Até que a dor nos reaproxime

Naruto (Anime & Manga)
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Até que a dor nos reaproxime
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Summary
A ativação imprevista de um selo imprevisto une Kakashi e Iruka de uma forma que nem a mais elaborada missão poderia prever. Forçados a compartilhar pensamentos, sentimentos e até mesmo uma proximidade física que desafia sua paciência, eles precisam aprender a conviver em meio a telepatia inconveniente, emoções sobrepostas e uma dor literal que surge sempre que tentam se afastar. Enquanto descobrem mais sobre o outro — e sobre si próprios — do que jamais desejaram, ambos começam a perceber que, talvez, o destino tenha suas próprias razões para unir dois corações tão diferentes.KakaIru Valentines Week 2025 | Dia 5 (12 de fevereiro): Amigos para amantes/Casamento arranjado
Note
E agora, com a história do dia.O tema seria casamento arranjado e tentei dar outro significado ao "arranjado".Apesar do título, as coisas acabam bem (é o que esperamos)Agradecendo mais uma vez, porque sem eles o @ACNProject não seria nada...Ao @Moonshine1024 que avaliou o Plot e fanficA @Se-ri que aceito esse "pequeno" e desafio e mais uma vez fez jus ao apelido "Beta-Hiraishin", rápida e eficiente.Boa leitura!

“Aprender a conviver com alguém não é apenas suportar seus defeitos. É permitir que seus próprios muros desmoronem, mesmo quando isso é aterrorizante.”



Tsunade estava sentada em sua cadeira, com as mãos entrelaçadas, cotovelos apoiados na mesa e uma expressão que misturava cansaço e seriedade. Em sua mesa, havia um pergaminho aberto, com anotações detalhadas sobre uma missão aparentemente simples, mas que escondia certa peculiaridade.  No entanto, não era a missão em si que lhe dava dor de cabeça e sim os dois ninjas que escolheu para ela. Naquele momento, se questionava se havia sido a melhor escolha.

— Vocês dois foram designados para investigar um templo abandonado na fronteira de Konoha com o País do Fogo. Relatórios sugerem que ele está ligado a um clã extinto, o Clã Hisen, conhecido por seu domínio avançado sobre selamentos, sendo tão bons quanto os Uzumaki. Há rumores de que o local contém artefatos antigos com poderes desconhecidos. Quero que avaliem a situação e garantam que nada perigoso caia em mãos erradas. Simples, certo?

Kakashi inclinou-se contra a parede, com as mãos nos bolsos e seu habitual olhar entediado. 

— Com todo o respeito, Hokage-sama, mas… por que eu? E, bem… por que ele? — Ele inclinou a cabeça na direção de Iruka, com uma sobrancelha ligeiramente arqueada.  

Iruka cruzou os braços, claramente irritado. 

— Se tem alguma objeção, Hatake-san, sugiro que diga diretamente a mim. Estou aqui porque sou especialista em fuinjutsu, algo que você claramente não é. Aparentemente, tem coisas que você não domina. Estou realmente surpreso. — O sarcasmo era nítido nas palavras do chuunin. 

Kakashi deu de ombros, sem se abalar. 

— Não é nada pessoal, Iruka-sensei. Só não consigo imaginar você saindo da Academia para algo assim. Missões de campo exigem experiência… e velocidade.

Iruka deu um sorriso frio. 

— E missões de campo também exigem que as pessoas leiam seus relatórios de vez em quando. Mas, claro, sei que para você isso é pedir muito.

Tsunade os interrompeu antes que pudessem continuar aquelas provocações sem sentido. Tinha mais coisas para se preocupar além de ninjas numa disputa de ego e poderia jurar que havia também uma certa tensão sexual entre eles.

— Chega. Vocês dois são os melhores para essa missão, quer gostem ou não. Kakashi, use sua experiência de campo. Iruka, confio em seu conhecimento de fuinjutsu. Trabalhem juntos. E por Kami, sem provocações desnecessárias.

Kakashi ergueu uma mão em um gesto de falso juramento. 

— Prometo me comportar. O sensei aqui é quem parece mais nervoso. 

Iruka estreitou os olhos. 

— Ah, claro, porque você claramente é o modelo de paciência.

Tsunade suspirou, entregando o pergaminho a Iruka. 

— Saiam antes que eu mude de ideia. Quero relatórios detalhados.

Ao saírem da sala, Iruka virou-se para o Hatake, que já estava com aquele bendito livro de Jiraiya nas mãos, caminhando despreocupado em direção à saída.

— Não se atrase, Kakashi, ou juro que vou sem você nessa missão. 

— Não se preocupe, sensei, estarei lá. Na hora. Talvez. Se não me perder pelos caminhos da vida, ou se uma velhinha não precisar de mim, ou se…

— Precisar resgatar um gato de uma árvore? Conheço todas as suas desculpas idiotas. Convivo com Naruto, não se esqueça.

— Impossível esquecer disso. Aposto que até levará lamen instantâneo para comer…

— Não me julgue pela minha comida… — defendeu-se corando levemente.

— Não prometo nada. Até amanhã! — Despediu-se acenando de costas, deixando um Umino um pouco desconcertado para trás

naquela noite, nenhum deles dormiu bem, ansiosos pela missão no dia seguinte, cada qual com suas dúvidas e questionamentos, mas ambos desejando concluí-la com sucesso e retornar para Konoha o mais rápido possível.

Na manhã seguinte, Iruka estava no portão norte da vila, esperando pelo seu parceiro, que sem surpresa alguma estava atrasado.

Havia se passado quase meia hora da partida, quando o Umino o viu chegar, com as mãos nos bolsos, o único olho visível demonstrando desinteresse, apesar das olheiras discretas.

 — Yo, sensei. Vamos? — cumprimentou e Iruka o encarou incrédulo com a tamanha naturalidade que aquele homem tratava suas atitudes irresponsáveis.

— Está atrasado!

— O que posso dizer? Me perdi nos caminhos da vida antes de chegar até aqui — respondeu com simplicidade, pegando seu inseparável Icha-Icha e o erguendo diante do nariz, aparentemente mais interessado no livro do que na conversa e começou a caminhar em direção ao destino.  

— Você sabe que levar isso em uma missão é uma péssima ideia, certo? — comentou Iruka, lançando um olhar de desaprovação.  

Kakashi virou uma página sem olhar para ele. 

— Por que não? Missões geralmente têm tempos ociosos. É importante estar preparado… para relaxar.

— Relatar isso à Hokage contaria como tempo ocioso? Porque estou começando a considerar — respondeu Iruka com um tom seco.  

Kakashi finalmente tirou os olhos da sua leitura e olhou para Iruka, fechando o livro com calma. 

— Você sempre foi assim? Tão… rígido?

Iruka soltou uma risada curta. — E você sempre foi tão irresponsável? Porque, honestamente, isso explica muita coisa. A nossa missão é simples — Iruka mudou o rumo da conversa, sempre gostou de relembrar os detalhes das missões que realizaria para evitar divergências e situações inesperadas pela falta de detalhes ou de comunicação entre os integrantes da equipe. — Precisamos apenas investigar o templo abandonado, numa região remota. O local é cercado de rumores que indicavam que lá abrigam artefatos ligados ao clã extinto. A Senhora Tsunade não sabe exatamente que tipos de artefatos, então devemos estar preparados para tudo.

Kakashi apenas concordou com um breve aceno, apesar de parecer distraído e desinteressado, tinha lido tudo sobre o local e sobre os artefatos, mas diferente do Umino, não gostava tanto de conversa. No entanto, gostou de saber que ele estava por dentro de tudo. Apesar disso, ele ainda vê aquela escolha como incerta, apesar das necessidade da combinação das habilidades que cada um possui, aquilo ainda parece, inconveniente. E a fala seguinte de Iruka, parecia concordar com ele. 

— Não é nada pessoal, Kakashi, mas você não é exatamente o companheiro de missão mais… fácil — comentou Iruka ao iniciar a viagem. Kakashi apenas ergue o seu livro em resposta, ignorando a provocação.

Enquanto atravessavam uma ponte de madeira, Kakashi olhou para Iruka de canto de olho, claramente pronto para outra provocação. 

— Sabe, você é um excelente professor. Deve ser bom com crianças. Só não sei se adultos entram no seu repertório.

Iruka, mantendo o ritmo, rebateu sem hesitar. 

— E você é um ninja lendário, Hatake Kakashi. Uma pena que esse título não inclui habilidades sociais.

Kakashi riu baixo, balançando a cabeça. — Sabe… isso quase foi uma ofensa inteligente.

Iruka deu um leve sorriso, percebendo que, por mais irritante que Kakashi pudesse ser, a jornada talvez não fosse tão insuportável assim. 

— Se isso é um elogio, Hatake, vou considerar que estamos fazendo progresso.  

Os dois continuaram em direção ao templo, suas provocações se tornando um ritmo constante. Apesar da aparente tensão, havia um ar de respeito mútuo oculto em cada troca de farpas.  

Os dois trocaram mais algumas palavras, até mesmo quando fizeram uma pausa para descansar antes de retornar a missão. O chuunin se surpreendeu quando o mascarado perguntou e parecia genuinamente interessado sobre as aulas na Academia e sobre Naruto. Rindo até mesmo de algumas atitudes do loiro junto ao seu querido sensei.

 

☙ ❧

 

A dupla chegou em seu destino antes que o sol estivesse totalmente no céu, mas que logo foi ofuscado pela vegetação do lugar. O templo ficava localizado em uma área isolada de um vale cercado por florestas densas. O local tinha uma atmosfera pesada e decadente, com colunas de pedra rachadas e símbolos de um clã extinto gravados nas paredes. Conforme avançam, Kakashi e Iruka encontram um salão central iluminado por um raio de luz que atravessa o teto quebrado. No centro, um pedestal ornamentado segura dois anéis prateados com inscrições intrincadas.

Iruka analisa os símbolos, murmurando para si próprio enquanto tenta decifrar o significado. Ele descobre que representam algum tipo de selo, mas não consegue definir o que é com certeza. Olha ao redor e encontra o que parecem ser pergaminhos abaixo do pedestal com os anéis. 

— Pegue os pergaminhos, vamos levá-los para Konoha — ordena Iruka.

Kakashi os pegou, claramente impaciente. Suas missões sempre foram com muito mais ação e agora, estar ali praticamente como guarda-costas, estava o deixando levemente ansioso. E sem muito o que fazer, observou o pedestal com curiosidade, tentando ver se havia algo além da superfície. Até liberou seu Sharingan, mas não encontrou nada de mais na estrutura.

— Então, sensei, acha que esses anéis são importantes?

— Sim, e é exatamente por isso que não devemos tocá-los sem saber o que são e para que servem — respondeu Iruka.  

Antes que ele possa terminar a análise, Kakashi pega um dos anéis para observar mais de perto. Iruka, alarmado, tenta tirá-lo de sua mão, mas, no processo, acaba segurando o outro anel. Assim que ambos tocam nos artefatos,  o contato simultâneo dos dois ativa o que Iruka constatou ser uma espécie de selo e em seguida uma explosão de luz os envolveu, fazendo o chão tremer e uma série de runas brilharem ao redor do pedestal, criando uma explosão de luz e uma marca simbólica aparece em seus pulsos. Antes que possam compreender o que aconteceu, o templo começa a desmoronar, forçando-os a fugir.

— Eu disse para não tocar! — Iruka gritou.

— Você também tocou! — Kakashi rebateu.

— Mas foi você quem pegou o anel primeiro, Kakashi! — reclama Iruka enquanto procura a saída o mais rápido que pode. No entanto, a resposta do Hatake soa num tom despreocupado, deixando o chunnin ainda mais irritado. 

— Se não quer problemas, é melhor não tocar nas coisas brilhantes.

Assim que saíram do templo, a entrada se fechou atrás deles e só então, a luz que parecia os envolver no interior do local desparece, mas deixou marcas no pulso de ambos.

— O que significa isso? — perguntou Iruka, tocando a marca que parecia uma tatuagem, ou uma cicatriz.

— Não sei. A única coisa que sei é que não é seguro ficarmos aqui. Temos os pergaminhos, esses anéis e agora, essas marcas. Precisamos voltar para Konoha e então descobrir o que é isso tudo.

Após escaparem do templo, Kakashi e Iruka retornaram à Vila da Folha com um misto de alívio e inquietação. O silêncio entre eles era mais carregado do que o habitual, como se ambos tentassem entender o que haviam experimentado. Nenhum deles mencionou as marcas estranhas que apareceram em seus braços, tampouco o fato de que, desde então, pareciam… conectados de maneira inexplicável.  

Iruka podia sentir a inquietação de Kakashi mesmo que ele se mantivesse com a mesma expressão, era como se mesmo a distância ele pudesse ouvir o coração acelerado, a mente trabalhando numa explicação, o caos que o outro tentava manter oculto e nem se referia apenas aquela missão.

Tudo pareceu piorar quando cruzaram os portões da Vila e o Umino sentiu uma onda de irritação que estranhamente não parecia vir dele. Ao levantar o olhar, deparou-se com Gai vindo na direção dos dois, com aquela cara que iria propor um desafio qualquer a Kakashi, ou como o ninja de macacão verde costumava chamar: Grande Duelo da Juventude.

— Sem ânimo para um desafio? — o Umino provocou e riu ao ver o mascarado rolar o único olho.

— Rival! Estimado Iruka-sensei! Voltando de uma missão? Não parece machucado, Kakashi, o que acha de um…

— Gai, acho que hoje não é um bom momento. Missão foi… desgastante, não tanto fisicamente. Poderia deixar esse desempate para outro dia? — Kakashi surpreendeu-se com a fala do Umino, pois era o que desejava dizer, mas não sairia tão educado. 

— Oh, entendo. Quando estiver melhor! Vamos manter acesa a chama da juventude. Cuide bem do meu rival, Iruka. — Gai se despediu, dizendo que daria quinhentas voltas ao redor da vila como compensação.

— Obrigado, não seria tão educado com ele. Gosto do Gai, mas as vezes ele é muito…

— Gai?

— Algo assim. Vamos falar com Tsunade?

Mesmo agora seguros, nenhum deles mencionou a marca ou a sensação estranha que estavam experimentando desde que fugiram do templo. Era como uma leve corrente de energia que parecia conectá-los de alguma forma. Esperavam que a Hokage os ajudasse a entender o que aconteceu e livrá-los daquilo o mais rápido possível.

Infelizmente, naquele dia, o conselho estava exigindo reunião com a Senju a respeito de alguns acordos com as vilas aliadas e pelos próximos dias, não conseguiria falar com eles. E como ambos não estavam gravemente machucados e as informações que tinham não pareciam urgentes, além daquela sensação incômoda, não restaram muitas alternativas a não ser esperar.

Com o passar dos dias, as coisas começam a ficar mais estranhas. Após a conexão inicial quando Kakashi completou a frase de Iruka sem perceber que sabia o que ele pensava, houve um momento que podia ser chamado de empatia emocional. Quando o Hatake sentiu uma inexplicável irritação ao mesmo tempo que Iruka lidava com alunos problemáticos na Academia. Ou quando ele se viu desejando um lamen do Ichiraku enquanto pensava em fazer algo para jantar.

Numa tarde, os dois ninjas foram convocados à torre da Hokage para explicações e relatar o que aconteceu durante a missão. Enquanto Tsunade ouve os relatos, ela pede para chamar Shikamaru e uma equipe para ajudar Iruka a analisar as marcas e os pergaminhos. Iruka até tentou protestar, pois ele tinha um bom conhecimento de selos, mas para a mulher, ele estava envolvido demais e talvez isso atrapalhasse seu total entendimento dos fatos. Iruka tenta argumentar contra aquilo, mas Kakashi o interrompe sem perceber.

— Eu sei o que você vai dizer, e não, não é uma boa ideia.

Iruka, confuso, pergunta:

— Como você sabia o que eu ia dizer?

— Eu… não sei — Kakashi respondeu após alguns segundos de hesitação. — Apenas sei. — Ele mesmo não entendia como as palavras vieram à sua mente com tanta clareza, quase como se fossem… dele.  

Após muitas análises, que mantiveram os dois trancados na sala da Godaime o dia todo, Shikamaru retornou com o relatório que explicava o que havia acontecido naquele templo, tudo com sua costumeira falta de entusiasmo, mas com um sorriso um tanto provocativo nos lábios, deixando Iruka e Kakashi tensos.

Enquanto Tsunade lia as anotações do Nara, ela teve que se segurar para não rir, não era um grande problema em si, talvez se tornasse para os envolvidos.

— O que aconteceu? O que diziam os pergaminhos? Não estou gostando dessas expressões não — reclamou Iruka

— O que aconteceu naquele templo? Sem enrolação, respondam! — exigiu a Senju, pois após ler tudo, percebeu que havia algo muito errado com aqueles dois.

Relutantes, os dois detalharam o que ocorreu no templo: um velho altar coberto de runas, dois anéis e um estranho brilho que os envolveu antes de fugirem. Também mencionaram as marcas idênticas que surgiram em seus braços.  

— Ao que parece, após cada um pegar uma aliança, um dos anéis, vocês ativaram um selo usado pelo Clã Hisen para simbolizar alianças inquebráveis entre famílias ou casais. Basicamente é um ritual de união criado por um clã antigo para fortalecer uniões. Uniões Conjugais. Meus parabéns, vocês estão… casados. Pelo menos, magicamente falando — Shikamaru declarou, divertindo-se com a surpresa e o desconforto de ambos.

Kakashi e Iruka ficam incrédulos, se encarando como se aquilo fosse a maior loucura que houvera em suas vidas. 

— Isso só pode ser um erro! — exclamou Iruka um tanto exaltado. 

Kakashi, com um tom divertido, responde:  

— Eu que o diga. Imagine como eu me sinto.

— Isso é sua culpa, sabia? — acusou Iruka.  

— Minha culpa? Você que tocou naquele altar! — retrucou Kakashi, com um meio sorriso provocador.  

— Eu só estava tentando entender o que era aquilo. Você que ficou parado como se estivesse encantado com aqueles anéis.  

— Encantado é uma palavra forte. Talvez fascinado… com o desastre iminente.  

Iruka revirou os olhos, exasperado. 

— Você não leva nada a sério, não é?  

— Eu sempre levo casamentos a sério — retrucou Kakashi com um tom exagerado de falsa seriedade, antes de rir baixo. Logo depois, suavizou o olhar, que pôde ser notado apesar da sua máscara. — Talvez eu só esteja tentando manter a sanidade, Iruka. E você deveria tentar o mesmo.

Apesar das farpas, ambos estavam igualmente preocupados. Kakashi não queria admitir, mas sentia uma inquietação crescente, especialmente quando pegava pensamentos soltos de Iruka — sentimentos de dúvida, irritação e até medo — ecoando em sua mente como se fossem seus.  

Iruka o encarou, parecendo ainda mais irritado. 

— Isso não é engraçado, Kakashi! Não é brincadeira!

— Não é? Porque estou me divertindo bastante. Quem diria que você seria tão sensível ao matrimônio?  

Antes que Iruka pudesse retrucar, Tsunade interveio.  

— Chega, vocês dois. Isso é sério. Se esse selo realmente os conectou, pode ter implicações muito maiores do que vocês imaginam. Quero monitoramento constante, e vocês dois vão trabalhar juntos até entendermos o alcance disso. Cuidem disso. Não quero saber de mais incidentes.

Iruka suspirou, passando a mão pelos cabelos. Em sua mente, uma frase ecoava: “Por que justo ele?”  

Kakashi ouviu claramente e respondeu sem pensar:  

— Talvez porque eu seja irresistível.

Iruka arregalou os olhos, atônito. — Você… ouviu isso?  

Kakashi hesitou por um instante antes de responder, com um tom mais sério:  

— Sim. E é por isso que precisamos descobrir o que está acontecendo… antes que piore. Se posso te ouvir, significa que você também pode e sinceramente, não quero ninguém lendo minha mente.

O clima ficou pesado, a seriedade da situação finalmente pesando sobre eles. Ambos sabiam que aquele vínculo não era algo simples de desfazer. Pior ainda: a conexão parecia estar aprofundando-se, revelando pensamentos, sentimentos e emoções que cada um preferia manter ocultos.  

E assim, a convivência forçada começou. Entre provocações, tensões e momentos inesperados de empatia, Kakashi e Iruka teriam que descobrir como lidar com um laço que parecia indissolúvel — e, talvez, algo muito mais profundo do que qualquer um deles estava preparado para enfrentar.  

 

☙ ❧

 

Após a descoberta de que o selo é um ritual de união conjugal, Kakashi e Iruka são obrigados a encarar a nova realidade. Mesmo contrariados, ambos concordam que, pelo bem de suas rotinas e de suas vidas profissionais, precisarão encontrar uma forma de lidar com isso. O que significa que os dois passam mais tempo juntos do que o esperado. Era como se algo os chamasse e os obrigasse a ficar perto.

Embora ambos tentassem ignorar, a conexão se tornava cada vez mais impossível de ignorar.

— Se isso continuar, eu vou enlouquecer — disse Iruka em um momento de exasperação.

— Bem-vindo ao clube — respondeu Kakashi, seu tom brincalhão disfarçando a preocupação crescente.

A habilidade de ouvir os pensamentos do outro não acontecia quando desejavam e  se manifestava nos momentos mais inoportunos, o que acaba criando uma série de situações inusitadas e inesperadas, deixando ambos num misto de vergonha e irritação. 

Após o acontecido na sala da Hokage, os pensamentos de ambos se mantiveram quietos por um tempo, até o dia que Kakashi estava relaxando em um banco, com Iruka próximo, lendo algum pergaminho. Quando o Hatake puxou o Icha Icha Paradise do bolso, a voz de surpresa Iruka ecoou em sua mente:  

“Ele realmente lê isso em público? Que absurdo…”

Kakashi levanta os olhos com um sorriso maroto.  

— Se está tão incomodado com a minha escolha de leitura, pode vir me distrair pessoalmente. Ou então, se afaste, pois não irei parar e deve saber que tem detalhes aqui… muito bem descritos.  

Iruka, que estava a metros de distância, empalidece. 

— Você… ouviu isso?  

— Sim. E você tem opiniões muito fortes sobre coisas que não são da sua conta.  

— Isso é muito invasivo!  

— Sério? Bem-vindo ao casamento, querido.

Por outro lado, Iruka descobre que Kakashi tem pensamentos surpreendentemente banais. Como aconteceu durante uma reunião na Academia e ouviu a voz de Kakashi em sua mente ponderando sobre qual sabor de sorvete combina mais com seus cães. Já haviam entendido que eles tinham que estar relativamente perto para ouvir os pensamentos e relaxados o suficiente, pois quando estavam tensos e irritados, não ouviam nada.

“Qual sabor de sorvete o Pakkun gostaria mais? Talvez baunilha… mas ele parece mais um cachorro de chocolate.”

Iruka respira fundo e tenta não perder a compostura, pois queria muito rir e ver a cara do Kakashi enquanto tinha aqueles pensamentos, mas, ao fim da reunião, não se conteve e foi em direção à árvore que sabia que o mascarado estaria.

— Você realmente pensa nos seus cães assim o tempo todo?

Kakashi inclina a cabeça, confuso. — Não o tempo todo. Só quando estou entediado.

— Está querendo uma missão, não é?

— Sim, mas Tsunade não me dará nenhuma enquanto não resolvermos isso. Que casamento é esse se nem lua de mel tivemos?

— Baka! Isso não é um casamento!

 

☙ ❧

 

Quando ambos acham que os pensamentos são a pior parte, descobrem que sentir as emoções um do outro se torna um desafio ainda maior.  

Num dia particularmente estressante, Iruka tenta controlar a bagunça provocada por um grupo de alunos na Academia, lembrava até da época em que Naruto, Shikamaru e Kiba fugiam da sua aula e ele precisava os procurar por quase toda Konoha. Enquanto isso, Kakashi, que estava sentado nos galhos de uma árvore, observando seus alunos treinarem, ou brigarem, começa a sentir uma irritação inexplicável. Ao perder a paciência com um comentário de Naruto, Kakashi finalmente percebe a conexão. Sentir as emoções do outro em tempo real é um desastre, pior que os pensamentos. 

Mais tarde, quando Iruka chega em casa exausto, Kakashi aparece sem aviso, o que não surpreende tanto o sensei. No entanto, o comentário gentil o surpreende.  

— Se quiser, posso ajudar você a ensinar seus alunos a respeitarem mais a autoridade.  

Iruka o encarou, surpreso. 

— E você acha que me ajudaria, exatamente, como?

— Com medo. Funciona comigo.

— Bem, acho que Naruto, Sakura e Sasuke não concordam muito com você.

— Talvez, mas quem sabe meus anos como jounnin, à frente de esquadrões, sirvam de alguma coisa.

— Quem sabe. Quer jantar?

— Não queimou a comida?

— Idiota. E não, não queimei. Talvez esteja sem sal, mas você aguenta.

— Preciso ensinar meu marido a cozinhar. Senão, nossos filhos vão morrer de fome.

Apesar da tensão inicial, e das inconveniências que aconteciam, eles estavam se adaptando a essa nova realidade que os envolvia. No entanto, havia momentos mais calmos, onde a conexão emocional os surpreendia. 

Como acontecia no dia que Iruka viu mais uma turma sua se formar, e um sorriso de pura felicidade iluminou seu rosto, e Kakashi, que observava à distância, sentiu uma onda de orgulho inexplicável.  

“Você se importa mais do que parece”, pensou Iruka, ao notá-lo, sabendo que seria ouvido.  

“E você menos do que deixa transparecer”, responde Kakashi, também por pensamento, com um pequeno sorriso.  

 

☙ ❧

 

O “casal” já estava quase se acostumando com a telepatia e empatia emocional, tanto que tentavam o máximo para não deixar o outro desconfortável. Iruka já nem ligava tanto para as implicâncias de Kakashi e percebia que havia muito mais por baixo de toda a armadura que usava. E o Hatake descobria que o Umino não era tão certinho quanto aparentava e gostou de ver esse lado mais descontraído do sensei.

No entanto, nada os preparou para a terceira parte dos efeitos da união daquele selo e ela surgiu de forma intensa. A pior parte foi descobrir que sentiam uma dor física que surgia quando passavam muito tempo longe um do outro.

Nas primeiras vezes, foi apenas um desconforto, nada que os afetasse profundamente, ou atrapalhasse suas rotinas. Isso virou um problema quando Kakashi tentou escapar de Iruka durante suas tardes livres para não precisar ouvir suas reclamações. Ele ficou “‘sumido” por praticamente um dia inteiro e no final da tarde, Iruka não aguentava mais o peso em seu peito e uma dor em suas costas, como se estivesse com falta de ar e carregasse um peso após uma longa missão.

Ele sabia que precisava encontrar Kakashi, que precisava dele ao seu lado, por isso, se concentrou o máximo que pôde até encontrá-lo sentado no telhado de uma casa, numa parte afastada de onde morava. Ao chegar no local encontra o outro em uma posição desconfortável e uma expressão de dor aguda em seu rosto.  

— Você sabe que isso não está funcionando, certo? — perguntou após parar ao lado de Kakashi, com os braços cruzados e expressão igualmente dolorosa.

— Prefiro ficar aqui do que ouvir você reclamar dos meus livros — provoca Kakashi, mas aliviado ao notar que a dor lentamente está cessando após a chegada do Umino.  

— E eu preferia não estar “casado” com alguém que trata tudo como piada — rebate Iruka. 

Kakashi, tentando aliviar o desconforto, continua com suas provocações. Se divertia com as reações do mais novo.

— Se quiser, posso começar a chamar você de “querido”.

Iruka, já sem paciência:  

— Prefiro a dor.

— Você gosta que te chame assim. Venha, querido, sente-se do meu lado. Sei que também está dolorido, mas a noite está bonita hoje e faz muito tempo que não aprecio a lua ou as estrelas.

Apesar das trocas de farpas, ambos sabem que precisam um do outro até o fim, e ficar brigando apenas dificulta o processo e os machuca física e mentalmente. Após dias de tensões e incidentes, eles decidem discutir o que fazer. Kakashi, em sua típica postura relaxada, ainda olhando para o céu estrelado, sugere:  

— Podemos dividir uma casa. Não precisamos agir como um casal, só precisamos de proximidade suficiente para evitar as dores.  

Iruka hesita, mas reconhece a lógica. 

— Se isso vai evitar mais complicações… tudo bem. Mas eu tenho regras. 

— Regras? Ah, não diga… — Kakashi suspirou dramaticamente.  

— Sim. Sem invadir minha privacidade e sem bagunça. E, por favor, nada de espalhar comida para os seus cães na cozinha.  

— Querido, você está tirando toda a diversão do casamento — responde Kakashi com um sorriso cínico. — E meus ninkens são comportados, já os conheceu.

— Se for ser honesto, são mais que você.

— Te ensino a cozinhar…

— Você faz o jantar.

— Estou me sentindo explorado.

— Bem-vindo ao casamento.

— Agora realmente só falta a lua de mel

Com o tempo, a convivência forçada os leva a se conhecerem melhor. Iruka descobre que, por trás da máscara de indiferença, Kakashi tem um senso de humor peculiar e uma empatia inesperada. Kakashi, por sua vez, percebe que Iruka não é tão rígido quanto aparenta, tendo uma paixão genuína pelo que faz e um lado gentil que ele nunca imaginou.  

E em meio a tudo isso, ainda precisam lidar com o que cada um vem sentido em relação ao outro. Sentem que algo está mudando, que não é apenas companheirismo e aceitação da situação. Tem algo muito maior, mais intenso e isso os assusta mais do que gostariam de admitir.

Entre as provocações, descobertas e momentos de tensão, eles começaram a criar uma rotina estranha, mas funcional. Iruka, pela primeira vez, sente que pode confiar em alguém de verdade. E Kakashi, mesmo relutante, admite para si que a companhia de Iruka o faz bem e não quer perder aquilo.  

 

☙ ❧

 

A cada dia, o casamento forçado começa a parecer menos uma imposição e mais uma oportunidade inesperada. Com o passar das semanas, a proximidade forçada revela lados que nenhum deles esperava. Durante diversas noites eles dividiram memórias pessoais. Kakashi compartilha seus traumas com relutância, enquanto Iruka fala sobre como se sente constantemente subestimado por seus colegas. As brigas iniciais diminuíram conforme aprendiam a lidar com os efeitos do selo. As provocações ainda existem, mas se tornam mais leves e, eventualmente, divertidas. 

A noite estava silenciosa quando Iruka acordou de repente, sentindo o peito apertado e a mente invadida por imagens perturbadoras. Havia sangue, mãos trêmulas, e uma dor avassaladora que não era sua. Ele respirou fundo, tentando entender o que estava acontecendo. Levou alguns segundos até perceber que essas não eram memórias suas, mas de Kakashi.  

Sem pensar, Iruka saiu de sua cama e foi até o quarto ao lado, onde Kakashi dormia. Ao abrir a porta, encontrou o ninja sentado na cama, a máscara jogada de lado, os ombros curvados e as mãos cobrindo o rosto. Ele parecia perdido, murmurando algo que Iruka não conseguiu entender de primeira.  

— Kakashi? — Iruka chamou suavemente, entrando no quarto com cuidado.  

Kakashi levantou os olhos, e Iruka viu o tormento estampado neles. 

— Ela estava lá… de novo. Rin. E eu não fiz nada para salvá-la. Outra vez… 

Iruka sentiu um aperto no peito, como se a culpa que Kakashi carregava o atravessasse como uma lâmina. Ele se aproximou devagar, ajoelhando-se à frente de Kakashi. 

— Foi um pesadelo. Apenas isso — disse, a voz calma, mas mantendo um tom firme, que transmitisse segurança. — Você não está lá. Não está sozinho.

Kakashi olhou para ele, seus olhos ainda confusos, mas claramente abalados. Iruka, guiado por um impulso que não podia ignorar, segurou as mãos do outro homem, agora tremendo. Ele percebeu que Kakashi estava em um estado de vulnerabilidade que nunca havia mostrado antes.  

— Venha comigo — pediu Iruka, puxando Kakashi pela mão.  

Sem resistência, Kakashi seguiu, como se confiasse naquele gesto mais do que em si próprio. Iruka o levou para seu quarto, deitando-o na cama e cobrindo-o com o lençol. Ele sentou-se ao lado, ainda segurando sua mão, até que os tremores cessassem.  

— Você não precisa carregar isso sozinho — Iruka disse baixinho, mas suas palavras eram firmes.  

Kakashi olhou para ele, os olhos se suavizando com uma mistura de cansaço e gratidão. 

— Você é bom nisso — ele murmurou, o tom mais leve.  

— Bom em quê?  

— Em me fazer sentir… menos quebrado.

O silêncio se instalou entre eles, mas não era desconfortável. Iruka deitou-se ao lado de Kakashi, ainda segurando sua mão. O calor do momento, a proximidade e a tensão acumulada nos últimos dias se tornaram insuportáveis. Kakashi virou o rosto, seus olhos encontrando os de Iruka.  

Foi Kakashi quem se inclinou primeiro, hesitante, como se testasse os limites. Iruka não recuou. Quando os lábios finalmente se encontraram, o toque foi suave, mas carregado de uma intensidade que nenhum deles sabia que estava reprimindo.  

O beijo cresceu rapidamente, como se toda a confusão, a conexão mágica e a atração mútua se condensassem naquele momento. Havia desejo, mas também algo mais profundo — um conforto silencioso que ambos precisavam.  

Quando se afastaram, seus rostos estavam próximos, as respirações pesadas. Kakashi hesitou, mas Iruka falou primeiro, a voz rouca: 

— Eu não quero pensar nas consequências agora.  

Kakashi assentiu, um pequeno sorriso tocando seus lábios. — Nem eu.  

A noite parecia mais densa dentro do quarto, o ar carregado de algo que nenhum dos dois conseguia nomear. O mundo lá fora, tão distante, silenciou por completo. A respiração de Kakashi e Iruka era o único som que preenchia o espaço, ritmada, mas pesada, como se cada suspiro carregasse parte do peso que haviam acumulado nos últimos dias.  

Deitados lado a lado, suas peles se tocavam de forma quase acidental — o ombro de Iruka roçando o braço de Kakashi, uma proximidade que, de alguma maneira, parecia inevitável. O calor do contato queimava e atraía ao mesmo tempo, despertando uma sensação desconhecida e urgente.  

Kakashi moveu-se primeiro, virando-se de lado, seus olhos cinzentos prendendo-se ao rosto de Iruka com uma intensidade quase avassaladora. Havia algo na forma como ele o olhava — uma vulnerabilidade que raramente deixava transparecer. Iruka, no entanto, não desviou. Ele sustentou o olhar, sentindo uma mistura de ternura e ansiedade pulsar em seu peito.  

Sem perceber, Iruka levou a mão ao rosto de Kakashi, tocando a curva de sua mandíbula. Sua pele era quente, com uma textura ligeiramente áspera por conta da barba mal feita. O toque era leve, hesitante, mas carregava mais significado do que qualquer palavra poderia traduzir. Kakashi fechou os olhos por um instante, inclinando-se contra o toque, como se aquele gesto simples tivesse o poder de afastar todos os fantasmas que o atormentavam.  

Os dedos de Iruka escorregaram para a nuca de Kakashi, traçando linhas invisíveis em sua pele. Ele podia sentir o ritmo acelerado da respiração do outro, que ecoava o pulsar em seu próprio peito. Cada toque era uma descoberta, um mapa de emoções desenhado em silêncio.  

Então, veio outro beijo. Não foi planejado, mas quando seus lábios se encontraram, foi como se uma represa se rompesse. O contato começou suave, mas rapidamente se tornou algo mais. Era uma troca carregada de desejo e necessidade, um chamado que nenhum dos dois parecia capaz de ignorar.  

A textura dos lábios de Kakashi era surpreendentemente macia, em contraste com a força de suas mãos, que se moveram para a cintura de Iruka, como se buscassem ancorar-se nele. Iruka sentiu um arrepio percorrer seu corpo quando os dedos de Kakashi deslizaram pela curva de suas costas, deixando um rastro de calor e eletricidade.  

Os sentidos de ambos estavam em alerta máximo. O aroma suave da noite misturava-se com o cheiro natural de Kakashi — algo levemente amadeirado, com um toque quase imperceptível de pergaminho e chuva. Iruka percebeu que estava gravando aquilo na memória, como se aquele momento fosse um refúgio que ele nunca mais quisesse perder.  

Os movimentos eram lentos, mas intensos, como se estivessem aprendendo a decifrar um ao outro. O quarto parecia encolher ao redor deles, reduzindo o mundo inteiro àquele instante. As mãos de Iruka agora exploravam com mais liberdade, seus dedos traçando o contorno dos ombros e da clavícula de Kakashi, sentindo cada músculo se contrair e relaxar sob seu toque.  

Kakashi, por sua vez, parecia fascinado pela suavidade da pele de Iruka, seus dedos viajando como se memorizassem cada detalhe. Era um contraste intrigante com sua própria natureza — uma combinação de força e delicadeza que Iruka não sabia que precisava até aquele momento.  

Quando finalmente se afastaram, ambos estavam ofegantes, os olhos presos um no outro como se ainda estivessem tentando processar o que haviam compartilhado. O silêncio que se seguiu foi diferente — não era desconfortável, mas carregado de compreensão.  

Iruka sentiu os dedos de Kakashi entrelaçarem-se aos seus, um gesto simples, mas cheio de significado. Ele fechou os olhos por um instante, deixando-se levar pela segurança inesperada que aquele toque transmitia. Não havia palavras, mas também não eram necessárias.  

Enquanto ambos se acomodavam, lado a lado, o coração de Iruka ainda batendo contra o de Kakashi, a confusão e as dúvidas que surgiriam no dia seguinte foram deixadas de lado. Naquele momento, tudo o que importava era a sensação de pertencimento — como se, de alguma forma inexplicável, aquele fosse o lugar onde ambos deveriam estar.  

 

☙ ❧

 

Na manhã seguinte, ambos estavam estranhamente silenciosos. Ainda sentiam o calor correr pelas veias, as lembranças de cada toque, de cada beijo, de cada gesto da noite anterior gravadas na mente de Kakashi e Iruka. Mas algo os impedia de falar sobre aquilo, de dizer o que sentiam e que nada tinha a ver com o selo, mas sim com o que desenvolveram durante aquele período.

Quando pensaram em falar algo, foram abordados por um Anbu, dizendo que a Hokage solicitava a presença deles. Sabiam que aquilo significava que havia encontrado uma solução. Não sabiam dizer se estavam felizes com aquilo. Enquanto caminhavam para o escritório de Tsunade, o silêncio ainda reinava e o peso do que havia acontecido pairava entre eles, mas nenhum ousava mencionar.  

Ao chegarem, Tsunade os olhou com um misto de cansaço e alívio. 

— Finalmente, consegui descobrir uma forma de desfazer o selamento — disse ela, entregando-lhes um pergaminho.  

Iruka e Kakashi trocaram um olhar rápido, mas não disseram nada. A mente de ambos estava um caos — não só pela missão e pelo selo, mas também pelo que haviam compartilhado na noite anterior.  

Tsunade arqueou uma sobrancelha. 

— Vocês estão bem? Parecem… diferentes. 

Kakashi, sempre rápido em responder, deu de ombros. 

— Só mais um dia normal, Hokage-sama.

Mas quando seus olhos encontraram os de Iruka novamente, ambos souberam que, independentemente do que viesse a seguir, nada seria como antes.  

A Godaime então explicou rapidamente o que precisava ser feito. O ritual era simples em teoria, mas na prática exigia precisão. A Senju entregou a Iruka alguns pergaminhos, tintas e pincéis. Na sala, o ambiente era preenchido por um silêncio quase reverente, apenas quebrado pelo som ocasional do pincel de Iruka deslizando pelo pergaminho enquanto ele desenhava os últimos símbolos necessários. Kakashi, como sempre, estava encostado na parede, aparentemente relaxado, mas seus olhos acompanhavam cada movimento do outro com uma atenção incomum.  

Tsunade estava ao lado deles, braços cruzados e uma expressão de ceticismo misturada com exasperação. Ela já conhecia os dois bem demais para acreditar que aquilo seria resolvido sem alguma complicação emocional.  

— Pronto — disse Iruka, soltando o pincel com um suspiro baixo. — Tudo está alinhado.

— Bom. Agora só precisamos do chakra de vocês — comentou Tsunade, gesticulando para que ambos se posicionassem ao redor do pergaminho.  

Iruka olhou para Kakashi, que respondeu com um pequeno aceno, movendo-se até o ponto designado. Quando seus chakras fluíram para o selo no pergaminho, uma onda de energia varreu o ambiente. Por um momento, o ar parecia mais pesado, quase sufocante, e o brilho do selo intensificou-se, expandindo em um arco dourado que conectou ambos.  

Foi como uma desconexão repentina. A energia que os unia desapareceu com um estalo quase audível, deixando ambos com uma sensação de vazio estranha. Iruka recuou um passo, levando uma mão ao peito, como se algo que ele não sabia que estava lá tivesse sido arrancado. Kakashi, por outro lado, permaneceu imóvel, mas o sutil franzir de suas sobrancelhas traía o desconforto que sentia.  

— É isso — anunciou Tsunade. — O selo foi desfeito. Vocês estão separados,  livres. Casamento anulado.   

Mas a palavra “livres” pareceu ressoar de forma peculiar entre eles. Ambos trocaram um olhar que durou um segundo a mais do que deveria — um olhar cheio de significados que nenhum deles estava disposto a reconhecer.  

Iruka foi o primeiro a desviar os olhos, voltando-se para o pergaminho como se houvesse algo mais a fazer. Kakashi, no entanto, permaneceu onde estava, observando o outro em silêncio. Ele queria dizer algo, talvez uma provocação leve para aliviar a tensão, mas as palavras pareciam presas.  

— Bem — começou Iruka, a voz mais baixa do que o normal — acho que tudo está resolvido agora.

Kakashi fez um som indistinto de concordância, mas não respondeu. A sensação persistente de que algo havia mudado, algo além do selo, pairava entre eles.  

Tsunade, por sua vez, os observava com atenção. Seus olhos astutos captaram o rubor sutil no rosto de Iruka e o jeito como Kakashi mantinha suas mãos nos bolsos, algo que ele fazia sempre que estava desconfortável. Ela suspirou, exasperada.  

— Vocês dois são os maiores idiotas que já conheci — murmurou ela, mais para si do que para eles.  

Iruka ergueu o olhar. — O quê?  

— Vocês sabem muito bem “o quê” — respondeu Tsunade, cruzando os braços novamente. — Algo aconteceu enquanto estavam sob aquele selo, e é óbvio que estão tentando fingir que não. Mas, como bons idiotas que são, vão negar isso até o fim, não é?  

— Não sei do que está falando — disse Kakashi, finalmente recuperando a compostura, embora sua voz tivesse um tom de falsa inocência.  

— Nem eu — completou Iruka, tentando manter o tom profissional, mas seu rosto levemente corado o traiu.  

Tsunade revirou os olhos. — Tanto faz. Vocês se merecem. 

Com o ritual concluído, Iruka saiu primeiro, seus passos rápidos denunciando a pressa em deixar aquele ambiente sufocante. Kakashi seguiu alguns momentos depois, com seu andar despreocupado de sempre, mas os olhos fixos no chão, perdido em pensamentos.  

Lá fora, ambos se encontraram por acaso. Por um instante, ficaram em silêncio, antes de Kakashi lançar uma provocação habitual:  

— Então, já sentindo falta de mim, Iruka-sensei?

Iruka soltou um suspiro teatral, mas havia um leve sorriso no canto de seus lábios.

— A única coisa que senti falta foi de paz e sossego, Kakashi.

Mas, enquanto seguiam caminhos opostos, ambos sabiam que a conexão, embora desfeita no papel, ainda reverberava dentro deles.  

— Depois eu passo na sua casa, pegar as minhas coisas. Não tem motivo para continuar lá — declarou Iruka, sentindo o peito doer, como quando sentia a ausência de Kakashi, mas parecia mais intensa, quase insuportável, e sabia que o sofrimento maior viria da saudade que sentiria do outro assim que deixasse a casa que compartilharam nas últimas semanas.

— Eu faço o jantar. Nosso último. Não precisamos acabar assim, como dois estranhos. Ou apenas colegas.

— Tudo bem. Um último jantar. Até a noite.

— Até mais tarde e, sensei, não se atrase

 

☙ ❧

 

A casa de Kakashi estava iluminada apenas pela luz suave de uma pequena luminária no canto da sala, e o aroma reconfortante de ramen fresco preenchia o ar. A mesa estava posta de maneira simples, mas havia um cuidado discreto nos detalhes: dois pares de hashis bem alinhados, tigelas de cerâmica azul-acinzentada e uma pequena garrafa de saquê entre eles.  

Iruka ajeitou-se na cadeira, o som do tecido de sua roupa ecoando no silêncio entre os dois. Kakashi, do outro lado, parecia perdido em pensamentos, seus olhos mirando a fumaça que subia da tigela à sua frente.  Eles comeram em silêncio, planejando a melhor forma de expor o que queriam e como se sentiam após tudo aquilo.

— Eu pensei que isso seria um alívio —  disse Iruka, quebrando o silêncio, sua voz baixa, mas carregada de um peso sincero.  

Kakashi ergueu o olhar lentamente, encontrando os olhos de Iruka. 

— Mas agora parece que algo importante desapareceu — ele completou, como se tivesse lido a mente de Iruka.  

Ambos riram de leve, um som breve e quase melancólico que rapidamente se dissipou. Era verdade. A dissolução do selo havia libertado ambos, mas também havia arrancado algo que eles não sabiam como nomear.  

Iruka apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos, olhando para as mãos como se elas pudessem oferecer alguma resposta. 

— Eu achei que, quando isso acabasse, voltaríamos às nossas vidas de antes. Mas agora... não sei se quero isso.

— Nem eu — Kakashi respondeu, sua voz suave, quase hesitante. Ele pousou os hashis, esquecendo o ramen, e inclinou-se levemente para frente. — Durante o tempo que estivemos ligados, vi partes de mim que eu sempre tentei esconder. E vi partes de você que… me fizeram querer ser melhor.  

Iruka ergueu o olhar, surpreso. — Você... viu o pior de mim também. Todas as minhas inseguranças, as minhas falhas...

— E mesmo assim, nunca me senti tão próximo de alguém — Kakashi interrompeu, o tom mais firme. — Nunca me senti tão livre quanto quando estava com você.  

A confissão pairou no ar, pesada e ao mesmo tempo libertadora. Iruka sorriu, um sorriso pequeno, mas genuíno, enquanto balançava a cabeça. 

— É estranho, não é? O selo foi só um acidente, mas nos forçou a nos conhecer de uma maneira que nunca seria possível de outra forma. Sem máscaras, sem títulos, sem barreiras.

Kakashi inclinou-se ainda mais, os olhos cinzentos capturando cada detalhe do rosto de Iruka. 

— E agora? O que fazemos com isso?

Iruka deu uma risada baixa, nervosa, mas sincera. — Não sei. Mas sei que não quero voltar a me afastar. Mesmo que isso seja complicado, mesmo que não faça sentido para ninguém além de nós... quero descobrir o que isso significa.  

Kakashi soltou um suspiro, mas havia um pequeno sorriso em seus lábios. — Sempre achei que o casamento fosse algo assustador. Acho que estava certo, mas... talvez valha a pena, no final das contas.

O silêncio que se seguiu foi diferente dos anteriores. Não era desconfortável, mas cheio de possibilidades. Eles voltaram a comer, conversando sobre coisas simples, como o clima ou as missões, mas a atmosfera era diferente. Algo entre eles havia mudado, e pela primeira vez, não havia barreiras para impedir o que quer que viesse a seguir.  

Eles continuaram a refeição, mantendo uma troca de olhares cheio de esperanças e significados que somente os dois compreendiam. Agora, a mesa estava quase vazia, restando apenas os pratos empilhados e a garrafa de saquê pela metade. 

A conversa começou a fluir novamente, devagar, como se ambos estivessem tentando prolongar o momento, mas o silêncio que pairava não era incômodo — era carregado de algo indefinível, algo que eles ainda estavam tentando nomear.  

Kakashi recostou-se na cadeira, observando Iruka com um olhar que mesclava cautela e determinação. Ele girava o copo de saquê em suas mãos, como se o movimento pudesse organizar seus pensamentos. Finalmente, ele respirou fundo e quebrou o silêncio.  

— Você sabe... considerando tudo o que aconteceu, acho que fizemos isso tudo ao contrário — disse Kakashi, sua voz carregada de um tom brincalhão, mas com uma seriedade subjacente.  

Iruka arqueou uma sobrancelha, curioso. — Do que você está falando?

— Bom — Kakashi começou, com um pequeno sorriso surgindo em seus lábios. — Nós nos casamos primeiro, fomos forçados a dividir uma casa, e só depois começamos a nos conhecer de verdade. Não acha que é hora de fazer isso direito?  

Iruka piscou, surpreso, antes de cruzar os braços, tentando esconder o leve rubor que começava a tingir suas bochechas. 

— Está sugerindo que... namoremos?

— Por que não? — Kakashi respondeu, dando de ombros, mas seus olhos permaneceram fixos em Iruka. — Quero dizer, não seria pior do que já passamos. Na verdade, eu diria que pode ser bem mais fácil sem um selo forçando as coisas. E, se você pensar bem, merecemos uma chance de fazer as coisas no ritmo certo, sem... bem, interferências mágicas.

Iruka soltou uma risada curta, balançando a cabeça. 

— Você realmente tem uma maneira peculiar de pedir alguém em namoro, Kakashi. 

— Peculiar, mas eficaz — Kakashi retrucou, com aquele sorriso preguiçoso que sempre desarmava as pessoas, especialmente o Umino. Ele se inclinou um pouco na direção de Iruka. — E, para ser honesto, eu meio que gostei de dividir a casa com você. Suas reclamações sobre meus livros favoritos, a forma como você arruma o futon todas as manhãs... até suas broncas sobre as minhas escolhas alimentares quando estou com pressa. Acho que vou sentir falta de tudo isso se você decidir partir. 

Iruka riu de novo, mas dessa vez o som foi mais suave, mais vulnerável. Ele olhou para Kakashi, os olhos escuros brilhando sob a luz suave da sala. 

— Você está mesmo me pedindo para ficar? 

Kakashi sorriu, dessa vez mais sério. 

— Estou. Mas não só pelas broncas e pelos livros. Estou pedindo porque não quero voltar para o silêncio que era essa casa antes de você. Você trouxe vida para esse lugar, Iruka. Para mim.

Iruka desviou o olhar, mordendo o lábio inferior, como se considerasse cuidadosamente as palavras de Kakashi. O silêncio entre eles voltou, mas agora era carregado de uma expectativa elétrica.  

Finalmente, o Umino suspirou, erguendo os olhos para encontrar os de Kakashi.

— Você tem noção de que isso pode ser a coisa mais absurda que já fizemos?

— Ah, sem dúvida — Kakashi respondeu com um sorriso largo. — Mas você sabe que também faz sentido, certo?

Iruka ficou em silêncio por um momento, então, com um sorriso quase imperceptível, levantou-se de sua cadeira. 

— Se eu for ficar, você vai ter que aprender a ler outras coisas além daqueles livros do Jiraiya. E, Kakashi… — Ele se inclinou, apoiando as mãos na mesa enquanto o encarava. — Isso inclui as pilhas secretas que você acha que eu não vi no canto do quarto.  

Kakashi riu, uma risada genuína que iluminou seu rosto. 

— Feito. Desde que você aceite dividir o futon comigo.

Iruka revirou os olhos, mas o sorriso em seus lábios entregava sua resposta. Ele estendeu a mão para Kakashi, que a segurou com firmeza, um gesto que era ao mesmo tempo uma promessa e um recomeço. 

O Hatake se levantou e puxou Iruka para um abraço, sentindo um alívio em seu peito por ter oportunidade de ter algo em sua vida que não envolvesse missões ou todo o seu passado. Não seria um caminho fácil, mas eles haviam passado por algumas provações e sabiam que o que viria a seguir, valeria a pena.

 — Vou continuar te chamando de querido — afirmou Kakashi antes de deixar um beijo na bochecha de Iruka.

— Sem o tom de provocação?

— E qual seria a graça? Te provocar é a melhor parte do meu dia — disse antes de roçar os lábios nos do Iruka, mas sem os unir, como se quisesse provar seu ponto. Riu ao ouvir um bufar vindo do mais novo.

— Isso não é justo, baka…

— Bem-vindo ao nosso namoro, querido.

Kakashi não esperou uma resposta e finalmente o beijou, não queria mais palavras, não precisava delas. Queria apenas aproveitar a boca do ex-marido, mas agora namorado.