Enfeitiçado pelo Samba

Naruto (Anime & Manga)
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Enfeitiçado pelo Samba
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Summary
Quando Yamato concordou em visitar o Brasil com Kakashi, não esperava se ver encantado por tudo! Desde as belezas naturais, o clima, a culinária, assim como os mais variados ritmos e danças, mas nada o encantou tanto quanto o samba. Não o samba de carnaval, mas o samba de gafieira.Pensou que nada poderia o surpreender, mas quando a viu, naquela apresentação, dançando como se fosse uma verdadeira deusa, viu-se tentado a adotar as terras tupiniquins como sua morada.Só havia alguns pequenos empecilhos: não sabia quem era a dançarina e o mais importante, seu parceiro, o qual parecia ter uma química incrível e julgou ser muito mais que isso.
Note
Chegando com mais uma week do @ACNProject cheia de crackshipps e estilos de danças.Hoje começamos com o Brasil e nada melhor que o Samba para representá-lo.Avaliação do plot pelo lindo @MilPedacosBetagem pela aprendiz do Tobirama e que faz um excelente trabalho @Se-riEspero que gostem, coloquem o samba e boa leitura!

Eu quero fazer milhões de sambas pensando em nós.

Arthur Vinih


A cena a sua frente o deixava totalmente sem palavras diante do molejo dos dançarinos. Yamato já havia visto diversas danças desde que colocou os pés na cidade do Rio de Janeiro, a qual havia sido o destino das férias junto ao amigo, Kakashi. Mas nenhuma delas o hipnotizou como aquela que era apresentada no bairro da Lapa.

— Como se chama mesmo? — Yamato perguntou aos amigos brasileiros que haviam feito ali, Kotetsu e Izumo, que riam pela forma que o estrangeiro encarava a dança.

— Samba de gafieira — respondeu Izumo.

— Esse estilo de dança, como pode ver, é conhecido principalmente pelo jeito malandro do parceiro, do dançarino. Ele interpreta um homem boa pinta, charmoso, galanteador, sempre com seu característico terno branco, sapatos brancos e pretos e camisa vermelha e branca — explicou Kotetsu. — Durante muito tempo, o samba de gafieira não foi visto com bons olhos, pois suas apresentações aconteciam em cabarés e sua dança era considerada sensual demais para os padrões da época, deixando os conservadores… espantados, para dizer o mínimo. Era uma afronta — completou.

Yamato lembrou das breves explicações que recebeu e agradeceu por aquilo ter mudado ao longo dos anos e por aquele estilo hoje ser considerado uma dança elegante e técnica. Contudo, a malandragem, sensualidade e molejo nos quadris dos dançarinos mantém-se como característica da dança e fazem com que seja impossível desviar o olhar. Durante o tempo em que ele e Kakashi ficaram na cidade do Rio de Janeiro, praticamente todos os dias eles iam assistir àquela apresentação. Para o Hatake, a situação era mais complicada, pois segundo Yamato, ele babava pelo dançarino, mas pela forma como ele dançava e cortejava a sua parceira, ele era tudo, menos gay. Se fosse Bi, seria uma vitória.

Naquela noite, havia algo diferente no ar, talvez fosse porque seria a última noite de Kakashi e Yamato na Cidade Maravilhosa, no Brasil. O salão de dança estava iluminado por luzes quentes, e o som da orquestra enchia o espaço com o ritmo pulsante do samba de gafieira. O ar estava repleto de energia e sorrisos, enquanto casais moviam-se graciosamente pelo salão, desenhando passos e giros que pareciam desafiar a gravidade. Yamato observava a cena com admiração e um toque de melancolia. Ele tinha vindo ao Brasil em busca de inspiração e aventura, mas encontrou algo muito mais profundo: o encanto de uma mulher com um talento que o deixava sem fôlego.

Com o passar dos dias, descobriu que a bela dançarina se chamava Tenten e era a rainha do salão. Com seus cabelos longos que se moviam como uma cortina de seda ao ritmo da música e um sorriso que iluminava a sala, ela conduzia os passos com graça e uma paixão indomável. Seu parceiro era Iruka, um homem de rosto gentil e olhar cálido, com quem compartilhava uma química invejável. Juntos, pareciam encenar uma dança de pura sedução, algo que deixava Yamato hipnotizado, mas também convencido de que nunca teria chance de sequer se aproximar dela. 

“Ela deve ser dele”, pensava Yamato, observando o modo como Iruka segurava a cintura de Tenten e como ela se aninhava em seus braços nos momentos mais intensos da música. O estrangeiro sabia que era tolice nutrir sentimentos por alguém que ele mal conhecia e que parecia comprometida, mas o coração, rebelde como as batidas da gafieira, não lhe dava ouvidos.

Era sua última noite, não deveria ficar remoendo sua paixonite, deveria aproveitar e desfrutar das maravilhas oferecidas. Mas, no fundo, também desejava gravar aquela imagem na memória antes de retornar para casa. A música que ecoava pelo salão era a sua favorita, e quando Tenten entrou na pista, o mundo pareceu parar por um momento. Com o vestido vermelho rodopiando e um riso contagiante, ela dançou com a alma, como se não houvesse amanhã.

Então, algo inesperado aconteceu. Quando a música fez uma pausa e a atenção do salão se dispersou, Tenten caminhou em direção a Yamato, seus olhos castanhos brilhando de curiosidade e uma pitada de atrevimento.

— Você tem assistido todas as noites, mas nunca veio dançar. Por que isso? — perguntou ela, a voz doce carregada de uma confiança típica dos brasileiros.

— Como deve perceber, sou um estrangeiro — falou com seu português extremamente carregado e enrolado, mas parecia que ela o entendia e sua risada o deixou um pouco envergonhado.

— Sim, notei. Você e seu amigo não são nada discretos e destoam totalmente do ambiente.

— E também, não seria educado me aproximar de uma dama comprometida — declarou, e a jovem o olhou intrigada.

— Comprometida? Não sou comprometida.

Yamato piscou, surpreso, antes de gaguejar uma resposta. — Eu… eu achei que… você e Iruka… — Ele indicou o parceiro dela com um gesto hesitante. Havia descoberto o nome dos dois, só não conseguiu a confirmação se estavam juntos, no entanto, para Yamato e para Kakashi também — que tentava parecer alheio à conversa e não interessado na resposta de Tenten — os dois realmente pareciam um casal.

Tenten soltou uma gargalhada leve, uma risada que era música por si só. 

— Iruka é meu irmão. As pessoas sempre presumem coisas erradas devido à nossa dança, mas é só isso: dança. — Seus olhos cintilaram. — Como se chama, gringo?

— Yamato Sarutobi. Se soubesse disso, não teria hesitado em me aproximar e perguntar diretamente só na minha última noite aqui. — As expressões dos dois caíram, visivelmente chateados com aquilo.

Tenten havia o notado desde o primeiro dia e sentia o olhar sobre si, mas todas as vezes que tentava o encontrar após as apresentações, ele parecia ter sumido. Naquele dia, havia falado com o irmão que iria conhecer o charmoso estrangeiro que a observava dançar todas as noites.

—  Esta é sua última noite, não é? Então, vamos fazê-la valer a pena — garantiu ela e antes que pudesse continuar, ouviram Kakashi.

— Antes dos pombinhos saírem, poderia me dizer se seu irmão… se ele… 

A garota estreitou os olhos na direção do homem de fios brancos e depois para o irmão, que conversava com os pais, tentando não ser notado, pois observava a interação de Tenten. Ele não tinha aquela coragem. Sua malandragem era unicamente usada na pista de danças, fora dela, era extremamente tímido.

— Se o fizer sofrer, mesmo que por alguns segundos, ninguém nunca irá encontrar nem mesmo um fio desse seu cabelo branco, gringo!

— A última coisa que desejo é fazer um anjo como aquele sofrer. Agora se me dão licença…

— Ah, e cuidado com nossos pais. Um é assassino e outro sabe muito bem como criar um álibi — gritou Tenten enquanto Kakashi se afastava, ignorando aquela advertência.

Yamato riu, sabendo que o amigo amava um perigo e quando se interessava por alguém, nada o fazia desistir. Isso quando acontecia, pois era raro vê-lo se interessar por alguém. Logo voltou sua atenção para a mulher ao seu lado, incapaz de conter o sorriso que surgia em seus lábios.

— Agora que estamos sós, venha — disse ela, estendendo a mão. — Deixe-me mostrar o que você tem observado de longe.

Ele não hesitou, adorava desafios, fosse ele escalar uma montanha ou arriscar passos de uma dança que nunca havia visto ou ouvido, em um país totalmente diferente do seu. Levantou-se, sentindo o coração disparar com a adrenalina e a emoção. A música recomeçou, e Tenten guiou Yamato para o centro do salão. Aquilo atraiu a atenção de todos, pois nunca haviam visto a dançarina dançar com alguém que não fosse Iruka, até mesmo os pais, Madara e Hashirama, a encaravam boquiabertos.

— É sério que dois gringos de meia-tigela conquistaram nossos filhos? De uma vez? Por Deus, eu vou ter um treco, Hashirama. Ou melhor, vou cometer um crime internacional — garantiu Madara, sendo segurado pelo marido, que apenas ria do ciúme exagerado do companheiro. 

A primeira troca de passos foi tímida, mas logo Yamato sentiu-se envolvido pela energia de Tenten. Seus movimentos fluíam como se tivessem dançado juntos a vida toda, e a proximidade trouxe uma intimidade que ele jamais esperava. Claro que ainda tropeçava nos próprios pés em alguns momentos, arrancando risos da mulher, que tinha paciência para lhe explicar novamente os movimentos.

Quando encontraram o ritmo, ele se tornou dramático, preciso e cheio de uma paixão que não era vista entre Tenten e Iruka, era algo totalmente diferente do que os espectadores estavam acostumados a acompanhar naquele lugar. A alegria, a intensidade e o flerte entre os dois eram palpáveis, quase descarados.

As luzes suaves e as cores quentes traziam toda uma atmosfera intimista e acolhedora, como se existissem somente os dois naquele lugar. A banda que tocava pareceu notar a tensão entre os dois e começou a tocar uma música com acordes suaves dos instrumentos de percussão e o violão bem marcado. O som era vibrante, a batida envolvente, fazendo o coração de ambos, e dos que os assistiam, pulsar no ritmo da música. A música parecia ter sido escolhida de propósito, pois foi “Convite a Gafieira, de Charlie Dief”

 

Vamos dançar

Piston tirou a surdina

Pegue seu par

A noite é uma criança

É universo gafieira

A convidar...

Pra bailar...

 

Yamato e Tenten moviam-se com uma postura confiante e olhares focados nos passos. Por mais que o estrangeiro não usasse roupas características, nada deixava a apresentação menos bela. Já a mulher, com seu vestido vermelho esvoaçante, acima dos joelhos, adornado com detalhes em paetês, brilhava sob a luz. A troca de olhares mostrava uma cumplicidade, como se aquela não fosse a primeira vez que dançavam juntos, e era clara a provocação entre os dois. 

Yamato prestou atenção nos passos durante todos os dias que esteve ali e na breve explicação da sua parceira. Ele começou a conduzi-la com precisão, marcando com um gingado suave, para sentir a música, e Tenten o acompanhava, respondendo com um movimento de quadril que deixava a dança fluida. 

 

Vamos cantar

Pra espantar a tristeza

Extravasar

E celebrar essa noite

É universo gafieira

A convidar

Vem dançar...

 

Os corpos se moviam para frente e para trás, mantendo-se próximos, quase colados, mas sem perder a elegância. As trocas de pesos dos pés eram rápidas e precisas, dando a sensação de um jogo de vaivém.

— Você dança muito bem para um gringo — elogiou Tenten.

— Ser um dançarino semi-aposentado ajuda?

— Dançarino? — A surpresa na voz dela arrancou uma risada sincera do homem.

— Sim, de danças mais clássicas do meu país, mas sempre fui apaixonado pelo Brasil. Apenas nunca tive a oportunidade de dançar. E também sou um ótimo observador e aprendo rápido, ainda mais com uma professora tão perspicaz.

Yamato avançou com um passo decidido, prendendo a perna de Tenten com a sua própria, em um movimento conhecido como “gancho”. Um movimento ousado, que a deixou sem ar por alguns instantes. Com um toque leve, a jovem foi impulsionada para um saída lateral, fazendo com que seu vestido flutuasse, trazendo um ar dramático para a dança. O sorriso no rosto de Tenten era sutil, mas a troca de olhares, a cada minuto, se tornava mais intensa.

Enquanto giravam, a perna da dançarina deslizava de uma forma quase teatral, acompanhando o ritmo da música, cortando o ar em uma linha precisa , logo em seguida, dessa vez, foi Yamato quem ficou sem fôlego com aquilo. Eles continuavam a girar lentamente, trocando olhares desafiadores, como se testasse os limites um do outro. Como se fosse um jogo de poder, de sedução, tentando ver quem cairia primeiros nos encantos, naquela sedução feita através dos movimentos

Durante uma pausa no ritmo da música, o casal interrompeu os passos, fingindo conversar por meio de expressões, mostrando que aquilo estava longe de ser uma representação, pois cada gesto era carregado de uma malícia e um desejo que fazia até mesmo Madara encarar os dois boquiabertos. 

— Esse gringo está perdido nas mãos da Tenten. Conheço a minha princesa e não sei se estou feliz com isso — reclamou o homem com desgosto.

— Ela está o seduzindo, o atraindo para sua teia, como uma viúva-negra.

— Exatamente como fez comigo, Senju, e olha onde estamos. Casados, com dois filhos e prestes a ver um estrangeiro levar nossa pequena embora — resmungou Madara. — Espero que você não dance também, gringo — apontou para Kakashi, que apenas conversava com Iruka, tentando convencê-lo a irem para outro lugar.

— Não se preocupe, para dança, tenho dois pés esquerdos. Minha área, é a gastronomia.

— Oh, não, vai conquistar meu filhote pelo estômago. Hashirama, faça algo ou não respondo por mim.

Hashirama apenas riu, abraçando o marido, e voltando sua atenção para a pista de dança.

Yamato encarava Tenten com a sobrancelha arqueada, alheio ao olhar mortal que era lançado para si e sorriu com ar galante que a fez suspirar, meneando a cabeça levemente e soltando uma piscadela para ele. A pausa durou apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para criar expectativas antes de retornar aos movimentos.

A jovem se afastou, caminhando de forma sensual, e o outro sabia o que tinha que fazer. Yamato a seguiu em uma perseguição simulada, a troca de olhares parecia se intensificar a cada passo, cheio de um desafio que gostaria de superar. Quando ele a alcançou, a girou rapidamente e quando os olhos se encontraram, pela incontável vez naquela noite, aquele breve segundo pareceu uma eternidade.

 

Com exuberância a dama encanta a cada girar e...

E com elegância o homem conduz passo a passo a marcar lá...

A pista reluz feito um chão de estrelas no céu a espelhar e a vibrar...

Com os metais a soprar vai...

Vestido, sandálias

Um terno de linho

Um beijo, um chamego

Um simples carinho

Amigos, amantes

Casais e sozinhos

A dança e o amor

Estão no ar...

 

A música se aproximava do final e os giros pareciam se tornar mais complexos, mas nenhum deles se perdia. A tensão e os receios iniciais se dissiparam após as primeiras voltas na pista. Yamato sabia que a finalização da apresentação tinha que ser tão dramática quanto toda a execução e por isso, segurou Tenten pela cintura, a inclinando para trás, enquanto ela mantinha a perna estendida e o rosto virado para o público, se deparando com os pais os encarando num misto de admiração e ciúmes.  Assim que a música terminou, com uma batida forte, os dois estavam com os rostos próximos, perto o suficiente para sentirem a respiração um do outro, mantendo a troca de olhares intensa que esteve presente durante toda a apresentação. 

Porém, quando o salão foi tomado por aplausos entusiasmados, a pequena bolha se desfez e o equilíbrio que mantinham se rompeu. Yamato e Tenten acabaram indo ao chão e ao invés de ficarem envergonhados, eles começaram a rir da situação, sendo acompanhados pelos demais. 

O homem se levantou, ainda rindo e ajudou a dançarina a se levantar, ambos com lágrimas devido às risadas, mas nem mesmo isso, pareceu afetar os presentes, pois estavam impactados demais pela energia e química do casal.

— Eu preciso de uma bebida e depois, se a senhorita me conceder a honra, gostaria de dançar mais uma vez contigo.

— Eu adoraria. E quanto medo você tem da morte? — perguntou Tenten, com um sorriso travesso e Yamato entendeu o que ela queria dizer, recordando-se da fala ao amigo.

— Para ficar contigo? Nenhum.

— Que bom, pois isso pode ser o primeiro e o último beijo — declarou antes de se aproximar, entrelaçando seus braços no pescoço do homem, que colocou as mãos em sua cintura.

Se estivessem prestando atenção ao redor, teriam visto Hashirama segurar Madara, que tentava se aproximar de ambos para separá-los. Mas estavam ocupados demais sentindo o sabor da boca um do outro.

Mesmo com a pequena cena do pai de Tenten, a noite se desdobrou em risos, giros e sussurros ditos em confidência, e quando a última música tocou, Yamato sabia que seu coração ficaria para sempre no Brasil. 

Claro que ele prometeu voltar, pois nunca sentiu nada parecido, seja na dança, ou em seu coração. Tenten o conquistou lentamente e a cada interação, seu coração batia mais forte, no ritmo do samba. 

Yamato cumpriu tantas vezes a promessa, que após muitas idas e vindas e conquistando o coração não só da bela dançarina, mas dos seus pais, ele finalmente abandonou seu país e se mudou para o Brasil. Com o tempo, acabou ocupando o lugar de Iruka nas apresentações, tornando-se inseparável de Tenten, não apenas na dança, mas também na vida.

E quanto a Iruka? Ele observou a nova história que a irmã escrevia, com orgulho e felicidade, enquanto sua própria vida tomava um rumo inesperado. Para desespero de Madara, seu filhote foi levado para o exterior por Kakashi, que o levou para conhecer diversos países e sua gastronomia, formando uma bela dupla na cozinha e até mesmo, arriscando alguns passos de dança. Jamais chegaria aos pés do companheiro, ou do melhor amigo. Mas, assim como o amigo, teve seu coração capturado de uma forma tão única quanto um passo bem ensaiado de samba.

O destino, com seus giros imprevisíveis, como o samba de gafieira, dançou ao ritmo do amor.