
“Ok, e agora?”, tudo que a mente de Kakashi conseguia pensar era nessa pequena frase, que, embora curta, carregava um monte de sentimentos confusos sobre o presente e futuro no qual deveria seguir rumo a um final feliz. Devido ao fim da guerra, somada a aposentadoria do posto de Hokage e sem mais missões para realizar, o foco em sua vida pessoal parecia certo o suficiente, mas, o que poderia fazer para aproveitá-la ao máximo sem que se tornasse entediante?
Enquanto refletia sobre questões importantes, uma pessoa — na verdade um sorriso — veio em sua memória, inevitavelmente causando certo arrepio na epiderme e borboletas em seu estômago.
Oras, por que não? Se antes não havia feito por falta de tempo, então aquele não seria um ótimo momento? Sim, mas com que coragem?
Iruka Umino era o dono de toda beleza do mundo e do seu coração outrora congelado. O professor apegado ao garoto da raposa de nove caudas era quase tão pai quanto Minato um dia foi. Gentil, bondoso e educado o bastante para aturar qualquer coisa sem perder a classe ou a pose.
“O que eu vou dizer a ele?”, sua mente produzia perguntas soltas, mas nada de apresentar respostas ou soluções válidas para o problema em questão. Esfregou o rosto, vermelho só de se imaginar dizendo “eu te amo, Iruka”. A vergonha jamais seria do rapaz ou de ser apaixonado por ele, mas sim de, possivelmente, uma rejeição.
— Será que aguento o peso de um “não”? — perguntou-se, encarando o teto do cômodo. — Me declarar nessa idade não deveria ser tão problemático assim… — suspirou, cansado.
— Então é amor o motivo dessa sua cara de bocó, sensei? — Naruto Uzumaki, seu aluno, quase filho, senão irmão mais novo — algo nessa linha tênue — disse provocativo.
— Respeito seria apreciado, mas esperar isso de você seria como pedir uma chuva de chakra — debochou, acabando por rir com ele. — Sim, mas é mais complicado do que você pensa. A pessoa por quem estou, bem, você sabe… Enfim, esquece.
— Você tá apaixonado pelo Iruka-sensei, né? Sabe, é meio óbvio. — O loiro riu, achando graça da expressão abismada do mais velho. — Não vou julgar. Na verdade, ando cogitando conversar com Hinata sobre separação. Sinto que meu coração já está em outra. O problema é essa pessoa ser comprometida. Você, por outro lado, deveria investir em uma declaração. Iruka-sensei gosta de você também, tá na cara! E ele é solteiro, logo, só vejo vantagens. Não seja um velhote tímido — gargalhou da careta alheia.
— É o certo a se fazer. Pensei que você e Shikamaru já estavam até nos amassos às escondidas! — Viu-o ficar de queixo caído, nervoso, pálido, trêmulo e, ao mesmo tempo, rubro. — O quê? Também é bem óbvio, sabia? Não posso dizer o mesmo para ti, ele parece gostar muito da Temari. Sinto muito! — o Uzumaki deu de ombros, aliviando a tensão em seu peito. — Como acha que eu tenho coragem para tal? Nem sei o que dizer ou como chegar nele! Imagina só: “Olá, Iruka, belo dia para um passeio, não acha? Caminhar, ver as paisagens, jogar conversa fora, trocar declarações e beijar na boca…”
— Olha, eu, pelo menos, super faria isso — o jovem de fios dourados confessou, sincero. — Por que não? Às vezes ele quer uma atitude, uma pegada diferente! — riu, percebendo-o fingir que lhe estava ignorando. — Vá lá e seja feliz por nós dois, sensei! Alguém pelo menos tem que ser feliz ao lado daquele que gosta, né?
Kakashi apenas assentiu, não havia o que falar e não queria ver o Uzumaki entrar numa tristeza em sua frente, a qual não saberia como lidar ou aconselhar alguém sobre problemas amorosos.
✤ ✤
Iruka encarava sua sala com um olhar distante, apesar de ter assumido o posto de diretor há alguns anos, ainda sentia falta dos pré-gennins agitados, do preparo das aulas e de transmitir a vontade do fogo adiante. Suas responsabilidades aumentaram significativamente, mas após muito trabalho, ele conseguiu se organizar, e agora tinha muito mais tempo livre, o que o levava a uma questão simples: “O que fazer agora?”.
Sua vida pessoal se encontrava parada — para não dizer encalhada, como seus amigos gostavam de repetir — mas o que podia fazer? A resposta que sua mente lhe mandava era tão rápida quanto o Hiraishin: “Fale com ele”.
— Mas como? Devo ir até ele e o convidar para um passeio? Para um encontro? — respondeu sua própria pergunta em voz alta.
Para os amigos do Umino e para quem fosse um bom observador, era claro que o ex-sensei da Academia falava de Kakashi, afinal, todos sabiam que ambos nutriam sentimentos que iam além da amizade, mas devido a vida que levavam — especificamente a de um deles — aquilo foi deixado de lado.
— E por que não? É só chamá-lo para o Ichiraku — Iruka quase caiu da cadeira com o susto que levou, afinal, nunca foi pego de surpresa pela pessoa que entrava em sua sala.
— Quando aprendeu a ser tão silencioso, Naruto?
— Eu? Quase caí de cara no chão e você não ouviu? Estava pensando longe, ou nem tanto, talvez em alguém que fica na torre do Hokage…
— O que está insinuando?
— Nada, não estou insinuando nada. Só dizendo que deve chamar o Kakashi-sensei para jantar no Ichiraku, ou passear, ou ir ao cinema… Sei lá o que velhos apaixonados fazem!
— Eu não sou velho, Naruto! — brigou Iruka enquanto tentava controlar o rubor que certamente cobria o seu rosto.
— Mas não é novinho! Devia pedir ele logo em namoro.
— Não seja idiota! Como vou pedir alguém em namoro se nós…
— Mal se conhecem? Conta outra, sensei! — Assim como Kakashi, Iruka já havia desistido de fazê-lo parar de chamá-lo daquela maneira. — Vocês se conhecem desde pirralhos, já tiveram mais brigas que qualquer casal de velhos e continuam amigos. No passado deve ter tido algo que não permitiu que ficassem juntos, mas agora, o que impede? Quero ver vocês dois felizes, juntos, pois é o que querem!
— Cadê aquele moleque cabeça de vento que não pensava nas coisas, apenas agia?
— Ele cresceu e precisou quebrar a cara algumas vezes para perceber que nem tudo deve ser feito na impulsividade.
— E fala do casamento com a Hinata e aquele por quem seu coração realmente acelera, não é?
— O senhor me conhece bem, hein?
— Um pouco… Pense bem antes de tomar qualquer decisão, tenha certeza de que a outra parte está disposta a abrir mão do que tem para viverem esse amor. Não crie muitas expectativas, está bem? A relação dele com a Temari é diferente da sua com a Hinata.
— Vou tentar não agir de forma impulsiva. Já o senhor, dane-se a calma e os pensamentos, seja impulsivo uma vez.
Talvez o Uzumaki estivesse certo, pois naquele momento, era o único que sabia que os mais velhos, que quase considerava como pais, estavam com os mesmos pensamentos e desejos, apenas não sabiam. E não seria ele a contar.
✤ ✤
Kakashi caminhava pelas ruas de Konoha com a mente distraída, era até estranho poder ficar tão relaxado ao invés do modo alerta vinte e quatro horas por dia. Em alguns momentos até sentia falta da adrenalina correndo por suas veias, da intensidade das batalhas. O ninja temido por nações agora quase beirava a um civil, ou o máximo que sua posição e fama permitiam, pois o tempo passava, mas as histórias que o cercavam não eram esquecidas.
Percebeu que havia chegado ao seu destino quando sentiu o cheiro de temperos e comidas, sua intenção não era realmente parar no Ichiraku, ou talvez ele tenha inconscientemente ido até lá na esperança de encontrar de Iruka.
Assim que seus olhos encontraram o homem sentado em uma das mesas e não no balcão, como normalmente o via, sentiu uma eletricidade percorrer seu corpo, lhe dando uma sensação que poderia ser comparada a emoção de estar diante de uma grande batalha, mas dessa vez, ele não corria risco de morte.
Respirou fundo e entrou na pequena barraca, e por Kami, como ele ficava totalmente desarmado quando Iruka lhe direcionava aqueles sorrisos calorosos e logo em seguida ficava envergonhado e coçava sua cicatriz. Se sentia realmente como um adolescente apaixonado naqueles momentos. Cumprimentou o chuunin e pediu para juntar-se a ele, esperando que o homem não estivesse em algum encontro.
— Aproveitando seus últimos dias como Hokage?
— Não vejo a hora de me livrar de tudo isso e poder ficar em casa o dia inteiro, de roupão, sem fazer absolutamente nada.
— Você tenta parecer mais empolgado do que realmente está com esse futuro promissor — brincou Iruka.
— Um grande futuro sem missões suicidas, sem perigos, sem nenhuma papelada burocrática na minha frente, sem reuniões, sem Shikamaru no meu pé, e o mais importante: sem Naruto perguntando a cada dois minutos quando ele assumirá? É o meu sonho!
— Seu sonho é ficar sem fazer nada o dia todo, lendo seus livros pervertidos, ignorando todo mundo… hum, me parece que não mudou muita coisa.
— Sensei, estou ofendido que me veja dessa forma — dramatizou o Hatake, colocando a mão no peito e encarando o outro com um olhar horrorizado, o qual Iruka tentou se manter sério, mas era uma cena cômica demais para isso.
— Não tem mais nenhum outro plano para sua aposentadoria? Nada que queira fazer? — A pergunta poderia parecer inocente, mas Kakashi conhecia o Umino para saber que suas perguntas não eram tão inocentes quanto queria que pensassem.
— Na verdade, tem sim, e ele… bem… envolve você…
Iruka o encarou com os olhos arregalados, tentando processar o que aquelas palavras queriam dizer.
— Eu? C-como assim? — A mente do Umino trabalhava em diversas possibilidades, mas a maioria dos seus pensamentos giravam em torno de apenas uma única situação que desejava realizar. Mal sabia ele que Kakashi se encontrava no mesmo estado, e como se tivesse planejado, os dois ouviram a voz de Naruto em sua mente, lhes dizendo para tomar a iniciativa.
— Gostaria de ir a um encontro comigo? — Ambos perguntaram ao mesmo tempo, ficando corados como adolescentes em seu primeiro amor, mas logo começaram a rir da situação, deixando o clima mais leve.
— Ao menos estamos em sintonia, sensei — declarou Kakashi, com o peito mais leve.
— Sim… O que acha de ser na próxima sexta? Tenho folga na Academia.
— Você se dando folga? Que milagre é esse? — O Rokudaime não evitou a provocação.
— Ao contrário de certas pessoas, eu gosto do meu trabalho, mas também preciso de um descanso.
— Eu também gosto do meu, mas se eu puder evitá-lo, por que não?
— Você não tem jeito, Lord Sexto. — O chuunin usou o título apenas para provocar o outro, que apesar da feição levemente emburrada, ainda sorria sob a máscara.
— E você gosta, admita.
— Não admitirei nada, não hoje pelo menos.
— Na sexta?
— Terá que estar no parque na saída da vila para descobrir. Não se atrase, Hatake.
— Não prometo nada, mas farei o meu melhor. Tenho ótimos motivos para não me atrasar.
✤ ✤
Os dias pareciam se arrastar até que a tão aguardada sexta-feira chegasse, e era claro para aqueles que conviviam com Kakashi e Iruka que ambos aguardavam por alguma coisa, especialmente Naruto, que não perdia uma oportunidade de provocar os mais velhos.
— Então, vai se encontrar com Iruka-sensei amanhã? Já comprou um presente? E lamen? E doces, ele adora doces e flores, ele é meio piegas e gosta dessas coisas.
— Não preciso de conselhos amorosos, especialmente aqueles vindos de você — afirmou Kakashi, apesar de ter feito uma nota mental daquilo enquanto colocava o loiro para fora de sua sala como se ele tivesse 12 anos novamente.
Assim que Naruto colocou os pés para fora de sala, seu olhar foi atraído para um ninja que caminhava sem muita vontade, como se tivesse acabado de acordar, até onde o Hokage estaria. Quando os olhares se cruzaram, o preguiçoso e a pura energia, podia-se dizer que um novo Rasengan estava para ser realizado, mas tudo se dissipou quando o Nara desviou o olhar, tudo era problemático demais e ele não podia pensar no assunto naquele momento, mesmo que desejasse. Mas ninguém podia prever Naruto, ou melhor, Shikamaru deveria esperar por algo vindo do loiro.
— Shika… precisamos conversar…
— Eu sei, mas não agora.
— Quando?
— Outro dia.
— Tudo bem — concordou cabisbaixo, era sempre a mesma resposta. Ficou encarando o conselheiro entrar na sala do Hokage enquanto engolia o bolo em sua garganta. — Enquanto esse dia não chega, posso ajudar quem está prestes a viver sua história e amor. Espero que não precise ficar velho para viver a minha.
Pensando sobre sua vida amorosa e a comparando com a de Kakashi e Iruka, o herói da guerra se dirigiu mais uma vez até a Academia Ninja, pronto para despejar seus ótimos conselhos amorosos não solicitados.
Ao chegar no lugar, sentiu uma certa nostalgia, mas deixou passar. Seu foco não era lembrar do passado, e sim ajudar aquele que considerava um pai a ter um encontro perfeito. Entrou na sala de Iruka sem nem se dar ao trabalho de bater na porta, mas dessa vez não pegou o outro de surpresa.
— Naruto! O que faz aqui? Não deveria estar com Shizune para se inteirar dos assuntos da vila? Como vai assumir a função de Hokage assim?
— Hoje é por um bom motivo, mas parece que nem precisa da minha ajuda! — Olhou para a cadeira, onde havia uma cesta de piquenique que Iruka terminava de arrumar. — Sakê… salgadinhos… Não esqueça de frutas, Kakashi-sensei gosta dessas coisas, não como o Gai-sensei, mas ainda assim e, claro, sem doces, não sei como ele consegue não gostar dessas maravilhas.
— Eu sei, Naruto, não se preocupe. Agora, por favor, saia.
— Tá me expulsando? Só queria ajudar. Comprou alianças? — O olhar que recebeu era um aviso que deveria parar e optou por acatar, ouviria sermão se continuasse com as provocações. — Tá bom, tá bom! Não precisa me olhar assim. Boa sorte amanhã, sensei!
✤ ✤
Talvez fosse a primeira vez em sua vida, mas Kakashi estava mais de quinze minutos adiantado. Caminhando de um lado para o outro, totalmente ansioso, buscava com o olhar pela figura do Umino que, obviamente, não tinha aparecido ainda. Enquanto seus pés descontavam a carga de energia do seu corpo em andar em círculos, sua mente viajava, pensando e criando formas de se declarar.
— Ah, por favor! Chamar ele para sair foi mais fácil do que pensei. Por que dizer que o amo tem que ser tão difícil?
Antes que pudesse se dar conta, já havia saído do ponto de encontro e ido até o Ichiraku, onde avistou, de longe, Naruto conversando com seu pretendente. Soltou um suspiro, escondendo-se assim que pensou que seria visto. Ótimo, não bastava passar vergonha, agora também ficaria agindo como uma criança brincando de pique-pega.
— Eu nem sei o que dizer a ele! Céus, o que eu faço? Ele está quase chegando no lugar em que marcamos! — Esfregou o rosto, massageando as têmporas.
— Rokudaime, o senhor precisa resolver logo seus assuntos pessoais para estar livre para fazer seu trabalho. Aconselho descer dessa árvore e ir falar com ele de uma vez! — A voz grossa assustou o Hatake, que, despreparado, quase lançou um chidori contra o Nara, que se manteve impassível e inexpressivo a todo instante. — Não me mate, por favor. Eu serei o conselheiro do próximo Hokage também — falou tão sério que fez o outro homem rir da sua falta de humor.
— Não sei o que dizer a ele! — O Hatake sentou sobre o galho, percebendo que Iruka também parecia estar enrolando, visto que conversava e ria com o Uzumaki como se a hora não estivesse passando. — Não sei como falar o que sinto, nem como pedir ele em namoro — confessou, chateado.
Shikamaru suspirou, abaixando-se em sua costumeira posição para pensar sobre. Seus olhos passearam entre o casal em questão para, então, fixar na figura loira de olhos azuis e sorriso fácil próxima ao seu antigo sensei.
Que problemático…
— Comece falando das qualidades dele! Diga o quanto ele é lindo, inteligente, forte, solidário, compreensivo… — Kakashi logo percebeu que não era de Iruka que o Nara falava. O tom carinhoso, senão apaixonado, entregou tudo. — Exalte seus talentos, fale sobre a alegria interminável dele, do jeito que sorri quando está animado… — Observou mais um pouco o loiro, sorrindo de canto quando ele tentou ensinar o Umino a dançar algo indescritível. — Convide logo ele para jantar e faça o pedido, você não vai querer se arrepender depois, Sexto Hokage.
— Nós temos um encontro agora, na realidade, mas ao que parece, ambos estamos enrolando justamente por não saber o que fazer — admitiu Kakashi por fim, se aproximando de Shikamaru, ambos encarando os outros dois.
— É impressionante, você conseguiu me deixar mais cansado só de te ouvir falar, Kakashi — comentou Shikamaru, encostando na árvore com as mãos no bolso.
Kakashi coçou a nuca, desviando o olhar. Ele levou a mão ao bolso, segurando o pequeno presente que havia ali dentro, mas parecia mais inclinado a se esconder do que a entregar o objeto.
— Mas é diferente dessa vez. Antes, eram só conversas casuais. Agora… Agora tem expectativas.
Shikamaru suspirou, sacudindo a cabeça.
— As expectativas são suas. O Iruka é um cara simples. Ele provavelmente só quer passar um tempo com você, sem complicações. Qual é o problema? Não é como se fosse a primeira vez que vocês saem juntos. Então vá logo conversar com ele e não fique aqui agindo como se tivesse quinze anos. — O Nara empurrou o mais velho, rindo ao ver que Naruto havia feito o mesmo com Iruka.
✤ ✤
De onde Kakashi e Shikamaru estavam, não conseguiam ouvir a conversa entre Naruto e Iruka, que tentava acalmar aquele que considerava quase um pai.
— Você tá nervoso demais, Iruka-sensei! — Naruto cruzou os braços, observando o mais velho arrumar pela décima vez o colarinho da camisa azul que havia escolhido. — Relaxa! O Kakashi gosta de você! Tá na cara dele quando te vê, mesmo com aquela máscara.
Iruka suspirou, ajeitando o cabelo, tentando deixar os fios alinhados, como se já não estivesse.
— Não é tão simples assim, Naruto. Esse é nosso primeiro encontro oficial como… como algo a mais. Não posso estragar tudo!
Naruto rolou os olhos e se aproximou, pegando Iruka pelos ombros.
— O que você pode estragar? Você é perfeito, sério! Sempre me deu bons conselhos, me ajudou a superar coisas difíceis… Tenho certeza de que o Kakashi sente o mesmo.
Iruka parou por um momento, olhando para Naruto. O garoto tinha um sorriso travesso no rosto, mas os olhos brilhavam com sinceridade.
— Você acha mesmo? — perguntou, com um sorriso hesitante.
— É claro que acho! Agora vai logo! — Naruto praticamente empurrou Iruka em direção ao parque. — Você já tá atrasado, e o Kakashi vai achar que foi abandonado.
Iruka riu nervosamente, colocando a mão no bolso, sentindo o objeto que havia ali pesar muito mais que as gramas que realmente tinha.
— Quer dançar um pouco? Podemos fazer uns passos e assim o senhor vai rir e não vai ficar tão tenso.
Iruka sorriu e negou com a cabeça aquela ideia absurda, mas quando percebeu estavam ambos arriscando o que talvez nem poderia se chamar de dança.
— Está mais calmo ou vai surtar quando ver que Kakashi estava nos olhando? — o loiro apontou para onde Kakashi e Shikamaru estavam e o Umino só não caiu porque o mais novo o segurou, rindo da cena e empurrando Iruka na direção do atual Hokage.
✤ ✤
Iruka se aproximou de Kakashi, as mãos tremendo levemente enquanto pensava, como uma mantra: “Não estrague tudo, Iruka, não estrague tudo…”.
Apesar do nervosismo, um sorriso breve estampava o rosto amadurecido pelo tempo, e o Hatake não evitou imitá-lo. Os olhos de Iruka se iluminaram quando viram o prateado de perto, enquanto Shikamaru passava por eles, indo em direção ao Naruto — ao que parecia — e sem deixar de resmungar um “problemático”.
— Achei que você não viria… — Iruka disse, meio brincando, meio nervoso.
— E perder a chance de te ver nervoso assim? Nem pensar — Kakashi respondeu, e os dois riram, aliviando um pouco a tensão.
— Bom, vamos? Acho que nosso encontro é no parque, não?
Kakashi assentiu e ambos caminhavam lado a lado em direção ao seu destino, sentindo o calor que emanava do corpo alheio e desejando, por alguma razão, entrelaçar os dedos para, quem sabe, acalmar a ansiedade que sentia.
O sol da tarde iluminava o parque, onde Kakashi e Iruka haviam combinado de se encontrar. Assim que chegaram, Iruka encontrou uma cerejeira grande e florida. Retirou do bolso um pequeno pergaminho de armazenamento e dele tirou uma toalha xadrez, e em seguida, uma cesta de piquenique.
— Pensou em tudo mesmo, sensei… Mas não foi o único… — Kakashi declarou antes de pegar o próprio pergaminho e tirou uma sacola de doces, além de um vinho, e em seguida sentou-se ao lado do Umino.
— Parece que você planejou tudo nos mínimos detalhes.
— Eu queria que fosse especial. — Iruka sorriu, tentando ignorar o nervosismo.
Eles passaram algum tempo comendo e conversando, o ambiente tranquilo ajudou a aliviar a tensão inicial. No entanto, o momento crucial chegou quando ambos pegaram, ao mesmo tempo, as pequenas caixas que ambos carregavam nos bolsos.
— Você trouxe algo? — perguntou Kakashi.
— Bem... sim, mas… você também trouxe? — Iruka perguntou também, confuso.
Os dois trocaram as caixinhas, sendo a de Iruka azul-escura e de Kakashi vermelha, e o silêncio tomou conta enquanto abriam as caixas. Kakashi encontrou uma aliança simples e elegante dentro da caixinha de Iruka, enquanto o sensei descobriu uma semelhante na de Kakashi. Eles se encararam, surpresos, antes de começarem a rir.
— Você comprou uma aliança pra mim? — perguntou Kakashi, divertido.
— E você fez o mesmo! — Iruka respondeu, rindo junto.
A gargalhada dos dois ecoou pelo parque, atraindo olhares curiosos. Quando finalmente se recompuseram, Kakashi pegou a aliança da caixinha de Iruka e segurou a mão dele.
— Então, oficialmente... você aceita ser meu namorado?
Não era preciso de mais palavras, nem repetir o que eles já sabiam há tempos, eles se gostavam, queriam estar um ao lado do outro, agora mais do que nunca.
Iruka sorriu, as bochechas corando enquanto ele pegava a aliança de Kakashi.
— Aceito. Mas só se você aceitar ser o meu também.
Eles trocaram as alianças ali mesmo, sob a sombra da cerejeira, e por um momento o mundo pareceu se resumir apenas a eles dois.
O Hokage olhou para os lados, e apesar da atenção chamada momentos antes, agora ninguém mais parecia se importar com eles, e aproveitando a oportunidade, Kakashi abaixou a máscara e beijou rapidamente Iruka, que no instante que sentiu os lábios nos seus, desejou sentir muito mais.
— Quando estivermos sozinhos, prometo que te dou muito mais — garantiu Kakashi, recolocando a máscara.
Após alguns minutos de silêncio confortável, com Iruka apoiado no Hatake, que mantinha um carinho em seus cabelos, o mais velho se afastou e olhou para Iruka com um brilho travesso nos olhos.
— Agora que estamos juntos, tenho uma missão pra gente.
Iruka arqueou uma sobrancelha.
— Missão?
— Juntar Naruto e Shikamaru. — Kakashi riu ao ver a expressão surpresa de Iruka. — O Shikamaru passou o dia inteiro me dando conselhos sobre você. Não necessariamente sobre você, acho que ele falava mais do Naruto que qualquer outra coisa.
Iruka cruzou os braços, pensativo.
— Naruto me fez o mesmo. Ele me deu mais apoio hoje do que em qualquer outra situação. Eles precisam se entender, não quero vê-los sofrendo e esperando a vida passar para poder viver o que estamos começando agora.
— Não será fácil, mas sei que meu namorado — enfatizou a palavra — tem os melhores conselhos de toda Konoha.
Os dois se entreolharam, e sorrisos conspiratórios surgiram em seus rostos.
— Um pacto, então? — Iruka estendeu a mão.
— Um pacto. — Kakashi apertou a mão dele, rindo.
O resto da tarde foi preenchido por risadas, conversas e planos elaborados para juntar os dois jovens. Afinal, agora que estavam juntos, compartilharam mais do que sentimentos: compartilharam também suas estratégias de casal.