
“Eu poderia desfazer tudo com um simples gesto… mas será que estou pronto para enfrentar o que isso significa?”
Era para ser uma missão simples da Akatsuki. Tobi e Deidara foram enviados para obter informações sobre um dos Jinchuurikis, escondido em um vilarejo montanhoso. Deidara, como sempre, estava impaciente, criando explosivos com sua argila, enquanto Tobi o seguia com sua típica energia boboca e irritante. Tudo parecia dentro do normal — até que, em uma emboscada inesperada, Deidara foi atingido por um jutsu desconhecido lançado por um dos defensores do vilarejo.
O impacto o jogou contra uma árvore, e, por um momento, tudo ficou embaçado, o azul do céu começou a se tornar preto e ele foi engolido pela escuridão, ouvindo a voz do parceiro, chamando seu nome.
— Deidara-Senpai!
Tobi se aproximou do parceiro e quando o pegou em seus braços, sentiu o que pareceu uma onda choque atingir seu corpo, passando por ele e por Deidara, como se o que quer que tenha atingido o loiro, estivesse ainda fazendo efeito.
Teve certeza disso quando viu o ex-ninja da Pedra começar a mudar fisicamente. Os cabelos loiros lentamente foram assumindo um tom castanho, o formato dos olhos ficando mais arredondados e no rosto, marcas finas em um tom arroxeado. O mascarado quase o derrubou no chão ao perceber quem Deidara parecia naquele momento.
Precisavam sair dali o mais rápido possível, por isso, usou o Kamui e logo chegaram ao esconderijo onde estavam. Assim que surgiu no local, com seu companheiro nos braços, foi parado por Pain, que encarava a “moça” nos braços de Tobi.
— Quem é essa? Sabe que não pode trazer gente de fora! Livre-se dela, agora! — ordenou o ruivo e instintivamente Tobi o segurou o corpo de Deidara com mais força.
— Não é uma moça… é o Deidara-Senpai, ele foi atingido por um jutsu estranho e ficou assim — explicou com a voz infantil, irritado por ser impedido de seguir seu caminho e com tantas perguntas desnecessárias.
Pain encarou ambos por um momento, analisando ambos e sentiu o chacra do loiro vindo da “garota”. Tobi não mentia.
— Leve-o para o quarto e encontre um jeito de reverter essa situação quanto antes! Ele é sua dupla, é sua responsabilidade — ditou antes de se retirar, deixando-os sozinho para seguir seu caminho.
Tobi suspirou e seguiu para o quarto que dividiram e gentilmente deitou Deidara sob a cama e sabendo que ele não acordaria logo, retirou sua máscara e sentou-se ao seu lado, acariciando seu rosto. Alguns detalhes do loiro ainda estavam presentes, como o formato do nariz e o comprimento do cabelo, mas todo o resto era de alguém que o mascarado conhecia bem.
— Rin… — sussurrou, sentindo um misto de sentimento. Era como ver a garota que tanto amou, por quem fez e faz tudo aquilo, ao seu lado outra vez. Não um sonho, uma ilusão, mas na realidade, ao toque de sua mão.
Ele sabia que não era ela, que era seu parceiro, mas ele desejava tanto que realmente fosse, queria que fosse para poder deixar tudo para trás, por isso ignorou seu lado racional, o que o mandava fazer a coisa certa, corrigir aquela situação antes que saísse do controle. Mas ele decidiu a ignorar, por hora.
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Deidara acordou dois dias depois, sentindo-se estranho. Seu corpo parecia diferente, como se algo estivesse mudado, só não sabia dizer o que. Levantou-se com certa dificuldade da cama, a reconhecendo como sua.
— Pelo menos aquele idiota teve a decência de me trazer para cá — resmungou e sua voz parecia estranha aos seus ouvidos. “Maldito jutsu”, pensou ao lembrar do ataque que sofreu.
Abriu a porta do quarto, não vendo ninguém por perto, especialmente Tobi e agradeceu por aquilo, não precisaria lidar com perguntas idiotas, vindo do idiota supremo. Entrou no banheiro pronto para tomar um banho, porém quando encarou o reflexo no espelho, o choque foi instantâneo. Encarou a imagem por alguns segundos, tentando se reconhecer, parecia uma ilusão. Olhou para seu corpo, seus músculos estavam mais delicados, sua altura, que já não era muito, parecia ligeiramente menor. Voltou a encarar o espelho, tocando em seu próprio rosto, vendo a imagem repetir o gesto. Só podia ser um sonho, não tinha outra explicação. Se beliscou para verificar se era real ou não. A dor que sentiu era real. Tentou se libertar do genjutsu, pensando ser uma brincadeira de muito mal gosto de Tobi, mas para sua decepção, não estava em uma ilusão.
Ele havia sido transformado em uma garota. De cabelos, olhos castanhos e riscos roxos nas bochechas.
— Mas que porra, hm! — gritou e para sua decepção, sua voz agora era claramente feminina.
Preparou o punho para socar o espelho e fazer aquele reflexo sumir quando escutou a porta do banheiro ser aberta e se deparou com Tobi. O encarou esperando risadas ou alguma piada, mas o que recebeu foi um silêncio incomum. Mesmo com aquela máscara no rosto, sentia o outro o encarar fixamente, com uma intensidade que vira, sentirá, poucas vezes.
— Você está… diferente, Deidara-Senpai — Tobi declarou, a voz não tão irritante, um mais suave, rouca podia-se dizer, do que de costume.
O desconforto do loiro, agora não mais, aumentava a cada momento.
— Você vai me ajudar a desfazer isso! Você estava comigo, é sua obrigação me ajudar a voltar ao normal. — estava pensando em fazer voto de silêncio, se sua voz permanecesse daquele jeito.
— E não está normal, Deidara-Senpai? — a voz irritante e debochada retornou. — Você ainda parece você, só com cabelo diferente. Pode dizer que pintou — sugeriu com diversão.
— É? Só o cabelo? E isso aqui? — apontou para os seios e pareceu se lembrar de algo muito importante. Virou-se de costa para o outro e quis realmente chorar. Nada tinha contra as garotas, mas nunca quis ser uma, apesar de sentir atração pelo mesmo que elas… aquilo não daria certo. — Saia daqui, Tobi e ache o Itachi, aquele Sharingan deve me ajudar a encontrar uma solução. Ou então, eu te mato.
— O que Tobi fez? Ele não fez isso com o Senpai — o mascarado parecia chateado e Deidara até poderia acreditar se não o conhecesse.
— Mas você é meu parceiro, o qual deveria me ajudar. Então, se eu fiquei assim, a culpa é sua! — Bradou o loiro irritado. Sabia que não era culpa do outro, mas precisa descontar sua frustração e desconforto em alguém. Nunca foi muito emotivo, mas agora, queria apenas se encolher em sua cama e chorar e quem sabe apagar e acordar somente quando as coisas tivessem voltado ao seu estado normal. — Me deixe sozinho, Tobi.
— Mas, Senpai…
— Saia!
Resignado e até um pouco chateado, Tobi acatou a ordem da sua dupla.
— Tobi vai pedir para Itachi-kun fazer algo para o Senpai comer, ele dormiu muito — informou antes de fechar a porta do banheiro, deixando o loiro finalmente sozinho.
Assim que se viu só, voltou a encarar sua imagem, tocando seus cabelos, rosto, lábios, corpo, tentando se acostumar com aquilo enquanto não encontrava uma solução. Não sabia como ou quando voltaria a ser quem era.
Se soubesse que aquilo era apenas o começo de semanas de confusão, provocações e até uma aproximação inesperada… Talvez tivesse surtado um pouco mais.
Após o que pareceu longas horas, Deidara finalmente saiu do cômodo, indo até a cozinha, onde esperava encontrar o Uchiha. E o encontrou, mas infelizmente não estava sozinho. Não que ele não gostasse da companhia do rapaz de cabelos brancos, mas naquele momento, queria apoio, consolo, não provocações.
— Quando Tobi contou que havia se transformado numa garota, pensei que era brincadeira, mas porra… valeu a pena ter deixado o velhote ir para a missão sozinho.
— Por que você não cala boca antes que resolva testar minhas argilas explosivas em você outra vez? — revidou Deidara, sentando-se à mesa, com a feição irritada.
— Aparência mudou, mas a personalidade ranzinza continua a mesma. — O loiro apenas bufou e foi procurar algo para comer, mesmo sabendo que nada parecia que pararia em seu estômago. — Ah, Barbie, vamos… olhe para mim — o Jashinista continuou, gostava de provocar o menor.
— Não tem nenhum ritual para fazer, hm?
— No momento não… Mas sério, já se olhou no espelho? — Deidara o encarou prestes a arrancar a cabeça do outro. — Porque, tenho que admitir, até que ficou bonitinho assim, hein! Parece aquelas bonecas porcelanas, sabe? — Riu alto, claramente se divertindo com a situação do amigo.
Deidara rolou os olhos, tentando ignorá-lo enquanto moldava uma pequena explosão com sua argila.
— Cale a boca, Hidan. Já estou farto de ouvir sua voz irritante, hm. — bradou mais uma vez.
Hidan se inclinou para frente, cruzando os braços, não resistindo em continuar.
— Ah, qual é! Só estou dizendo o óbvio. Acho que se a Akatsuki quisesse recrutar modelos em vez de ninjas, você seria o primeiro da lista. — Ele piscou de brincadeira.
Itachi, que observava em silêncio até então, lançou um olhar de lado para Hidan, impassível.
— Hidan, se continuar com essas provocações, não se surpreenda se um dos ‘brinquedos’ de Deidara explodir bem na sua cara. — Itachi tentava controlar a situação, antes que aqueles dois destruíssem sua amada cozinha.
Hidan deu uma gargalhada alta, levantando as mãos em rendição.
— Calma aí, Itachi! Só estou me divertindo. Mas fala sério, você também deve estar achando essa situação engraçada, vai.
— Engraçado? Não exatamente — Itachi respondeu, com seu tom calmo, atraindo a atenção do mais interessado na história. — Intrigante, diria.
— O que quer dizer? — questionou Deidara, revezando entre moldar sua argila e remexer sua comida.
— Eu revisei algumas das minhas anotações sobre jutsus de transformação, e não há nada comum que cause uma mudança tão precisa e prolongada. Isso é mais profundo que o Jutsu de Transformação básico. — Ele soube que aquilo não era normal, mas ainda não sabia dizer exatamente o que era, qual jutsu havia sido utilizado e sem saber isso, era quase impossível revertê-lo.
Deidara parou de mexer na argila, sua frustração evidente no olhar castanho, mas que em alguns momentos, podiam ver o azul mesclado. Se não fosse toda a situação, acharia algo muito belo.
— Então ainda não sabe o que foi isso? Não é possível! Estou preso nessa forma, parecendo uma versão feminina de… sei lá o quê, sei lá quem! Eu confio em você, Ita. Se alguém pode descobrir, é você, hm.
Aquela amizade entre os três era um pouco caótica, dado a forma que se conheceram, especialmente o Uchiha e Deidara.
Itachi inclinou a cabeça levemente, com uma expressão quase compreensiva.
— Já comecei a fazer algumas pesquisas e vou continuar. Esse jutsu parece estar conectado com a manipulação emocional de quem está ao seu redor, o que significa que desfazê-lo pode exigir mais do que uma simples técnica. Mas vou descobrir. Prometo.
Hidan sorriu, claramente se divertindo com a tensão de Deidara.
— Enquanto isso, que tal aproveitar, Deidara? Vai saber, talvez o Tobi goste mais de você assim, hein? — Ele deu uma risadinha sarcástica, empurrando o loiro de leve com o cotovelo.
Deidara explodiu uma pequena figura de argila perto de Hidan, sem atingi-lo, mas perto o suficiente para fazê-lo se afastar de repente.
— Cala essa boca antes que eu exploda você de verdade, hm! — gritou dessa vez, pela terceira vez com o albino.
Hidan, ainda rindo, se jogou para trás, levantando as mãos em rendição novamente.
— Tá, tá! Sem explosões, entendi. Mas estou só dizendo, nunca vi Tobi tão apegado antes… Ficou todo preocupado esses dias que ficou apagado, mal saiu do seu lado.
Itachi ignorou as provocações, mas não pôde deixar de notar o leve desconforto que atravessou o rosto de Deidara. Ele sabia que havia mais naquela transformação do que o amigo queria admitir, e não seria fácil lidar com os sentimentos despertados por aquilo, ainda mais após a fala de Hidan.
— Vou continuar minhas pesquisas e te mantenho atualizado, Dei — Itachi garantiu, cortando a conversa. — E você, Hidan, tente não o irritar tanto enquanto isso. Ele mudou a aparência, mas suas habilidades kekkei-genkai, ainda são as mesmas.
Hidan deu de ombros, ainda rindo.
— Não prometo nada, corvinho… Mas, beleza, vou tentar não provocar tanto... pelo menos hoje.
Deidara bufou, mas por dentro, confiava em Itachi. Se alguém podia desfazer aquele pesadelo, era ele. E quando isso acontecesse, Tobi teria muito o que explicar.
— Agora, vamos comer e depois, vamos assistir a um filme e retocar esses esmaltes e cuidar desse cabelo castanho — Itachi declarou, tirando um mínimo sorriso de Deidara. Eles poderiam ser criminosos, renegados, procurados por todas as nações, mas ainda eram pessoas, com gostos e desejos.
— Agora, sim, falou minha língua! — concordou Hidan, fazendo mil planos para aquele dia, mesmo parecendo não se importar com a situação do amigo, o que ele queria era tirar aquela preocupação do rosto de Deidara. Preferia até o ver irritado, como de costume, do que para baixo, como se aquele jutsu não tivesse alterado sua aparência, mas também, sua essência.
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Após o incidente com o jutsu que ainda não sabia qual era, as semanas na Akatsuki começaram a se arrastar para Deidara. Sua aparência feminina, agora muito semelhante à de alguém que Tobi conhecia, mas não revelava, tinha trazido uma mudança sutil, mas perturbadora na forma que o companheiro dele o tratava. Desde o começo, o loiro já tinha seus problemas com o comportamento irritante e infantil de Tobi, mas agora... as coisas estavam diferentes. E aquilo o estava deixando desconfortavelmente confuso.
No começo, o ninja da máscara laranja continuava com suas atitudes típicas: Rindo alto, provocando e se comportando de forma irritantemente infantil. Mas, conforme os dias passavam, sua postura foi mudando de maneira gradual. Ele parecia menos travesso, mais hesitante... e, de certa forma, até mais suave. Deidara notava esses detalhes, e aquilo o irritava e o atraía ao mesmo tempo.
Uma tarde, enquanto preparava mais de sua argila explosiva, Tobi se aproximou lentamente, parando ao seu lado. Ele ficou em silêncio por um momento, algo bem fora do comum. Deidara ergueu uma sobrancelha, esperando a provocação de sempre, mas tudo que ouviu foi a voz de Tobi, mais baixa do que o normal, hesitante e sem aquele tom irritante. Essa era a principal mudança desde que tudo começou. Ele parecia mais um adulto que aquela versão infantil insuportável.
— Você… está muito bonita… bonito hoje, Deidei — obi disse, usando uma versão mais carinhosa e provocadora do nome de Deidara.
Deidara franziu o cenho, desconfiado e ignorando que havia sido chamado pelo feminino, quase se acostumou com aquilo, vindo do outro.
— O quê? Deidei? Que merda de nome é esse, hm? — Ele esperava uma risada alta e infantil em resposta, mas Tobi apenas desviou o olhar, como se estivesse lutando para manter a máscara de sua personalidade.
— Tobi só… achou que combina com você agora — continuou, a voz ainda hesitante. Deidara notou um certo brilho nos olhos por trás da máscara de Tobi. Não era o típico olhar brincalhão e sem noção. Era algo mais intenso, algo que ele não estava acostumado a ver.
— Tanto faz, só não se acostume… não gosto que me deem apelidos.
— Tudo bem, Deidei-Senpai — se não tivesse a máscara, o loiro teria visto um sorriso maroto no rosto do outro.
Nos dias que seguiram, essa estranha mudança se intensificou. Tobi começou a se aproximar mais frequentemente de Deidara, e embora ainda mantivesse sua fachada, às vezes sua verdadeira face, a de Obito, começava a transparecer. Seus movimentos eram mais cuidadosos, seus olhares mais demorados, e Deidara, sempre atento, começou a perceber que, por algumas vezes, Tobi o chamava... de Rin.
No começo, Deidara pensou que fosse alguma brincadeira estúpida, algum nome que havia inventado para o provocar e não estava gostando muito daquilo.
— Eu não sou a maldita Rin, hm! Se vai tentar me irritar, faça isso direito, Tobi! — Ele gritou em um dos momentos que Tobi cometeu o deslize, esperando alguma provocação típica em resposta. Mas Tobi apenas ficou em silêncio, sua postura tensa, como se a própria menção do nome o machucasse. Era como se ele tentasse se desculpar com o olhar, mas não soubesse como.
Uma das mudanças que Deidara achou mais drástica e que sentia falta — mas não diria — foi o fato da sua dupla parar de chamá-lo de “Senpai”. Na verdade, ele mal conseguia chamá-lo de alguma coisa. Quando ele se dirigia a Deidara, era com uma mistura de afeto contido e confusão, às vezes usando “Deidei”, uma forma brincalhona, mas, ao mesmo tempo, carregada de algo mais profundo. Outras vezes, o nome de Rin escapava por entre seus lábios, e cada vez que isso acontecia, Deidara sentia um frio na espinha.
No fundo, Deidara não queria admitir, mas ele começava a nutrir algo mais forte pelo mascarado. No começo, sempre soube que havia algo por trás da fachada irritante de Tobi que lhe chamava a atenção. Agora, com essa mudança, esses sentimentos começaram a se intensificar de forma desconfortável. Ele se via mais interessado em estar ao lado de Tobi, notando cada gesto, cada hesitação, cada mudança de tom. A cada dia ele parecia descobrir um pouco mais sobre o outro e esse desejo aumentava e não era apenas em relação à amizade ou companheirismo.
Por outro lado, para Obito, a confusão era ainda mais profunda. Ele lutava para manter sua personalidade como Tobi, tentando, a todo custo, não deixar transparecer o quanto aquela transformação mexia com ele. Cada vez que olhava para Deidara, via Rin. Sua Rin. Isso o deixava vulnerável, confuso e, de certo modo, desesperado. Ele sabia que não deveria, mas não conseguia evitar. Queria estar perto de Deidara, sentir aquela proximidade que nunca mais teve desde que Rin se foi.
Mas, ao mesmo tempo, ele sabia que era injusto. Cada vez que o chamava de Rin por acidente, a culpa o consumia. Ele não queria usar Deidara para reviver um fantasma, mas, ao mesmo tempo, estar perto dele naquelas semanas era como sentir a presença de Rin novamente, o que o preenchia de um conforto sombrio. E isso era algo que ele não conseguia ignorar. Ele se sentia dividido.
Uma noite, enquanto os dois estavam sentados lado a lado, o silêncio entre eles era quase palpável. Tobi mexia nas luvas, inquieto. Deidara o observava de soslaio, esperando que ele dissesse algo, até que, finalmente, ele quebrou o silêncio.
— Você sabe, eu nunca quis que isso acontecesse — declarou suavemente, tentando manter a voz de Tobi, misturada com a sua verdadeira. Deidara franziu o cenho, não entendendo de imediato o que ele queria dizer. — Você ficar assim… Eu não quis te usar, Deidei…
Deidara virou-se para ele, o coração batendo mais rápido, sua confusão aumentando.
— Usar? Do que você está falando, hm?
Tobi hesitou antes de continuar, a máscara escondendo sua expressão, mas sua voz traía seus sentimentos. Virou-se para o loiro, o encarando por breves segundos. Levou sua mão ao rosto, o contornando, depois pegou uma mecha castanha entre os dedos, antes de colocá-la atrás da orelha, junto a franja que sempre mantinha um dos olhos escondidos, dando a visão completa para Obito. A pessoa à sua frente era Rin, mas também era Deidara. Não era totalmente um, nem outro, e ele não sabia dizer com exatidão, qual das duas o atraía mais.
Se fosse ser sincero, antes de tudo acontecer e do jutsu atingir Deidara e mudar sua aparência, ele se via cada vez mais afeiçoado ao rapaz de fios dourados, que sempre se estressava com facilidade, mas quando falava do que gostava, se tornava quase outra pessoa. Mesmo com as discussões, com as brigas e tendo que manter aquela fachada irritante, Deidara era uma coisa boa em sua vida, ele o distraía de tudo, se permitia viajar em sonhos, mesmo que fossem apagados quando começavam a se tornar intensos e presentes demais. Era o que pensava que fazia, mas agora, não tinha tanta certeza.
E naquele momento, sentia-se dividido entre duas pessoas importantes em sua vida e não sabia por qual delas tinha mais apreço, qual desejava ter mais perto. Por um momento, decidiu esquecer tudo, fingir que não tinha um plano para seguir, fingir que não tinha dúvidas em sua mente e em seu coração.
— Confia em mim, DeiDei? — pediu Tobi, enquanto deslizava sua mão enluvada sob os lábios de Deidara, que sentia que poderia desmaiar a qualquer momento. Não encontrou sua voz para responder, por isso apenas afirmou com um leve balançar de cabeça. — Feche os olhos, por favor.
Hesitante, Deidara obedeceu, sentindo as mãos suar, sua pulsação aumentar e sua respiração ficar falha. Então tudo desapareceu, ele mal sentia o chão sob si, ou o vento que balançava seus cabelos, tudo que sentia, tudo o que existia era a mão de Tobi em sua nuca e a boca dele na sua. Porém, tudo foi tão rápido, como suas explosões, o momento foi efêmero, pois logo sentiu Tobi se afastar, de forma um pouco rude. Manteve os olhos fechados mais alguns instantes, tentando controlar a avalanche de sentimentos que pareciam tomar conta de cada parte do seu corpo. Quando abriu os olhos, viu o mascarado mais distante de si, observando a lua acima deles e nem quando começou a falar, olhou para Deidara.
— Você… me lembra alguém. Alguém muito importante pra mim. — A confissão estava à beira de ser completa, mas Tobi rapidamente se fechou novamente, voltando ao seu comportamento contido, algo entre a personalidade de Tobi e Obito. — Esquece. Eu só… Eu não queria que isso fosse assim.
Deidara ficou em silêncio, as palavras de Tobi reverberando em sua mente. Por um lado, ele sabia que deveria estar irritado. Sentia-se confuso e traído, achando que os momentos mais próximos entre eles e o que acabara de acontecer, talvez não fossem realmente sobre ele. Mas, por outro lado, sentia algo ainda mais forte crescendo dentro de si, uma conexão inexplicável com aquele mascarado irritante.
Mesmo assim, uma coisa era clara: algo havia mudado entre eles, e tanto Deidara quanto Tobi sabiam que isso não poderia ser simplesmente ignorado.
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Após o beijo, Tobi se afastou, realizando missões com Zetsu e deixando Deidara sem dupla e tendo que realizar algumas missões solo. Ele se aproveitou um pouco do fato de estar diferente e nem precisava se disfarçar, já que ele era o próprio disfarce.
Era uma noite silenciosa no esconderijo da Akatsuki, iluminada apenas por algumas lâmpadas antigas que lançavam uma luz amarelada sobre o chão de pedra. Deidara, ainda preso em sua forma feminina, estava inquieto. Os eventos das últimas semanas o haviam consumido por dentro, uma mistura de confusão, frustração e algo que ele não queria admitir. Desejo.
Tobi estava sentado próximo, com sua máscara virada para ele. O ar estava pesado com o que não era dito, como se as palavras fossem armas esperando para serem lançadas.
— Hm… Então, é isso? Vai ficar me encarando a noite toda sem dizer nada após passar dias me ignorando? — Deidara provocou, quebrando o silêncio que pairava entre eles, cruzando os braços, tentando manter a postura defensiva que sempre usava.
Tobi hesitou por um momento antes de responder.
— Eu só... Não queria que isso tivesse acontecido assim, DeiDei — era quase hábito chamá-lo assim, da mesmo forma que gostava de chamá-lo de “Senpai”.
Deidara bufou, virando o rosto. Não negaria que estava cansado do jeito infantil e falso de Tobi, mas nas últimas semanas, desde sua mudança, sentia que algo mais profundo estava emergindo. Algo que ele não conseguia ignorar.
— Isso o quê? Me transformar em uma versão barata de alguém que não faço a menor ideia de quem seja, hm?
Tobi se encolheu ligeiramente ao ouvir isso, sua mão se movendo instintivamente em direção à máscara, como se quisesse se esconder ainda mais.
— Eu... eu não queria que isso fosse desse jeito. Eu nunca quis…
— Não minta para mim! — Deidara o cortou, suas emoções finalmente explodiram. — Da forma que você fala, parece que sabe de algo, ou que deixou isso tudo acontecer!
— Senpai… Não é assim. — Tobi se levantou, sua postura mudando, quase como uma sombra de sua verdadeira identidade se revelando. Ele não tentou negar de imediato e isso irritou o loiro ainda mais, fazendo-o se levantar também, separados pelo espaço da sala.
— Não? Então me diga. O que é, então? Porque, por mais que eu odeie admitir, eu comecei a acreditar que talvez houvesse algo entre nós. Que talvez o Tobi irritante fosse apenas uma fachada, e que, debaixo disso, havia alguém que realmente se importava comigo.
A respiração de Tobi ficou pesada, e ele deu um passo em direção a Deidara, seu tom mudando, quase sério demais para a personalidade boba que ele normalmente exibia.
— Eu… Eu me importo, Deidara. Muito mais do que você imagina. — o loiro nunca foi chamado apenas pelo nome, somente com o “Senpai” e ultimamente por “DeiDei”. Aquilo o fez tremer inteiro.
Os dois ficaram parados, tão próximos agora que Deidara podia sentir a presença intensa de Tobi. Ele queria afastá-lo, mas não conseguiu. Algo nele o mantinha ali, preso naquele momento. Seus corações batiam acelerados, e, sem nem perceber, as emoções que estavam sendo contidas transbordaram.
Tobi deu um passo mais ousado, levando a mão ao rosto de Deidara, traçando a linha suave de sua mandíbula feminina com os dedos enluvados. Deidara deveria ter afastado aquela mão. Ele sabia disso. Mas, em vez disso, fechou os olhos, sentindo aquela proximidade, a intensidade do toque.
— Eu… eu não posso mais fingir — Tobi murmurou, sua voz oscilando entre a infantilidade e uma dor mais profunda. — Não posso continuar assim, Deidara. Eu sinto... Eu sinto muito mais do que posso dizer.
O loiro não entendeu completamente aquela fala confusa e parecia que nem o outro sabia dizer ao que se referia. Cada um lutava contra sua confusão interna, seus medos e receios diante do que sentiam em relação ao outro.
Antes que percebesse, os lábios de Tobi se aproximaram dos dele, e Deidara sentiu o beijo. Um toque suave, mas carregado de emoção, de um desejo reprimido por semanas. Era como se ambos estivessem se segurando, mas agora, finalmente se permitiam ceder, mesmo que por um instante.
A máscara não havia sido retirada completamente, estava apenas puxada de lado, mas Deidara mal conseguia identificar qualquer detalhe. O beijo se aprofundou e apenas fechou os olhos para aproveitar a sensação. Os abriu quando sentiu o seu colchão abaixo de si e Tobi pairando sob seu corpo. As mãos ainda enluvadas subiam e desciam pela lateral do seu corpo, enquanto sentia beijos por seu rosto, mandíbula e pescoço. Não conseguia pensar em nada, desejava apenas mais.
No entanto, ao sentir sua blusa ser levantada e uma mão sem luvas tocar sua pele, algo dentro de Deidara quebrou. Ele empurrou Tobi, fazendo-o parar, respirando pesado, o coração acelerado. Seus olhos estavam ardendo de raiva e tristeza.
— Não... Não assim, hm.
— DeiDei? — Tobi ficou imóvel, chocado e confuso.
— Eu não posso fazer isso! Não desse jeito! Não quando eu nem sou eu mesmo. Não quando estou preso nessa maldita forma, hm! — Deidara gritou, sentindo as lágrimas arderem em seus olhos. Ele se afastou, abraçando as pernas, em uma tentativa de se proteger da vulnerabilidade que sentia naquele momento.
Tobi permaneceu em silêncio, as palavras morrendo em sua garganta. Ele sabia que Deidara estava certo. Mas o que ele poderia dizer? Tudo que ele havia escondido, tudo que havia fingido, estava desmoronando. Ele queria Deidara, mas também queria Rin. E esse desejo insano havia nublado seu julgamento.
— Você quer a mim assim, nessa forma ou ao verdadeiro eu? — Tobi não tinha resposta para aquela pergunta e para o ninja da Pedra, era nítida a confusão e indecisão.
Tobi se aproximou novamente, mas Deidara ergueu a mão, colocando-a sob o peito do homem, impedindo-o de se aproximar mais.
— Não. Não faça isso. Não quando você não pode nem me chamar pelo meu nome, hm. Você me chama de DeiDei porque não consegue me chamar de Deidara e quando fala o nome Rin, é como se fosse importante para você. Então… não…
As palavras pesaram sobre Tobi como uma montanha. Ele estava perdido entre os fantasmas de seu passado e o presente. E Deidara, preso no meio disso, não conseguia mais ver onde ele terminava e onde aquela forma feminina começava.
Deidara deitou-se e virou as costas, incapaz de olhar para Tobi por mais tempo.
— Quando eu for eu mesmo de novo, talvez a gente possa conversar, hm. Mas até lá… não me procure.
O mascarado queria dizer que nada daquilo importava, que ele queria estar com Deidara, mas não saiu, porque nem ele próprio sabia se era verdade. E com isso, ele saiu, deixando o mais novo sozinho com o silêncio e carregando consigo arrependimentos que ele nunca poderia desfazer.
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Na manhã seguinte, Deidara não encontrou Tobi em lugar algum e ficou aliviado, não precisaria lidar com tantas emoções, que parecia que aumentaria ainda mais quando viu Itachi e Hidan e o Uchiha parecia sério, muito mais sério que o costume. Ele havia descoberto algo.
— Vamos a uma das salas afastadas. Temos muito que conversar, Deidara. Espero que esteja preparado. — Itachi informou e soube que o amigo estava tudo, menos preparado para o que ouviria.
Itachi, Deidara e Hidan estavam reunidos em uma das salas mais discretas da Akatsuki. A luz fraca das tochas projetava sombras nas paredes de pedra enquanto o silêncio pairava no ar. Deidara estava sentado em um dos sofás que havia ali, parecendo mais desgastado do que de costume. Hidan, embora geralmente estivesse cheio de provocações, sentia o peso da situação, mas não podia resistir a um último comentário.
— Olha só, Deidara... Parece que você pegou gosto pelo vestido, hein? — Hidan brincou, com um sorriso malicioso, sabendo que o amigo nunca tinha colocado um vestido, não que tenham visto, mas não precisavam saber que Konan o vestiu como uma boneca algumas vezes.
Deidara revirou os olhos, mas não mordeu a isca. Não dessa vez. Hidan notou a ausência da resposta habitual e rapidamente entendeu que o amigo não estava no tom certo para piadas. Ele se endireitou na cadeira, cruzando os braços, enquanto o clima se tornava visivelmente mais sério.
Itachi, como sempre, estava aparentemente calmo, mal sabendo os outros dois que ele havia tido uma discussão com Tobi assim que chegou na noite passada. Confrontando o mascarado sobre o que descobriu e não recebendo nenhuma resposta, apenas um sumiço através daquele jutsu. Porém, seus olhos negros estavam fixos em Deidara, observando-o com um misto de compreensão e análise. Ele limpou a garganta, atraindo a atenção dos outros dois. Era o momento de esclarecer tudo, sem rodeios.
— Eu fiz minhas pesquisas — Itachi começou, sua voz suave e precisa. — Esse jutsu que te afetou, Deidara, é uma variação de um antigo ninjutsu de ilusão corporal, mas foi aprimorado para atingir não apenas a aparência física, mas a psique do alvo. É chamado de Jutsu de Reflexão da Alma, porque reflete os desejos mais profundos de quem o lança sobre o alvo.
Deidara o observava em silêncio, apertando as mãos sobre os joelhos. Itachi continuou, seu olhar profundo e calmo, analisando cada movimento do outro, caso precisasse parar sua explicação em algum momento.
— Quem quer que tenha lançado esse jutsu, fez isso com um propósito claro. Não foi algo aleatório. O motivo pelo qual você assumiu a forma de uma garota — e especificamente essa aparência feminina — é porque o jutsu foi sintonizado com as memórias mais fortes da pessoa mais próxima de você naquele momento.
— E essa pessoa foi o Tobi, hm… — Deidara completou, com uma voz amarga. Sua mente fervilhava com raiva e frustração, enquanto as peças se encaixavam e o nome que havia ouvido, fazia sentido. — Então, por isso eu acabei parecendo... com ela? Com uma maldita de nome Rin!
Itachi assentiu, temendo o que aquela descoberta faria com o emocional do amigo.
— Sim. A mente de Tobi foi a chave. O jutsu capturou os sentimentos mais intensos que ele havia guardado. Sua transformação foi baseada na lembrança dessa Rin... Alguém que ele perdeu e, ao que parece, nunca conseguiu superar.
Hidan, que até então estava em silêncio, deixou escapar um suspiro cínico, tentando aliviar a tensão.
— Bem, isso explica porque o cara estava tão estranho ultimamente... Mas, sério, transformar o Deidara em sua antiga paixão? Isso é um pouco… mórbido, até para os padrões da Akatsuki.
Deidara não respondeu imediatamente. Seus punhos se apertaram até os nós dos dedos ficarem brancos, e ele desviou o olhar, tentando controlar a raiva e a mágoa que o consumiam. Finalmente, ele quebrou o silêncio.
— Quase… quase fui até o fim com ele, ontem… — sua voz saiu tensa, carregada de uma mistura de raiva e decepção. Hidan e Itachi o olharam com surpresa, especialmente pelo peso de suas palavras. Deidara continuou, agora encarando o chão, sem coragem de encarar os amigos diretamente. — Passamos tanto tempo juntos nessas últimas semanas. Ele estava diferente, mais... próximo. Comecei a acreditar que, talvez, mesmo com o jeito idiota dele, ele sentisse alguma coisa de verdade por mim, hm — a primeira lágrima escorreu pelos olhos castanhos, que pareciam lentamente querer voltar a ficar azuis.
Hidan tentou intervir com uma piada, mas desistiu ao ver o olhar sombrio de Deidara. Ele finalmente percebeu a gravidade do que o loiro estava dizendo.
— Estávamos sozinhos, no meio da noite… quase... mas algo me segurou. No último segundo, eu não consegui fazer aquilo. Não queria que fosse assim. Não queria que fosse enquanto eu estivesse... dessa forma — gesticulou para si, se referindo à sua aparência atual. — Queria que fosse como eu mesmo, como Deidara.
Itachi manteve seu silêncio respeitoso, deixando que Deidara desabafasse.
— E agora... Agora eu sei que tudo foi uma mentira, hm. Ele poderia ter desfeito isso? Já que o alvo era ele?
Itachi desviou o olhar para Hidan por um momento e aquela foi a resposta que Deidara precisava.
— Ele podia ter desfeito esse maldito jutsu desde o começo? Ele sabia o que estava acontecendo? Ele tinha o poder de reverter isso, mas escolheu me manter assim. Escolheu... me usar porque eu parecia com ela. Como se eu fosse um substituto para a Rin dele. Não porque ele sentisse algo por mim... mas porque eu parecia com o fantasma do passado dele, hm.
A voz de Deidara quebrou ao final, a raiva e a dor claramente visíveis em suas palavras. Ele sentia-se traído de uma maneira que jamais imaginou. Havia confiado, se permitido acreditar que talvez houvesse algo além da fachada irritante de Tobi. Mas no final, tudo parecia uma grande ilusão.
Hidan, surpreendentemente, não fez nenhuma piada dessa vez. Ele suspirou, coçando a nuca, sem saber exatamente o que dizer.
— Merda... Isso é realmente complicado, Dei. Nunca achei que o Tobi fosse assim... mas, por outro lado, o cara sempre foi um pouco perturbado.
Itachi finalmente interveio, tentando acalmar o amigo e não parecer que estava defendendo as atitudes do mascarado.
— Você foi pego em algo que não deveria ter acontecido. Tobi agiu de forma egoísta, sim. Ele permitiu que suas emoções antigas o cegasse. Mas isso não significa que o que você sentiu, ou ainda sente, é uma mentira, Deidara. Seus sentimentos são reais, e é isso que importa.
Deidara levantou os olhos para Itachi, seus pensamentos eram um turbilhão de confusão e dor.
— Mas isso não muda o fato de que ele mentiu para mim, ele me usou!
Itachi assentiu.
— Não, não muda. Mas agora você sabe a verdade. O que você faz com essa verdade… é sua escolha.
O silêncio se instalou mais uma vez na sala, o som das faíscas da argila de Deidara se misturando com a respiração pesada de todos. Hidan, pela primeira vez em muito tempo, manteve a boca fechada, sentindo o peso da situação. Sem dizer nada, o devoto de Jashin e o usuário do Sharingan, sentaram-se ao lado do amigo e o abraçaram, enquanto ele se continha, não se permitindo, naquele momento, derramar uma única lágrima, sabia que o caminho de Deidara a partir dali seria complicado.
Deidara fechou os olhos, tentando organizar seus pensamentos e com isso, mesmo contra vontade, finas lágrimas escaparam pelos olhos agora castanhos. Ele estava perdido em uma confusão de emoções, mas uma coisa era certa: Ele não seria mais o peão nos jogos de Tobi.
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Levou mais alguns dias até que Deidara reunisse coragem para enfrentar Tobi, ele precisava daquele tempo ou acabaria falando coisas que se arrependeria depois. Ele ainda estava furioso com o outro. Sentia-se traído, usado como objeto para satisfazer um desejo estranho, ou aplacar uma saudade que não cabia no peito. Não sabia o que pensar.
Ele pensou que poderia adiar mais aquilo, mas após uma leve pressão de Itachi e de Hidan, dizendo que a espera só pioraria as coisas, os dois se encontravam novamente sozinhos.
A lua cheia brilhava intensamente, lançando sombras compridas dentro do esconderijo da Akatsuki. O ar estava tenso, quase sufocante. Tobi permanecia em um canto escuro da sala, seus olhos fixos em Deidara, que estava à beira do colapso emocional.
O mais novo o encarava sem piscar, chegando a deixar o mascarado desconcertado. Aquele olhar era tão diferente do de Rin, mesmo que ele tivesse a sua aparência. Aquele olhar, era do próprio Deidara e tinha uma fúria intensa. As últimas semanas, e especialmente os últimos dias, haviam sido uma tortura silenciosa, cheia de confusão e emoções que ele não conseguia controlar. Mas agora, a verdade estava à espreita, e ele não podia mais esperar.
— Eu sei que você pode desfazer isso, hm — Deidara disse com os punhos cerrados. — Você podia ter revertido tudo desde o início, não podia? Mas escolheu não fazer isso. — Sua voz estava cheia de raiva, mas também de uma tristeza profunda.
Tobi, parado à distância, parcialmente oculto pelas sombras, permaneceu em silêncio. Suas mãos tremiam levemente. Ele sabia que este confronto era inevitável, mas não estava pronto. Não estava pronto para encarar o que havia feito, ou por que havia feito.
— Por quê?! — Deidara gritou, dando um passo à frente. — Por que você me manteve assim? Porque eu me pareço com ela, não é? Com a Rin!
O nome ecoou pela sala, e Obito se encolheu, como se cada sílaba fosse uma kunai cravando em seu peito. Ele queria negar, dizer algo que pudesse aliviar a dor de Deidara, mas a verdade o impedia.
— Eu... eu não queria…
— Mentira! — Deidara cortou. — Você queria, sim! Você quis que eu ficasse assim porque te lembrava dela. Mas eu não sou a Rin! Nunca serei! — Seus olhos estavam brilhando de raiva e frustração, e ele sentiu a dor de ter sido manipulado, de ter se aproximado de alguém que o via apenas como uma sombra do passado.
Obito apertou as mãos em punhos, a máscara ocultando sua expressão, mas não a culpa em seus olhos.
— Eu... eu sei que você não é ela — ele murmurou, sua voz trêmula. — Mas você… você parecia tanto com ela. Eu pensei que…
Deidara deu um passo à frente, seu rosto a poucos centímetros da máscara de Tobi, sua voz baixa e carregada de dor.
— Você não pensou, hm. Você me usou. Eu pensei que talvez... talvez você se importasse comigo de verdade. Mas tudo o que você queria era reviver o passado.
Tobi hesitou, seu coração em conflito. Ele sabia que Deidara estava certo. Ele tinha mantido o jutsu porque não conseguia lidar com a perda de Rin, com a culpa e o desejo de tê-la de volta, nem que fosse em uma versão distorcida. Mas o que ele não havia previsto era que, ao manter Deidara nessa forma, ele também havia desenvolvido sentimentos verdadeiros pelo loiro, sentimentos que estavam além de sua obsessão por Rin.
— Deidara… — o mascarado sussurrou, sentindo as palavras saírem com dificuldade. — Eu... eu não queria te magoar.
— Você já fez isso — Deidara respondeu, sua voz cortante como uma lâmina. — E agora, o que você vai fazer? Me manter assim para sempre? Porque se continuar, vai acabar perdendo os dois.
Tobi ficou em silêncio por um momento, e então respondeu com a voz baixa, quase culpada.
— Eu... Não queria perder você também. Durante esse tempo, foi como se ela estivesse de volta.
Deidara sentiu o peito apertar. Durante semanas, ele acreditou que havia algo genuíno acontecendo entre eles, algo que fosse além das missões e da camaradagem forçada. Mas, no final, ele era apenas uma sombra do passado de Tobi, um substituto para um amor perdido.
— Você me usou. — Sua voz agora estava fria. — Me fez acreditar que eu era importante, mas no fim, eu não era nada além de um reflexo de alguém que já morreu.
Tobi deu um passo à frente, tentando se explicar.
— Deidara, não é assim. Eu…
— Não importa o que você sente, Tobi. Eu vou encontrar um jeito de me livrar dessa maldição, sozinho se for preciso. Mas nunca mais confunda seus sentimentos por ela com os que têm por mim, se é que algum dia foram reais.
Tobi abriu a boca para falar, mas as palavras não saíram. O silêncio entre eles era ensurdecedor. Deidara balançou a cabeça, a dor em seu peito tornando difícil até respirar.
— Eu não sou a Rin. E eu nunca serei.
Tobi olhou para Deidara, sentindo o peso da escolha que estava à sua frente. Rin era seu passado, uma ferida aberta que nunca havia cicatrizado. Mas Deidara... Deidara era alguém que o fazia sentir vivo de novo, alguém que o desafiava, o fazia rir, e o fazia questionar sua própria escuridão. O mascarado sabia que, se continuasse se apegando ao fantasma de Rin, perderia Deidara para sempre.
— Eu... eu não quero perder você, Deidara — o mascarado confessou por fim, sua voz carregada de uma sinceridade que raramente deixava transparecer. — Mas eu também não sei como deixar o passado para trás.
Deidara o olhou fixamente, seus olhos azuis queimando com uma mistura de raiva e mágoa.
— Então decida, porra! Ou você continua se agarrando ao passado, a essa memória da Rin, ou você me deixa ser eu mesmo. Mas eu não vou ficar preso nesse meio-termo. Não quando eu...
Ele parou, as palavras engasgando na garganta, a verdade que não queria admitir lutando para escapar.
— Não quando eu... sinto algo por você, hm. Mas por quem você é, Tobi, seja lá o que você for…Eu me apaixonei por alguém que se esconde atrás de uma máscara e que age como um idiota a maior parte do tempo.
O silêncio que seguiu foi pesado, denso. Obito sentiu seu coração acelerar, uma mistura de choque e culpa. Ele sabia que o que Deidara estava dizendo era verdade, que havia sido egoísta, permitindo que o loiro se aproximasse, enquanto o mantinha preso à sua própria dor e obsessão.
O mascarado levantou a mão lentamente, retirando a máscara apenas o suficiente para revelar seus olhos. O Sharingan brilhou por um instante, mas agora não era uma arma de destruição, e sim uma ferramenta para libertar Deidara. Com uma série de selos, Obito murmurou palavras baixas, concentrando seu chakra.
Deidara já se encontrava muito abalado para se dar conta, ou perceber que o outro era um Uchiha, pensaria naquilo depois, quando uma parte dos seus problemas se resolvesse.
A energia que circulava ao redor de Deidara começou a mudar, o fluxo de chakra retornando ao seu estado original. Em poucos instantes, a transformação começou a se desfazer; os cabelos castanhos voltavam lentamente ao loiro, brilhante como o sol. Os olhos castanhos voltaram ao azul que agora tudo que Tobi queria era se perder neles. Por último, seu corpo voltou ao masculino, todas as partes, e o semblante furioso e confuso.
Deidara soltou um suspiro pesado, olhando para suas próprias mãos, finalmente sendo ele mesmo de novo.
— Era só isso, hm? Você podia ter feito isso desde o começo.
Tobi abaixou a cabeça, sem palavras. Ele sabia que havia perdido muito ao se prender ao passado por tanto tempo. Mas agora, ele precisava decidir. Poderia contar a Deidara toda a verdade? Sobre seu plano, sobre quem ele realmente era e o que pretendia fazer? Ou poderia simplesmente deixar Deidara ir, sem revelar mais nada?
Finalmente, ele levantou os olhos e falou, sua voz grave, a voz de Obito, carregada de sinceridade que nunca pensou em ter com alguém.
— Deidara… eu vou te contar tudo. Sobre o que fiz. Sobre quem eu sou. E sobre o que eu sinto. — As palavras pesavam em sua garganta, mas ele sabia que era a única maneira de talvez, só talvez, manter Deidara ao seu lado.
Deidara o encarou por um longo momento, ainda confuso e magoado, mas havia algo mais ali — uma esperança tímida, um desejo de que, talvez, as coisas pudessem ser diferentes.
— Então, começa a falar, hm — ele murmurou, cruzando os braços. — Porque dessa vez, eu vou te escutar. Mas não espere que seja fácil. Pode começar explicando esse Sharingan.
Obito assentiu, sabendo que estava à beira de perder tudo ou, quem sabe, finalmente encontrar algo novo. Algo além do passado. Algo real.
— Me chamo Obito Uchiha e essa é a minha história…