Kakashi sempre foi conhecido por sua série. Nenhum escritório de advocacia onde trabalhava era o modelo de profissional compenetrado. Os colegas comentaram como ele era “um homem de gostos refinados”, sempre falando sobre música clássica e jazz. E entre o que poderia considerar mais moderno, ele falava do pop e mencionava alguns rocks clássicos, sempre se referindo a Michael Jackson, Elvis Presley, Os Beatles, sempre com aquele ar de que “música boa é coisa de outro tempo”. Sempre que puder, ouça esses estilos para poder relaxar e concentrar-se melhor nos casos complexos que você precisa analisar.
O que ninguém sabia — nem estava perto de desconfiar — é que por trás daquela fachada austera, Kakashi tinha uma paixão secreta que apenas Iruka, seu marido, conhecia: As divas do pop. E não era uma paixão qualquer. Kakashi sabia todas as coreografias, as letras de cor e salteado, e assistia escondida às performances ao vivo de seus artistas favoritos. De Britney para Lady Gaga... Ele sabia tudo!
Em casa, Kakashi era outro homem. Enquanto no trabalho ele discutia as melhores letras de Beatles e as letras cheias de significado de Michael Jackson, no aconchego do seu lar, bastava Iruka colocar o primeiro acorde de “Single Ladies” para Kakashi se transformar completamente. Ele largou os papéis de casos complexos e, com uma precisão quase militar, dançava cada movimento da coreografia de Beyoncé, cantando como se estivesse em um estádio lotado. E o mais divertido era a sua entrega total, como se estivesse competindo com o próprio Queen B.
— Iruka, me ajude com esse giro! Na última vez, eu quase tropecei em minhas próprias pernas e me machuquei! — dizia, enquanto praticava em frente ao espelho da sala.
Iruka assistia, tentando segurar o riso, e lembrava da primeira vez que descobriu o segredo do marido.
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Kakashi e Iruka namoravam e o Umino haviam decidido preparar uma comemoração especial para o aniversário do namorado. Houveram dispensado uma comemoração com os amigos, pois queriam algo mais íntimo.
Os dois prepararam o jantar juntos, pois Iruka ainda não tinha muita habilidade na cozinha — não que tenha melhorado muito —, beberam, riram, trocaram beijos e carícias. E após a refeição, com ambos sentados no tapete, acompanhados no sofá, com a playlist que o mais novo foi preparado exclusivamente para a ocasião tocando ao fundo, deixando tudo consideravelmente mais íntimo e agradável. Porém, quando o acaso pulou para uma música de Lady Gaga, Iruka ficou de boca aberta ao ver Kakashi cantando “Bad Romance” com tamanha paixão. Ele sabia cada palavra, cada mudança de tom. Ele não interrompeu, sequer piscou o olho para não perder nenhum movimento e foi ali que ele viu que o “Kakashi sério” que todos conheciam era apenas uma fachada completa.
Assim que notou que estava sendo apresentado e que havia deixado transparecer um lado que escondia de todos, Kakashi quis se esconder, se enfiar num buraco e nunca mais sair. Seu rosto ficou tão vermelho que Iruka pensou que o namorado iria passar mal.
— Iruka… eu… me desculpe… é que eu... bem… — Kakashi não conseguiu formular uma única frase.
— Meu amor, olhe para mim. Não precisa se desculpar — pediu Iruka tentando fazer o Hatake olhar para si, sem sucesso.
Se quisesse que o namorado o olhasse, teria que deixar a vergonha de lado e colocar sua voz de taquara rachada que sabia que tinha, para trabalhar. Pagar aquele “king kong” por seu amado valia a pena. Esperava que sim.
Pegou seu telefone que estava no sofá e começou a rolar sua playlist, em busca de algo que não fosse fazer os ouvidos de Kakashi sangrar. Quando encontrou o que procurava, deu play e notou o outro olhar de canto de olhos.
Quando a música Firework, de Katy Perry , e a voz um pouco grave demais e talvez um pouco desafinada começou a acompanhar a música, Kakashi olhou finalmente para o namorado. E, por mais que tentasse resistir, foi acompanhar automaticamente o Umino e quando chegou ao refrão, o telefone já havia tornado-se um microfone.
Assim que a música terminou, Iruka foi praticamente atacado pelo namorado, que o beijou como nunca, até parecia aliviado por poder ser quem era ao lado de quem ama.
— Agora, dança comigo? — pediu Kakashi, como se fosse uma criança querendo brincar.
— Você dança também? —se Iruka queria ver aquilo? Com toda certeza!
Kakashi rolou os olhos, mas não disse nada, pegou o telefone e buscou na playlist uma música que sabia muito bem e quando ela começou, o Umino pensou que iria babar.
Uh huh, uh huh (sim, Rihanna)
Uh huh, uh huh (Boa Garota que se Tornou Má)
Uh huh, uh huh (tomada três, ação)
Uh huh, uh huh (Hov)
— Vamos, querido, junte-se a mim! — insistiu Kakashi no meio da coreografia.
— Mas, eu não sei rebolar — arrumou a primeira desculpa que pode pensar e ficou vermelho com o olhar lascivo que recebeu, seguido de um lamber de lábios.
— Isso eu discordo totalmente, você rebola como ninguém, golfinho! Venha, eu te guio — Kakashi estendeu a mão e o namorado, um pouco reticente e envergonhado, aceito.
Mesmo o Umino parecendo ter dois pés esquerdos e os dois tropeçando algumas vezes, dançaram diversas músicas. E ao som das divas do pop, em algum momento perderam suas roupas e se amaram no sofá com Beyoncé, Miley Cyrus, Ariana Grande embalando seus movimentos.
— Por que nunca me falou que gosta de pop? — perguntou Iruka, agora deitado na cama, abraçado ao outro.
— Não sei ao certo. Todo gay já tem todo o estereótipo de gostar delas e saber todas as letras e coreografias. Eu curto e muito todas elas, mas não só por ser gay, entende? E também não sabia como você reagiria, a última coisa que quero é ser alvo de zombaria daquela que amo — confessou o Hatake.
— Meu amor, eu jamais faria isso! Esse é apenas um aspecto da sua personalidade, que adorei descobrir, diga-se de passagem. Não precisa ter vergonha disso ou de ser quem está ao meu lado. Eu adorarei chegar em casa e ver rebolando ao som de Shakira, Taylor Swift, Rihanna, qualquer uma. — provocou Iruka.
— Pois eu farei questão de te ensinar todas as coreografias, porque, por todos os deuses, meu amor, você rebolando é minha perdição. Ainda mais se for em cima de mim.
— Kakashi! — quis subir bravo, mas foi totalmente inútil. — Nem chego aos teus pés. Você é perfeito!
— Perfeito, não. Estou mais para a Fiona.
— Fiona?
— Sim, de dia de um jeito, uma noite de outro.
Kakashi adorava cantar e dançar, mas um som que adorava muito mais eram as risadas do seu namorado, esses eram seus filhos favoritos de toda a vida.
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Aquela era uma das raras vezes que Kakashi recebia visitas, normalmente era só ele e Iruka e quando se encontravam em amigos, era sempre em outros lugares. Na sala da casa do Hatake estavam Asuma e a namorada Kurenai, Gai e Yamato, Genma e Raidou, Anko e Ibiki, alguns dos amigos e o homem de fios prateados mantinham a pose de sério, que não gostavam de coisas agitadas preferindo a calma e a tranquilidade. Sentado no sofá abraçado a Iruka no sofá, discutiu filosofia, política, e claro, suas “análises profundas” sobre músicas clássicas do pop, jazz, blues e um pouco de rock antigo. E quando alguém ousava falar sobre música pop da atualidade, ele torcia o nariz e resmungava algo como:
— Ah, sim…essas músicas repetidas de hoje em dia… nada se compara a um bom concerto.
Iruka, cúmplice daquela farsa, apenas sorria. Por um lado se divertia com a tamanha cara de pau do namorado, mas por outro, não queria que ele se escondesse aqueles que eram seus amigos e que jamais o julgaria. Afinal, quem olhou para Asuma com aquele porte de touro, aí imaginava que ele dançava salsa com Kurenai. Yamato e Gai curtiam um Heavy Metal e Anko e Ibiki eram frequentadores assíduos de lugares que tinham músicas clássicas como valsa e que Raidou conheceu Genma durante um espetáculo de balé.
— De tanto que diz odiar o pop atual, no seu casamento farei questão de montar uma playlist completa só com as chamadas “Divas do Pop” — ameaçou Asuma, recebendo diversos acenos de cabeça em concordância.
— Não pode faltar Lady Gaga, Adelle, Rihanna, Madonna, Taylor Swift — Kurenai começou a citar os nomes.
— E nem Elton John, Ariana Grande, Britney Spears, Beyoncé, Miley Cyrus, Whitney Houston, Selena Gomez, Shakira, Jennifer Lopez… — acrescentou Anko animada, imaginando a cara de indignado do amigo se realmente fizesse aquilo.
Se você ouvir que Kakashi conhecia todos aqueles nomes, seus álbuns e suas coreografias, ficariam chocados, para dizer o mínimo.
— Cuidado com o que deseja — Iruka murmurou baixo, criando alguns cenários em sua mente. Mas não foi tão baixo quanto pensei ou talvez Kakashi menos sua mente.
— Você gostaria muito disso, não é? — provocado, mordendo a bochecha do namorado. — Não tenho essa coragem toda, meus shows são somente para ti.
— E amo cada um deles, mas garanto que uma apresentação dessas, deixaria todos babando e… bem, melhor deixar só para mim mesmo.
— Ei, o que vocês dois fazem tanto fofocam? Sabem que quando estamos aqui é proibido vocês ficarem de segredinhos! — Anko declarou, apontando acusadoramente para o amigo de cabelos castanhos.
— Um dia a curiosidade vai matar uma cobra — provocou Kakashi.
— Não seria gato? —disse Asuma com tristeza.
— Sim, mas no caso dessa aí, é cobra mesmo — afirmou o Hatake, tendo como resposta da mulher uma língua mostrada para si. — Viu só! Uma cobra!
— Ah, Hatake! Um dia te farei dançar “Work from Home”, do Fifth Harmony, para deixar de ser composto.
— Não sendo “Alejandro” da Lady Gaga …
— E olha que ele sabe o nome das músicas! — acusou Genma com olhar divertido, como se adivinhasse que o amigo escondia algo.
— Essa eu sei porque o idiota do Mizuki fez a pachorra de trair esse deus que tenho ao lado, ao som dessa música. Azar o dele, sorte a minha.
- Uau! Havia esquecido disso, Iru… Essa música é oficialmente banida dos nossos encontros e eventuais danças que colocaremos esse seu namorado metido a besta — garantiu Genma, com total aprovação de Anko.
Aos demais só resta rir naquela interação e concordar que se a música trazia péssimas memórias, deveria ser esquecida por todos.
Quando os amigos finalmente foram embora, deixando apenas o casal, Kakashi jogou-se no sofá, parecendo exausto. O que não era uma mentira, afinal sua bateria social não era lá muito grande, mesmo quando sua companhia era seus poucos amigos. Mas eles valeram por uma multidão acompanhada ao show de Beyoncé.
— Está cansado, 'Kashi? — perguntou Iruka, deitando-se em cima do namorado e o beijando brevemente.
— Um pouco… às vezes esqueço que nossos amigos são… intensos.
— Sem show para mim hoje? — brincou enquanto se esticava para pegar o celular e buscar uma música qualquer. — Que tal uma Britney para relaxar? — Colocou Toxic para tocar, acomodando-se novamente sobre o outro, que o abraçou, não se importando nenhum pouco. E logo Iruka o ouviu a começar a cantar baixinho, mesmo cansado podia sentir um pouco de animação na voz do companheiro.
A verdade é que Kakashi adorava aqueles momentos em que podia ser ele mesmo, sem medo de julgamentos, fosse fazendo seus passos de dança, ou apenas cantando cada letra com animação. E bastava para ele ter apenas Iruka como seu único público, o vendo como é genuinamente, sendo completamente apaixonado pelas divas, se empenhando nas coreografias, rindo e curtindo como nunca.
E mesmo que no escritório Kakashi continuasse sendo o advogado sério que todos conheciam, Iruka sabia que, em casa, ele era o rei da pista de dança — ou pelo menos, da sala de estar.
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Iruka abriu a porta de casa com um suspiro longo, sentindo o peso do dia arrastando por suas costas. Ele colocou as chaves no gancho da parede e pegou, vindo do quarto, as batidas familiares de uma música pulsante do pop. Curioso, caminhou pelo corredor até a porta semiaberta e espiou para dentro.
No centro da confusão, Kakashi estava no meio do quarto, desfilando com uma jaqueta prateada que parecia tirada de um show dos anos 80, ao som de “Poker Face” de Lady Gaga. A música estava no volume máximo, e o quarto… parecia ter sido atingido por uma explosão de roupas. Calças, camisas e casacos espalhados como estilhaços de uma bomba, cobrindo o chão e até a cama.
Iruka cruzou os braços, contemplando aquela cena inusitada com uma mistura de incredulidade e cansaço.
— O que está acontecendo aqui? — ele perguntou, precisando se fazer ouvir sobre o som da música.
Kakashi deu uma volta dramática, parando em frente ao espelho e ajustando os óculos escuros antes de responder, como se estivesse em uma passarela.
— Quero fazer um bazar, me desfazer de algumas peças… — Ele deu uma pausa para erguer uma camisa vermelha brilhante que Iruka jurava nunca ter visto antes. — Mas não sei quais. Aí pensei, por que não é um desfile? E você me ajuda a decidir o que devo fazer.… ou jogar fora.
Iruka balançou a cabeça, rindo baixinho.
— E você escolheu Lady Gaga para isso?
— Ela tem uma vibração perfeita para tomar decisões difíceis — Kakashi respondeu com seriedade exagerada, deslizando até a guarda-roupa e pegando outra peça, uma calça de couro que claramente estava fora de moda. — Agora, o que você acha dessa?
Iruka piscou, tentando suprimir uma risada.
— Joga fora. Sem nem pensar duas vezes. Ninguém merece usar isso, especialmente nesse calor. A menos que seja um cantor brega de sertanejo… Não, nem assim.
Kakashi deu uma pirueta, fingindo indignação, enquanto a música chegava ao refrão.
— Certo, certo… — ele murmurou, jogando a calça para o lado dramaticamente. — Acho que isso vai ser mais difícil do que pensei.
Iruka apenas convidou outra vez, adorava ver o marido animado daquela forma, sendo apenas ele, em toda sua essência. Se recostou na porta, apreciando o pequeno show que lhe foi fornecido.
— Vou pegar um café. Parece que vamos ter uma longa noite pela frente.
— Um vinho, meu querido. E poderia pedir algo para comermos? Não fiz o jantar, sabe… fiquei entretido aqui.
No fim daquela noite, o Umino participou daquele desfile, acompanhando Kakashi em cada música das cantoras que aprenderam a apreciar, dançando ao seu lado. As roupas não foram todas separadas, pois acabaram se perdendo um pouco em meio aquilo tudo. E se a camisa favorita de Iruka acabou no meio das peças para doação, foi apenas um detalhe. Não se arrependia nem um pouco de como a noite terminou.