
Bua se virou de repente, erguendo o dedo indicador em um gesto firme. — Como você ousa? — Sua voz era séria, refletida na expressão dura e fria. Não havia vestígio da Bua que um dia fora sua.
Phin arregalou os olhos, surpresa. Sentiu a garganta seca e tentou falar algo, mas Bua não deu chance.
— Cala a boca! Eu não quero ouvir a sua voz, entendeu? Não é porque você voltou que algo mudou. — Ela respirou fundo, mantendo o controle da própria voz, apesar da ansiedade evidente. — Tem um monte de cadáveres aqui. Eu não vou perder meu tempo com você.
Sua mão continuava erguida ao lado do corpo, firme, como um aviso final para que Phin não se aproximasse. Bua fez uma pausa, engolindo em seco, lutando contra o nó na garganta que insistia em crescer.
— Eu não vou deixar que você estrague tudo, outra vez. O meu trabalho é extremamente importante... — Nesse momento, seus olhos cruzaram com os de Phin, e ela viu o que não queria: lágrimas contidas, prestes a cair. Por um segundo, algo em seu interior hesitou, mas a mágoa logo a endureceu de novo.
Lentamente, com a voz ainda mais fria, ela a olhou de cima a baixo, carregando no olhar todo o desprezo que podia.
— Já você... nem sabe o que essa palavra significa.
Ela virou-se sem dizer mais nada, fechando os olhos por um breve momento, como se buscasse forças para não ceder ao peso das próprias emoções. Parte dela queria acreditar que Phin podia sentir algo verdadeiro, mas o orgulho ferido não a deixava.
Sem olhar para trás, continuou caminhando. Era a única coisa que sabia fazer: seguir em frente.
Phin permaneceu no lugar, em silêncio. Engoliu todas as palavras que estavam na ponta da língua. Pela primeira vez, não havia nada que pudesse dizer. Nem sarcasmo, nem desculpas. Ela sabia que o que fizera a Bua não tinha perdão.
Suspirou fundo, passando as mãos nos olhos, tentando se proteger da dor que sentia. Voltou ao trabalho, mas, pela primeira vez, a energia que sempre a mantinha em pé parecia tê-la abandonado