
Freed é um mago inteligente justamente por se atentar aos pequenos detalhes.
Muitos pensam que sua esperteza aflorou por conta dos muitos livros que leu durante a infância, mas isso não é verdade. A leitura e os estudos apenas o direcionaram para duas coisas: aprimorar sua magia e perceber todas as pequenas informações ao seu redor.
Por isso, quando Laxus deixou de frequentar a guilda por alguns dias na primavera, notou de imediato.
A primeira vez, foi ainda na adolescência. Preocupado, correu ao Mestre querendo saber do amigo. Makarov disse estar fazendo uma missão solo e em breve retornaria. O mago estranhou: não por Laxus não saber se cuidar – apesar de ter dezesseis anos, é forte e poderoso – e sim por não ter costume de ir sozinho, não quando a Legião do Trovão estava disponível. Aceitou as palavras do idoso sem pestanejar, porém desconfiou em seu íntimo. O matador de dragões confirmou a história, mas Justine ainda assim… ficou com uma sementinha de dúvida plantada dentro de sua cabeça.
No ano seguinte, mais ou menos na mesma época, aquilo se repetiu.
No próximo ano também.
As mesmas desculpas, todas as vezes.
Não sabia como descobrir o que, de fato, estava acontecendo, principalmente diante das respostas evasivas de Makarov. Então, para solucionar o problema, foi colher evidências para confirmar suas hipóteses: observou os outros matadores de dragões da Fairy Tail para ver se o padrão se repetia.
Notou que Natsu não desaparecia completamente, embora passasse longas horas sumido. Se estivesse na guilda, tendia a procurar ainda mais brigas com um mago em específico: Gray. Ele tinha mania de querer demonstrar sua força naturalmente, mas durante a primavera parecia muito mais uma forma de exibir-se e ficar praticamente grudado no mago de gelo. Quase como se… quisesse ser o centro da atenção do amigo. Happy provocava o matador de dragão constantemente, deixando-o corado de vergonha. Isso tinha que significar alguma coisa.
Wendy sempre foi uma garota tranquila, brincalhona se houvesse oportunidade. Contudo, naquela época do ano, havia dias em que uma profunda melancolia surgia suas feições infantis. Dizia sentir saudades de sua melhor amiga da Lamia Scale, Cheila. O único jeito de trazer um pouco de ânimo para a menina era Charlie prometendo uma viagem em breve para visitar a amiga, porque os olhos de Wendy brilhavam intensamente só com a ideia.
Gajeel entrava em um frenesi de passar o máximo de tempo possível treinando, aprimorando suas habilidades. Nas raras pausas, se esgueirava na biblioteca, furtivamente observando Levy organizar as prateleiras ou se perder na leitura em um dos sofás. PhanterLily repreendia o amigo com afinco por seu comportamento, incentivando-o a vencer seus receios e simplesmente ficar mais perto da maga, em vão.
Os três matadores de dragão eram afetados de um jeito diferente, porém era inegável: a primavera exercia algum efeito neles. O padrão existia e, inclusive, foi catalogado pelo mago rúnico. O que lhe restava era descobrir como Laxus era afetado por tal estação do ano.
A oportunidade chegou depois ao ouvir sem querer uma conversa particular entre Makarov e Porlyusica.
– Estou preocupado com meu neto.
– Pois não deveria, o pirralho sabe se cuidar.
– Claro que sabe, só que ele decidiu se mudar recentemente e você sabe como são as coisas quando a primavera chega. Os outros têm Exceeds para ajudá-los, porém Laxus insiste que vai ficar bem sozinho.
– E ele vai ficar, Mestre. Basta verificá-lo uma ou duas vezes durante a semana. O principal é deixá-lo quieto em seu canto. Ele é o mais velho dos quatro, um jovem adulto saudável e responsável.
– É, você está certa.
– Como sempre estou. Aliás, sua preocupação maior logo será com Gajeel e nós dois sabemos o porquê.
A partir dali, Freed desligou completamente da conversa, talvez perdendo detalhes importantes, mas focando em sua descoberta: seu melhor amigo não saía em missões solo, esteve esse tempo todo se escondendo de seus companheiros de guilda.
E está na hora de saber o motivo.
Criando coragem, após mais ou menos três dias de confirmar com o Mestre que o melhor amigo estaria “ocupado”, caminhou decididamente até a casa do Dreyar. Bateu na porta uma, duas, três vezes. Sem se abalar com a falta de resposta, fez algo pelo qual não se arrepende: pulou a janela da sala de estar para entrar. É justo, afinal, Laxus se esgueirou uma vez ou outra para dentro do apartamento do Justine quando eram adolescentes. E, já que entrou, não vai desistir de sua missão – a não ser que seja verbalmente expulso.
O ambiente está quieto e escurecido, apesar de ser pouco mais de dez da manhã. Isso é incomum, porque ao menos uma música de fundo sempre está ligada na Lacrima de Comunicação. O mago de escrita das trevas vasculha o recinto e, na ponta dos pés, anda pela casa procurando pelo matador de dragão. Já esteve ali outras vezes, mas agora tudo parece… esquisito. Como se entrasse num ambiente sagrado sem autorização.
A porta do quarto principal está entreaberta. Antes mesmo de bater suavemente, consegue perceber o volume debaixo de uma grande camada de cobertores. Está calor dentro do recinto e, imediatamente, preocupa-se com a possibilidade do amigo estar doente.
– Laxus? – sussurrou, entrando. – Você está bem?
Olhos amarelos como ouro se fixam contra os seus e o mago rúnico sente um arrepio na espinha. Dreyar se ergue em toda a sua altura, capturando a completa atenção de Justine. O matador de dragões o encara por um intenso e prolongado minuto antes de se aproximar e puxar Freed para seus braços.
– Laxus?!
O loiro não responde, ocupado demais em pressionar o rosto contra o pescoço do melhor amigo, respirando com força como se quisesse capturar seu cheiro. Aquilo faz cócegas e, se não estivesse tão confuso com aquela demonstração de afeto, teria rido.
– Laxus, você está bem? O que está acontecendo? Como te ajudo? Por favor, fale comigo.
Eventualmente o matador de dragões responde, não mais que um murmúrio:
– Estou bem agora.
Então o Dreyar puxa o mago para sua cama, deitando-o entre os travesseiros e cobertores. Inevitavelmente o mais jovem fica vermelho de vergonha, sem saber como reagir ao encontrar-se novamente abraçado no meio daquele ninho quente e confortável.
E enquanto tenta organizar seus pensamentos… percebe que Laxus está estranhamente relaxado. Nem um pouco doente, pois já presenciou o amigo quando precisavam viajar de trem nas missões com a Legião do Trovão. Pode descartar tal hipótese. Ele permanece quieto, silencioso. Não que não o fosse normalmente, reservado em comparação aos outros da guilda. Mas há uma grande diferença porque Laxus dificilmente transparece estar… satisfeito e acomodado.
– Eu não entendo. – diz, eventualmente. – Natsu fica briguento; Wendy, melancólica; e Gajeel, espreitador. Justo você fica carinhoso?
Um estrondo baixo, num misto de rosnado e grunhido, reverbera no peito do Dreyar.
– Tudo bem, carinhoso não. Manhoso? Dengoso? Afável? Meiguiceiro? Só quer ficar abraçado com alguém durante alguns dias? – sente o nariz do loiro cutucar sua garganta. – Bom, isso não é um problema. Só não entendo o motivo de ter mentido para mim a respeito disso.
Ele descobre mais tarde, quando escuta a porta da frente abrir na hora do jantar.
Laxus imediatamente fica tenso, saindo da cama rápido como um raio. Freed o segue até a sala de estar e se depara com o amigo parado e rosnando profundamente na direção de Makarov, que carregava algumas sacolas no ombro.
– Mestre?
– Freed…? – o idoso arregala os olhos para o jovem. – O que faz aqui? Você está bem? Meu neto fez alguma coisa? Te machucou? – pergunta.
– O quê? Não. Eu… eu estou bem.
– Então saia daqui. Agora.
Com o pedido, o ar começa a chiar ao redor do matador de dragões, como se ele estivesse emitindo vibrações elétricas sem notar. Justine não pode ver a expressão facial do amigo, porém diante do profundo vinco na testa de Makarov, imagina que o amigo está bem irritado. Laxus se coloca entre o Mestre e Freed, rosnando mais profundamente.
– Freed, não posso ir até você porque não quero começar uma briga desnecessária com meu neto. Ele não está com a cabeça no lugar no momento, por isso preciso que você peça ao Laxus para se afastar. Quando conseguir isso, saia de casa sem olhar para trás.
– Mestre….
– É uma ordem, Freed. – usou um tom firme, sem deixar espaço para discussões. Poucas vezes o mago de escrita das trevas ouviu aquele tom de voz: a situação é realmente séria.
– Tudo bem. – seus ombros caíram em derrota. – Laxus, é só seu avô. Ele não é uma ameaça. Por favor, se acalme. Ninguém vai te machucar. Eu prometo. – o matador de dragões permanece parado, irredutível. – Volte para seu quarto e fique lá até se acalmar, porque eu não vou conseguir ir embora com você desse jeito.
A postura defensiva (e agressiva) do homem loiro desaba com as palavras de Freed. Imediatamente vira o corpo e vai até ele, abraçando-o, quase esmagando-o.
– Não vai embora. Fica comigo. – não passa de um sussurro, mas é tão cheio de tristeza e desespero que, por um instante, Justine cogita desobedecer a ordem do Mestre.
– Me perdoe. Preciso ir.
Laxus relutantemente se afasta e sua expressão de dor e mágoa é tão grande que Freed sente o próprio peito se apertar. Com um suspiro lamentoso misturado de um gemido, se arrasta de volta para o quarto e bate a porta atrás de si, com raiva. Conforme instruído, o mago sai da casa e espera na calçada até Makarov finalmente aparecer.
– Você está bem, garoto? – pergunta novamente.
– Sim, estou.
– Seja sincero.
– Estou sendo, Mestre. – ficou ligeiramente ofendido, porém conseguiu reprimir uma careta.
– O que Laxus fez com você? – insistiu.
– Ele… ele só ficou deitado comigo por algumas horas. – eventualmente respondeu, corando. – E eu digo deitado no sentido literal, sem segundas intenções. Juro por tudo que me é sagrado, nós apenas… nos abraçamos. Nada mais.
– Ele mordeu você?
– O quê?! Não! Por que faria isso? – só a ideia aprofundou o vermelho de suas bochechas. Era como se fossem adolescentes pegos no flagra se beijando por um membro da família.
– … por que veio aqui, Freed? Lembro-me de ter sido muito claro e avisado a Legião do Trovão que meu neto estava em uma missão solo.
– Eu sei que é mentira. – disse, encolhendo os ombros. – Já tinha percebido que, na primavera, os matadores de dragão ficam diferentes durante alguns dias. Quando descobri que Laxus estava em Magnólia, quis saber se estava bem. Por isso estou aqui.
– Não deveria ter vindo. – Makarov fala, num tom mais ameno. Obviamente não deveria ter subestimado a inteligência de Justine.
– Por que não? Laxus não está doente. Só mais quieto e… grudento.
– Não foi assim das outras vezes. – cedeu, explicando tudo. – Ele ficava mil vezes mais irritadiço, arrisco. Quando Porlyusica veio examiná-lo pela primeira vez, foi extremamente difícil contê-lo para não lutar com ela. Se eu tentasse entrar em seu território… quarto, sem permissão… – balançou a cabeça. – Meu neto é um bom mago e sei que, se estivesse com a cabeça no lugar, jamais agiria assim.
– Mas eu não entendo, Mestre. Ele não foi nada além de carinhoso comigo e eu sou apenas um amigo, diferente de você, que é família. O que há com a primavera capaz de transformar suas ações tão fortemente?
Makarov coçou a barba e permaneceu um longo momento em silêncio.
– É temporada de acasalamento, garoto. Quando ele se torna mais próximo de um dragão do que em qualquer outra época do ano.
– Ah… – Freed deixou escapar sua surpresa, pois sequer cogitou tal possibilidade em suas observações. Fazia muito sentido. – Então é por isso que Natsu briga mais com Gray, Wendy sente falta de Cheila e Gajeel persegue Levy…
– Gajeel faz o quê? – indaga, perplexo.
– Não de um jeito ruim nem esquisito! Ele fica rondando a biblioteca e olhando Levy de longe, mas quase nunca conversa com ela, de fato. Só isso.
– Era só o que me faltava. – bufou. – Vou ter que ficar de olho nesses dois mais do que imaginava.
– E como Laxus ficou o tempo todo trancado em casa nos últimos anos eu presumo que não tenha uma companheira ainda, não é? – lançou a dúvida no ar.
– Freed… – parou no meio da frase, como se mudasse de ideia. – Há certas coisas que somente meu neto é capaz de revelar. Não posso falar em nome dele dessa vez, não quando envolve um assunto tão delicado. Espere essa situação passar e converse com ele, porque não obterá nenhuma resposta agora, mesmo que ele tenha sido favorável a um pouco de conversa.
– Realmente preciso ir embora? Não posso ficar, já que ele me permitiu? – questiona, relutante em abandoná-lo.
– Meu neto é um jovem responsável, apesar de ter somente vinte e um. Está velho o bastante para cuidar de si mesmo. Logo será um Mago Rank-S. Em poucos dias voltará ao normal e o melhor que podemos fazer é deixá-lo tranquilo em seu canto, sem perturbá-lo.
– Você não me pareceu tão despreocupado assim na quarta-feira. – deixou escapar, entregando-se.
– Ah, é claro que não há privacidade nenhuma dentro da guilda. – revirou os olhos.
– Não foi minha intenção bisbilhotar. – defendeu-se.
– Tudo bem, a questão é a seguinte: Natsu, Gajeel e Wendy ao menos tem Exceeds para ajudá-los caso algo aconteça. Laxus não. Como avô, isso me deixou inquieto. Obviamente. Mas agora as coisas mudaram e eu fiquei mais aflito por você do que qualquer outra coisa.
– Ele nunca me machucaria. Nunca. – percebeu onde Makarov queria chegar.
– Não estou insinuando o contrário. Conheço meu neto e confio em sua boa índole, porém precisa entender… ele está sob efeito de instintos primitivos. Poderia te machucar, sem ter a menor intenção, e quando descobrisse ficaria completamente devastado. A última coisa que Laxus quer é machucar seus companheiros de guilda, principalmente um amigo importante como você. – afirmou.
– Eu sei me defender se for necessário.
– Até mesmo de quem possui genuíno afeto? – insiste. – Se ele tentasse te forçar a algo que não quisesse… seria capaz de impedi-lo?
– Sim, Mestre. Juro por tudo que me é mais sagrado.
– Te desaconselho a ficar, mas você é teimoso demais para seu próprio bem, garoto. – soltou um suspiro, balançando a cabeça. – Prometa pedir ajuda se algo der errado. – diz, num tom de exigência.
– Eu irei até você se algo der errado, Mestre. Tem minha palavra.
– Esses jovens de hoje em dia acham que sabem das coisas… – murmurou, andando para longe. – Cuide-se, Freed. Espero vê-lo intacto e inteiro na próxima semana!
– Até logo, Mestre! – despediu-se, observando o idoso caminhar na escuridão.
Justine entra novamente na casa, notando que Makarov havia trazido comida pronta para o jantar. Resolveu aquecer e levar duas tigelas até o amigo como uma oferta de paz.
Laxus está sentado na cama, de braços cruzados e uma carranca de mágoa no rosto.
– Oi. Voltei. Trouxe o jantar, imagino que esteja com fome. Posso entrar?
O matador de dragão assentiu lentamente. Conforme o mago de escrita das trevas se aproximava, ele afastou as cobertas ao seu redor e permitiu ao melhor amigo sentar ao seu lado para comer. Contudo, Laxus ingeriu apenas algumas colheradas, entregando o resto para Freed.
– Não quer mais? Certeza? – uma ideia surge em seus pensamentos. – Ou você está se certificando de me alimentar mais que você para “provar” alguma coisa?
Laxus solta um rosnado de vergonha, desviando o olhar. Freed deixa uma risadinha escapar e não insiste.
– Agradeço, porém estou satisfeito. – deixa as tigelas na cômoda. – Cansado o bastante para dormir? – mais um aceno com a cabeça. – Ok, pode me emprestar um pijama? Não vim preparado para passar a noite.
Enquanto pendura o casaco no cabideiro e desprende a bainha da espada da cintura, sente o amigo vasculhar o armário. Eventualmente lhe entrega uma blusa comprida e shorts confortáveis. Logo os dois se arrumam e deitam lado a lado na cama, com Laxus novamente tranquilo, a cabeça enfiada na curva do pescoço de Freed. Está quente, mas não sufocante. Ele se sente muito bem naquele abraço e demora um bom tempo para dormir, querendo aproveitar aquela sensação.
Desde que se conhece por gente, Freed é apaixonado por Laxus, então estar tão perto dele faz com que seu coração bata mais acelerado.
A temporada de acasalamento dura mais um dia e meio. Após isso, Justine tenta gentilmente conversar com Laxus sobre toda a situação. Por semanas, retorna ao assunto com afinco. Sempre recebe recusas evasivas. O Dreyar mais novo não quer falar sobre isso. Então, eles não conversam.
No próximo ano, Freed aparece com uma mochila nos ombros na porta da frente do melhor amigo.
– Eu sei que na primavera passada eu fiquei aqui com sua permissão por acidente, por ter te procurado e você acabou aceitando minha presença. Por isso preciso que diga, com todas as letras, que não será um problema ficar aqui de novo. Que não vou te atrapalhar nem te impedir de te procurar sua… companheira, seja quem for. Necessito saber se você me quer aqui. De verdade.
Laxus estava ocupado arrumando a casa, preparando-se para uma temporada amarga e solitária. Sequer cogitou conversar com o Justine por…. certos motivos secretos. Ele é o mais velho dos matadores de dragões da Fairy Tail e o que mais tem lidado com os efeitos. Seus instintos de criar um ninho e ansiar por um companheiro é quase insuportável demais para aguentar, mas aqui está o mago de escrita das trevas, diante de si, oferecendo apoio. Ele jamais poderia recusar, não quando…
– Você é a única pessoa com quem eu quero passar a primavera. – consegue proferir, aliviado com o sorriso que surge no rosto de Freed. Há muito mais a ser dito, mas por enquanto é o suficiente.
– Então eu ficarei.
E Freed é um homem fiel às suas palavras.
É mais confortável do que ele imaginava, atravessar a época de acasalamento com companhia. De repente barulho não o incomoda mais e até consegue ouvir música de vez em quando; não pula nenhuma refeição por preguiça ou esquecimento; pode abraçar o quanto quiser e o toque não será rejeitado; ele até consegue brincar e trançar o volumoso cabelo esverdeado por pura vontade. Difícil explicar o quão relaxado e tranquilo se sente com o passar dos dias, estes inclusive se encurtando a cada ano. Não é mais um estranho na própria pele, irritado com o simples uivo do vento, pronto para desafiar meio mundo. Sorte sua nunca ter esbarrado com nenhum outro matador de dragão nesse período, do contrário a briga seria para valer, principalmente se algum deles ousasse chegar perto demais de sua casa… e de Freed. Racionalmente uma disputa por “território” e “companheiro” é ridícula, mas seu lado dracônico não é lá muito inteligente.
Estar tão perto de Freed só reforça aquilo que já havia percebido no íntimo de seu ser, ainda não dito em voz alta. Não há razão de ter pressa, ele pode se dar ao luxo de esperar um pouco.
Laxus passa mais três ou quatro primaveras junto do melhor amigo. Não há mais dúvidas em seu coração – nunca houve, para ser sincero. Desde a adolescência, já sabia. Contudo o que o empurra, mas não o precipita, para a tão aguardada conversa… é Levy retornando após meses trabalhando ao lado de Gajeel e Lily para o Conselho Mágico, grávida de gêmeos.
Makarov fica completamente furioso.
– Você não tem nem vinte e cinco anos, Levy McGarden! Como ousa me aparecer grávida tão cedo?! – os gritos ecoam pelas paredes da guilda. – E ainda por cima, dois bebês! E você, Gajeel Redfox! Mal conseguiu se tornar um Mago Rank-S, como vai dar conta de cuidar da sua companheira e dos seus filhotes se voltou para Fairy Tail cheio de prejuízo pela destruição causada nas missões do Conselho, hein?!
O matador de dragão de ferro escuta tudo (e mais um pouco) calado, enquanto a maga de escrita sólida é encaminhada para Porlyusica. Wendy se oferece para ajudar, contudo é mantida à distância para evitar qualquer risco de confronto com Gajeel. Juvia, Lucy e Erza organizam uma pequena festa de comemoração em segredo, não querendo reacender os ânimos exaltados do Mestre. Freed busca pela amiga com a ajuda de PhanterLily, que rapidamente a afasta do caos crescente na guilda.
– Imaginei que viesse me preocupar. Ao menos terei uma desculpa para ficar longe até o Mestre se acalmar.
– Não se preocupe, você não foi a única a levar um sermão por querer acompanhar a temporada de acasalamento de um matador de dragão. – esclarece, deixando-a sentar em uma das poltronas da biblioteca. – Como está se sentindo?
– Cansada da viagem. – soltou um suspiro de exaustão. – Por sorte os enjoos constantes terminaram, meu problema agora é precisar ir ao banheiro a cada cinco minutos. – coloca os braços na barriga já proeminente.
– É bom ouvir isso.
– Então você sabe sobre a primavera, hein? Nunca pensou em compartilhar essa informação comigo?
– Peço desculpas. Eu mal sabia o significado até uns anos atrás, quando forcei Makarov a me contar a razão de Laxus se trancar em casa por dias. Meio que invadi o ninho dele e… não fui expulso.
– Lógico. – sorriu. – Vocês sempre tiveram uma conexão forte, não me admira ter sido escolhido como companheiro dele.
– Eu não sou. – rebateu, um amargor na boca.
– Como não? – franziu o cenho, confusa.
– É complicado. – encolheu os ombros. – Imagino que tenha sido difícil para você também.
– Na verdade, não. O tempo em que ficamos juntos foi… bom. – corou um pouco, embora um pequeno sorriso surgisse em seus lábios. – Mas com certeza a parte difícil veio depois, descobrindo a gravidez. Ele comentou que, pelo fato de sermos compatíveis para gerar filhotes, poderíamos ter um bebê relativamente cedo. Não acreditei. Se eu soubesse que fosse ser logo na nossa primeira temporada juntos… teria esperado um pouco mais, com certeza. Não estou arrependida, longe disso! Só é um choque perceber que serei mãe em poucos meses. E de duas crianças de uma vez só.
– Então… – as peças soltas começaram a se encaixar com rapidez. – Você dormiu com ele e por isso está vinculada a Gajeel.
– Hã? Não. Isso não é sobre sexo, Freed.
– Não?
– No meu caso, talvez seja no máximo 10% do motivo. Talvez menos. Nem todos os casais são aptos a gerar filhotes. Alguns têm mais habilidade somente para cuidar de filhotes de outros pares ou até mesmo adotar os órfãos. Por mais que a magia dos matadores de dragões seja antiga e inexplicável, agindo de formas misteriosas… duvido muito que você acabe grávido. – para animar um pouco os ânimos, brincou: – Desculpe por te dar essa triste notícia, deve ser um choque para você.
Justine soltou uma pequena risadinha pelo esforço da maga.
– Bom, se não tem nada a ver com sexo… o que te faz companheira de Gajeel?
– A mordida. – respondeu, simplesmente.
O mago de escrita das trevas tem uma breve lembrança de ouvir sobre isso antes de uma conversa com Makarov, porém pelo olhar em seu rosto, a McGarden compreende sua falta de informações a respeito.
– Pegue sua espada.
– O quê? – desconfiado, faz conforme o pedido.
– Coloque rente ao meu braço e tente encostar em mim.
– Enlouqueceu? Se Gajeel sonhar que eu posso ser uma ameaça…
– Confie em mim, amigo.
– … tudo bem. – receoso, desembainha a espada e, muito lentamente, aproxima a arma do braço de Levy.
Com espanto, num piscar de olhos, uma couraça de escamas de ferro surge como uma barreira de proteção. Assim que ele guarda a espada, aquilo desaparece no ar.
– Uau!
– Legal, não é? – sorriu, orgulhosa. – Como pôde perceber, eu não usei minha magia para criar uma proteção. Sequer escrevi ou falei qualquer coisa. Porém como estou conectada ao único matador de dragão que domina o elemento ferro, seus poderes são compartilhados comigo e reagem instintivamente para me proteger em qualquer situação de perigo. Isso só é possível pois eu recebi uma parte da magia defensiva de Gajeel quando ele me mordeu e me tornou sua companheira.
Levy afastou gentilmente os cabelos e mostrou uma pequena cicatriz no pescoço, imperceptível para quem não soubesse o que procurar.
– É uma forma de mostrar a outros matadores de dragões que não estou disponível, além de me tornar mais protegida. Gajeel conversou comigo sobre isso porque, como estávamos no meio de uma missão importante, ele precisava que eu soubesse o motivo de ficar tão… vulnerável. Foi muito gentil em se oferecer para se isolar, porém como já gostava dele há algum tempo, resolvi aceitar a mordida. Lily depois me contou sobre a parte de se esgueirar pela biblioteca só para cuidar de mim de longe e sobre como provavelmente as próximas temporadas serão mais curtas, pois já estamos pareados. Agora devemos nos preocupar com os gêmeos e torcer para dar tudo certo.
– A guilda inteira irá te apoiar, não tenha dúvidas. – assegurou.
– Não tenho. – sorriu mais uma vez. – O que me deixa preocupada é o possível conflito de Gajeel com Wendy e Natsu, porque ambos não têm companheiros e dragões são extremamente protetores com suas proles.
– E Laxus? – indagou, curioso do melhor amigo não ser mencionado.
– Tem certeza de não serem um casal?
– Eu só o acompanhei durante as últimas temporadas de acasalamento por acaso. Talvez eventualmente encontre uma parceira com quem possa ter filhotes. – murmurou, com um aperto no coração.
– Os poucos registros que temos afirmam uma tendência de dragões procurarem por um único parceiro romântico.
– Tendência, não regra. – rebate. – E nada impede um matador de dragão de ter um parceiro para gerar filhos e outro para cuidar. Talvez Laxus apenas esteja esperando a companheira certa aparecer em sua vida.
– Não funciona assim. – apoiou o queixo na mão. – Para dragões, os parceiros em potencial são encontrados já nas primeiras temporadas em um número reduzido. Até antes, se duvidar. É tudo uma questão de afinidade e conexão, nascidas do convívio. Proximidade. Afeição. Wendy conheceu Cheila muito antes de se juntar à Fairy Tail e, por isso, sua ligação com ela ultrapassa a distância que as separa. Natsu e Gray convivem juntos desde criança. Gajeel foi o primeiro a querer formar uma equipe comigo pouco depois de entrar na guilda.
– Ou seja, Mirajane poderia ser parceira dele segundo essa lógica. Cana, Lisanna, Erza. Até Evergreen, caso Elfman não estivesse na jogada. – argumentou.
– Ele foi atrás de alguma delas?
– Não. Isso não significa nada: ele também não foi atrás de mim.
– E foi preciso? – arqueou a sobrancelha. – Por que você achou o caminho para o ninho dele de qualquer jeito.
– Laxus apenas aceitou minha presença.
– E continuou permitindo que você, e somente você, ficasse por perto em seu momento mais sensível. – concluiu.
– Talvez não signifique nada.
– Ou talvez signifique tudo. – refletiu. – Você deveria levar em consideração as evidências antes de fazer um julgamento tão impessoal. Laxus age de maneira diferente ao seu redor, todos podem notar. Converse com ele. Dê um voto de confiança. Se ainda não são um casal… pode ser que em breve, antes mesmo da próxima primavera, acabem se unindo. – incentivou. – Até lá é melhor Laxus também ficar afastado, porque já basta Makarov brigando conosco… não precisamos de Gajeel lutando contra metade da guilda só para me manter segura.
Freed se despede da amiga e desce para o bar da guilda com a cabeça cheia de pensamentos. Evergreen e Bickslow notam, tentando abordar o assunto responsável por deixá-lo tão distraído, mas o mago de escrita das trevas se esquiva com maestria.
Laxus, por outro lado…
– Qual é o problema? Está tão preocupado assim com Levy? Tem algo de errado com os gêmeos? – pergunta, sabendo que ambos se refugiaram na biblioteca por um tempo.
– Eles estão bem. Porlyusica vai acompanhar os três para ter certeza de que tudo corra como deve ser.
– Então…?
– Não é nada.
– Bobagem. – resmunga, encarando-o. – Tem algo te incomodando. Me diz o que é.
Justine sabe que não vai vencer essa discussão, contudo está receoso. O Dreyar nunca quis conversar sobre esse assunto anteriormente, será que vai fugir de novo? Detesta brigar com Laxus.
– Você sabe que Levy é companheira de Gajeel, não sabe? – solta, estudando atentamente a expressão do melhor amigo.
– Sei. – enruga ligeiramente o nariz. – O cheiro deles está tão misturado que mal dá pra saber onde um começa e o outro termina. Gajeel é um idiota, porém jamais seria um cafajeste ao ponto de engravidar Levy e não assumir todas as responsabilidades por isso, senão eu, Natsu e até Wendy iríamos fazer questão de acabar com ele em dois tempos.
– E você sabe que vocês três devem ficar longe de Levy para evitar confusão?
– Infelizmente. – rosnou, lançando um longo olhar para o casal em uma das mesas da guilda. – Eu e Natsu, até compreendo. Agora Wendy… – balançou a cabeça em desagrado. – Por ser mais velho eu a vejo quase como um filhote, mas jamais como uma ameaça. Gajeel é péssimo em controlar seus instintos de proteção. Realmente terrível. O olhar de puro ódio que lançou para Natsu quando ele foi parabenizá-la me fez perceber o quanto é provável uma briga feia acontecer. Makarov vai ter muitos cabelos brancos por causa dele.
– Se os matadores de dragões de Fairy Tail estivessem pareados também, isso seria resolvido. – comenta, como quem não quer nada, na voz mais leve que consegue reunir.
– Não seria, não. – rebate, sem perder o ritmo. – Um humano com poderes dracônicos incapaz de controlar seus instintos mais primitivos vê qualquer coisa como ameaça. Redfox causaria problemas independente de eu, Natsu e Wendy arranjarmos um par. Jet e Droy já estão sofrendo por esse lado mais protetor dele e eu te garanto que a tendência é piorar muito após os gêmeos nascerem… se ele não aprender a se controlar.
Freed não descarta as informações que a amiga lhe confidenciou, porém absorve as novas compartilhadas pelo loiro.
– Então você… – respira fundo, pronto para ir adiante: – Não pretende ir atrás da sua parceira? – ao receber um olhar intenso do Dreyar, sente sua determinação enfraquecer. – Você é o mais velho e não é o primeiro a ter filhos. Isso não te impulsiona a ser pareado também…? A desejar uma família?
Laxus fica em silêncio por alguns segundos, nos quais a ansiedade do mago de escrita das trevas aumenta consideravelmente.
– Isso foi… muito invasivo da minha parte. – notou, num misto de vergonha e tristeza. – Não devia ter perguntado.
– Com certeza não. – diz, num tom baixo e perigoso.
– Desculpe. – num ímpeto, está de pé. – Eu preciso ir.
Ele sai sem se despedir de Evergreen e Bickslow, querendo fugir e se esconder até o matador de dragão esquecer daquela conversa. Contudo, é perseguido por ele não muito depois de ultrapassar as grandes portas da entrada, indo em direção a um dos campos de treinamento próximos a um dos rios que cortam Magnólia.
– Freed. – chama o amigo, alcançando-o com passos rápidos.
– Já pedi desculpas, não vou mais me intrometer na sua vida pessoal.
– Então por que está triste? – questiona, colocando-se na frente do Justine, impedindo-o de continuar.
– Não é nada.
– Você realmente não quer conversar hoje, hein? – arqueia a sobrancelha.
– Olha só quem fala. – murmura, incapaz de se conter.
– Freed…
– Laxus, só quero ir para casa. – fala, ombros caindo em derrota.
– Me diz o que te deixou chateado.
– Não posso. – a última coisa que deseja é começar outra discussão, não quando sabe que vai sair mil vezes mais machucado que o loiro.
– Não pode ou não quer?
– Não vou.
– Por que não?
– … porque você não quer falar sobre isso. Nunca quis. – admite, olhando-o nos olhos. – Então, é melhor eu ir embora, ou farei muitas perguntas que não sei se serão respondidas.
Justine tenta dar a volta no matador de dragão só para ser segurado no lugar pelo braço direito do Dreyar. Olhos dourados o encaram, enraizando-o ainda mais.
– O que quer saber, Freed? – abaixa o braço para segurar a mão do melhor amigo.
– Vai me responder? – o coração bate incontrolavelmente no peito, quase ao ponto de senti-lo na garganta. O ar parece elétrico ao seu redor. Está diante de um precipício, pronto para se jogar.
– Talvez. – fala, tão suave quanto um “sim”.
– Quem é sua parceira, Laxus? – resolve tirar o band-aid de uma vez só. – Mirajane?
– … não.
– Cana? Lisanna?
– Nenhuma delas. – estreita os olhos, visivelmente ofendido.
– Não é Evergreen, certo?
– Lógico que não.
– Erza…?
– Não! Suas opções terminaram ou vai listar metade da guilda só para tentar acertar? – resmunga, mordaz.
– Estou surpreso não ser Mira, ela era minha principal aposta.
– Como um homem tão inteligente quanto você pode estar falhando em ver o óbvio está além de mim. – solta, inconformado.
– Laxus! – gritou, ultrajado. – Está me chamando de estúpido?
– Não! Mas por todos os deuses, Freed: Mirajane? É sério?!
– É uma escolha compreensível! Precisa ser alguém que você conhece há bastante tempo, por quem possui carinho e afeto, capaz de se conectar contigo em diversos aspectos.
– Sim. Está correto. – concorda, abaixando o tom de voz. – E quem é a pessoa mais próxima de mim na guilda, Freed? Com quem passo meu tempo livre, faço a maioria das missões e treinamentos? – se aproxima do mago de escrita das trevas, obrigando-o a erguer a cabeça para continuar a fazer contato visual. – Quem é que está sempre ao meu lado, independente dos perigos? Em quem confio minha vida de pés juntos e de olhos fechados? – Justine não responde, imerso na conversa que, de repente, se tornou íntima demais. – Quem é a única pessoa que eu permiti que ficasse comigo durante as temporadas de acasalamento por saber que estaria completamente seguro e protegido?
Freed tenta não deixar aquelas palavras encherem seu coração de esperança, mas é uma luta difícil de vencer.
– Eu te disse, anos atrás, que você era a única pessoa que eu queria ao meu lado durante a primavera. Você lembra? – questiona, não mais que um sussurro.
– Lembro sim. Não esqueci. – confessa, respirando fundo. – E desde então você se recusou a falar comigo sobre tudo isso e o que significava para nós dois. – deu um passo para trás, imediatamente querendo retornar para a proximidade do calor de Laxus.
– Isso é verdade. – assente, aceitando livremente o julgamento do mago rúnico.
– Eu descobri sobre a mordida porque Levy me contou. – reclama, genuinamente chateado. – Há tanto que não sei e nunca pude perguntar. Há tanto para descobrir e não sei o quão disposto está para compartilhar comigo.
– Você quer saber o motivo de eu ter adiado essa conversa. – conclui.
– Estamos tendo “a” conversa, Laxus? – rebateu, buscando sinceridade nos olhos dourados.
– Estamos sim, Freed. – declara, com um olhar determinado no rosto. – Contanto que esteja pronto para ouvir até aquilo que não te agradar.
– Tudo bem. – de repente, a seriedade do momento cai em seus ombros. – Vamos sentar perto daquela árvore e vamos conversar.
Eles sentam em silêncio por um tempo, observando o rio. Freed tem muitos pensamentos confusos brigando por espaço na cabeça, até finalmente romper o silêncio carregado entre eles.
– Desde quando soube? Sobre eu ser seu companheiro?
– Desde sempre, eu acho…? – deu de ombros. – Mas você quer detalhes. Acho que foi pouco depois de entrar na guilda. Eu tenho uma memória muito forte de você arrastando Evergreen e Bickslow até mim, anunciando que formaríamos um time juntos. Você tinha o quê… uns treze anos? Algo assim. Já tinha o cabelo comprido e era cheio de coragem. Não chegava nem na altura dos meus ombros e proclamou ser o maior espadachim de Fairy Tail. E eu concordei e aceitei o grupo porque… eu não queria ficar longe de você. De todas as crianças e adolescentes da guilda, era perto de você que eu preferia estar. Na minha cabeça, sempre fez sentido ser você meu único companheiro.
– Por que durante a época de acasalamento você se isolou na sua casa? E mentiu para mim? – tenta inutilmente ignorar as bochechas vermelhas com uma declaração tão direta.
– Vovô inventou essa história de “missões” solo porque eu estava instável nas primeiras temporadas. Ao ponto de quase atacar Porlyusica só por ela ser um dragão e estar no meu território. Era mais seguro não envolver mais ninguém, pois eu poderia ser hostil.
– Mas você me queria contigo? Desde o início?
– Ah, Freed, não imagina o quanto. – murmura, olhos suavizando. – Eu fiz o impossível para controlar meus instintos. Eu tinha um companheiro potencialmente perfeito na guilda, há quilômetros de mim, porém se fosse atrás de você a raiva iria me consumir e eu queimaria metade da Fairy Tail por tentar te afastar de mim. Porque é isso que Makarov disse que faria se eu cogitasse ir até você antes de estar forte o bastante e eu não queria ser um completo babaca só por meu cérebro ter voltado às origens dracônicas. – explicou. – Não é culpa de ninguém que na primavera eu meio que viro um lagarto que só pensa em comer, dormir e ficar perto do meu parceiro.
– E agora você é? Forte o bastante, quero dizer. Para combater seus instintos.
– Sim. – assegura. – Posso ter rosnado um pouco pro vovô quando ele apareceu em casa e você já estava lá, mas conforme os anos passaram, as temporadas diminuíram a intensidade. Porlyusica me avisou dessa possibilidade. Estou mais… acomodado, eu acho. Somado a isso, tem o fato de me tornar um Mago Rank-S. Sou mais poderoso do que muitos imaginam. E também… eu te conheço. Não te vi com mais ninguém, então não tive crises de ciúmes e nem precisei brigar por você com algum mago concorrente.
– Você sabe que gosto de você. – percebe, chocado.
– É, eu sei. – vira a cabeça na direção do homem de cabelos verdes. – Não deveria? Era para ser segredo?
Justine esconde o rosto nos braços, querendo desaparecer. Ao sentir uma mão tranquilizante em seu ombro, respira fundo e tenta ignorar a própria vergonha estampada nas bochechas vermelhas.
– Tudo bem, eu gosto de você. Você, pelo que disse, gosta de mim também.
– Aham.
– E você nunca falou comigo sobre essa história toda de companheiros por…? – insistiu, num misto de angústia e irritação.
– Porque eu não estava pronto para… ir adiante.
– Explique. – exigiu, internamente curioso.
– Dragões gastam os primeiros anos da temporada de acasalamento procurando por parceiros em potencial. E eu digo “procurar” no sentido de estabelecer vínculos. Conosco é diferente porque somos mais sociáveis e encurtamos essa busca, porém ainda assim precisamos de um tempo para aumentar as chances de fazer a escolha certa. E quando eu falo em tempo, quero dizer cortejo. Sim, Freed, somos criaturas que cortejam seus parceiros e só depois de estarmos seguros com o rumo do relacionamento é que aprofundamos a conexão com a mordida. – a expressão do loiro mudou para tempestuosa por alguns segundos. – E é por isso que Makarov está tão furioso: Gajeel pulou muitas etapas para chegar na parte de gerar filhotes. Porque eu não tenho dúvidas de que ele não fez questão de cortejá-la, como é costume. Por pura sorte Levy gosta dele o bastante para não ficar chateada, mas isso mostra ainda mais o quão fora de controle está. Com certeza escutou muito de Porlyusica por ser inconsequente. – soltou um suspiro. – Há também o fato de que, grávida, Levy está mais vulnerável do que nunca. Gajeel não só pintou um alvo nas costas delas, como pode não estar apto para protegê-la. Se um inimigo quiser atacá-lo, irá usar sua maior fraqueza contra ele.
– Fairy Tail inteira está a postos para protegê-la. – argumentou.
– Mesmo se não estivesse, Gajeel estaria pronto para morrer por eles. Esse é o ponto, Freed: cego por seus instintos de proteção, Redfox seria capaz de morrer em batalha. A fraqueza de seu controle o torna instável ao ponto de não pensar racionalmente. – explicou, com um leve tom desapontado. – No fundo ele é jovem demais para lidar com toda a carga que carrega em seus ombros. Uma hora ou outra, vai ceder, e a culpa será somente dele.
– Não podemos ajudá-lo?
– Nós vamos tentar. – tranquiliza o mago de escrita das trevas. – Se eu apenas recentemente compreendi estar preparado para cortejar você, ele ainda terá um longo e tortuoso caminho até chegar no auge de seu poder. Matadores de dragões tem um bom motivo pelo qual lutar e, se hoje me sinto tão forte e seguro de mim mesmo, é porque fiz e faço de tudo para te proteger. Estou pronto para me provar digno de sua companhia, Freed. Sinto muito ter te feito esperar tanto assim, porém as coisas não poderiam ter sido diferentes.
– Você… você ia me cortejar? – pergunta, surpreso. Comovido.
– É claro! Só não posso te dizer exatamente o que iria fazer pois… ainda planejo, se estiver de acordo.
– O que te fez estar pronto? – resolve não deixar a emoção e o calor do momento desviarem seu foco.
– Vovô quer me treinar para ser o próximo Mestre da guilda. – diz o que deve ser um gigantesco segredo. – Erza e eu iremos disputar esse posto muito em breve, caso ela aceite. A Legião do Trovão tem feito boas missões e eu tenho feito algumas sozinho de nível S com sucesso. Entendo que, apesar de estar indo bem, devo sempre aperfeiçoar minhas técnicas e treinar minha magia. Mas reconheço meus esforços e sei que sou um mago poderoso. Forte o bastante para ser respeitado e forte o suficiente para proteger você. Nós dois, na verdade. Principalmente você. – admite, um sorriso no canto dos lábios. – Não sou estúpido como Gajeel para aprofundar nosso vínculo sendo fraco e incapaz de cuidar de você como precisa.
– Acredito nisso. – pondera a contra gosto. – Só que ainda não explica o porquê de ter se recusado a falar comigo sobre isso. Seus planos de esperar mais um pouco para ser forte, o que é a mordida, eu ser seu companheiro.
– Eu estava com medo. – aquilo é quase chocante o bastante para deixar Freed sem palavras. Laxus jamais admitiu sentir medo de qualquer coisa.
– De mim?
– De falhar e te perder. – confessou, de repente muito autoconsciente. – Você merece um bom companheiro, Freed. Você merece o melhor de mim, porque é de mim que você gosta. Me acolheu em meus momentos mais vulneráveis, porém quero que esteja ao meu lado em minha glória também. Minha vontade de te orgulhar me motivou a treinar cada vez mais para ser cada vez mais forte. Como poderia te prometer o céu e as estrelas e fracassar? Não me perdoaria jamais. Te decepcionar partiria meu coração.
– Eu não teria me importado de esperar por isso, Laxus. – comentou. – Se ao menos eu soubesse que havia algo pelo qual esperar. Fui mantido no escuro esse tempo todo, sofrendo.
– Por quê? – o loiro demonstra não entender as emoções do amigo. Justine se esforça para explicar.
– Porque você nunca falou nada, Laxus! É esse o problema. Não vê? Passei os últimos anos amando você em silêncio, achando que meus sentimentos não seriam correspondidos. Pensando quando é que iria me impedir de aparecer na primavera e anunciar ter encontrado sua parceira ideal.
– Você é meu parceiro, Freed.
– Como eu poderia saber?! – retruca, novamente irritado. – Eu não sou um matador de dragão, não tenho como saber de coisas que são óbvias para vocês.
– Por isso eu te disse, anos atrás, que você seria o único a passar a temporada de acasalamento comigo. – lembrou-o.
– Mas não explicou o que isso significava! Nem sobre a mordida, nosso vínculo ou formar uma família. Eu sou humano, Laxus. Eu só queria saber que tinha chances de ficar com você ao invés de esperar o momento em que seria forçado a superar minha paixão por você!
– Isso jamais iria acontecer.
– Eu não sabia! – sente lágrimas não derramadas arderem em seus olhos. – Eu poderia ter esperado você estar pronto para me cortejar porque te conheço. Você cumpre suas promessas. Mas agora tudo que consigo sentir é tristeza do tempo que perdi sofrendo por você. À toa.
– Você se ressente por eu ter decidido esperar estar pronto.
– Não. Eu nunca teria te apressado. Nunca! – frisa, encarando-o com quase fúria. – A questão é que sua escolha de não ser sincero comigo por medo de me perder não adiantou. Apesar de todas as preocupações, Gajeel está completamente ao lado de Levy e eles estão juntos para enfrentar as dificuldades que surgirão no caminho. Você, por outro lado, teve todo o tempo do mundo para me revelar a verdade, mas não quis. E eu estou chateado. Jamais menti ou omiti algo importante de você, enquanto você escondeu muitas informações sobre coisas que, inclusive, me afetam diretamente. Esse foi seu erro, Laxus. Um erro pelo qual não consigo te perdoar tão cedo.
– Freed… – o Dreyar tenta alcançá-lo, mas de repente o mago de escrita das trevas está de pé, controlando-se para não desabar e chorar.
– Eu vou para casa. Preciso de um tempo sozinho. Você vai me deixar em paz por uns dias, porque meu coração dói muito por toda a tristeza que não precisaria me fazer chorar de noite, quando Evergreen e Bickslow não podiam escutar. Estou bravo com suas atitudes e com raiva de você, porém não te odeio. Nunca pude. Só me dê um tempo para tirar toda essa dor de mim. Quando eu estiver pronto, irei atrás de você.
Ele deu passos vacilantes para longe antes de escutar seu nome ser chamado mais uma vez.
– Freed?
– O quê?
– Posso ao menos te dar um abraço?
Aceitar seria agridoce, porém Justine cedeu e permitiu que o matador de dragão o abraçasse apertado por alguns segundos antes de soltá-lo. Respira com mais leveza ao retornar para casa, seu lugar seguro para finalmente chorar e soluçar, extravasar todas as emoções bagunçadas dentro de si para fora.
Então faz o que geralmente o alegra em dias de crises emocionais: toma um longo banho, lê seu livro favorito e come muito chocolate.
Funciona perfeitamente.
Assim, quando Evergreen e Bickslow chegam no apartamento compartilhado, Justine despeja toda a conversa sensível que teve com Laxus horas antes, poupando alguns detalhes. Só depois tem receios do melhor amigo ficar incomodado com informações preciosas tão expostas. Por sorte seu time o apoia em sua decisão de se afastar e até se oferecem para dar uma dura no matador de dragão. Freed recusa, obviamente. Só quer um tempinho de paz e tranquilidade sem ser sobrecarregado com as agitações da guilda e de seu relacionamento com Laxus.
A ideia de partir em uma missão em trio é a melhor escolha. Algo rápido, fácil, o suficiente para arejar a cabeça do mago espadachim. Retornando, recebem um convite de Lucy para o “chá de bebê” de Levy naquela mesma noite.
– Nós iremos. – Freed confirma a presença dos três.
– Até mais tarde! – a maga celestial acena ao grupo em despedida.
– Ele provavelmente não vai estar lá, por causa de Gajeel. – Evergreen comentou.
– E se estiver, vamos formar uma barreira humana para mantê-lo longe.
– Não se preocupem, não há necessidade. – dispensa os amigos com suavidade. – Eu tenho a sensação de que Laxus vai aparecer e acho que estou pronto para vê-lo de novo.
A festa já está em andamento quando entram na guilda. Há uma pilha gigantesca de presentes na mesa de Levy, onde a Legião do Trovão adiciona mais um perante um sorriso doce da maga de cabelos azuis.
Freed cogita sentar com ela e bater um papo, porém a presença marcante do Redfox é capaz de desiludi-lo com rapidez. Ao menos Jet e Droy parecem estar em bons termos com o matador de dragão, um alívio para todos os membros da Fairy Tail.
Justine despretensiosamente vai atrás de Gray, puxando papo com o mago de gelo. Não precisa de muito para saber que está completamente alheio sobre a possibilidade de ser companheiro de Natsu, visto que ambos estão muito preocupados em treinar para os próximos Jogos Mágicos, que ocorrerão no fim do ano. Cada um têm suas prioridades, afinal. Ele sutilmente resolve ir atrás de Wendy, visto que Cheila não está disponível no momento para conversar.
– Gajeel está se comportando melhor com você perto de Levy? – pergunta, direto ao ponto.
– Aham. – a adolescente balança a cabeça em concordância. – Porlyusica tem outros pacientes para cuidar, então eu fico de olho em Levy e nos gêmeos com frequência. Acho que ele acabou se acostumando com a minha presença.
– Isso é bom, pois ambos vão precisar de muitas babás quando os bebês nascerem.
– É, Lily não vai dar conta sozinho. – Carla concordou.
– Porlyusica ou Makarov chegaram a conversar com você, Wendy? Sobre tudo isso… – fez um gesto vago no ar, esperando que ela entendesse.
– Sim. – desviou o olhar, rosto em chamas. – Eu, Natsu e Laxus ganhamos um longo sermão sobre arranjar companheiros só depois dos trinta anos.
– Ah é? – riu em conjunto com a Exceed.
– O Mestre estava realmente furioso na hora. Pensei que fosse jogar os três numa ilha na próxima primavera, só para ter certeza de que não haveria mais nenhum filhote não-planejado. – a gata admitiu, em tom de segredo.
– Quanto exagero. – deu um gole na cerveja que Mirajane lhe entregou mais cedo. – Não que esse seja o seu caso, não é, Wendy? As chances de você e sua parceira terem filhotes é praticamente zero, certo?
– É. – um pouco depois, um olhar horrorizado cruzou seu rosto. – Espera aí… você sabe quem é?!
– Tenho um palpite. – olhou cúmplice para Carla. – Por mais que nos ame, na primavera você sempre fica completamente miserável por estar longe de uma certa… pessoa, de outra guilda.
– Urgh… – resmungou, batendo a testa com força na mesa de madeira. – É tão óbvio assim?
– Não para quem não sabe o que acontece com matadores de dragões durante o desabrochar das flores. – assegurou, enquanto Carla dava tapinhas nos ombros da garota. – Seu segredo está guardado comigo. Palavra de honra.
– Valeu. Com essa confusão toda… – ergueu a cabeça na direção de Gajeel e Levy, uma mancha vermelha crescente na testa. – Fiquei com medo de falar com alguém sobre isso. Não quero que briguem comigo por… saber quem é minha companheira.
– Makarov estava estressado, é fato, porém jamais brigaria por isso, afinal é algo que faz parte de você. E nem mesmo ele pode impedir que um par aprofunde o vínculo, só não quer que seja de um jeito irresponsável.
– Como assim? – perguntou, curiosa; Carla voltou todas as atenções para Justine.
– Ele está falando sobre cortejar seu companheiro, Wendy.
A voz estrondosa de Laxus não envia um arrepio por sua espinha, nem eriça os pelos de sua nuca. Seu coração não bate nem um pouco mais acelerado com a repentina aparição e suas mãos não ficam suadas quando o Dreyar escolhe justamente o espaço ao seu lado para se sentar.
– Oh… – a adolescente murmura, interessada.
– Sim. – o loiro assentiu. – Vocês duas são terrivelmente jovens e Makarov iria me exilar se sonhasse que estive te incentivando, por isso não estou aqui com esse intuito. Tenho duas testemunhas ao meu lado para provar que quero fazer o oposto, ao mesmo tempo em que desejo saber o que está fazendo para cortejar Cheila.
– Shiu! – a garota se joga para tapar a boca do adulto em desespero. – É segredo, é segredo! Por que todo mundo sabe meu segredo e eu não sei de ninguém?! – retruca, mal-humorada.
– Ele é um matador de dragão também, Wendy, é lógico que sabe! Se acalme! – a Exceed abafou os protestos da humana.
– Não precisa se preocupar, não sou de espalhar fofoca. – tranquilizou-a quando sentou de braços cruzados na cadeira. – E eu não vou contar a Makarov, porque a última coisa que precisamos é ele surtando de novo.
– É bom mesmo. – resmungou, tentando fazer uma cara ameaçadora para intimidar o Dreyar mais novo. Freed achou aquilo adorável. – E você também não precisa se preocupar comigo, eu não estou cortejando Chei… ninguém! Não estou cortejando ninguém ainda.
– Mas um dia, irá. – diz, calmamente. – Não importa o quão amigas sejam, não pode mordê-la antes de deixar suas intenções claras e compreensíveis.
– Eu sei, só não sei como… essa parte funciona. Porlyusica só falou que é obrigatório e mudou de assunto.
– Não é tão complicado quanto parece. Posso te ajudar quando a hora chegar, se quiser. – ofereceu, sincero. Aquilo pegou a adolescente desprevenida.
– Você já cortejou seu parceiro? – pelo breve olhar na direção do mago de escrita das trevas, Freed soube imediatamente que Wendy tinha noção de eles estarem envolvidos.
– Ainda não, mas pretendo começar em breve se for… favorável. – respondeu, sem rodeios. – Lembrando que eu sou um adulto e mago Rank-S, e minha decisão sobre meu vínculo não deve ser questionada por ninguém.
– O Mestre sabe, então? – provocou, escondendo um sorriso feroz.
– … saber, não sabe. – resmungou, olhando feio para a matadora de dragão dos céus por um instante. – Não estou a fim de levar bronca por enquanto, nem quero ser o motivo de provocar um infarto no meu próprio avô.
– Justo.
– Um parceiro pode rejeitar o cortejo? – Carla questiona, de repente muito preocupada.
– É claro que pode. – responde. – Embora a maioria dos dragões espere por várias temporadas para iniciar o namoro para evitar justamente esse tipo de situação, não estão livres de cometer enganos.
– E aí? O que acontece? – Wendy pergunta, receosa.
– Há duas possibilidades. A primeira: na melhor das hipóteses, você escolheu alguém que ainda não está pronto para um relacionamento mais profundo. Vocês conversam sobre isso e você resolve esperar que esse alguém esteja preparado para ir adiante, porque gosta bastante dele e não se incomoda de aguardar um pouco mais. A segunda: o parceiro não gosta de você num sentido romântico, então você precisa conquistá-lo. Esse é o mais comum quando há muitos companheiros em potencial, porque significa que haverá alguma disputa entre pretendentes. – explica sob o olhar atento da garota. – Makarov tinha receio disso acontecer na nossa guilda, sorte a dele que ninguém se interessou pela mesma pessoa.
– E se eu… eu escolher… alguém que nunca vai me amar?
– Então… – a voz de Laxus se torna insuportavelmente triste. – Se não tiver forças para encontrar outro alguém, nunca será feliz. Porque um dragão rejeitado, incapaz de arranjar um companheiro que o ame profundamente, se transformará em uma casca vazia.
– Como aconteceu com Acnologia, não é? – questiona, num sussurro.
– Exatamente. – concorda. – Mas… – olha para Wendy com ternura. – Esse não será seu caso.
– Como pode ter certeza?
– Confie em mim. Não estou garantindo que Cheila goste de você agora mesmo, mas garanto que, na pior das hipóteses, será capaz de conquistar o coração dela. Você é forte, bondosa e corajosa, características admiráveis para uma matadora de dragão tão jovem. Além disso, há um longo caminho pela frente. Não se preocupe demais, nem pouco, em relação à sua parceira. O que for acontecer será no tempo certo e pode contar comigo para te ajudar.
– Valeu, Laxus. É um alívio ouvir isso, principalmente vindo de você. – seu sorriso é contagiante, fazendo Freed e Carla sorrirem também. – Devemos nos preocupar com Natsu, entretanto. Ele não me parece ter começado a fase de cortejar Gray e ambos já são adultos, tal qual você.
– Não sei se um dia irá. – o tom repentinamente sombrio é assustador, um contraste com segundos atrás. – Makarov já conversou, Porlyusica já avisou e eu também o pressionei a falar com Gray. É sempre a mesma desculpa: “vou cuidar disso na próxima primavera”. Nem mesmo a gravidez de Levy o instigou a pelo menos começar o namoro.
– Podemos ajudá-lo? – Wendy perguntou.
– Podemos tentar dar um empurrãozinho. No fim, a escolha partirá dele.
– Se não fosse tão denso… – Carla mexeu as orelhas em desagrado.
– Vamos torcer para os dois se resolverem, então. Nunca se sabe o que pode acontecer…
Freed concordou silenciosamente. Erza e Lucy puxaram Wendy para conversar, Justine retornou para Evergreen e Bickslow, enquanto Laxus ficou em um canto distante, sem vontade de arranjar confusão com Gajeel. Quando a madrugada ia alta, o mago de escrita das trevas decidiu encerrar a noite. Contudo, recusou educadamente o acompanhamento do time para o apartamento que dividiam.
– Me acompanha de volta para casa? – pegou o Dreyar desprevenido com tal pedido, porém logo se recompôs.
– Com certeza.
Não trocaram uma palavra durante a caminhada – não foi preciso. Freed já havia perdoado Laxus por ter escondido a real natureza do relacionamento deles, estando pronto para que os dois caíssem em velhos hábitos. Na porta do prédio o matador de dragão, porém, precisava de uma confirmação verbal.
– Estamos bem?
– Estamos bem. – repetiu, com um pequeno sorriso. – Está perdoado.
– Significa que posso te cortejar como planejei há semanas?
– Ainda é outono, não é necessário esperar a temporada?
– Só é mais eficaz, mas não obrigatório. Nós dois esperamos o suficiente. – afirmou com tanta tranquilidade que o homem de cabelos verdes soube não estar apressando-o.
– Se precisa da minha permissão, você a tem.
– Ótimo. – soltou um suspiro de alívio. – Obrigado.
Freed sentiu o coração acelerar ao se aproximar e ficar na ponta dos pés para deixar um rápido beijo na bochecha de Laxus, um capricho que quis satisfazer. Com imensa alegria viu o poderoso matador de dragão com as bochechas coradas, gaguejando um “até amanhã” antes de ir embora visivelmente balançado. Mal podia esperar para descobrir o que era a tal tradição do cortejo.
Ele se surpreende com as flores deixadas quase todos os dias na entrada do apartamento, bem como os doces e livros embrulhados em papeis coloridos. Cada um com um bilhetinho escrito à mão por Laxus com mensagens carinhosas. Não consegue jogar no lixo, guardando-as para reler mais tarde.
Quando a Legião do Trovão saiu para uma missão, pouca coisa mudou, de fato, entre os dois. Evergreen e Bickslow provocam o loiro por um tempo, só para irritá-lo, pois é inegável o quanto agora o matador de dragões é extremamente (e abertamente) protetor e carinhoso com o mago de escrita das trevas. Isso aquece o coração do Justine, finalmente tendo liberdade para demonstrar seu afeto de um jeito romântico que será retribuído na mesma intensidade.
O primeiro beijo deles acontece ao dividirem uma barraca para dormir no acampamento, Freed tão sonolento que quase não registra os lábios nos seus antes de dormir. A partir dali, é como se uma porta fosse aberta, e Laxus começou a aproveitar cada oportunidade a sós para beijá-lo, unindo-os mais ainda. Eles saem em muitos encontros, Dreyar sendo cavaleiro e profundamente romântico em cada oportunidade.
Freed continua pensando sobre aprofundar o vínculo e qual seria o melhor momento para abordar o assunto com o melhor amigo. Por sorte, ele não esquenta muito a cabeça. Retornando de uma missão só os dois e concordando em passar a noite na casa do Dreyar, estão abraçados no sofá quando o matador de dragões atrai sua atenção após um beijo apaixonante.
– Freed, eu vou morder você. – não é uma pergunta, mas um suave pedido de permissão.
– Okay.
Talvez fosse pelo elemento surpresa ou por não haver tempo para ficar ansioso, porém quando Laxus mordeu seu pescoço, Freed não sentiu dor. A magia que percorreu seu corpo são como faíscas de eletricidade borbulhando por baixo da pele, mas aquilo não o incomodou. Acabou tão rápido quanto começou, então Laxus afastou os dentes e deixou vários beijos suaves ao redor da marca.
– Foi isso? – perguntou, nem um pouco desapontado.
– Aham. Vai sumir em alguns dias, então não precisa se preocupar com nenhum inchaço ou vermelhidão. – murmurou, erguendo o rosto para beijar o parceiro nos lábios.
– Como assim? Pensei que fosse permanente. – confundiu-se.
– É permanente, porém só se eu te morder durante a época de acasalamento. Te mordi agora para que não se sinta inseguro sobre nós dois; para ter certeza de meu compromisso e de que, na próxima primavera, vou te morder de novo.
– Oh… – murmurou, agradecido.
– A partir de amanhã, todo matador de dragão que chegar perto de você saberá que nós estamos pareados. Mas você é humano, deseja anunciar para a guilda nosso namoro publicamente?
– Você se incomodaria?
– Nem um pouco. – tranquiliza o mago de escrita das trevas.
– Eu gostaria de anunciar, sim. Sonhei muito com esse momento. – admite, acariciando os cabelos loiros que estavam mais longos que o normal. – Mais alguma coisa que devo saber? Como será daqui para frente. Ou algo que você e eu precisamos fazer…
– Bom… – ponderou por alguns segundos. – Se é sobre sexo, eu nunca me interessei muito por isso. Não sou contrário: estou disposto a experimentar se for algo que você queira fazer. – explicou, dando de ombros. – A mordida é o auge do nosso aprofundamento. Perante os dragões, é o equivalente a casamento. Seria legal morar junto, embora não me oponha em dividir você com Evergreen e Bickslow. Eles são tão próximos quanto Makarov é para mim. Não vou ter surtos de ciúmes nem possessividade, te garanto. Mas eventualmente seria bom dividirmos o mesmo espaço, principalmente se… nossa família aumentar. Como deve saber, não somos compatíveis para gerar filhotes, entretanto nada nos impede de adotar alguma criança aspirante a mago que acabe encontrando a Fairy Tail por acaso.
– Você gostaria disso?
– Não sei. Se eu entrar de cabeça na disputa contra Erza para me tornar Mestre e vencer, teria de conciliar minhas obrigações com a guilda, filhotes e você. Estou aberto a essa possibilidade, sim, porém gosto de como as coisas estão boas entre a gente como um casal que poderá servir de babá aos gêmeos de Levy quando Gajeel parar de ser um idiota. – confessa, olhando para Justine. – E você? Já sonhou em ter filhos?
– Meio que sim, para ser sincero. – murmurou, envergonhado.
– Conte para mim.
– Promete não rir?
– Prometo. – encarou suavemente o namorado.
– Sou apaixonado por você desde os quatorze anos, Laxus. No início eu imaginava nós dois casados com pelo menos três crianças muito parecidas com você brincando no quintal. Bem coisa de livro romântico mesmo. – admitiu, rosto esquentando. – Mas às vezes eu também te imaginava casado com… principalmente com Mirajane… e vocês tendo lindos bebês para cuidar e eu só… – emitiu um som de angústia, desviando o olhar.
– Ei, nada de se esconder. – segurou o queixo do mago de escrita das trevas, obrigando-o gentilmente a fazer contato visual. – É bobo o fato de você cogitar que eu fosse querer outra pessoa como companheiro, mas não é bobo sonhar em construir uma família. Seus pais te abandonaram e você só queria ter pessoas por perto que te amassem incondicionalmente. Muitas vezes desejei ter tido uma mãe por perto e quis que meu pai fosse um pai melhor para mim.
– É mesmo?
– Aham.
– Me sinto melhor agora. – suspirou, aliviado.
– É bom saber de tudo isso, pois podemos nos preparar melhor para o futuro. Com filhotes ou não, o que importa é estarmos juntos. Ok?
– Ok.
Eles entram na Fairy Tail de mãos dadas no dia seguinte. Wendy imediatamente percebe, vindo alegremente parabenizá-los. Levy é a próxima, com um relutante Gajeel consigo. Lucy, Juvia, Erza, Mirajane, Elfman, Bisca, Jet, Droy, Romeo e tantos outros ficam felizes pelo casal.
Porlyusica aperta o ombro do Justine num silencioso gesto de aprovação.
Makarov encara os dois fixamente antes de dizer:
– Nada de filhotes antes dos trinta, entenderam?! Isso é uma ordem! Eu ainda sou o Mestre dessa guilda e se não me obedecerem serão exilados!
– Aye, quanta raiva no seu coração, nem o próprio neto escapa. – Happy comenta, com as patas na cintura.
– Não se preocupe, vovô. Não planejamos arranjar crianças tão cedo. – Laxus afirma.
– Então pretendem ter filhotes, é?! – levanta a voz, fazendo alguns magos tremerem nas pernas.
– Descanse, Mestre. Meu companheiro soube respeitar as tradições dos dragões, não vamos apressar nenhum passo do caminho ao qual estamos destinados. – Freed defende os dois, nem um pouco amedrontado pelas palavras de Makarov.
– Hmm… – Gajeel rosna, sentindo a indireta. Laxus lança um olhar feio para ele.
– Acho bom mesmo. – Makarov bufou, sentando-se no bar. – Me vê uma garrafa de vinho, Mira. Se mais alguém for anunciar alguma coisa hoje eu prefiro estar bêbado para esquecer.
– É pra já, Mestre! – a jovem foi buscar a bebida prontamente.
– Ignorem ele. – Carla diz, voando ao lado da matadora de dragão do céu. – Estou tão feliz por vocês! É bom finalmente ver mais um casal se formando na Fairy Tail. Agora só faltam dois.
– Como assim? – Gray pergunta, de repente, atraindo a atenção para si.
– Wendy e Natsu, obviamente. Os únicos matadores de dragões solteiros atualmente. – Juvia responde.
– Eu sou muito pequena para namorar ainda! – a adolescente rapidamente emenda ao sentir o olhar pesado do Mestre em seus ombros. – Esqueçam de mim pelos próximos cinco anos!
Freed e Laxus compartilham um olhar de divertimento enquanto Carla ri da amiga.
– Então sobra apenas Natsu. – Gray concluiu, observando o mago de cabelos cor de rosa ao seu lado. O Dragneel, esse tempo todo, permaneceu completamente quieto. – E aí, salamandra? Quem é a garota azarada que você escolheu para ser sua parceira?
Absolutamente ninguém espera uma resposta são direta e sincera.
– Você.
É quase palpável a ansiedade que percorre os dois amigos após tal admissão. O mago de gelo se vê incapaz de falar por longos segundos.
– Que bobagem! – força uma risada, porém desiste ao perceber que ninguém está rindo. – Que brincadeira é essa? Eu não sou uma garota.
– Freed também não e Laxus o escolheu. – fala, revirando os olhos.
– Wendy…? – Fullbuster arregala os olhos na direção da adolescente.
– O quê? – guinchou, assustada.
– Você escolheu uma garota também ou…?
– Eu não vou contar! É segredo!
– Qual o problema? – Lucy franziu o cenho. – Justo você vai achar isso estranho?
– Como assim “justo eu”?! – rebateu, confuso.
– Ah, bom… – Juvia murmura, encolhendo os ombros. – Meio que todo mundo pensou que você fosse gay por ter me rejeitado quando eu tentei namorar você…?
– O quê?! – arregalou os olhos, perplexo. – Nós tínhamos quinze anos, Juvia, eu não queria namorar nem você nem ninguém naquela época!
– E agora quer? – Natsu ignorou completamente a discussão, um olhar esperançoso no rosto.
– Não! – gritou, acuado. – Eu não quero namorar, muito menos com você!
Freed e Levy prendem a respiração diante da expressão de profunda dor e sofrimento no rosto do mago de fogo. Mesmo não entendo, os outros magos permanecem em silêncio, esperando pela reação do Dragneel.
– Ok. – diz, num fio de voz. – Eu vou pra casa agora. Até mais. – vira as costas e sai pelas portas da guilda sem olhar para trás.
– Natsu! – Happy fica desesperado, querendo voar na direção do humano.
– Não! – Lily impede o outro Exceed de sair. – Não faz isso, Happy. Não é um bom momento. É melhor deixá-lo sozinho e esperar a tristeza diminuir para conversar.
– Mas ele é meu amigo! Ele precisa de mim! – diz, tremendo no ar de preocupação.
– E agora? O que faremos? – Wendy pergunta, encarando Laxus em busca de ajuda.
– Era só o que me faltava, mais essa agora… – Makarov resmunga, bebendo a garrafa inteira de uma vez só.
– Gente? – o mago de gelo olha ao redor, tentando entender a situação. – Por que todo mundo está agindo como se algo ruim fosse acontecer?
– Talvez vá. – Gajeel afirma.
– Pessoal, se acalmem. Ninguém nunca conversou com ele a respeito, não entende a gravidade da situação. – Justine veio em sua defesa. – Escute, Gray. A coisa é séria. Eu sei que você descobriu ser o parceiro em potencial do Natsu da pior forma possível, mas precisa entender que o último dragão rejeitado por um companheiro foi… Acnologia.
– Ah não…
– Pois é. Não estou te incentivando a aceitá-lo para evitar uma catástrofe, longe de mim. Só quero abrir seus olhos. Falo em nome de todos da guilda: desculpe por nosso julgamento sobre seus interesses amorosos. Não deveríamos ter feito suposições, o correto é sempre perguntar. Mas isso não vem ao caso agora. A questão é… entendo seu choque por saber que Natsu gosta de você tão de repente, com todos nós observando. Entendo de verdade, porém precisamos que vá atrás dele. Você tem o direito de ouvir da boca dele sobre o que significa ser companheiro de um matador de dragão. Ninguém é obrigado a aceitar o cortejo, você é livre para rejeitá-lo…. se o fizer com gentileza. Ele não merece sofrer, não importa o quão idiota seja. Assim, ainda pode haver possibilidade de procurar outra pessoa com quem tenha afinidade para criar um vínculo afetivo ao invés de se tornar infeliz pelo resto de seus dias.
– Ok. – assentiu, realmente se esforçando para ouvir a explicação do Justine.
– Mas, Gray… se por baixo de todo o susto com a notícia… houver uma pequena chance de ele te conquistar… e você permitir que ele lute por você… é melhor não esconder. – emendou, compassivo. – Porque se o Natsu te escolheu, é por confiar em você. Não é ao acaso, pelo contrário, é muito bem planejado. Mesmo que ele não tenha te cortejado antes, pode ter certeza de que ele tentou se provar digno da sua afeição. Toda primavera tentava demonstrar sua força, para te impressionar. E até onde me lembro, fez questão de te convidar para ser sua dupla durante os Jogos Mágicos, não é?
– Aye! – Happy concordou. – Fiquei triste quando Natsu não quis meu apoio, mas depois fiquei feliz quando Gray aceitou. Companheiros tornam um matador de dragão muito mais forte!
– Com certeza. – Laxus assegurou, olhando com ternura para Freed.
– Ele pode ser um idiota, mas tudo que faz é pensando em estar com você. – Lucy diz com firmeza.
– Vai atrás dele. – Juvia completou. – Ele precisa de você.
Gray escuta os incentivos dos amigos e assente, saindo da guilda. Só retorna algumas horas mais tarde, ao lado de Natsu.
O Dragneel, imediatamente, anda até Lucy.
– Gray não quer mais ser meu parceiro, você ainda está solteira?
– Ela é minha namorada! – Juvia grita, perplexa.
E antes que pudesse lançar o matador de dragão para longe com um jato de água, Gray o acertou com um soco poderoso capaz de enviá-lo para o outro lado do bar.
– Para de dizer que eu te rejeitei, idiota! Concordamos que ia te dar uma resposta depois dos Jogos Mágicos e você já está querendo arranjar outro namoro?! Me prometeram um amor verdadeiro, não ser substituído no segundo tempo!
Natsu voltou correndo para perto do mago de gelo, derrubando-o no chão enquanto lutava contra ele.
– A oferta era por tempo limitado. Demorou, perdeu.
– Laxus mentiu para mim então?!
– Eu não! – o Dreyar gritou, escondendo um grande sorriso atrás da caneca de cerveja.
– Eles estão bem? – Freed se inclina no ouvido do namorado e pergunta.
– Com certeza. – responde, para alívio do Justine.
– Quem mentiu esse tempo todo foi você ao não me contar que eu sempre fui seu parceiro.
– Você nunca perguntou!
– E como eu ia perguntar algo que eu não sei, idiota! – os dois rolaram no chão, fazendo Juvia puxar a namorada para outra mesa.
– Eh, tudo voltou ao normal, eu acho. – Wendy ponderou, bebendo suco de uva. – Eles vão ser insuportáveis a partir de agora, não vão? Brigando três vezes mais que o habitual.
– O amor se manifesta de formas completamente surpreendentes às vezes. – Carla reflete.
– Ao menos Makarov não vai precisar se preocupar com mais nenhum filhote surpresa, os gêmeos de Levy serão os únicos. – a adolescente comentou, em tom de alívio. – Quer dizer, se vocês não acabarem adotando alguma criança que procure abrigo em Fairy Tail.
– Considerando a situação dos quatro matadores de dragões da guilda, nós realmente somos os mais prováveis para adotar. – Freed refletiu. – O que não é difícil, em comparação aos outros. Sem ofensas, querida.
– Nem um pouco ofendida. – sorriu, ignorando um ligeiro bufo de ofensa espremido por Gajeel. – Qualquer filhote teria sorte de ter vocês como pais. Vocês têm um vínculo forte, posso sentir de longe. Quem me dera conseguir um relacionamento tão estável quanto o de vocês.
– Não se preocupe, sua vez há de chegar e dará tudo certo. – a Exceed assegurou.
– Só daqui a cinco anos! E nada de filhotes antes dos trinta! – ouviram os ecos das reclamações do Mestre ao longe, então decidiram mudar de assunto e aproveitar o resto da noite despreocupados porque, ao que tudo indicava, Natsu e Gray tinham se resolvido (ou ao menos estavam no caminho certo para isso).