
O onibus percorria a estrada de chão, alavancando a cada pedrinha que seus peneus sujos e desgastados passavam por cima.
Melissa ja tinha desistido de tentar dormir. O banco da janela fedia, o restante estava ocupado, os bons pelo menos. Os bancos vazios ficavam muito perto do banheiro. Sua personalidade purpurina nao deixavam que ela sentasse la.
O encosto do banco era desconfortável, ela tinha terminado um relacionamento, estava indo passar o natal com sua mãe em São Paulo, talvez ver se ela poderia morar com sua progenitora.
Em seus sonhos, seu ex aparecia, jogando tudo em si. Principalmente uma garrafa de vidro. Foi assim que eles terminaram. Em uma briga, onde ele jogou um monte de coisa nela, e o que realmente machucou foi uma garrafa de vidro, que quebrou e contou seu braço, o esquerdo, o que ela estava usando agora para apoiar seu corpo no banco, nunca que sua mini-saia encostariam por inteira naquele banco metecrefe.
Na proxima parada, uma moça entrou, uma linda moça, com um estilo completamente diferente do de Melissa.
— Olá! - Disse a moça.
— Ôpa! Tudo bem comadre?
— Sim! Tudo ótimo. Esse ônibus leva para onde?
— Saimos do Rio Grande e estamos indo para São Paulo! — Respondeu o motorista.
— Quanto custa uma passagem? Pra São Paulo.
— 50 conto, comadre!
A moça, pelo pouco que Melissa tinha visão, entrou no ônibus e deu uma nota de 50 para o motorista.
— Olá! Bom dia! Oi! Desculpa! Com licença!
Ela passava pelo pequeno corredor entre os bancos velhos. Dizendo coisas que Melissa não se deu o trabalho de entender. Agora, com a visão boa Melissa viu aquela mulher dos pés a cabeça.
"Linda"
Pensou.
— Olá! Eu posso sentar ai? — A moça parou ao seu lado.
Saindo de seus pensamentos internos, Melissa olhou para a mulher, ela era morena, de pele levemente bronzeada, levava consigo uma pequena mochila florida. A moça não era muito alta, Melissa provavelmente era gigante perto dela(ela era gigante perto de praticamente qualquer pessoa)
— O-oi! Hihi. Eehh... Eu recomendaria que você sentasse do lado daquele moço, peça pra ele tirar o cachorro dele de lá. Sabe, no embarque anterior a pessoa que sentou aqui do lado não era das mais limpas. — Melissa respondeu, se perdendo em algumas palavras.
— Ah sim, tranquilo então. Me chamo Ayla! E você?
— Melissa! Me chamo Melissa!
— Bom te conhecer, Melissa! Você tem bateria?
— Eh... Sim! Tenho! Quer meu número!
— Ah... Eu queria saber a hora... — Ayla respondeu sem jeito, enquanto coçava sua cabeça coberta por cachos.
O vermelho apareceu de imediato no rosto de Mel. Que vergonha, pensou Melissa.
— Ah... Sim... — Conforme se mexia para pegar seu celular em sua bolsa, o calor subiu o corpo de Melissa, a vergonha era tão grande, nesses momentos ela desejava ser um avestruz e enfiar sua cabeça no chão. — Agora são nove e quarenta. Chegamos em São Paulo de madrugada, quase no amanhecer.
— Obrigada! Ah! Você é muito bonita... Pensei melhor, eu quero o seu número!
Naquele momento, Melissa ficou mais vermelha ainda, era a primeira vez que se sentia assim desde Luciano. Talvez ter pagado barato na passagem para São Paulo não tivesse sido tão ruim assim. Talvez ela devesse agradecer o ônibus fedido por existir.