
A guerra entre o clã Uchiha e o clã Senju se arrastava por anos, transformando campos floridos em cemitérios de lama e sangue. Sangue, ódio e destruição pareciam ser o único destino de todos. Cada batalha roubava algo dos irmãos Uchiha. Madara perdeu os dois irmãos mais velhos e acumulava em seu peito um desejo de vingança movido pela dor da perda de seus irmãos e pela ambição de criar um mundo onde os Uchihas fossem soberanos; estava determinado a lutar até o fim. Porém, Izuna, seu irmão mais novo, permanecia ao seu lado e começava a enxergar uma destruição iminente e temia que Madara se perdesse completamente em sua busca por poder. Ambos eram os pilares do clã, mas o peso das decisões estava corroendo a conexão entre eles.
Madara acreditava que a única forma de proteger os Uchihas era a guerra; Izuna, por outro lado, começava a questionar esse caminho.
Certo dia, em meio a mais uma batalha brutal, Izuna enfrentou Madara, queria mostrar a ele que poderia ter outro caminho, que talvez a trégua proposta por Hashirama não fosse algo tão ruim, e a paz não fosse um sonho impossível. O mais novo enfrentava o mais velho não como um inimigo, mas como um irmão que tentava mostrar outra solução, usando as palavras ao invés da força. A discussão era intensa, e ninguém ousava intervir, nem mesmo se aproximar dos Uchiha. Ninguém além dos irmãos Senju, que tentavam não deixar aquilo se transformar em mais uma tragédia. Todos sabiam que aquele dia seria o fim de uma era, seja para qual resultado: um novo mundo onde poderiam respirar tranquilamente, ou a aniquilação e subjugação de um clã poderoso.
— Você não entende, Izuna! Se não for eu a liderar os Uchihas, o clã será aniquilado! Somente o poder absoluto pode nos proteger! — Madara gritou, seu Sharingan fervendo com ódio.
— E a que custo, Madara? Quantos mais precisarão morrer? Até mesmo os nossos? — Izuna respondeu, tentando alcançá-lo, mas vendo que suas palavras batiam contra o muro do orgulho de Madara. — Por favor, nii-san, me escute! — Apesar da raiva, o desejo de pôr um fim naquilo fazia com que o Uchiha mais novo não temesse pela vida, ele precisava apenas que seu irmão o escutasse por alguns minutos.
— Se for para falar de hesitação ou piedade, poupe-me, Izuna. Não há espaço para fraqueza aqui. Se não for lutar ao meu lado, por nossa família, é melhor sair da frente.
— Não é fraqueza! — rebateu Izuna, seu tom se elevando ainda mais, demonstrando que não sentia medo do irmão. — É razão! Esse ciclo de sangue só nos leva à destruição. Já perdemos muito.
Madara riu, uma risada sarcástica e incrédula, o Sharingan não dando tréguas, reforçando que Izuna não deveria baixar a guarda.
— E o que você sugere? Que nos ajoelhemos diante de Hashirama e aceitemos a servidão? Que joguemos nossos mortos na lama para que os Senju possam dançar sobre eles? — questionou, encarando Hashirama, que assim como o irmão, estava prestes a intervir a qualquer momento.
Izuna hesitou por um instante, mas respondeu:
— Não é servidão. É paz. Um acordo.
Madara deu outra risada amarga.
— Paz? Com Hashirama? E aqueles que mataram nossos irmãos? Não me faça rir, Izuna. Eu conheço você, e isso não é algo que você diria. Você sempre esteve ao meu lado, sempre entendeu o que precisamos fazer. Por que está mudando agora?
O mais novo desviou o olhar, buscando rapidamente um par de olhos castanhos-avermelhados, o silêncio entre eles pesado como chumbo.
— Ah... — Madara inclinou-se para frente, seus olhos vermelhos fixando Izuna como lâminas. — Agora entendo. Isso não é sobre paz. Isso é sobre Tobirama.
Izuna voltou os olhos para o irmão, surpreso, mas tentou disfarçar.
— Você está delirando.
— Não, não estou — disse Madara, sua voz baixa, mas carregada de fúria. — Tenho visto como você hesita nas batalhas contra ele, como evita enfrentá-lo. Você acha que pode esconder isso de mim? Eu sou seu irmão, Izuna! Você está deixando o inimigo confundir sua cabeça!
Izuna apertou os punhos, seu Sharingan começando a girar em alerta.
— Tobirama não é o que você pensa! Ele... Ele não é como nós imaginamos. Há algo nele, algo que...
Madara ergueu sua espada, fazendo Izuna imitá-lo e defender-se quando um golpe foi desferido.
— Algo nele?! Ele é um Senju, Izuna! Um assassino, um inimigo! Você está traindo tudo pelo que lutamos, tudo que nossos irmãos sacrificaram, por... Por um sentimento?
— E você está traindo o futuro do clã com essa obsessão por poder! — gritou Izuna, enfrentando Madara de frente, agora não se defendendo e sim atacando Madara com sua espada. — Você não enxerga que isso só nos leva à ruína? Eu não quero perder você, Madara, assim como perdemos eles!
Por um instante, o silêncio caiu entre os dois. Madara cerrou os dentes, sentindo-se traído de uma forma que nunca imaginou possível, as lâminas forçavam uma contra a outra, nenhum deles demonstrando que desistiria.
— Se você está disposto a defender um Senju, então talvez você já tenha me perdido, Izuna.
Essas palavras partiram o coração do mais novo, mas ele sabia que precisava tomar uma atitude. Mesmo que custasse tudo.
Madara estava disposto a tudo para vencer aquela guerra e Izuna sabia. Ele sabia que o irmão não hesitaria em tirá-lo do caminho caso fosse necessário. Infelizmente, não tinha muitas escolhas, nem muitas opções a seu favor.
— Não vou deixar você continuar, irmão. Não posso permitir que você destrua tudo o que amamos.
Madara estreitou os olhos.
— Você não pode me impedir.
Izuna ergueu o olhar, lágrimas escorrendo de seus olhos enquanto seu Sharingan evoluía para o Mangekyou.
— Sim, eu posso.
Sem mais palavras, Izuna ativou o Izanami.
Madara não conseguiu desviar o olhar, mal acreditava que seu irmão estava usando-o contra ele. Aquela técnica era extrema, e apesar de saber o sacrifício que Izuna estava fazendo ao utilizá-la, não conseguiu fazer o mais velho impedi-lo.
Izuna forçaria Madara a entrar em um ciclo de eventos repetidos, com o objetivo de fazê-lo aceitar o destino ou as consequências das suas ações.
Madara subitamente se viu em uma batalha contra os Senju, como tantas outras. Ele avançava, esmagava seus inimigos e liderava os Uchihas à vitória... Mas então, algo estranho acontecia. Ele voltava ao início da batalha, vendo os mesmos rostos, ouvindo os mesmos gritos, sentindo as mesmas dores.
A cada vez que o ciclo se repetia, ele tentava algo diferente; atacava de outro ângulo, usava outra estratégia, mas o desfecho era sempre o mesmo: vitória ou derrota, mas nunca o fim da guerra. Ele estava preso, revivendo cada acontecimento ininterruptamente, sem perceber o que acontecia, a menos que aceitasse seu erro ou tomasse uma decisão diferente. Izuna sabia que seu irmão talvez nunca saísse do Izanami.
Madara começou a perceber que não era o clã Senju o verdadeiro inimigo, mas sim ele próprio. Sua obsessão pelo poder, sua incapacidade de aceitar a dor e sua recusa em buscar outra solução o haviam levado até ali.
Finalmente, depois de incontáveis repetições, ele caiu de joelhos, mal notando que havia sido amparado por Hashirama.
— Eu entendi... — ele murmurou. — Não posso salvar nosso clã destruindo o mundo.
Quando Madara despertou do Izanami, ele arfou, caindo de joelhos no chão. Sua respiração estava pesada, como se o peso de tudo o que havia vivido durante o ciclo infinito ainda estivesse em seus ombros. Ele ergueu o olhar, e a primeira coisa que viu foi Izuna, de pé à sua frente, com uma expressão exausta. Seus olhos estavam cobertos por uma venda improvisada, e Madara soube instantaneamente o que isso significava. O irmão estava visivelmente exausto, mas com o semblante determinado. Ao seu lado, Tobirama o abraçava com certa ternura, mesmo mantendo o olhar frio para o Uchiha, ele parecia disposto a se colocar na frente de Izuna caso o outro tentasse qualquer coisa.
— Izuna... — sua voz saiu trêmula, carregada de dor e incredulidade. — O que você fez?
Izuna tentou se manter firme, mas sua postura já não carregava a mesma força de antes. Ele parecia pequeno, diminuído pelo preço que havia pago.
— Eu fiz o que precisava ser feito. — Sua voz era serena, mas cheia de algo que Madara não conseguia definir: tristeza, arrependimento, ou talvez uma resolução inabalável.
— Você usou o Izanami... em mim? — Madara perguntou, sua voz subindo em fúria e desespero. — Você sacrificou seus olhos por isso?!
Um silêncio sufocante se formou. Izuna buscava as palavras, mas sua língua parecia pesar, e sua garganta se fechou como se estivesse cheia de algodão. Antes que o Uchiha mais novo pudesse responder, Tobirama praticamente se colocou diante de Izuna, como se o protegesse, e sentiu o Uchiha puxar suas roupas, um pedido para se afastar, mas ele não o fez. As palavras que proferiu cortaram o silêncio como uma lâmina:
— Você deveria saber, Madara, o que realmente custou a ele fazer isso. — Tobirama olhou para Izuna, sua expressão endurecida, mas seus olhos traziam uma ponta de algo mais profundo: um misto de admiração e acusação. — Ele perdeu tudo por uma mísera chance de mudar você.
Madara se virou para Izuna, que agora estava ao lado do Senju, confuso e furioso.
— Do que ele está falando?
Izuna tentou falar, mas Tobirama o interrompeu outra vez, avançando um passo, como se estivesse esperando aquele momento para descarregar suas próprias frustrações. Hashirama se aproximou dos dois, não precisavam de uma nova luta agora.
— Ele sabia o que estava em jogo. Sabia que você nunca ouviria, nunca entenderia, a menos que fosse forçado a encarar o que estava fazendo. E mesmo assim... — Tobirama fez uma pausa, seu tom endurecendo. — Mesmo assim, ele sacrificou seus olhos. Sacrificou sua confiança. E... sacrificou a única coisa que talvez pudesse tê-lo salvado deste ciclo de destruição: ele sacrificou a nós.
Madara olhou para Izuna, os olhos arregalados, sua mente tentando desesperadamente entender o que estava ouvindo.
— Você... — Madara começou, mas sua voz falhou. Ele se levantou lentamente, aproximando-se de Izuna. — Diga que isso não é verdade. Diga que ele está mentindo.
Izuna tentou falar, mas as palavras pareciam pesadas demais para sair. Por fim, ele respirou fundo e respondeu, sua voz baixa, quase inaudível:
— Não é mentira, irmão.
Madara deu um passo para trás, como se tivesse levado um golpe no peito.
— Então... você fez isso... não apenas por mim, mas por ele? — Ele olhou para Tobirama, sua raiva fervendo. — Um Senju?!
Izuna balançou a cabeça, incapaz de ver a expressão de Madara, mas sentindo o peso de sua indignação.
— Não importa quem ele é. O que importa é que ele me mostrou algo que você nunca quis enxergar: que este ciclo precisa acabar; que há mais do que vingança e ódio.
— E o que isso te custou, Izuna? — gritou Madara, sua voz misturando raiva e desespero. — Você perdeu seus olhos, sua força, sua dignidade... e por quê? Por uma paz que nunca vai durar?
— Eu perdi meus olhos, sim. Mas eu não perdi minha dignidade. — A voz de Izuna estava firme agora, carregada de emoção. — Porque, pela primeira vez, eu fiz algo que não foi para destruir. Eu fiz algo para tentar salvar você, Madara.
Tobirama colocou seu braço sobre os ombros de Izuna, o acolhendo enquanto observava a cena, mas não conseguiu esconder completamente a dor em sua voz ao acrescentar:
— E enquanto ele fazia isso, você nunca percebeu o que realmente estava acontecendo. Ele lutou contra o que sentia por mim, porque sabia que você nunca aceitaria. Mas, no final, ele ainda escolheu você. Ele sempre escolheu você.
Madara sentiu um peso esmagador em seu peito, como se o ar ao seu redor tivesse desaparecido. Ele olhou para Izuna, vendo não apenas seu irmão mais novo, mas alguém que tinha suportado mais do que ele jamais imaginara.
— Você não precisava fazer isso... — sussurrou Madara, sua voz quebrada.
— Sim, eu precisava, irmão. — Izuna deu um passo à frente, suas mãos tateando no ar até encontrar o ombro de Madara. — Porque eu não queria te perder. E porque... eu ainda acredito que você pode mudar.
Antes que Madara pudesse responder, Hashirama se aproximou com sua presença serena, tentando aliviar a tensão crescente. Ele vinha apenas observando, esperando o momento certo para intervir. Colocou uma mão no ombro de Madara, um toque gentil, e o outro quis tirá-la, como se não merecesse nada daquilo, ou como se o toque queimasse sua pele sob as roupas. Mas não o fez, apenas se viu preso em outro olhar, dessa vez amigo, carinhoso.
— Madara, vamos conversar. Há muito a ser discutido... e talvez, reconstruído.
Madara hesitou, olhando de Hashirama para Izuna, e então para Tobirama. Finalmente ele suspirou, parecendo mais cansado do que nunca, e deu um passo ao lado de Hashirama. Juntos, os dois se afastaram, desaparecendo na distância.
Izuna permaneceu parado, respirando fundo, até sentir a presença de Tobirama ao seu lado.
— E agora? — Izuna perguntou, sua voz baixa, carregada de dúvida e cansaço.
Tobirama o encarou por um momento antes de responder, sua voz menos fria do que de costume.
— Agora... você descansa. E depois, decidimos juntos o que fazer.
Izuna soltou um suspiro, mas não respondeu. Ele apenas ficou ali, ao lado de Tobirama, permitindo-se, por um breve momento, confiar que o futuro ainda poderia ser escrito.
❆❆
A paz propriamente dita não veio do dia para a noite, mas as batalhas cessaram diante um acordo de paz. A relação entre Madara e Izuna aos poucos parecia estar sendo reconstruída. Levaria tempo para retornarem ao que eram antes do Izanami e talvez nunca voltasse ao que era, mas ambos estavam dispostos a aprender a lidar com essa nova vida.
Com a mudança de coração de Madara, ele e Hashirama finalmente firmaram a paz, levando à fundação de Konoha. Mas o Uchiha nunca esqueceu o sacrifício de Izuna e as palavras que o libertaram de seu próprio ciclo de ódio.
Madara sempre se perguntou: se Izuna não tivesse intervindo, será que ele teria enxergado o caminho para um futuro melhor? O peso dessa pergunta o acompanharia pelo resto de sua vida.
Izuna pode ter sacrificado seu Sharingan, sua visão, mas o que ganhou, para ele, fazia tudo valer a pena. E se fosse preciso, ele faria tudo novamente.