Sombra de sangue

Naruto (Anime & Manga)
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Sombra de sangue
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Summary
Enquanto tenta negociar uma trégua entre o clã Uchiha e um pequeno vilarejo rebelde, Izuna é confundido com Madara, que em uma incursão anterior atacou o local sem piedade. Capturado pelos habitantes e acusado de crimes que não cometeu, Izuna precisa usar sua inteligência e habilidades para escapar, ao mesmo tempo em que tenta provar sua inocência. No entanto, ele acaba descobrindo segredos sombrios sobre o passado de Madara que podem mudar sua visão sobre o irmão — e sobre o papel dos Uchihas no conflito."Eu não sou ele. Não serei ele. Não importa o que digam ou pensem."Izuna Week 2025 | 6º dia | 15 de fevereiro | Sete Espadachim | Identidade Equivocada | Sucessão AU | Izuna centric | TobiIzu
Note
Chegando com a penultima história da Izuna Week 2025.Foi um poquinho dificil trabalhar elas tentando não focar apenas em relacionamentos romanticos, apesar de parecerem ao fundo, como essa e sim mais na relação do Izuna com seu clã e principalmente seu irmão, Madara.Essa talvez seja uma das mais tensas e espero que gostem.Agradecendo sempre a staff do projeto!! Vocês são mais que perfeitos!Ao lindo que availou o Plot e Fanfic @Moonshine1024A @caprihorn que tava doando a capa e pedi algumas alterações e ela prontamente fez porque não fazia menor ideia de como queria e encaixou perfeitamente na história.E ao @Immorqlz meu beta lindo, cheirosin, gostosin que teceu comentários que me deixaram feliz com o resultado (espero que concordem com ele)Boa leitura!

Fanfic / Fanfiction Sombra de sangue

 

 

“Eu não busco perdão, busco liberdade — de mim mesmo, do meu clã, do meu passado.”

 

Izuna, em sua incansável tentativa de mediar a paz entre os Uchihas e os vilarejos vizinhos para aumentar seu poder e vencer finalmente aquela guerra, foi enviado a um pequeno assentamento chamado Moriyama, que se recusa a cooperar com o clã. Seu irmão nunca explicou o motivo da recusa, mas, para o mais novo, havia uma chance deles se unirem ao seu clã, pois também não haviam criado aliança com os Senju. O Uchiha se aproximou com boas intenções, mas ao atravessar os portões, ele foi cercado por aldeões armados e imobilizado, não tendo oportunidade de revidar e tentar se soltar.  

— Madara! — gritaram os habitantes, com ódio fervilhando em seus olhos. Eles acreditaram que Izuna é seu irmão mais velho, que anos antes liderou um ataque brutal contra o vilarejo. Muitos perderam suas famílias naquele dia, e a presença de Izuna era vista como uma afronta.  

Izuna foi arrastado pelas ruínas do vilarejo, onde as cinzas ainda dançavam ao vento e os restos carbonizados das casas formavam um cenário desolador. Apesar do caos parecer reinar, era como se aquelas chamas estivessem ali há muito tempo, como um lembrete aos moradores de nunca esquecerem pelo que passaram.

Apesar de tentar explicar sua identidade, ele é silenciado e preso, condenado a um julgamento público. Não importava o quanto ele gritava e tentasse provar que não era o irmão, não era ouvido. Ou era simplesmente ignorado.

Izuna passou dias trancado, tratado como lixo, e apesar de parecer um vilarejo decadente, os poucos habitantes que haviam ali eram bons ninjas, pois conseguiram impedi-lo de usar chakra, e com isso, não conseguia usar seu sharingan. Mesmo naquela situação, ele ouvia sussurros de sobreviventes sobre o passado e seu irmão. Para aquele povo, Madara era o próprio demônio encarnado, a criatura mais vil e cruel que conheceram.

As pessoas o olhavam com desconfiança, algumas tremendo de medo ao notar o símbolo do clã bordado em sua roupa. Outras, mais ousadas, lançavam-lhe olhares de puro ódio, cuspindo no chão ao vê-lo passar. Nunca pensou que seria tão humilhado até sentir o que poderia jurar ser as fezes de algum animal. Um ancião chegou a gritar:  

— Você pode não ser ele, mas é igual a ele! Um monstro que só traz destruição!

Izuna não respondeu. As palavras eram como facas, mas ele sabia que reagir só reforçaria os preconceitos deles. Ele foi levado até uma tenda improvisada, que serviria naquele momento como prisão. Aparentemente não se preocupavam com o Uchiha, pois estava indefeso e ele sabia que se falasse algo ou agisse de forma suspeita, sua vida terminaria naquele lugar.

Já fazia quase dois dias que ele estava sendo mantido preso, ao menos não o deixavam com sede e fome, apesar da situação escassa. A mulher que trazia seu alimento era magra e parecia exausta. Aparentava ser um pouco mais velha que Madara, mas sempre que precisava encarar Izuna, tinha os olhos injetados de um rancor nunca visto pelo mais novo.

— Você quer respostas, Uchiha? — perguntou com a voz áspera. — Quer provas que seu irmão causou tudo a isso a nós? Então veja com seus próprios olhos. Pegue os registros que ele nos deixou.

Ela empurrou um pergaminho para ele, quase jogando-o em seu peito. Izuna pegou o objeto atrapalhado, pois as mãos estavam amarradas e seu movimento era mínimo para não conseguir executar nenhum selo. Uma precaução mesmo ele não conseguindo ter acesso ao seu chakra.

Com cuidado, notando as marcas de mãos sujas e o sangue seco que mancham o papel, começou a desenrolar, mas logo o escondeu ao ver mais pessoas entrando ali. Não queria perder a única chance de ter mais informações sobre o que realmente aconteceu.

Mais tarde naquela noite, ao abrir o pergaminho sob a luz fraca da única vela que havia ali, Izuna sentiu seu estômago se revirar. Era uma declaração escrita por Madara, detalhando a “proposta” feita ao vilarejo. A letra de seu irmão era inconfundível: firme, precisa, quase arrogante. As palavras eram claras e ameaçadoras:  

“Submetam-se ao clã Uchiha ou enfrentem as consequências. Nós não toleramos deserções nem alianças com os Senju.”  

Junto ao pergaminho, havia relatos adicionais de sobreviventes. Eles descreveram como os homens de Madara chegaram durante a noite, queimando tudo em seu caminho. Algumas mulheres choravam enquanto falavam, descrevendo os gritos que ecoaram durante horas.  

Izuna apertou o pergaminho com força, sua mente em conflito. Ele não queria acreditar que Madara era capaz de algo tão cruel, mas os testemunhos eram claros demais.  

 

 『』

 

Mais um dia se passou, e quanto mais Izuna relia aqueles relatórios, mais confuso ele ficava. Ele tentou conversar com algumas pessoas que entravam ali. Algumas o ignoraram e outras o agrediram, desejando poder fazer muito mais que apenas machucá-lo. Queriam ver seu sangue escorrendo pela terra enquanto sua vida abandonava seu corpo.

Enquanto continuava investigando, procurando alguém disposto a falar algo além de acusações e xingamentos, ele encontrou uma jovem chamada Hana, que o olhou com uma mistura de medo e desafio.  

— Você é irmão dele, não é? — ela perguntou, os dedos tremendo enquanto segurava uma faca rudimentar, apontando para o Uchiha.  

— Sou — respondeu Izuna, mantendo a voz baixa.  

— Então deveria saber o que ele fez. Ele não é um líder, é um tirano! Ele destruiu famílias inteiras! E para quê? Para provar que é mais forte?  

Izuna tentou argumentar, mas ela continuou:

— Você acha que só porque ele é seu irmão, isso o redime? Ele nos transformou em cinzas. Você devia ter vergonha. Eu perdi todo mundo. Meu pai, minha mãe e minha irmãzinha. Ela tinha apenas cinco anos quando aquele maldito colocou fogo na nossa casa, nos trancando lá dentro. Eu consegui sair, mas quando virei para pegar minha irmã…  

O impacto das palavras dela pesou sobre ele. Cada rosto que ele encontrava, cada olhar de reprovação ou medo apenas reforçava o quão longe Madara tinha ido em sua obsessão.  

— Você deveria morrer para que ele sinta o que é perder alguém de forma tão covarde. Deveria te matar enquanto está indefeso, como se fosse um cordeiro a ser sacrificado.

A garota partiu para cima de Izuna, mas foi impedida no último momento, segurada por um homem que tinha idade para ser, no mínimo, pai de Izuna. Ele tinha uma aparência desgastada pelo tempo, e com olhos cheios de rancor que Izuna sentia sem nem mesmo olhá-lo diretamente.

— Já chega, Hana! Nós não somos iguais a eles.

A garota largou a faca e saiu correndo, deixando apenas Izuna, o senhor que acabara de chegar e mais dois guardas.

— Me chamo Ryusei, sou o líder de Moriyama. Vamos conversar, Uchiha. Sei que já recebeu um relatório sobre o ataque que sofremos, que comprova o envolvimento direto do seu irmão.

Izuna o encarou confuso e bufou ao entender que a mulher não havia entregue aquilo porque queria provocá-lo, mas sim para ver como ele reagiria.

— Eu só lhe dei isso porque você parece diferente — Ryusei disse, cauteloso. — Mas se você for como ele… então não há esperança para nenhum de vocês. Vamos, tragam-no — ordenou o homem e o Uchiha foi levantado com brutalidade pelos dois homens que acompanhavam o líder.

Izuna foi levado ao salão central do vilarejo, uma antiga construção de madeira com tochas iluminando as paredes. Cercado por aldeões armados e famintos por justiça, Izuna, ainda com os punhos amarrados, foi forçado a ajoelhar-se diante do conselho local.  

— Você veio aqui com mentiras nos lábios — disse Ryusei, sua voz carregada de desprezo. — Acha que pode apagar o sangue que os seus derramaram neste solo? Que podemos esquecer o que fez às nossas famílias?  

Izuna tentou manter a calma, mas os murmúrios furiosos dos aldeões o colocavam em uma situação delicada. Ele respirou fundo antes de responder:  

— Eu não sou Madara, não fiz nada contra vocês. Já disse isso. Meu nome é Izuna. Sou seu irmão mais novo, e vim aqui para negociar a paz — repetiu a mesma coisa pela incontável vez.

Ryusei riu amargamente.

— Paz? Vindo do clã Uchiha? É fácil falar de paz depois de massacrar nossas crianças e queimar nossas colheitas.

— Isso foi um erro — Izuna retrucou. — Eu não estava aqui. Nem mesmo sei o que aconteceu naquele dia. Mas posso garantir que não foi…

— Não foi culpa de Madara? — Ryusei o interrompeu. — Então, me diga: ele não te contou isso? O relatório que leu não tinha a caligrafia dele? Deseja mais provas?

O líder puxou um pergaminho amassado de uma mesa próxima e jogou-o no chão diante de Izuna. Era um documento assinado com o brasão do clã Uchiha. Izuna reconheceu imediatamente a caligrafia de seu irmão. O conteúdo era direto: mais uma ameaça àqueles que se opusessem à supremacia Uchiha.  

— Madara enviou esta mensagem no dia anterior ao ataque — Ryusei continuou. — Ele exigiu submissão. Quando nos recusamos, seus homens chegaram ao amanhecer. Eles não vieram apenas para matar, eles queriam que todos soubessem que era obra de Madara Uchiha.

Izuna apertou os punhos. Ele sabia que Madara era implacável quando se tratava de proteger o clã, mas algo não se encaixava. Ele encontrou coragem para levantar a voz.  

— Madara pode ser muitas coisas, mas ele não precisa de ameaças vazias para obter o que queria. Por que ele avisaria antes de atacar? O que você está me mostrando não prova nada além de que alguém queria incriminá-lo.

Ryusei estreitou os olhos.

— Então você ainda acredita que seu irmão é inocente? Deixe-me mostrar o que ele fez.

O homem ergueu a mão, e os aldeões abriram espaço para uma figura trêmula entrar. Era uma mulher idosa, que carregava uma criança pequena nos braços. Seu rosto estava parcialmente coberto por cicatrizes, e ela olhou para Izuna com uma mistura de medo e ódio.  

— Esta é Yumi. Ela sobreviveu ao massacre de sua vila, mas perdeu toda a família. Acha que ela se esqueceu do homem que liderou aquele ataque? Ela viu Madara Uchiha com seus próprios olhos.  

Yumi deu um passo à frente, e sua voz, embora fraca, era cortante.

— Ele usava aquela armadura negra... E seus olhos eram como brasas acesas. Ele disse que ninguém desafia os Uchiha e vive para contar.  

Izuna sentiu o peso das palavras dela como uma pedra no peito. Ele sabia que Madara era capaz de atos extremos em nome do clã, mas essa brutalidade era algo que ele nunca testemunhara pessoalmente.  

— Mesmo que seja verdade — Izuna disse, lutando para manter a compostura — eu não sou ele. Estou aqui para corrigir o que está errado. Não posso mudar o passado, mas posso ajudar a construir um futuro melhor para todos nós.

Ryusei se aproximou, ficando cara a cara com Izuna.

— Então prove, Uchiha. Prove que você não é igual ao seu irmão. Se está aqui pela paz, então nos dê algo para acreditar.

A boca de Izuna se abriu rapidamente para responder aquilo, mas logo a fechou. Não podia simplesmente dizer a eles que estava envolvido em um relacionamento com um Senju quando nem mesmo seu irmão sabia daquilo, e se aquela informação chegasse aos ouvidos de Madara diante de toda aquela tensão, seria o fim e ele nem poderia impedir.

— Não há nada que possa oferecer? Ou talvez tenha, mas também possui medo do seu irmão, mesmo que não admita. — Ryusei, mesmo marcado pela desconfiança e pela dor, tinha algo em mente, um pedido significativo que iria além de palavras para provar que Izuna realmente desejava a paz e que não seguia os passos destrutivos de Madara.

Enquanto pegava de volta os registros, Ryusei parou, segurando o braço de Izuna com uma força inesperada para alguém de sua idade. Seus olhos estavam vermelhos e marejados, no entanto, sua voz era firme.  

— Se você quer que eu acredite que não é como ele, prove — disse Ryusei. — Há sobreviventes escondidos nas montanhas, muitos deles feridos e sem comida. Leve ajuda até eles. Mostre que você se importa com quem seu clã deixou para trás.

Izuna ficou em silêncio, absorvendo o pedido.  

— Eu sei que é perigoso para você — Ryusei continuou. — Se alguém do seu clã souber que você está ajudando essas pessoas, talvez o julguem. Talvez até o tratem como traidor. Mas se você realmente deseja a paz, deve estar disposto a carregar esse peso.

Izuna hesitou por um momento, desejando internamente a ajuda de Tobirama, que após uma bela bronca e discurso de como foi ingênuo e imprudente, acabaria o ajudando. No fim, balançou a cabeça lentamente.

— Onde eles estão?

Ryusei estreitou os olhos, como se avaliasse a sinceridade de Izuna.

— Eles estão escondidos em cavernas a meio-dia de viagem ao norte daqui. Mas não pense que é só chegar e ajudar. Eles têm medo. Medo dos Uchiha. Você terá que convencê-los de que não é uma ameaça. Será a sua palavra contra os gritos que ouviram naquela noite.

Izuna foi liberto pelos guardas e engoliu seco ao ver alguns jovens se encolherem e outros levarem as mãos às armas precárias, temendo um ataque. Olhou rapidamente envolta antes de pegar um pergaminho das mãos do líder, onde provavelmente teria mais informações sobre sua nova missão.

 

 『』

 

Izuna retornou ao clã, ocultando seu chakra e fazendo uma volta para não passar pelos territórios dos Senju, não queria um encontro com Tobirama naquele momento. Ele pegaria suprimentos, mesmo sem a autorização formal do clã, e faria a perigosa viagem até os refugiados. Quando chegasse às cavernas, enfrentaria a hostilidade dos sobreviventes, que o reconheceriam como um Uchiha imediatamente. Precisava se preparar para ouvir mais histórias sobre o monstro de olhos escarlates que carregava a morte, precisava  tentar não se deixar afetar e defender o irmão a qualquer custo. Afinal, não seria ouvido.

Assim que chegou ao local, sentiu-se exausto, tanto mentalmente quanto fisicamente. Não deveria ter se assustado quando as pessoas que o viram começaram a pegar suas coisas e correr, enquanto outras pegavam suas crianças e entravam nas tendas improvisadas. Tentou não machucar aqueles que tentaram o acertar, os derrubou com facilidade e os imobilizou, alguns colocou em um genjutsu simples, pois não queria ferir ninguém desnecessariamente ou tudo seria em vão.

Uma mulher de cabelos negros e repicados, com uma criança em seus braços, gritou ao parar em frente a Izuna:

— Você veio terminar o que começou?! Não temos mais nada aqui! Você destruiu tudo! Maldito!

Um homem se aproximou e puxou a mulher para longe, temendo por sua vida e pela criança que carregava. Claramente eram uma família.

— Eu não sou Madara! Tampouco procuro confusão e destruição. Não quero trazer brigas nem mortes — declarou Izuna enquanto se ajoelhava, precisava provar com ações o que falava. — Vim para ajudar.

Ainda abaixado pôde ver algumas pessoas o espiando, enquanto outras um pouco mais corajosas se aproximavam. Lentamente tirou a bolsa que carregava e pegou dela alguns pergaminhos de armazenamento, agradecendo por saber usá-los. Ele mostrou as provisões que trouxe, alimento para todos, ele esperava, mostrando que não tinha armas, que seu objetivo era genuinamente oferecer apoio. Nem mesmo sua katana ele trouxe, havia a deixado escondida nos arredores daquele acampamento. Aos poucos, os sobreviventes mais desesperados e vulneráveis se aproximaram, e mesmo com receio, aceitaram a ajuda daquele que carrega o símbolo da destruição estampado em suas costas.  

Izuna passou alguns dias ali, ajudando aquelas pessoas com o que podia, seja consertando telhados, mantendo fogo acesso, cuidando da terra. Em sua mente surgiu o pensamento de que uma vida daquela forma não seria tão ruim. Uma vida longe das guerras, das lutas, de todo aquele sangue.

Lentamente ele estava se transformando, mudando seu modo de ver o mundo, o que aprofundou ainda mais seu conflito interno. Ele não apenas enxergava a extensão do terror causado por Madara, mas também sentiu na pele o ódio e a desconfiança que o nome Uchiha carregava.  

Ele não voltou a Moriyama, e o líder parecia saber daquilo. Izuna retornou ao seu clã, determinado a confrontar Madara, mas também mais hesitante sobre o que o futuro dos Uchiha significava.

 

 『』

 

Izuna chegou ao território do clã ao amanhecer, exausto e com a mente atormentada pelos eventos no vilarejo, carregando o peso do que viu, ouviu e vivenciou. O peso das acusações contra Madara e as evidências que havia reunido o deixavam dividido. As palavras de Hana, Ryusei, Yumi e outros sobreviventes naquele acampamento ecoavam em sua mente, enquanto o rosto dos mortos e o cheiro das cinzas permaneciam gravados em sua memória.

Quando ele entrou no acampamento, o clã o cumprimentou com sorrisos breves e olhares de alívio. Para eles, ele era o irmão mais confiável, mais humano.  

Mas quando seus olhos encontraram os de Madara, tudo dentro dele se agitou. Ele não conseguia olhar para o irmão sem lembrar da devastação que viu.  

Madara estava no centro, supervisionando o treinamento de alguns jovens recrutas. Sua figura imponente, com os cabelos negros e a armadura reluzente, parecia inabalável. Ao perceber a chegada de Izuna, ele dispensou os recrutas com um gesto brusco e caminhou até o irmão.  

— Izuna — Madara o chamou, a voz firme com um leve toque de preocupação. — Você demorou. O que aconteceu?

Izuna hesitou por alguns instantes, mas logo olhou diretamente nos olhos de Madara. Ele viu o brilho vermelho do Sharingan ativado, um lembrete constante do poder e da intensidade que seu irmão carregava.  

— Precisamos conversar. Agora — respondeu Izuna, o tom mais frio do que ele pretendia.  

O Uchiha mais novo começou a caminhar, sabendo que seria seguido pelo mais velho.

Os dois se encontraram no antigo santuário do clã, longe dos ouvidos curiosos. Izuna colocou os pergaminhos e evidências que trouxera sobre a mesa de pedra no centro do local.  

— O que é isso? — perguntou Madara, franzindo a testa.  

— Isso, irmão — começou Izuna, a voz carregada de tensão — são as consequências dos seus atos.

Madara pegou os documentos e os leu rapidamente. Seus olhos se estreitaram ao reconhecer sua própria caligrafia e as descrições das ações no vilarejo.  

— Você realmente fez isso? — Izuna perguntou, a voz falhando por um momento. — Você ameaçou e destruiu aquele vilarejo?  

Madara respirou fundo, colocando os pergaminhos de lado. Por um instante, ele pareceu menor, menos imponente, como se estivesse carregando um fardo pesado.  

— Sim — ele admitiu, sem rodeios. — Fui eu. Eu mandei a ameaça. E eu liderei o ataque.

O coração de Izuna apertou. Ele esperava que Madara negasse, que houvesse alguma explicação mais nobre para o que havia acontecido, mas a confissão direta do irmão o atingiu como uma lâmina.  

— Por quê? — Izuna perguntou, quase em um sussurro, incapaz de conter a dor e a decepção que transbordavam em sua voz.  

Madara permaneceu em silêncio por alguns instantes, seu olhar fixo no chão. Ele parecia estar escolhendo as palavras com cuidado, mas, ao mesmo tempo, lutava contra algo mais profundo, mais sombrio. Finalmente, ele ergueu os olhos e falou:  

— Porque eu estava consumido pelo ódio, Izuna. — Sua voz era grave, mas tremia em certos pontos, carregada de uma vulnerabilidade rara. — O ódio pelos Senju, pelo que fizeram a nós, ao nosso clã. Cada morte, cada derrota, cada concessão... tudo aquilo queimava dentro de mim como fogo. Eu queria que eles pagassem. Queria destruir tudo ao meu redor. E quando aquele vilarejo se recusou a se aliar a nós, eu não pensei nas consequências. Eu… só agi.

Izuna deu um passo para trás, como se as palavras de Madara fossem um golpe físico. Ele olhou para o irmão, tentando reconciliar o homem que tanto admirava com a figura sombria que admitia tão abertamente seus crimes.  

— Você sempre me ensinou que o clã vinha primeiro — Izuna disse, a dor e a raiva crescendo em sua voz. — Que nós protegemos nosso povo, não importa o custo. Mas o que você fez… não foi proteção, Madara. Foi vingança. E agora eles nos odeiam ainda mais. Você não vê isso? Você nos afasta do sonho de paz a cada passo que dá!

Madara apertou os punhos, seus olhos cintilando com o Sharingan por reflexo.

— Eu fiz o que precisava ser feito! Você não entende o peso de liderar, Izuna! Às vezes, proteger o clã significa sujar as mãos. Mesmo que isso signifique carregar o ódio de outros!

— Mas a que custo? — Izuna gritou, sua voz ecoando pelas paredes do santuário. — A que custo, Madara? Você está disposto a sacrificar tudo e todos por essa obsessão? Até mesmo a própria alma?  

O silêncio que se seguiu foi sufocante. Madara parecia lutar contra algo dentro de si, mas seu rosto endureceu, assumindo aquela máscara de determinação que Izuna conhecia tão bem.  

— Eu não espero que você entenda — Madara disse, mais baixo desta vez, mas com uma firmeza que cortava como uma de suas espadas. — Eu não me orgulho do que fiz, mas faria de novo se significasse proteger nosso povo. Mesmo que isso signifique carregar esse peso sozinho.

Izuna balançou a cabeça, os olhos marejados.

— Você não está carregando isso sozinho, Madara. Suas ações estão nos destruindo, destruindo o que resta de nós. E eu... não sei mais se posso continuar ao seu lado.

Madara deu um passo à frente, a expressão pela primeira vez revelando uma sombra de desespero.

— Izuna... você é tudo o que me resta.

— E é por isso que dói tanto — Izuna respondeu, a voz falhando. — Eu preciso de tempo, Madara. Tempo para entender o que eu sinto, o que eu penso… sobre você, sobre tudo isso. Porque agora, o amor e a admiração que eu tinha por você estão borrados. E não sei se consigo olhar para você do mesmo jeito.

Madara não tentou impedi-lo enquanto ele se afastava. Apenas ficou parado, com os olhos cravados no chão enquanto seu irmão deixava o santuário.  

 

『』

 

Izuna saiu do clã e caminhou sem rumo pelas florestas que circundam o território Uchiha. O ar fresco da manhã não fazia nada para aliviar o peso que carregava no peito. Ele pensava em Madara, no irmão que sempre fora seu modelo, seu porto seguro. Agora, aquele mesmo irmão parecia um estranho, uma figura tragada pela escuridão.  

Cada passo que dava era mais difícil que o anterior. O mundo ao redor parecia maior, mais vazio, enquanto ele lutava para processar o que sentia. Ele sabia que ainda amava Madara, mas agora aquele amor estava coberto de dúvidas e mágoas.  

Ao chegar a um rio próximo, Izuna parou, observando a água fluir tranquilamente. Ele fechou os olhos e deixou as lágrimas finalmente caírem. Pela primeira vez em sua vida  se sentia perdido. E, pela primeira vez, não tinha certeza se poderia voltar.  

Cansado e sem saber o que fazer, mandou uma mensagem para Tobirama. Era arriscado, mas ele precisava de apoio, de consolo, de alguém que apenas o abraçasse.

Tobirama chegou rápido até onde Izuna estava, preocupado com o outro, pois nunca recebeu um recado com apenas três palavras: “Preciso de você”

Izuna não esperou. Assim que viu Tobirama atravessar a entrada, o puxou para um abraço como se fosse sua única âncora. O calor do Senju parecia ser a única coisa que ainda o mantinha inteiro. Seu corpo tremia, e ele se agarrou à armadura de Tobirama com tanta força que suas mãos doíam.  

Tobirama, que raramente mostrava emoção, ficou paralisado por um momento. Ele nunca vira Izuna assim, tão quebrado, tão exposto. Seus olhos normalmente cheios de determinação agora estavam ofuscados por um vazio que ele não sabia como preencher.  

— Izuna... O que aconteceu? — perguntou Tobirama, sua voz baixa e grave, quase hesitante.  

— Eu não quero mais isso — começou o menor, deixando o albino em choque, pensando que se referia a eles. — Eu não aguento mais, Tobirama! — a voz de Izuna soou trêmula, desesperada. Ele se afastou apenas o suficiente para encarar o Senju, e as palavras começaram a sair em um fluxo incontrolável. — Não quero mais isso. Não quero mais essas batalhas, essa guerra. Não quero mais ser confundido com ele. Não quero mais carregar o peso de algo que não escolhi.  

Tobirama estreitou os olhos, confuso e ainda mais preocupado.

— Do que você está falando?  

Izuna deu um passo para trás, passando as mãos pelos cabelos como se estivesse tentando se segurar.

— Eu vi os sobreviventes, Tobirama. Vi o ódio nos olhos deles, e eles não me viram. Eles viram Madara! — Ele respirou fundo, o ar escapando como um soluço contido. — Eu só… não quero mais saber dos  Uchiha contra os Senju. Não quero mais ser parte disso!  

Izuna ergueu os olhos para Tobirama, sua expressão um misto de dor e vulnerabilidade.

— Me leve para longe, Tobirama. Longe do meu clã, longe do seu. Longe de tudo isso. Por favor.  

Tobirama ficou imóvel, como se aquelas palavras tivessem cravado uma lâmina em seu peito. Ele sempre considerou Izuna teimoso, inabalável em sua lealdade ao clã. Ver aquele homem agora, despido de toda a armadura emocional, era algo que ele jamais imaginou.  

— Você tem noção do que está pedindo, Izuna? — perguntou Tobirama, sua voz baixa, mas carregada de intensidade. — Se eu fizer isso, você será visto como um traidor. Eles jamais o aceitariam de volta.  

— E você acha que me importa? — Izuna rebateu, sua voz embargada. — Eu já perdi a admiração pelo meu irmão. Já perdi o respeito do meu clã. Já perdi… tudo. Não me peça para voltar a um lugar que só me afunda ainda mais.  

Tobirama encarou Izuna por longos segundos, o silêncio entre eles carregado como a calmaria antes de uma tempestade. Ele estava prestes a dizer que era impossível, que Izuna precisava pensar melhor, mas algo em seus olhos o parou. Ele viu o abismo em que aquele que aprendeu a amar estava prestes a cair.  

— Está bem — respondeu Tobirama, surpreendendo até a si próprio. Sua voz era firme, mas sua expressão suavizou. — Eu te levarei para longe.  

Izuna piscou, atônito. Ele não esperava que Tobirama concordasse tão facilmente.  

— Você... Você vai mesmo? — perguntou ele, a dúvida evidente em sua voz.  

Tobirama deu um passo à frente, segurando os ombros de Izuna com firmeza, em seguida acariciando o rosto outrora delicado que agora estava endurecido, como se tivesse envelhecido alguns anos nas últimas semanas.

— Eu não vou te deixar afundar, Izuna. Se isso é o que você precisa, se isso é o que pode te salvar... eu farei.  

O Uchiha sentiu as lágrimas arderem em seus olhos, mas não as deixou cair. Ele apenas assentiu, sua voz falhando ao murmurar, de forma  quase inaudível, um: "eu te amo, obrigado".  

Tobirama sabia que o caminho seria complicado. Tanto para Izuna quanto para ele. Mas, por alguma razão, naquele momento, ele sentiu que a promessa que acabara de fazer era a coisa mais importante que já fizera em sua vida. E, pela primeira vez, ele não via Izuna como um Uchiha, mas apenas como alguém que precisava desesperadamente de ajuda.  

— Descanse por agora, — disse Tobirama, sua voz mais suave. — Amanhã partimos.  

Izuna não respondeu, mas a sombra de um alívio parecia passar por seus olhos. Pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu que talvez houvesse uma chance de recomeçar.