ganho e a vitória ainda parecia distante.
A guerra durou apenas dois dias, mas pareceram anos. Muita coisa aconteceu, muitos companheiros shinobis pereceram na batalha, muitas verdades foram ditas e descobertas, nada seria igual na vida deles depois de tudo o que viveram. Tanto no campo de batalha, quanto no Tsukuyomi.
Kakashi era um dos que haviam enfrentado seu maior sonho e pesadelo de uma única vez.
Agora, finalmente em casa, com seu ômega e seu filho salvos, seguros, ele pode relaxar e tentar processar tudo o que vivenciou nas últimas horas. O Hatake fazia carinho nos cabelos castanhos de Houki, que dormia serenamente, alheia a guerra que passou e pelo Alfa, ele teria o mínimo de contato com todos os eventos.
Sentiu os braços de Iruka o envolverem e seu rosto colar em suas costas e um beijo suave ser depositado no lugar, além de uma inspiração profunda.
— Já dormiu? — Perguntou se referindo ao filhote.
— Sim… Queria ter essa inocência, não conhecer o mundo como nós conhecemos. — Declarou Kakashi, entrelaçando sua mão na de Iruka e deixando um beijo suave, antes de se virar e abraçar o marido.
— Ele não irá, ele viverá, crescerá num mundo de paz, sem mais guerras e perdas. — Garantiu Iruka.
O ômega conhecia muito bem seu companheiro e sabia que algo o incomodava, e sabia que tinha ligação com a Tsukuyomi. Ele também havia sido pego genjutsu e o outro também, mas ao contrário de si, Kakashi não parecia disposto a falar sobre isso. Mas tentaria, não deixaria o mais velho guardar para si e enfrentar aquilo sozinho.
— Quer conversar sobre o que viu? — Pediu Iruka enquanto acariciava os cabelos prateados, numa carícia gostosa, que fazia o alfa relaxar.
Sem responder à pergunta, Kakashi saiu do quarto, levando o Umino consigo até a sala, onde se sentou no sofá e trouxe o outro para o seu colo, que automaticamente se encolheu, se aconchegando o máximo que podia contra o corpo do alfa. Era tão bom poder ficar daquela forma, se sentia protegido de tudo e amado.
— Eu tinha todos que perdi. Meu pai estava vivo. A Rin e o Obito, que eram um casal grudento e cheio de amor. Minato e Kushina também, cuidando do Naruto, que ainda era uma peste, mas sem a raposa em si, não era odiado, era amado.
— E o que mais?
— Eu tinha tudo lá, ou achava que tinha. De alguma forma, sentia que faltava alguma coisa, que não estava totalmente completo. Tudo estava indo bem, até que em uma missão, com meu pai, eu te encontrei. E soube o que faltava. — Iruka abraçou com mais força Kakashi, querendo, de alguma forma, o consolar.
— Se não tivesse te encontrado Iru, ou se você estivesse na minha vida, ao meu lado, como está aqui, eu não teria forças para voltar. Teria ficado preso lá, pois eu tinha tudo o que desejava. Meus pais, meus amigos e você. É um desejo egoísta desejar ter mais do que já tem? Eu estava feliz, e ainda assim, ansiava por mais. Mas eu te amo, amo a nossa vida, nosso filhote e não podia abrir mão disso. O meu passado, tudo o que vivi, me levou até você e nos colocou aqui. Podia ter tudo dentro do Tsukuyomi, mas não tinha você, o meu presente e o meu futuro. — Declarou Kakashi, arrancando lágrimas de Iruka.
— Eu te amo, Kakashi. Obrigado por voltar para mim, para nós.
— Eu sempre voltarei.
— Eu sempre estarei te esperando. Eu e Houki.
— Quer saber uma coisa engraçada do Tsukuyomi?
— E teve?
— Sim… Talvez você não goste, nem eu gosto de lembrar desse detalhe… mas… você era casado com Mizuki e Houki era filho dele.
— E onde isso é engraçado? — Interrompeu Iruka com um bico em seus lábios, que foi beijado pelo alfa.
— Me deixe terminar… Nosso filho o odiava, não queria saber dele. Se não tivesse acordado nesse momento, talvez eu tivesse quebrado a cara dele, ou pior e te roubado para mim.
— Que bom que acordou. E meu amor, você não foi egoísta, jamais. E se tivesse sido, é um direito seu, depois de tudo o que passou.
Kakashi não tinha certeza daquilo, só sabia que se tivesse Iruka ao seu lado, com o filho, ele conseguiria passar por qualquer coisa e no fim, não foi de todo ruim, ele pode ver seu pai mais uma vez, estar ao seu lado como deveria ter sido.
Em outra vida, quem sabe, aquilo aconteceria. Com seu ômega ao seu lado, disso não abria mão.