
Hatake Kakashi sempre foi uma pessoa noturna e todos pareciam saber disso.
Seja qual for a razão, o shinobi de cabelos prateados costumava nunca saber o tempo certo para adormecer, não importa o quão cansado aparentava estar. O ninja estava sempre à espreita e parecia estar muito mais sem energia durante a noite, apesar de ser o tempo ao qual se sentia melhor em relação a tudo.
A verdade é que a noite sempre trouxe certa calmaria a ele, não tinha como não trazer.
Kakashi sempre passava os dias sozinho, desde criança, e ele não culpava seu pai - por incrível que pareça. Claro que ele entendia que seu progenitor era um shinobi de alta importância para a vila e que estava sempre ocupado. Apesar de triste, ele entendia. Entretanto, seu pai costumava chegar durante a noite, com um sorriso nos lábios e os olhos cansados com a tensão tão presente em seus ombros que até um cego poderia notar, mas não Kakashi. O Hatake não se importava com nada, contanto que seu pai estivesse em casa, com ele, tudo estava bem.
Sendo assim, suas noites eram tranquilas, silenciosas, mas aconchegantes.
Para muitos poderia ser avassalador, sem sentido, um silêncio insurdecedor que fazia parecer que não havia nem uma alma viva sequer habitando a casa dos Hatake. Mas a verdade é que duas almas viviam dentro das quatro paredes e ambas se sentiam tão confortáveis com a presença um do outro que nenhuma palavra precisava ser proferida.
No entanto, algumas noites eram agitadas, apesar de tudo.
- Pai... - chamou Kakashi em uma madrugada perturbadora.
Talvez fossem 4h da manhã, ou qualquer que fosse o horário digitalizado no relógio sobre a mesa de canto de Sakumo, ao qual levantou prontamente ao escutar seu nome sendo chamado.
- Sim, Kakashi, o que foi? - respondera, com a voz sonolenta.
O mais novo estava parado em pé frente a porta. Suas mãos estavam na frente de seu corpo e ele parecia ansioso. Eram raras as vezes que Sakumo presenciava uma emoção tão forte em Kakashi, mas quase todas as vezes era a ansiedade presente em seu corpo pequeno.
- Posso... - hesitou ele - Posso dormir com o senhor hoje? - perguntou, com a cabeça baixa, como um filhote de cachorro
O coração do mais velho provavelmente derreteria a qualquer momento. Ele estava extremamente cansado, o dia foi longo, mas como poderia recusar um pedido desses de seu único filho?
Sakumo se permitiu dar um sorriso e chamou Kakashi com um sinal de mãos, ao qual o garoto prontamente obedeceu.
Ao se deitar no colchão macio, Kakashi sentiu sua tensão indo embora, todos os seus problemas já não existiam mais.
Sakumo era o único que tinha esse poder sobre ele.
Apesar de não entender completamente os sentimentos de seu filho, Sakumo se esforçava para demonstrar compreensão por, infelizmente, passar pelos mesmos problemas. Era triste, Kakashi era uma criança, afinal, e acima de tudo, Sakumo sabia que era sua culpa, mas se esforçava muito para apoiar seu filho, independente de qualquer coisa.
Portanto, foi uma surpresa e tanto quando o mais novo da família encontrou seu pai ensanguentado, com uma katana em seu peito e um cheiro tão forte de ferro que fazia seus olhos lacrimejarem em uma noite tão linda, com uma lua tão brilhante e estrelas tão cintilantes que se esbanjavam em qualquer superfície refletora.
Kakashi queria que fosse um pesadelo, como todos os outros. Queria que o sangue em suas mãos fosse falso, que a sensação de vazio insuportavelmente dolorosa em seu peito fosse apenas imaginação e que ele acordaria em um pulo, às 4h da manhã, suado em sua cama com seus cachorros a sua volta, o aconchegando. Ele iria ao quarto de seu pai, veria que ele estava bem e voltaria a dormir pacificamente, como todas as vezes.
Só que, dessa vez, não era um pesadelo, apesar do relógio estar marcando 4h da manhã.
Se fosse possível, o shinobi desejaria apagar toda sua memória. Preferia esquecer de tudo aquilo e ter uma sensação de vazio para sempre por não possuir memórias do que reviver seu passado todos os dias.
Algumas lembranças eram aconchegantes, e ele amava isso com todo o seu coração, mas desejaria esquecer de quem ele é, se fosse para poder viver em paz novamente.
Como, por exemplo, seus natais nunca mais foram solitários após a formação do Time 7. Eram sempre barulhentos, suas noites eram sempre agitadas, mas era familiar.
E ele achou que pudesse, finalmente, se curar, mas não foi o que aconteceu.
Minato e Kushina o acolheram como um filho, Rin o acolheu da maneira que conseguiu - ignorando o fato de que gostava do ninja - e Obito... Ah, Obito o acolheu de formas que Kakashi deveria esquecer para sempre.
O Uchiha e o Hatake nunca se deram bem, desde que ingressaram na Academia. Isso era culpa de Kakashi, hoje ele enxerga isso, pelo menos. Obito era muito infantil para seu próprio bem e Kakashi era muito egocêntrico, seus santos não batiam, nunca bateram. O jeito de Obito, na verdade, invejava o Hatake. Ele queria ser como ele, esperançoso, cheio de vida e... feliz. Obito era feliz, tão feliz que seu sorriso costumava o cegar todas as vezes. Kakashi não podia olhar para ele, como poderia?
Ele invejava Obito mais do que tudo, mas, acima disso, ele sentia algo tão aconchegante em sua presença... Era estranho, Kakashi não gostava.
Quando todos se formaram como Genins, o Time 7 foi formado e Hatake se sentiu tão... esquisito por cair no mesmo time que o Uchiha. Era uma sensação diferente, ele nunca tinha sentido isso antes, parecia um misto de coisas diferentes que o atingiam sem aviso.
Ele costumava se perguntar se aquilo era normal naquela época. Será que todos se sentiam assim com seus companheiros de equipe? Quer dizer, era estranho. Ainda que vivam em um mundo violento e que equipes sejam formadas a toda hora, era estranho ter que se juntar com três pessoas completamente distintas de quem você é e trabalhar com elas até a próxima etapa de sua vida, que poderia levar anos.
Alguns meses depois e Kakashi percebeu que não, ninguém costumava se sentir assim com seus próprios colegas de time. Seu próprio colega de time.
Mas o Hatake ignorou, precisava ignorar.
- Bakashi? - Obito balançou as mãos frente ao rosto do ninja - Tudo certo? Você 'tá esquisito! - exclamou ele com sua voz sempre escandalosa
Kakashi piscou. Ele tinha se distraído de novo?
Minato o olhava com olhos gentis, mas ele sabia que, na verdade, eram olhos preocupados, apesar de não ser o motivo pelo qual o genin tenha se distraído tão frequentemente nos últimos tempos. Rin também o encarava com olhos gentis, mas ela demonstrava mais os sinais de preocupação, como o cenho um pouco franzido. Obito... Obito o olhava com curiosidade, e com muita proximidade. Isso fez o coração do garoto saltar um pouco, mas ele não entendeu o motivo. Seu rosto estava começando a esquentar e suas mãos a suar.
O que estava acontecendo?
- Sai de perto de mim - impôs e empurrou o Uchiha com certa força.
O garoto com olhos de ônix tropeçou em seus próprios pés no processo e, como reflexo, puxou a mão de Kakashi responsável pela situação - e consequência - atual.
Como foi de se esperar, o Hatake acabou sendo puxado por Obito e os dois caíram juntos.
O Uchiha começou a reclamar instantaneamente, gritando e esperneando como sempre. Mas Kakashi? Apenas se afastou o mais rápido possível e não falou mais nada além de insultos rotineiros contra o garoto. Ele não entendia o motivo de estar agindo assim, sua mente trabalhava incansavelmente e mesmo assim ele não conseguia descobrir o porquê.
Mas Minato e Rin pareciam saber de algo, aparentemente, e Kakashi odiava isso. Ambos não pararam de encarar Kakashi após o acontecimento anterior. A Nohara riu na hora, e o Namikaze sorriu, como sempre, mas desde que o Hatake agiu estranhamente, os dois simplesmente não souberam mais disfarçar os olhares.
A questão é que o genin não conseguia decifrar se eles sabiam ou estavam apenas estranhando o jeito de Kakashi. O que, na verdade, nem ele poderia julgar, já que também não estava entendendo e sequer sabia o que eles sabiam.
O Hatake resolveu ignorar tudo o resto do dia. O time seguiu com o treinamento, como sempre, e Kakashi ganhou de Obito e Rin, como sempre.
Talvez seja só bobeira e ele esteja com a cabeça cheia, afinal, tem uma guerra os esperando fora dos portões da vila.
O único problema é que essa... coisa que Kakashi sentia só se intensificou ao longo dos dias, meses e, principalmente, dos anos.
Mas Obito também ficou diferente, e, por incrível que pareça, foi Kushina quem pontuou esse fato.
- Vocês dois estão esquisitos ultimamente, o que foi que aconteceu? - perguntou ela em uma das confraternizações que costumava organizar para reunir as - não tão - crianças.
Minato e Rin se entreolharam. Obito franziu o cenho e Kakashi a olhou com tédio.
- Como assim, Kushina-sensei? Estamos perfeitamente normais! - respondeu Obito - Quer dizer, o Bakashi já é meio esquisito de natureza, mas eu estou perfeitamente normal! - completou ele cruzando os braços, sem perder a oportunidade de ofender o shinobi de cabelos prateados
Kakashi revirou os olhos.
- Se isso é ser normal... - respondeu ele, com o desinteresse de sempre.
Kushina gargalhou e foi perceptível que o som de sua risada foi o motivo pelo qual Minato abriu um sorriso enorme, o Hatake observou.
Ele invejava isso, o amor que eles carregavam um pelo outro era tão lindo e singular. Kakashi... podia ter isso também?
Não, ele não merecia.
E, de repente, seu humor declinou novamente, assim como todas as vezes que parava para pensar. Sua mente não descansava um minuto sequer e seus pensamentos pulavam entre diversos assuntos, principalmente os autodepreciativos.
Mas ele precisava focar em ser o melhor ninja de sua época, precisava concluir missões, precisava fazer o que seu pai não fez.
Passou o resto do dia recluso, e o resto da semana, e o resto do mês, e o resto do ano. Não queria olhar para Obito, seu coração parecia doer com sua mera presença.
Consequentemente, foi surpreendente encontrar Obito na porta de sua casa em plena madrugada.
Não que ele não tivesse sentido seu chakra enquanto se dirigia para sua casa, mas ele estava genuinamente tão cansado que achou que fosse só mais um delírio, sua mente lhe pregando peças.
- Por quê você 'tá aqui? - perguntou ele assim que seus pés encostaram na varanda de sua residência
O Uchiha se assustou e gritou. Ele não parecia um ninja nesse momento.
- Pelo amor de Kami! Você é muito silencioso! - exclamou Obito com as mãos no peito
Kakashi o olhou nos olhos.
- Você é um ninja, deveria ser também. - respondeu ele
Obito revirou os olhos.
- Você não deixa de ser chato nunca? - perguntou o garoto
O shinobi prateado o olhou de cima abaixo e andou em direção a porta de sua casa.
- Se você não vai falar nada, vai embora - disse Kakashi enquanto segurava a maçaneta
- Espera! - gritou Obito novamente - Podemos... conversar? - perguntou ele timidamente
O garoto estagnou. Obito... quer conversar? Sobre o quê?
Kakashi se virou e parou de frente para o garoto de cabelos escuros. Por fora ele estava bem, mas suas mãos estavam suando e seu coração parecia querer sair de seu peito com a frequência que palpitava. Ele esperava que Obito não estivesse escutando.
- Seja breve - pontuou o Hatake
O Uchiha não pareceu relaxado. Na verdade, parecia mais nervoso do que antes. Ele, enfim, suspirou e se sentou com os pés para fora da varanda de Kakashi.
Kakashi não se mexeu, continuou estagnado, em pé. Apenas cruzou os braços e esperou que Obito prosseguisse.
- Kakashi... - suspirou ele - Por quê nós estamos assim?
O garoto prendeu a respiração. Como assim nós? O que ele estava insinuando? O que ele queria dizer?
Obito não o olhava nos olhos, e Kakashi achava até melhor assim.
Sua frequência cardíaca aumentou.
- Não...
- Não finja que não sabe - Obito o cortou - Porquê eu sei que você sabe
O Hatake estava pasmo. O que estava acontecendo?
Foram longos minutos, talvez tenham sido até segundos, Kakashi não sabe dizer, mas sabe que ficou em silêncio todo o momento. Ele tinha encontrado as respostas para todos os seus problemas, menos para esse. Por que isso acontecia com ele toda vez que ele via Obito Uchiha? Por que ele não conseguia controlar as palpitações de seu coração, o aquecimento de seu rosto e o suor de suas mãos? Por que ele sentia todas essas coisas estranhas ao olhar o garoto nos olhos? Por quê?
Kakashi não sabia responder, não conseguia responder. Ele queria que sua cabeça parasse, que seus pensamentos parassem por apenas alguns segundos.
A verdade era que, no fundo, ele sabia o que aquilo significava. Ele sempre soube.
Não era atoa que lia tantos livros em seu tempo (quase raro) livre, tudo o atraía, desde que fizesse sua mente descansar por um instante. Em uma dessas "escapadas", um livro de romance foi parar em suas mãos e desde então sua casa já tinha cheiro de livros novos e sua estante estava quase cedendo ao peso posto sob suas prateleiras.
Com um suspiro, o Hatake apenas deixou seu corpo descansar.
- Vamos, Obito. - chamou o garoto, que o olhou com confusão estampada em seus olhos - Quero te levar em um lugar.
O Uchiha, surpreso, levantou de seu lugar e seguiu Kakashi sem deixar uma palavra sequer sair de sua boca, ele não iria arriscar aquele momento por nada.
Eles seguiram por um caminho detrás da casa de Kakashi que dava acesso à uma trilha muito conhecida pelo Hatake. As árvores farfalhavam e o cheiro de terra molhada se fazia presente, Obito notou. Mais adiante era possível ver alguns sinais de que alguém ia para aquele lugar com certa frequência, como troncos cortados de maneira estratégica para servir de assento e alguns itens que pareciam... brinquedos de cachorro?
O Uchiha parou quando seu colega de equipe parou e se maravilhou com o que via a sua frente.
Um lago cristalino que refletia a luz do luar e todas as constelações que se faziam presente naquela noite, assim como uma barraca em frente a uma fogueira na beira da água e as árvores faziam uma volta ao redor do que Obito, agora, considerava a 1° maravilha do mundo.
- Kakashi... - suspirou o garoto - Isso é... lindo, caramba
O Hatake o olhou com certa admiração.
- Eu costumava vir pescar com meu pai aqui - revelou o de cabelos prateados.
O Uchiha o olhou nos olhos, demonstrando que o estava escutando. Kakashi nunca falava de sua vida, talvez eles estivessem realmente em um nível novo da convivência.
O Hatake suspirou.
- Venho aqui sempre que preciso pensar um pouco, dá pra perceber o porquê - declarou ele
Obito sorriu levemente.
- Sim, dá sim.
Ambos apenas se encaravam, sem dizer nada, sem fazer nada, apenas olho no olho.
Mas Obito estava começando a ficar ansioso, nunca fora uma pessoa muito paciente, de qualquer forma. Ele não queria que esse momento acabasse, de maneira alguma, mas precisava tirar essa dúvida de seu peito.
- Kakashi... - proclamou depois do que pareceu uma eternidade e o garoto citado entendeu na mesma hora.
O Hatake fechou os olhos, suspirou e se sentou perto da barraca montada ali. Felizmente não precisava pensar muito para que o Uchiha soubesse que o garoto queria que ele fizesse o mesmo.
Ao se sentar do lado de Kakashi, ele notou como seus olhos estavam cansados, caídos.
- Me diz, Obito, o que você vê? - perguntou o de cabelos prateados enquanto olhava para o céu.
Mas Obito não conseguia tirar os olhos dele.
- Algo quebrado.
O garoto disparou seus olhos para o Uchiha, e ele não desviou o olhar, não dessa vez.
- Será que existe conserto? - indagou ele, de forma genuína
E o jeito que Obito o olhou, era como se o enxergasse. Ele estava ali, realmente estava ali, ao lado dele e estava o vendo. Ele não se sentia como filho do Sakumo Hatake quando estava com Obito, não. Ele se sentia como Kakashi, como o Bakashi.
E isso doía, doía muito.
- Para de me olhar assim, por favor - quem desviou o olhar foi Kakashi dessa vez - Eu não aguento mais isso
- Eu posso te consertar. - disse o Uchiha firmemente, com tanta determinação que os ossos de Kakashi tremeram.
- Você não pode, não dá, eu não consigo - respondeu ele
Obito colocou as mãos no rosto do garoto ao seu lado e o puxou em sua direção, fazendo com que ele o olhasse nos olhos.
- Você confia em mim, Kakashi? - sua voz saiu com um suspiro
Os pelos do garoto se arrepiaram, seu nariz começou a pinicar.
- Confio, Obito - soprou ele
- Então por que você não diz?
Kakashi entendeu, ele sabia, talvez sempre soubesse. A reputação de seu clã não era atoa, mesmo que ele fosse... bem... Obito.
Talvez fossem 4h da manhã, não havia como saber, mas ele queria pôr um fim naquilo.
O ninja prateado segurou as mãos de Obito gentilmente e tirou elas de seu rosto. Enquanto o olhava nos olhos, Kakashi abaixou sua máscara lentamente.
- Isso é suficiente pra você?
O Uchiha estava hipnotizado pela segunda vez naquela noite. Como...? Por quê...? Kakashi era tão... bonito. Sua pintinha era tão singular.
Seus dedos foram mais rápidos do que sua capacidade cognitiva e o Uchiha tocou a pintinha de Kakashi, sua pele era tão macia, como a de um bebê.
O Hatake se manteve imóvel, apenas olhava para Obito.
Após um tempo admirando o rosto do outro, Obito teve que recolher suas mãos, infelizmente.
- Você não consegue, mas eu consigo, só continua a fazer o que faz.
O Uchiha declarou com tanta confiança, e ele realmente sabia. Agora Kakashi tinha certeza.
- Eu confio em você. - declarou o garoto
E então, Obito colocou dois dedos em sua testa. Kakashi não entendeu o que aquilo significava, já havia visto alguns Uchihas fazerem isso, mas o que realmente significava naquele momento?
- Eu conheço você. - disse ele.
Talvez fossem realmente 4h da manhã, porquê Kakashi costumava parar de sonhar nesse horário, e parecia tão real para ele, tão sincero, tão aconchegante.
Mas o Hatake agora era Jounin, e seu presente foi o comando de uma missão com seu próprio time no País das Pedras.
Fazia um tempo desde que ele decidira manter uma relação "palavras de afirmação" com Obito. No entanto, era sigiloso. Nenhum dos dois sequer comentou com sua companheira de equipe ou seu sensei e sua esposa. Nem eles sabiam direito o que estava acontecendo, só sabiam que se encontravam durante as noites solitárias no mesmo lugar de antes e ficavam em silêncio, as vezes conversavam, dependia do que tinha acontecido, e, mesmo assim, era muito confortável, Kakashi nunca tinha se sentido tão leve desde o momento de seu nascimento.
Portanto, era natural que as coisas desabassem como um balde de água fria em cima do Hatake, e ele não podia sequer reagir.
Com um olho roubado e um coração partido, o ninja de cabelos prateados quebrou todos os objetos quebravéis de seu próprio apartamento. Espelhos, vidros, canecas, eletrônicos, qualquer coisa, tudo estava quebrado, despedaçado.
O Jonin sabia que não podia salvar a todos, Obito o ensinou tudo que o Hatake não parecia saber, o ensinou a ser uma pessoa verdadeira, um humano. Mas... Por que ele não conseguia nem salvar Obito? O Uchiha prometeu que o consertaria, mas agora ele está mais quebrado do que antes e é culpa do próprio ninja recentemente promovido.
Como... por quê? Será que ele realmente merecia isso?
O Jonin achava que sim, e o, agora, Anbu, também achava.
A morte de Obito o afetou tanto, ele via seu rosto, suas mãos, seu sorriso, ouvia sua voz. Seu olho direito era um lembrete de que ele não fora capaz de fazer nem o que foi treinado para fazer durante a sua vida inteira.
Kakashi chegara ao ponto de perder a contagem dos dias, ele queria apenas ver Obito, seus olhos não fechavam e sua mente não descansava. Ele precisava ver o Uchiha, precisava de suas palavras de conforto mais do que tudo.
Então é claro que Rin tivera que morrer pelas suas próprias mãos.
O Hatake desabou, desmorou, tudo estava arruinado. Obito estava morto, Rin estava morta, qual o sentido de viver se seus melhores amigos, sua equipe, já não estavam mais em terra?
Como resposta, Kakashi resolveu se afundar em missões. Sangue e café eram os únicos cheiros que o ninja reconhecia. Sua vida havia sido roubada.
Entretanto, uma chama de esperança se acendeu quando Maito Guy resolveu arrombar a porta de sua privacidade e invadir seu espaço pessoal, o tirando de sua zona de conforto e o fazendo... socializar. Há quanto tempo Kakashi não mantinha conversas decentes com as pessoas? Ele não sabia nem que dia era.
Minato desejava ajudar o copiador mais do que tudo. Foram anos vendo o garoto se afundar em autodestruição, já não aguentava mais ver seu aluno daquele jeito. Ter a noção de que Guy o estava ajudando, o deixara tão eufórico. Como o ninja de cabelos prateados parecia estar aberto novamente, o Namikaze resolveu ir um pouco mais além e nomear o Hatake como guarda de sua esposa grávida.
As coisas estavam indo bem, apesar de tudo.
Kakashi sentia falta de Obito mais do que tudo, sentia falta de Rin, mas a vida estava mais suportável. Ele tinha amigos, agora, e um objetivo novo de proteger a esposa de seu sensei, custe o que custar.
Mas Minato morreu, assim como sua esposa, e Kakashi falhou, mais uma vez.
Todos os acontecimentos trágicos de sua vida o levaram para a atual situação: insônia, pesadelos enquanto acordado e o relógio parado em 4h da manhã.
A visão do túmulo de quem é a pessoa mais importante de sua vida, ainda que estivesse morta, doía em seu âmago, seu olho direito latejava e zombava do homem enquanto o chamava de assassino.
Kakashi nunca quis essa vida, nunca quis estar acordado às 4h da manhã enquanto lembrava de todos os momentos infortunos que o cercavam.
Mas o Uchiha não tinha culpa de estar observando o Hatake, também.