
Se você conhece o inimigo e conhece o mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas.
Se você conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota.
Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas…
Sun Tzu
Izuna ajeitou uma katana na cintura enquanto amarrava uma bandana de Konoha. Os primeiros raios de sol filtravam-se pelas folhas das árvores ao redor, iluminando seu rosto determinado. A missão que Tobirama havia delegado era clara: infiltrar-se em uma base inimiga, roubar informações originais e retornar antes de iniciar. Nada que Izuna não tivesse feito antes, mas algo o incomodava. Talvez fosse a ausência de Madara ao seu lado, algo raro em suas operações.
Madara estava ocupado com negociações diplomáticas que Hashirama insistia em promover, além de lidar com o preconceito de alguns clãs tanto pelo acordo de paz quanto pelo relacionamento deles. Embora Izuna respeitasse o sonho do irmão de trazer paz entre os clãs, sabia que o mundo não mudava tão facilmente.
“Cabe a mim cuidar das coisas reais”, pensou, tentando evitar a sombra do pressentimento ruim.
O caminho até seu destino não era longo, se mantivesse o ritmo, chegaria antes que o sol estivesse brilhando totalmente no céu. Enquanto pulava nos galhos, repensava as informações sobre a missão. Tobirama havia dito aqui que não tinha certeza sobre todos os fatos, porém não tinha tempo para verificar o que era certo e o que poderia ser apenas barcos. Havia muitas brechas, mas apesar disso, entregou uma missão ao Izuna, garantindo que não confiava no outro, e apesar de ter insistido em que levasse algum reforço, o Uchiha estava orgulhoso e garantido que daria conta de coisas sozinho.
Ao chegar à base inimiga, Izuna foi recebido por uma resistência mais terrível do que o esperado. As sentinelas estavam bem posicionadas, e o número de ninjas parecia maior do que o relatório havia sugerido. Mesmo assim, ele avançou, ativando o Sharingan para analisar os padrões de movimento e desviar de ataques com precisão mortal.
Após se infiltrar no prédio principal e localizar os documentos, Izuna estava prestes a sair, mas conseguiu uma armadilha. Um selo explosivo ativou-se assim que ele tocou a porta de saída. O prédio explodiu em chamas e, antes que pudesse escapar dele, foi encurralado por um grupo de ninjas experientes.
O Sharingan girou intensamente em seus olhos enquanto enfrentava os oponentes. Cada movimento deles era antecipado, cada técnica era contra-atacada, e para piorar estava em uma grande desvantagem numérica. O confronto obrigou a usar o Mangekyou Sharingan, invocando técnicas devastadoras que drenavam sua energia rapidamente. Uma combinação de genjutsu poderosa e ataques físicos garantiu sua sobrevivência, mas ao custo de sua visão.
Com o campo de batalha devastado ao redor, Izuna caiu de joelhos, o mundo à sua volta agora uma névoa indistinta de sombras e luzes borradas. Seus olhos ardiam, e ele sabia que havia ultrapassado seus limites, mas não podia desistir, não iria se entregar facilmente.
O Uchiha estava ofegante, o sangue escorrendo de um corte profundo no lado esquerdo do torso, misturando-se à terra sob seus pés. O campo de batalha estava envolto em chamas, os corpos dos inimigos que derrotou espalhados em um cenário desolador. O inimigo era um clã chamado Yōgan, e pelo que ele leu rapidamente nos pergaminhos que encontrou, eles possuem uma kekkei-genkai chamada Amanogawa, ou Rio Celestial. Não conseguiu ler mais, tampouco conseguiu identificar o que eles podiam fazer, pois no momento se concentrava em se manter vivo. Tinha certeza de apenas uma coisa: aquele clã era obscuro e possuía uma kekkei-genkai poderosa, pois se mostraram muito mais preparados do que qualquer relatório sugeriu. Ele havia subestimado o desafio.
Cercado por uma dúzia de oponentes, seus olhos giravam freneticamente, o Mangekyou Sharingan ativado e pulsando com dor. Cada movimento estava ficando mais lento, sua visão turva e suas reservas de chakra perigosamente baixas. Ainda assim, Izuna resistia, determinado a concluir a missão e sobreviver.
— Você não vai escapar daqui vivo, Uchiha — rosnou um dos líderes inimigos, avançando com uma lâmina envolta em energia brilhante.
Sem outra escolha, Izuna canalizou o restante de seu chakra no Mangekyou Sharingan, ativando o Kamui pela primeira vez. Ele não tinha controle total sobre a técnica, mas era a única saída. Com um giro do olho direito, o espaço ao seu redor começou a distorcer-se, engolindo-o em uma espiral negra.
Quando abriu os olhos novamente, estava em outro lugar.
Izuna caiu de joelhos em uma dimensão desconhecida, um deserto sombrio com torres de rocha flutuante e um céu cinzento, estático. A gravidade parecia estranha, como se o ar ao seu redor estivesse pesado, sufocante. Cada respiração era uma luta, e seus olhos doíam como se estivessem queimando por dentro.
Ele tentou levantar, mas seu corpo não respondia. A técnica havia drenado o que restava de sua força. Com uma mão trêmula, ele tentou tocar os olhos, mas parou ao sentir a umidade quente de sangue escorrendo pelo rosto.
— Droga... Onde estou? — murmurou, a voz rouca e entrecortada.
A solidão daquela dimensão era sufocante. Ele sabia que o Kamui era uma técnica arriscada, mas nunca imaginara que terminaria preso em um lugar tão desolado. Cada passo que dava parecia em vão, as torres distantes permanecendo inalcançáveis.
Izuna começou a perder a noção do tempo, cambaleando entre as formações rochosas enquanto o cansaço e a dor ameaçavam dominá-lo. Ele precisava sair dali, mas seu chakra estava quase inexistente. Ele só tinha uma única chance de voltar à sua realidade, e se errasse, esgotaria suas forças e ficaria perdido numa dimensão que ninguém nunca mais o encontraria.
Foi então que sentiu uma leve alteração no ambiente, como se um ponto específico do vazio estivesse pulsando com energia familiar. Era sua grande chance. Reunindo o pouco que restava de sua força, ele ativou o Mangekyou Sharingan mais uma vez, forçando o Kamui a abrir um portal de retorno.
O esforço quase o matou.
Quando ele atravessou o portal e caiu no chão da floresta nos arredores de Konoha, estava inconsciente, o corpo à beira do colapso total.
『』
Izuna despertou com um peso no peito — não o físico, mas o peso da presença de Madara, sentado ao lado da cama. O olhar do irmão era sombrio, os braços cruzados, e a tensão no quarto era quase tangível.
— Então você acordou — Madara disse, a voz baixa, carregada de fúria contida. — Quase te perdi por causa da sua imprudência.
Izuna tentou se sentar, mas o corpo protestou com uma onda de dor.
— A missão... eu consegui... — ele começou, mas foi interrompido.
— A missão? — Madara se levantou abruptamente, o tom de sua voz aumentando. — Você acha que isso importa agora? Você foi sozinho contra um clã com kekkei-genkai poderosa, ignorou ordens diretas e quase destruiu sua própria vida no processo!
Izuna desviou o olhar, incapaz de encarar a ira do irmão.
— Eu achei que poderia lidar com eles; que seria uma simples infiltração. Não podia falhar...
— Falhar? — Madara bufou, os punhos cerrados. — Você falhou, Izuna. Não por perder a batalha, mas porque achou que lutar sozinho era mais importante do que pensar no que isso custaria. Você custou a si próprio!
Madara se aproximou, segurando Izuna pelos ombros. Seu tom suavizou, mas o peso das palavras permaneceu.
— Você quase ficou cego, Izuna. Seus olhos... Você os sacrificou. Por quê? Para provar algo? O que você usou que o drenou dessa forma?
— Eu fiz o que fiz para proteger você, Madara — respondeu Izuna, a voz vacilante. — Sempre foi você quem carregou o peso de tudo. Eu só queria aliviar isso.
Por um momento, Madara ficou em silêncio, surpreso pela confissão. Ele suspirou profundamente e se sentou novamente.
— Você não entende, não é? Eu nunca quis que você carregasse nada sozinho. Você é tudo o que eu tenho, Izuna. Se eu te perder... — ele hesitou, desviando o olhar por um instante. — Se eu te perder, não restará mais nada para mim.
— Nii-san, eu sempre estarei com você. Escute, eu precisei usar o Mangekyou Sharingan para criar o Kamui, eu sei que não tinha controle total dele, mas não tinha outra escolha, ou era isso, ou então teria morrido lá, e isso iria criar uma revolta, pois você desejaria vingança e colocaria a perder tudo o que conquistamos.
— Mesmo assim foi imprudente.
Izuna sentiu o peso da culpa esmagá-lo ainda mais do que a dor física. Ele sabia que havia sido imprudente, mas ouvir a vulnerabilidade na voz de Madara tornou tudo ainda mais real.
— Me desculpe — ele murmurou, sua voz quase inaudível.
Madara assentiu lentamente, passando a mão pelos cabelos de Izuna, um gesto raro e quase paternal.
— Você vai se recuperar. Mas, Izuna... nunca mais me faça passar por isso. Você não está sozinho.
Enquanto Madara saiu do quarto, deixando Izuna com seus pensamentos, o mais novo Uchiha fechou os olhos, sentindo o peso do que havia feito. A visão dele estava comprometida, e as marcas daquele dia ficariam para sempre em seu corpo e alma. Mas, acima de tudo, ele sabia que quase perdera algo muito mais importante: a confiança do irmão.
Afinal, quanto tempo restaria até que ele não pudesse mais vê-lo?