Transformar-se em si

Naruto (Anime & Manga)
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Transformar-se em si
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Summary
Saudades todos sentem, seja de alguma comida, de algum local ou de alguma pessoa.Kushina sente saudades de um tempo que não volta, que ficou no passado, assim como uma pessoa que também está sentindo isso; seu filho.Por sorte, Deidara entende ao que ela se refere e só tem a agradecer pela mãe que tem, que sempre o apoiou. Exames Chuunins Fanfics | ACNProject | Eliminatórias | Tema: Saudade
Note
Se chegando com a fic dos eliminatórias dos Exames Chuunins, onde o tema é SAUDADETrouxe uma abordagem talvez um pouco diferente...Kushina é a melhor mãe do mundo!Deidara é um garoto trans, lindo!Obito é um namorado maravilhoso!Minato é um pai que se esforça, mas nunca julga o filho.Naruto é o irmão que é feliz com a vida e nada o abala.HOJE TEM CHUVA DE FANFICSBoa leitura!

“Em meio ao medo e à confusão, a verdade de quem somos pode finalmente ser revelada, e o amor se transforma na luz que nos guia para casa.”


 

Era uma tarde de outono, as folhas caíam lentamente das árvores no quintal, cobrindo o gramado com um tapete de cores quentes. Kushina e Deidara estavam sentados na varanda de madeira, observando o sol que começava a se esconder no horizonte. A brisa fresca trazia consigo o cheiro da terra úmida e o som distante de crianças brincando na rua.

O silêncio entre os dois era confortável, como se há muito tempo não conseguissem aquilo, mas também carregava uma certa melancolia. Kushina, com o rosto suavemente marcado pelo tempo, olhou para o jovem ao seu lado, que agora tinha cabelos curtos — o que parecia um verdadeiro milagre —, mas sabia que só estavam daquele tamanho devido a um evento trágico e até mesmo traumático envolvendo seu primogênito.

—  Já se acostumou com ele assim? — perguntou a mulher, tirando as mechas loiras que caiam sobre o olho tão azul quanto o do seu pai.

— Não muito, toda vez que vou penteá-lo, ou até mesmo mexer neles por costume, dói ao não o sentir.

— E o Obito, como está?

— Se tornou muito mais protetor, mal me deixa sair sozinho, não que eu saia muito. Ainda tenho um pouco de medo, apesar de saber que quem fez isso está preso.

Deidara havia sido atacado há algumas semanas por um grupo de transfóbicos quando voltava da faculdade. Eles haviam o encurralado e o agrediram verbalmente e fisicamente. As marcas roxas no rosto estavam praticamente sumidas, porém, a parte que mais doeu no jovem, foi ter seu cabelo cortado aos gritos de “Se você quer ser um homem, comece tirando esse cabelo longo”, e então cortaram seu cabelo na nuca. Se não fosse por Obito ter estranhado a demora do noivo e ido atrás dele com o amigo, quem sabe o que mais teriam feito. 

O loiro era um homens trans, que se assumiu na adolescência, e diferente de muitos outros garotos e garotas trans, teve o apoio incondicional dos seus pais. Ele se sentia muito sortudo.

— Fico feliz em saber disso. Sei que Tobi pode ser um pouco impulsivo, mas dessa vez, agradeço a impulsividade dele. Se não fosse isso, talvez você não estivesse aqui comigo — declarou Kushina com os olhos marejados e a voz trêmula só de pensar em perder seu garotinho.

— Eu também, mãe… Só estou triste porque terei que mudar meu penteado para o nosso casamento, mas o Naru falou que eu poderia usar uma lance, mas talvez eu vá assim mesmo para mostrar que não é meu cabelo que fará eu ser mais homem e ele vai crescer de novo — afirmou Deidara com os olhos cheios de determinação que a mais velha tanto admirava.

Quando um vento frio soprou um ar  gelado, ele se encolheu na jaqueta que parecia grande demais para seus ombros magros. Provavelmente era do noivo. Kushina sabia que o caminho que o filho escolheu seguir não havia sido fácil, mas estava orgulhosa de sua coragem. Sempre esteve, desde quando ele se assumiu.

Ela se lembrava muito bem de como aconteceu, depois de tantos anos, de todo o processo, percebia o quão óbvio estava para ela e Minato. Notava que havia algo diferente, que ele preferia brincar com os brinquedos que os primos deixavam e que Deidara se sentia mais à vontade com roupas que Kushina julgava “mais práticas” para brincar; shorts e camisas. As bonecas nunca o atraíam e as festas de aniversário com vestidos e laços sempre deixavam o loiro visivelmente desconfortável, mas sem saber como explicar aquilo.

O tempo passou e a adolescência do jovem trouxe novas emoções e questionamentos. Kushina via que o filho evitava espelhos e diversas o pegou em frente a ele encarando-o como se o que via não fosse ele de verdade, que não correspondia à maneira que se via. Até  mesmo o nome que foi escolhido com tanto carinho parecia cada vez mais estranho. Era como se não fosse realmente Naoko. A confusão era sufocante para a jovem, assim como para Kushina e Minato, que não sabiam como se aproximar, como abordar aquela questão.

Foi em uma noite particularmente silenciosa, enquanto jantavam em família, que ele sentiu que não podia mais esconder o que estava sentindo. A comida no prato estava intocável, e o olhar distante preocupou  Kushina, que imediatamente perguntou o que o estava incomodando. 

A Uzumaki podia ouvir a voz hesitante dele, quando soltou a temida frase para muitos pais: “Mãe, pai… eu preciso contar uma coisa para vocês”.

Céus, podia ser tudo! Desde uma reprovação na escola a uma gravidez, mas tanto o pai quanto a mãe sabiam o que era.

Kushina ainda podia sentir aquele mesmo silencio sufocante, lembrava-se do olhar preocupado e um pouco assustado do marido, especialmente quando Naoko disse as próximas palavras.

“Eu… eu não me sinto como uma garota. Na verdade, eu me sinto como um garoto.”

A mulher havia levado alguns minutos para processar o que acabara de ouvir. O silêncio tornou-se ainda mais denso, cheio de incertezas, devido ao silêncio daqueles que lhe trouxeram ao mundo. Os pais mentiriam se dissessem que não podiam praticamente ouvir o coração batendo descontrolado. Era nítido o medo da reação deles.

 A primeira pergunta que Kushina fez estava repleta de preocupação, e para o alívio do jovem, não tinha indícios de rejeição.

— Você tem certeza, meu bem?

As lágrimas já tomavam conta dos olhos azuis quando ele finalmente respondeu.

— Sim, eu sempre me senti assim... Mas eu tinha medo de contar e de como vocês reagiriam.

Apesar de um pouco aliviado, ele ainda esperava uma resposta de Minato, que se mantinha em silêncio. Apesar de ser um homem que sabia usar as palavras, naquele momento, parecia difícil encontrá-las.

— Nós não entendemos tudo isso, filha… Filho… sente-se melhor assim? — começou se referindo a ele no masculino, mesmo que fosse depois do feminino. Ele aprenderia. — Mas você é nosso filho e nós te amamos! Seja quem for que você sente que é, nós vamos te apoiar.

— Eu ainda estou tentando entender tudo, mas o que importa é que você seja feliz do jeito que é! E nós estaremos aqui para te apoiar, pois somos uma família!

— Agora eu tenho um irmão? — A voz infantil de Naruto, o filho mais novo de Kushina, atraiu a atenção de todos. 

— Sim… Isso é um problema? — Deidara amava o irmão, e não ter o apoio, mesmo que ingênuo, seria demais para ele.

— O Sasuke tem um irmão, ele diz que é legal. Então não deve ser tão ruim.

As lágrimas saíam livremente, não de medo, mas de alívio. Kushina sabia que a aceitação incondicional dela, de Minato e de Naruto era tudo o que filho precisava para seguir em frente e enfrentar o mundo como o garoto que sempre soube ser. 

Os meses seguintes foram cheios de aprendizados, ajustes e conversas difíceis, mas também de momentos de apoio e amor. Seus pais e irmão, mesmo sem entender completamente, buscaram informações, conversaram com médicos e psicólogos, e, acima de tudo, o escutaram. Eles aprenderam juntos sobre o que significava ser trans, sobre como as palavras e gestos podem fazer toda a diferença, e sobre a importância de estar presente, mesmo quando não se tem todas as respostas.

Cada pequena vitória, como a escolha de um novo nome — Deidara — e as primeiras compras de roupas que realmente fizeram o filho se sentir, foi celebrada. Kushina sempre esteve ao seu lado em cada passo, e, embora a jornada fosse nova e desafiadora para todos, o amor que os unia nunca vacilou.

Eles sabiam que ainda havia muito a aprender, e que o caminho seria longo, mas uma coisa era certa: não importava quem ele fosse, sempre teria uma família que o amava incondicionalmente, exatamente como ele era.

Deidara começou a ficar preocupado com o silêncio de sua mãe, ainda mais ao ver pequenas lágrimas se formando em seus olhos azulados.

— Tenho saudades de você —  ela disse, com a voz suave, quase sussurrando, parecendo sair do pequeno devaneio que havia entrado.

Ele a olhou, seus olhos azuis como o céu refletindo uma mistura de surpresa e compreensão. Ela sempre soube como escolher as palavras, mas, naquele momento, o peso da saudade não era algo que ele esperava.

— Mas eu nunca fui embora, mãe — respondeu Deidara, com um sorriso tímido, mas sincero.

A mulher sorriu de volta, os olhos ainda mais marejados, mas sem tristeza.

— Eu sei — garantiu, apertando a mão dele gentilmente. — Mas, às vezes, sinto falta da menina que você costumava ser. Não porque eu não te aceite agora, mas porque… bem, ela também fazia parte de mim.

O loiro assentiu, entendendo o que a mãe queria dizer.

— Eu também sinto falta dela, às vezes. Mas ela sempre estará aqui, em tudo o que eu sou. Eu não a deixei para trás, só a integrei a quem eu sou agora.

Kushina suspirou, como se um peso invisível estivesse sendo retirado de seus ombros. 

— Estou tão orgulhosa de você, meu filho. De quem você era e de quem você se tornou. A garota que você foi é uma parte de você, mas o homem que você é agora… ele é forte, corajoso, e eu te amo por completo, como sempre amei.

Deidara apertou mais uma vez a mão de sua mãe, sentindo o calor e o conforto que sempre encontrou nela. 

— Eu sei, mãe. E eu sempre serei grato por você estar ao meu lado em cada passo.

Deidara abraçou Kushina, sendo acolhido nos braços dela, e juntos, voltaram a olhar para o horizonte, o sol desaparecendo lentamente. O silêncio voltou, mas desta vez, estava preenchido por uma compreensão mútua e profunda. O amor incondicional dela, a aceitação dele, e a conexão entre ambos, agora mais forte do que nunca, eram suficientes para qualquer saudade ser substituída por uma paz tranquila.

Os dois estavam tão presos naquele momento que nem perceberam a  presença de Minato e Obito, ambos segurando o choro para não estragar aquele momento. Mas não podia dizer o mesmo de Naruto que chegou momentos depois.

— Oh, mãe, por que o pai e Obito estão chorando como se estivessem assistindo aqueles filmes melosos?

Kushina riu da fala do mais novo e em seguida levantou-se, ainda abraçada ao filho mais velho.

— Não é nada, Naru, sabe como esses dois são manteigas derretidas, só não assumem. Vamos entrar e preparar juntos um delicioso jantar! — ditou a matriarca, praticamente empurrando todos para dentro da casa, mas segurando Obito. — Obrigado por cuidar do meu menino, por o acolher, por respeitá-lo, e principalmente, por amá-lo por ele ser quem é.

— É justamente por isso que eu amo o Deidara, Kushina. Por ele ser essa pessoa forte, determinada, que nunca desiste de nada. E prometo que darei minha vida para protegê-lo para sempre.

Kushina apenas abraçou Obito, satisfeita em saber que seu filho estava em boas mãos e que seria muito feliz com alguém que o apoia, sem julgamentos.