Stillness

Naruto (Anime & Manga)
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Summary
Kakashi está sentindo-se angustiado, e não esconde tão bem quanto pensa, pois Naruto diz que ele precisa de um tempo para si e tem o local perfeito. Apesar da relutância, ele concorda e tenta encontrar a paz que tanto procura.Paz que talvez não esteja em sua quietude, mas ao lado de duas pessoas animadas. Kakashi Week 2024 | Dia 07 Z 21/09 | Prompt A - Quietude | Prompt B - Catástrofe
Note
E estamos chegando com o penúltimo dia da Kakashi Week 2024!! Nossa Week maravilhosa termina amanhã!Essa é uma fic curtinha, mas cheia de emoções e significados, aonde iremos um pouco mais a fundo nas emoções de Kakashi. Boa leitura

A única jornada que importa de verdade 

E aquela para dentro do lugar

De quietude na profundeza de cada um.

Chegar a esse lugar é estar em casa.

 

A pouco luz que entrava no quarto era o suficiente para fazê-lo despertar, também se não fosse o peso em suas costas, e tinha quase certeza que seu corpo estava molhado de baba. Virou lentamente a cabeça e soltou uma risada baixa, aquele garoto era surpreendente, olhou para o lado da cama encontrando vazio, ele tinha acordado, e deixou o dormir um pouco mais, respirou fundo e sentiu o cheiro de chá vindo da cozinha, com cuidado, tirou o loiro de suas costas o colocando na cama, se levantou e seguiu para o banheiro, ao retornar o mais novo estava sentado o esperando um pouco sonolento. 

Naruto sorriu, se levantou e o arrastou consigo para a cozinha, animado e provavelmente com muita fome. Hatake parou na entrada da porta e ficou admirando a pessoa que tanto ama, cantarolando alguma música que o próprio Iruka inventou. Observava os dois tão próximos e unidos, de fato eles eram felizes. Iruka assim que o percebeu sorriu lindamente, com alguns passos de aproximou do outro e passou os braços ao redor do pescoço do outro e assim o beijando, ouviram o pequeno Uzumaki fazer um barulho com boca como estivesse com nojo e logo depois começou a rir olhando para os dois. 

— Eca! Tem criança aqui. 

— Você um dia vai fazer pior. — Disse Kakashi rindo. 

— Nunca! — Gritou com a boca cheia. 

— Vai sim! Eu vou fazer o mesmo ‘’eca’’!! — Disse Kakashi, segurando firme o Iruka em seus braços. 

— Chega vocês dois! — Pediu Iruka segurando para não rir daqueles dois, e logo soltando e trazendo consigo o Hatake para juntar ao Naruto na mesa. 

Enquanto os observava naquela manhã, Kakashi parou no tempo por alguns segundos, ainda se questionava se realmente mereceria aquela vida. Se realmente os merecia. Não se sentia tão privilegiado assim, ainda sentia que não tinha o direito de ser feliz, não depois de doze anos. Quando se questionava, o outro mostrava ao contrário, que não importa o que aconteceu anos atrás, não tinha como voltar e mudar tudo. Que Kakashi, era uma pessoa como qualquer outra, tinha suas falhas, seus medos, as suas inseguranças, ainda assim também tinha todo o direito de ser feliz. 

Quando achou que o seu barco finalmente tinha afundado no oceano da escuridão, Iruka foi a âncora que o puxou para fora. Quando o verão era tão frio quanto o inverno, Naruto foi o seu sol, mostrou o quanto poderia aquecê-lo com seu brilho. O começo de uma vida estava crescendo a cada dia dentro daquela casa, mesmo quando se encontrava ainda em deriva, aquelas duas pessoas o puxavam com suas mãos quentes pronto para o aquecer. E o faziam esquecer aquele sofrimento, dissiparam aquela dor insuportável dentro de si. 

— Papa? Não vai comer? — Perguntou Naruto, olhando para o mais velho que estava perdido em um passado tão distante e, ao mesmo tempo, tão perto. 

— Kashi? O que houve? O que tanto pensa? — Perguntou Iruka, preocupado.

— Ele deve ‘tá pensando em quanto é apaixonado por nós, papai! — Respondeu Naruto roubando uns dos bacons do Kakashi. 

— Tem razão, devolve seu ladrãozinho! — Respondeu Kakashi.

Iruka sabia que não somente isso, sabia que aquele dia, era o dia que o levava para longe, de relance olhou para calendário da parede, tinha certeza disso. E não era somente o Umino que notara, O Uzumaki também notara que seu papa não estava tão presente naquela mesa, e com uma sabedoria que surgia nos momentos certos, ele deu voz aos seus pensamentos.

— Papa, hoje é sua folga, não é? 

— Sim, por quê? 

— Tem uma colina que fica depois dos monumentos dos Hokages, lá é um lugar ótimo para tirar os pensamentos negativos. Papa está inquieto, eu sinto, não precisa se preocupar, eu e o papai sempre vamos estar te esperando, tá bom? — Disse ele olhando para o Hatake. 

— Naru?

— Precisa de um tempo para você, e também não é como se eu e o papai fosse fugir, não é? E hoje é aquele dia, então só vai. 

— Como sabe que tem uma colina lá? — Perguntou Iruka.

— Eu descobri naquele dia que escutei vocês falando dos meus pais… Eu me senti perdido, me perguntando se poderia mesmo ter uma família, ser amado, ser feliz, ter amigos, como os outros e agora. Eu sei que posso. Eu tenho vocês, que eu daria minha vida, sem pensar duas vezes. 

— Naruto… — Kakashi falou sentindo um nó em sua garganta, não queria estragar aquele manhã com suas melancolias, com suas inseguranças, e principalmente com seu medo, mas Naruto conseguia o surpreendê-lo a cada dia.

— Papa, eu sou feliz! Isso é o que me fortalece, vocês, então vá lá na colina e deixe essa inquietude lá. Só volta para nós depois, tá bom? Agora eu vou me arrumar, tenho que perturbar o irmão do Yamato. — Falou Naruto se levantando e dando um beijo demorado no Hatake. 

Kakashi tentou evitar se emocionar, mas isso foi impossível. Ele olhou para seu companheiro, que sorria para ele, tocou na mão do outro. 

— Faça o que nosso pequeno disse, é sua folga, então faça isso, e como ele disse sempre estaremos aqui te esperando, meu amor. 

— Iru, não pense que não sou feliz e que eu…

— Eu sei, espantalho. — Disse Iruka o fazendo sorrir. — Eu também te amo muito, nós te amamos muito. Esse é o seu momento, e está inquietação vai sumir, assim que perceber que é humano como qualquer outro. 

Kakashi ficou pensando por instante, se aproximou ainda mais do Iruka e o beijou demoradamente, antes de sair sussurrou: “Eu te amo, golfinho”.

Hatake preferiu pegar alguns atalhos até aquela colina, e realmente era tudo que o seu pequeno falou. E deixou-se levar para o começo daquele passado, e se permitiu sentir.

 

⛥ ⛤ 

 

Kakashi observava o horizonte, o sol se pondo lentamente, tingindo o céu de laranja e dourado. A pequena colina onde ele se sentava estava envolta em uma calma quase sobrenatural. As folhas das árvores estavam imóveis, e o vento, que normalmente soprava suave naquela hora do dia, parecia ter decidido ficar em silêncio. A quietude ao seu redor contrastava fortemente com o que se passava dentro dele.

Por fora, Kakashi parecia sereno. Seus olhos meio fechados, o corpo relaxado, como se ele estivesse desfrutando de um raro momento de paz. No entanto, em seu interior, uma tempestade furiosa rugia. Memórias do passado, falhas que ele jamais poderia esquecer, misturavam-se com a dor da perda, criando um turbilhão de emoções que ele há muito havia aprendido a esconder.

Ele pensava em Obito, Rin e Minato. Pensava na promessa não cumprida, nas vidas perdidas sob sua tutela, e em como, apesar de todo o seu esforço, parecia estar eternamente preso no mesmo ciclo de dor. A tranquilidade ao seu redor era uma ironia cruel, como se o mundo estivesse zombando de sua luta interna. Por que o universo oferecia uma paz que ele nunca conseguiria alcançar?

Kakashi suspirou, sentindo o peso da máscara em seu rosto, um símbolo das paredes que ele havia construído ao longo dos anos. Ele não podia deixar que os outros vissem o caos dentro dele. Como líder, como amigo, como companheiro ele precisava ser forte, sereno, um porto seguro para os que confiavam nele.

Mas naquela colina, enquanto o crepúsculo avançava e a escuridão começava a tomar conta do céu, Kakashi permitiu-se um momento de vulnerabilidade. Seus olhos se fecharam completamente, e ele se permitiu sentir o peso das suas emoções, mesmo que apenas por alguns instantes. Na imobilidade do momento, ele enfrentou seus fantasmas, sabendo que, quando a escuridão caísse de vez, ele teria que se levantar, mascarar sua dor e seguir em frente.

Ainda assim, enquanto a tempestade rugia dentro dele, Kakashi encontrou uma estranha paz naquela quietude. Talvez fosse a aceitação de que algumas batalhas nunca terminam, e que a verdadeira força não estava em vencê-las, mas em continuar lutando, dia após dia, com a mesma serenidade aparente que ele mostrava ao mundo.

O vento voltou finalmente a soprar, levando consigo as últimas luzes do dia. Kakashi levantou-se, ajeitou a bandana e começou a descer a colina, de volta à vila, com o mesmo olhar calmo de sempre. Mas dentro dele, a tempestade ainda rugia, e ele sabia que sempre rugiria. E talvez, de alguma forma estranha, ele tivesse feito as pazes com isso.

Ao retornar para a vila, sua mente ainda parecia um caos, mas ao ver duas figuras ao longe, não evitou sorrir minimamente. Quem sabe, apenas talvez, pudesse abrir uma rachadura em sua muralha.

Quando se aproximou foi chamado para os acompanhar no jantar, lamen do Ichiraku claro, e ele não pode recusar. Sua mente se acalmou um pouco quando sentiu uma mão quente se entrelaçar na sua. Nenhuma palavra era necessária, não para eles.

Iruka sabia como ele se sentia sem precisar que dissesse uma única palavra e o acolhia, afirmando outra vez, ser a melhor coisa que aconteceu em sua vida.

Uma hora encontraria o equilíbrio, mas não tinha pressa nessa jornada, afinal, teria alguém ao seu lado para o erguer quando estivesse caído e tudo isso, em quietude.