Retorno Inesperado

Naruto (Anime & Manga)
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Retorno Inesperado
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Summary
Após a perda do pai, Kakashi vê sua rotina mudar com a chegada inesperada de um misterioso cachorro branco. Com o passar dos dias, Shiro se mostra não ser um cão comum — ele parece entender seus sentimentos, o arrasta para situações estranhamente familiares e, acima de tudo, insiste em empurrá-lo para Iruka, o homem por quem Kakashi secretamente nutre sentimentos.Conforme as coincidências se tornam impossíveis de ignorar, Kakashi começa a suspeitar de algo que vai além da sua compreensão e aceitação.E se, de alguma forma, Sakumo tivesse encontrado uma maneira de cumprir sua promessa de nunca deixá-lo sozinho?Bingo Shinobi | Reencarnação | Kakashi, Sakumo e Iruka
Note
Chegando com mais KakaIru, quase nas 100...Mas dessa vez com um foco um pouquinho mais em Kakashi e seu pai Sakumo, ou algo nesse sentido.Usei o tema "reencarnação" para abordar mais relação de pai e filho e gostei muito do resultado e espero que voces também.Não podia deixar de agradecer a staff incrível do @ACNProejct @Moonshine1024 por avaliar o plot e a fanfic @WhyRu pela betagem impecável @MaySoul pela capa tão delicada e que trouxe a energia da fic...Obrigada, vcs arrasam!!Boa leitura!

Fanfic / Fanfiction Retorno inesperado - Sob a pele de um cão

 

“A morte pode levar um corpo, mas nunca uma promessa. Algumas almas voltam como estrelas, outras como brisas suaves... 

e algumas como companheiros leais, guiando aqueles que amam até que possam se encontrar novamente.”


 

Perder alguém importante, que esteve presente em todos os dias da sua vida, é um dos momentos mais difíceis que alguém pode passar. Kakashi sempre ouviu isso, mas não pensava que doeria tanto perder seu pai. Justo agora que tudo estava indo tão bem, que suas vidas estavam entrando nos eixos e ele também estava perto de criar coragem para dizer o que sentia, tudo virou de cabeça para baixo. O Hatake mal tinha vontade de sair de casa, fazia as coisas no automático, se isolou ainda mais e ninguém parecia conseguir se aproximar, encontrar uma brecha na armadura que colocou.

Kakashi acreditava que com o tempo, a dor diminuiria e que conseguiria voltar a lidar com o mundo à sua volta. Porém, quanto mais o tempo passava, menos ele tinha certeza de que as coisas melhorariam. Até aquele dia.

Ele nunca foi um homem de acreditar em milagres. Ou em coincidências absurdas. Ou de que alguém em algum lugar se preocuparia tanto consigo a ponto de enviar algo, ou alguém para lhe ajudar. Kakashi havia ficado mais uma vez até mais tarde no trabalho, mantendo a mente ocupada em qualquer coisa que não fosse a saudade que sentia de Sakumo. Outras vezes, ele saía do escritório e passava em algum bar e bebia até conseguir esquecer aquela angústia, mal lembrando como chegava em casa. Por isso, quando encontrou um enorme cachorro branco sentado na porta de sua casa em plena madrugada, seu primeiro impulso foi ignorá-lo e seguir seu caminho. Estava exausto, estressado e queria apenas sua cama e tentar dormir por algumas horas. No entanto, assim que tentou fechar a porta, a pata do animal impediu o movimento e ainda tentou forçar sua entrada. Sem muitas alternativas, empurrou o animal pela cabeça para trás, voltado para o lado de fora para não correr o risco de ter um visitante indesejado.

— Olha, eu não sei de onde você veio, mas não posso ficar com você — ele tentou argumentar, ignorando o fato que falava com um cachorro, mas não se importou, ele gostava deles, mas não naquele momento. Porém o cachorro apenas inclinou a cabeça, o encarando com um olhar tão intenso, como se o entendesse perfeitamente, que o deixou desconfortável. — Vá embora, busque seu dono ou alguém que te queira e possa cuidar de você.

Rapidamente, abriu a porta e entrou, caminhando de costas, mantendo o olhar no cão, que parecia ter aceitado que não teria um lar naquele dia.

Na manhã seguinte, Kakashi não encontrou nenhum vestígio do cachorro e agradeceu mentalmente. Não queria realmente aquele tipo de responsabilidade no momento. 

No entanto, ao retornar a noite, mais uma vez o cachorro ainda estava lá. E novamente tentou entrar, tentando passar por Kakashi.

— Não! Fique aqui, você não vai entrar! Não te quero aqui.

O cachorro apenas o olhava sem entender, como se dissesse que aquela casa era sua e ele podia, sim, entrar. E iria. Os dois se encaravam em desafio e, por um milésimo de segundo, o Hatake sentiu como se tivesse encarando uma pessoa tão teimosa quanto si e ele só havia conhecido uma assim: seu pai. Aquele pensamento o deixou irritado e abalado, fazendo com que entrasse em sua casa e batendo a porta com força.

Se o homem se considerava determinado, o cão, parecia ainda mais. Tanto que, no dia seguinte, ele estava em sua porta novamente. Naquele dia, Kakashi o ignorou e riu ao ouvir um latido que podia significar: “estou aqui, quero entrar”.

Aquela situação se repetiu no dia seguinte. E no outro. E no outro. E no outro…

Até o dia em que Kakashi chegou abatido, olhando para baixo, com pés arrastando no chão e, se prestassem atenção, veria os olhos heterocromáticos vermelhos e inchados. Naquele dia, fazia seis meses que havia perdido o pai.

O cão pareceu notar que o humano não estava bem, nem latiu para chamar sua atenção ou tentou entrar em sua frente para ser notado. Apenas ficou sentado, parado, observando o homem, mas quando ele parou diante da porta, deixou a chave cair no chão e, em seguida, sentou-se pesadamente, com as costas contra madeira e as mãos escondendo o rosto, e o cachorro se aproximou. Ele não emitiu nenhum som, nenhum latido, nenhum resmungo, apenas se deitou ao lado de Kakashi e ficou ali, como uma presença calmante. O Hatake mal percebeu quando começou a fazer carinho nos pelos brancos e se permitiu deixar as lágrimas rolarem. Por um bom tempo, ficaram os dois ali, num silêncio, de certa forma, agradável e acolhedor.

Quando Kakashi se acalmou e percebeu como estava, com o cachorro quase deitado em seu colo, ele desistiu de lutar contra o inevitável e aceitou que, gostando ou não, agora ele tinha um novo colega de quarto.

— Você conseguiu… vamos entrar. Hoje não tenho comida para você, mas amanhã eu compro, se você não comer nenhum dos meus calçados, nem bagunçar minha casa.

O cão rapidamente ficou de pé, pulando ao redor de Kakashi enquanto tentava o lamber, realmente feliz por ter sido aceito e por agora ter uma casa.

— Hey, pare com isso, vai me deixar todo babado. — Tentava empurrá-lo, mas não obteve muito sucesso. — Vamos entrar… 

Logo Kakashi se colocou de pé e abriu a porta, deixando finalmente seu companheiro diário entrar. O cachorro olhou ao redor e começou a farejar com cuidado, andando pelo local como se já conhecesse tudo ali, pois seu destino foi logo o tapete que ficava na porta da cozinha. Tapete este comprado por Sakumo quando Kakashi era criança e que ficou em seu quarto por anos, mas que o mais velho se recusava a jogar fora.

— Preciso te dar um nome… ao que parece não tem um… O que acha de Rex? — Um latido um tanto raivoso foi emitido. — Não gostou… Snow? — Outro latido de desagrado. — Bob? Kira? Akamaru? Pakkun? — O último pareceu agradar, mas logo foi rejeitado. — Exigente você… minha última tentativa e mesmo se não gostar, será esse… Shiro.

Para alívio de Kakashi, o nome pareceu agradar o animal.

— Tudo bem, Shiro… fique aí, quietinho e amanhã vamos comprar algumas coisas para você.

E com uma insistência sem sentido na visão do Hatake, agora, ele tinha novamente uma companhia em casa.

 

______๑♡⁠๑______

 

A convivência de Kakashi com Shiro era tranquila. O cachorro não dava trabalho e era uma boa companhia, um bom ouvinte. Mas, conforme os dias passavam, algo começou a incomodá-lo. Shiro era... estranho em alguns momentos e agia como se soubesse de coisas das quais não deveria.

À princípio, Kakashi tentou ignorar, pensando que eram somente instintos dos animais. Como ele sempre parecia saber quando Kakashi estava triste e simplesmente se deitava ao seu lado. Seria algo simples, se não fosse o fato de Sakumo agir daquela mesma forma quando ele era criança. Ele não perguntava nada, apenas se aproximava e deitava ao lado do filho, em silêncio. Quando Kakashi parecia mais calmo, ele bagunçava seus cabelos e dizia: “se quiser falar agora, ouvirei”. Ele fazia o mesmo com Shiro após longos minutos em silêncio.

Outras vezes, Shiro o arrastava para caminhadas no parque, pegando sua mochila e o empurrando para a porta de casa, como se disse: “vamos, levanta, você precisa de ar fresco”. Sakumo costuma fazer aquilo quando o filho ficava muito em casa. Ele arrumava uma bolsa e praticamente jogava no filho e o mandava sair e viver como um ser humano normal. Aquela lembrança fez o Kakashi sorrir e não doeu como das outras vezes.

Uma noite, Kakashi acordou de um pesadelo com lembranças da infância, da tragédia que viveu ao lado dos melhores amigos. Ainda sentia o coração acelerado, as mãos tremendo e o suor escorria por sua nuca quando sentiu algo quente encostar em sua perna. Shiro havia subido na cama e deitado ao seu lado, pressionando a cabeça contra sua coxa, da mesma forma que Sakumo fazia quando ele era pequeno e acordava chorando. Shiro só o olhou, um olhar preocupado e, ao mesmo tempo, calmante, como se dissesse que estava tudo bem, que ele estava seguro e que ficaria ali até Kakashi se acalmar. Naquela noite, ele puxou o cachorro e o abraçou, sentindo-se acolhido entre os pelos brancos, um calor reconfortante como aquele que sentia quando abraçava o pai.

Então, vieram pequenas coincidências. Como quando Kakashi, sem motivo aparente, encontrou um velho chaveiro de kunai, de um desenho que costumavam assistir juntos, que seu pai lhe deu quando era criança no meio da cama — mesmo que ele tivesse certeza de que não via o objeto há anos. Ou quando Shiro apareceu arrastando um cachecol verde com estampas que Kakashi havia dado ao pai e que ele sempre usava e que não tinha o visto desde que seu pai partiu.  Quando levou a peça ao nariz, ainda conseguiu sentir o perfume que o pai usava, fazendo seus olhos marejarem.

— Queria saber como conseguiu encontrar tudo isso. É muito esperto, Shiro… meu pai teria gostado de você…

Alguns dias depois, Kakashi estava quieto, perdido em pensamentos que não pela primeira vez não giravam em torno da sua perda e sim de um sentimento que havia deixado de lado e agora, parecia voltar com força total. Assustou um pouco ao ver que Shiro empurrou em sua direção uma xícara de café. Como o cachorro conseguiu empurrar o recipiente com o líquido quente, Kakashi não fazia ideia.

— Parece meu pai, que sempre trazia café quando percebia que precisava de um momento para mim. Vai começar a me dar conselhos também? — brincou e viu Shiro tombar a cabeça, o olhando atentamente e, para o Hatake, parecia que se pudesse, ele daria conselhos realmente. 

E havia também a forma como Shiro rosnava toda vez que ele trabalhava demais, como se estivesse reclamando. Kakashi se lembrava bem das broncas de Sakumo sobre isso. E o modo como ele parecia “ler” suas expressões, sabendo exatamente quando cutucar ou quando simplesmente sentar ao lado dele e oferecer companhia silenciosa.

Kakashi tentou ignorar aquelas coincidências, acreditando que eram apenas isso realmente e que Shiro apenas tinha uma espécie de empatia estranha e sabia o que ele precisava. Talvez tivesse sido treinado para aquilo, para ajudar as pessoas a superar momentos difíceis, já havia escutado sobre isso alguma vez, mas então vieram os diálogos. Ou melhor, as discussões, as quais Shiro sempre latia, como se tivesse respondendo o humano.

— Você não pode simplesmente sair arrastando meus sapatos para a porta toda vez que acha que eu preciso sair! — Kakashi resmungou uma manhã, tentando resgatar o tênis da boca do cão.

Shiro não se moveu.

— Eu estou falando sério! Você não é meu dono, eu que sou seu dono! — Ele tentou puxar de novo, mas o cachorro apenas bufou pelo nariz, como se dissesse: “claro que sim”.

— Você tem muita personalidade para um cachorro, sabia? — Kakashi cruzou os braços, encarando-o. Shiro apenas abanou o rabo, vitorioso. — Vamos logo então. — Kakashi recebeu um latido animado em resposta, enquanto o cachorro corria pela sala, ansiando pelo passeio.

 

______๑♡⁠๑______

 

E, então, em um desses passeios, Shiro conheceu Iruka. 

Kakashi não era cego. Ele sabia que gostava de seu vizinho, um professor, há um bom tempo, mas nunca fez nada a respeito. Aquele sentimento existia desde que Sakumo era vivo e diversas vezes o mais velho o importunava sobre o rapaz e dizia que deveria falar com ele. 

Mas após tudo que perdeu, tanto na vida adulta quanto na infância, Kakashi se afastou e chegava até mesmo a ignorar Iruka, que sempre o cumprimentava simpático. Mas para Kakashi, deixar o professor se aproximar, se envolver, significava correr o risco de perder. Ele não queria perder mais ninguém.

No entanto, Shiro discordava daquilo e parecia ter outras ideias. Ele sempre corria para perto de Iruka ou latia quando o avistava, deixando Kakashi envergonhado todas as vezes. 

Kakashi perdeu as contas de quantas vezes o cachorro o puxou para perto de Iruka e podia jurar que via a feição irritada de Shiro quando ele simplesmente soltava a guia para não ser levado para perto de Iruka.

No entanto, o Hatake deveria saber que seu cachorro era tão teimoso quanto ele e não desistiria de aproximar os dois. A cada encontro, Shiro encontrava um jeito de jogá-lo para perto do professor. Figurativa e literalmente. 

Uma vez, Kakashi estava segurando um copo de café quente que comprou quando voltavam de um passeio e Shiro, com uma precisão quase cirurgia, e sem que seu dono percebesse, fez ambos se esbarrarem e a bebida que segurava foi derramada em Iruka, o forçando a ter uma conversa constrangedora.

— Me desculpe… Não te vi e Shiro me puxou… Se queimou? Oh, meu Deus, esse cachorro ainda me mata de vergonha.

— Não se preocupe, não me queimei. Só terei que trocar de roupa. Você é Kakashi, né? Somos vizinhos e quase nunca conversamos — Iruka afirmou, um pouco desconcertado, pois há tempos queria se aproximar do outro, mas nunca teve oportunidade.

— Bem, sim, eu sou. Me desculpa mais uma vez… Vamos, Shiro, para casa e sem passeios mais… — Kakashi praticamente arrastou o cachorro consigo, deixando o outro para trás.

Se aquele dia tivesse sido um evento único, Kakashi teria ficado aliviado, mas parecia apenas o começo de uma intromissão sem sentido do seu amigo de quatro patas. Shiro parecia determinado a fazer ele e Iruka se aproximarem.

Em uma manhã, quando o Hatake levantou e encontrou uma encomenda na varanda, deveria ter previsto que algo aconteceria, pois Shiro passou entre suas pernas, pegou o pacote e correu em direção a Iruka, que saía de sua casa. Sem muitas escolhas, Kakashi foi obrigado a perseguir seu cachorro, que roubou sua encomenda e, ao invés de levar para si, preferiu o fazer interagir mais uma vez com o professor. 

— Ei, garotão… fazendo seu dono correr atrás de você mais uma vez? — Iruka falava com o cachorro, que só faltava pular no homem. — Acho que isso é seu — disse ao entregar a encomenda levemente babada a Kakashi.

— Sim… não sei mais o que fazer com ele. A cada dia está mais teimoso…

— Dizem que os cães se parecem com os donos. Você é teimoso, Kakashi?

— Eu? Não! — Shiro latiu em discordância, fazendo Iruka rir. — Não muito.

— Então… Aceita tomar um café comigo, como pedido de desculpas? — Se fosse em outro momento, Kakashi teria usado aquilo para se aproximar do professor e até pensou em negar, mas sentiu Shiro o empurrou para perto, mostrando claramente que não deixaria ele fugir daquela situação.

— Um café — concordou Kakashi.

Para felicidade de Shiro, não foi apenas um único café. Aos poucos, as interações entre os dois se tornaram menos constrangedoras, mas Shiro ainda aprontava as suas, como empurrar Kakashi sempre que via Iruka e o forçava a o ajudar, seja com as compras, com os materiais escolares quando ambos chegavam no mesmo horário, qualquer oportunidade era aproveitada pelo cachorro. E nelas todas, Kakashi via o pai ali, sabendo que Sakumo seria capaz de tudo aquilo, de gritar na rua para o filho ajudar Iruka, para ser um cavalheiro e tudo mais, fazendo ele morrer de vergonha, assim como Shiro fazia.

Kakashi estava conformado com seu destino, mas não achava ruim ao todo Sentia-se bem ao lado de Iruka, leve e, apesar do receio de o perder, lentamente se permitia se entregar.

— Seu cachorro gosta de mim — Iruka comentou, rindo, depois de mais um “acidente”, que consistia em Shiro “roubando” um arranjo de flores da floricultura e o levando até Iruka.

— Ele gosta de interferir na minha vida — Kakashi resmungou.

— Isso é tão ruim assim? — a pergunta hesitante fez o coração do Hatake acelerar e estava claro que Iruka temia a resposta. Temia uma rejeição.

— Não, nenhum pouco. — Kakashi se aproximou mais, ultrapassando o limite pessoal que sempre mantinha com o professor. 

Delicadamente colocou uma mecha do cabelo de Iruka atrás da orelha, sem desviar o olhar. Sentiu os olhos de Iruka ir em direção ao seus lábios e sabia o que queria, pois ele desejava aquilo também há muito tempo.

A mão, que em nenhum momento abandonou o rosto do professor, o trouxe para mais perto para, enfim, o beijar. O ato foi delicado e apaixonado, ambos aproveitando a emoção do momento, se entregando ao que desejavam. O momento foi interrompido pelos latidos de Shiro, que parecia comemorar o que havia acontecido.

— Pensava que cupidos tinham asas…. Mas esse, pelo visto, tem quatro patas e pelos brancos — comentou Iruka, fazendo Kakashi rir.

— E é intrometido. Mas confesso que foi por uma boa causa. Sem ele, talvez não tivesse me aproximado.

— Então, Shiro merece uma recompensa, né, garotão? Quem é o bom menino, hein? — Iruka se abaixou, sendo agraciado por “lambeijos” e quase sendo derrubado.

Kakashi sentiu-se feliz com a cena, como se tudo estivesse em seu lugar e sua vida finalmente tivesse entrado nos eixos.

Durante a noite, após jantar com Iruka e se despedirem, o Hatake estava deitado no sofá, com Shiro a seus pés, enquanto um programa qualquer passava na TV. Mal prestava atenção, lembrando do beijo, da troca de carinhos, até uma palavra chamar sua atenção: reencarnação.

Kakashi focou no que o apresentador do programa dizia.

 

“Em diversas crenças, como no budismo e no hinduísmo, a reencarnação é a crença de que a alma renasce em diferentes formas após a morte, continuando sua jornada de aprendizado e evolução. Algumas tradições espirituais sugerem que, em certos casos, espíritos podem retornar como animais não por punição, mas por amor, para proteger e guiar aqueles que deixaram para trás.

Algumas almas, ao partirem, não suportam deixar seus entes queridos em sofrimento, especialmente em casos nos quais esse afastamento foi de forma inesperada. Assim, elas recebem uma chance especial de voltar, não como humanos, mas como companheiros silenciosos — cães, gatos, pássaros — que, sem palavras, oferecem amor incondicional. Elas retornam para guiar, confortar e garantir que aqueles que amam não caminhem sozinhos. Quando seu propósito se cumpre, partem em paz, deixando para trás memórias e um amor que nunca desaparece.”

 

Kakashi parou de prestar atenção, encarando Shiro, se questionando tudo o que aconteceu desde a chegada dele em sua vida. Ele nunca acreditou naquilo. Na realidade, nunca pensou muito no assunto, mas sabia que aquilo não era normal. Não era comum um cachorro agir daquele jeito. E quando finalmente disse em voz alta, ainda não acreditava nas palavras que saíram de sua própria boca.

— Você é ele, não é? — Kakashi sussurrou, encarando os olhos profundos do cachorro. — Você é meu pai.

Shiro não respondeu, obviamente, mas seus olhos suavizaram e ele se levantou apenas para encostar o focinho na testa de Kakashi, um gesto de carinho que o homem lembrava bem.

—  Eu devo estar ficando louco — murmurou, mas não afastou Shiro, apenas acariciou seu pelo branco, deixando seus pensamentos fluírem até adormecer ao lado do seu fiel companheiro.

 

______๑♡⁠๑______

 

O relacionamento entre Kakashi e Iruka a cada dia parecia se fortalecer, com algumas ajudas de Shiro, que parecia gostar de provocar seu dono e criar situações que o deixavam envergonhado. Tal qual seu pai era capaz de fazer. Mesmo que ainda não tivesse certeza daquilo, uma parte sua queria acreditar que seu pai não havia o deixado sozinho.

Ele precisava conversar com alguém e ninguém melhor que o, agora, namorado. Kakashi hesitou em contar o que achava que estava acontecendo, mas não conseguia mais aguentar tudo sozinho.

— Iru… você acredita em reencarnação?

— Vai me achar louco se disser que sim? — Kakashi negou. — Mas porque essa pergunta assim, do nada?

Kakashi respirou fundo e se acomodou no sofá, ficando de frente para Iruka e começou a contar tudo o que aconteceu, desde a chegada de Shiro até a reportagem que viu na TV. 

— Talvez não seja sobre entender, Kakashi — Iruka disse, depois de ouvir toda a história. — Talvez seja apenas sobre aceitar que o amor nunca nos abandona. Mesmo quando achamos que estamos sozinhos.

— Você não acha que isso soa… — Kakashi suspirou, desviando o olhar. — Louco? Que eu estou delirando e vendo coisas onde não tem?

Iruka sorriu suavemente e passou a mão no pelo de Shiro, que fechou os olhos em satisfação.

— Na verdade, não — o professor disse calmamente. — Você já pensou que, se tem alguém que merecia uma segunda chance para estar ao seu lado, esse alguém seria seu pai? Talvez ele tenha voltado para garantir que você não fique sozinho. Que tenha alguém com quem contar e que encontre um pouco de felicidade.

Kakashi ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras. Parte dele queria negar, se agarrar ao lado racional, mas a outra parte, uma que sempre sentiu saudade e culpa, queria acreditar.

— Eu tenho você agora. Será que ele vai partir agora que não estou só e não ficarei mais perdido na escuridão?

— Acredito que ele sempre estará por perto, não importa como você sempre irá saber. Nem todas as despedidas são eternas, meu amor, algumas almas voltam de forma inesperadas para cumprir laços que nem o tempo pode desfazer. 

— Eu já me apeguei ao Shiro e, se não fosse por ele, não estaria contigo. Eu te amo.

— Eu também te amo e amo o Shiro, nosso cupido.

E, naquela noite, quando Kakashi acordou, com Iruka em seus braços e Shiro próximo à sua cama, não sentiu o vazio em seu peito. Ele se sentiu completo, cercado por aquele que ama. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se em paz. Porque ele sabia. Sabia que Sakumo cumpriu sua promessa.

Ele nunca o deixou sozinho.