
Faíscas ardendo em pedaços de salgueiro...
“Salgueiro chorão com lágrimas escorrendo; Porque você chora e fica gemendo; Será porque ele lhe deixou um dia; Será porque ficar aqui, não mais podia; Em seus galhos ele se balança; E ainda espera a alegria que aquele balançar lhe dava; Em sua sombra abrigo ele encontrou; Imagina que seu sorriso jamais se acabou; Salgueiro chorão pare de chorar; Há algo que poderá lhe consolar; Acha que a morte para sempre os separou; Mas em seu coração para sempre ficou.”
Meu Primeiro Amor
Corte se defini como o ato ou efeito de cortar; a interrupção de um processo, de uma ação, de um efeito, de uma ligação; incisão ou golpe, geralmente com instrumento afiado; lado afiado de faca, navalha ou outro instrumento semelhante; representação gráfica de parte do interior de um objeto ou de um espaço; entre outras coisas.
Os pneus tinham gritado contra o asfalto, alto o suficiente para fazer doer seus ouvidos. Willow tinha erguido o olhar e encarado sua perdição. Para-choque preto, sem placa a vista, lataria vermelho brilhante, e atrás do vidro, sentado no banco do condutor, o rosto horrorizado de um motorista que não conseguiria parar a tempo por que estava dirigindo muito rápido em uma área urbana.
Era seu primeiro dia de escola, ela tinha cinco anos, um mês e dois dias, e quando tinha parado na calçada para olhar para ambos os lados da rua antes de atravessar, um empurrão em suas costas a impulsionou diretamente no asfalto e no caminho do que mais tarde, muito mais tarde, ela descobrira ser uma Mitsubishi L200, 1985, que olhava recém-saído da concessionária.
Willow media 107 cm, ela tinha verificado apenas três dias atrás, o que a colocava dentro da média para uma menina de sua faixa etária, nem muito alta, nem muito baixa. Haviam 300 cm entre os eixos do carro, o que entre isso e sua altura deixava uma margem de manobra de 193 cm a ser explorada, o que em um mundo ideal teria sido o suficiente para salvá-la do pior.
O carro tinha sido suficientemente alto, Willow suficientemente esbelta, com alguma sorte ela não teria si quer sido tocada e para além de um enorme susto, e os joelhos e cotovelos arranhados pela queda, tudo teria acabado bem.
Dudley si quer teria sido advertido, mas, notavelmente, o nome dela não era Luck, nem por sorte era favorecida, seus pais provavelmente desempenhando um papel nisso, eles tinham, afinal de contas, se conhecido em Las Vegas, cidade dos jogos e outras coisas inomináveis, segundo tia Petúnia, e não seria surpreendente se durante sua estadia lá tivessem conseguido esgotar toda sua cota de sorte, e a dela também. Como era, o nome dela era Willow e salgueiros, bem, eles não eram chamados chorão à toa.
Willow tinha nascido com dez dedos na mão e dez nos pés e meia década depois esse número tinha sido cortado pela metade, literalmente.
O cheiro de borracha queimada e ferrugem era a ultima coisa que lembrava antes de tudo ser tragado pela escuridão que era a inconsciência, isso e vermelho tão rico quanto o da maça do amor que o primo comera apenas no dia anterior.
No decorrer da vida, alguém se depara com os mais variados tipos de corte, corte de papel, de cabelo, de salário, Willow se familiarizou com uma muitíssimo mais permanente. Aos cinco anos, um mês e, quando recobrou a consciente, uma semana, ela encontrou-se em falta de dez dos dedos que tinha por certo, metade de seu braço direito e metade da perna esquerda, tirar ou pôr alguns centímetros.
Os médicos tinham tido de amputar seu braço pouco depois do cotovelo, sua perna logo após o joelho. No desespero de ter sido incapaz de parar, o motorista tinha tentado desviar o veículo, como resultado, um dos pneus da frente destruiu seu braço, o traseiro sua perna, em resumo, sua iniciativa tornou tudo pior.
Seus ossos tinham sido estilhaçados além de toda salvação, então os médicos removeram cirurgicamente os membros aos quais pertenciam. Durante a bateria de exames a qual foi submetida um tumor crescendo apenas atrás da cicatriz em sua testa, adquirida no acidente de carro que matou tanto sua mãe quanto seu amante, foi descoberto pressionando seus nervos ópticos. Os médicos o tinham removido e aproveitando seu braço amputado fizeram um enxerto de pele para poupá-la de uma cicatriz substituta. Eles não a tinham salvado de se tornar uma aleijada, mas alguns dizem que a intenção é o que conta, então, ela supunha que tinha de dar-lhes algum crédito. Willow nunca tinha gostado da cicatriz, mas tinha sido bastante amante de seus membros.
Pelo menos, com o tumor ido, ela não precisaria mais de óculos, além de, talvez, um de leitura.
Tia Petúnia tinha estado sentada em uma cadeira de olhar desconfortável quando recuperou a consciência na ala pediátrica. Seu cabelo loiro palha estava desfeito, caindo em volta de seu rosto em cachos disformes, ela também não usava maquiagem ou joias e suas roupas estavam amarrotados. Sombras escuras marcavam seus olhos azul empoado e ela parecia frágil e devastada com as mãos ossudas torcendo-se em seu colo, os dedos entrelaçados com força, como fazia.
Willow não entendeu. Sua tia nunca tinha se importado com ela antes, a tinha alimentado e vestido, era verdade, mas não tinha ido mais longe que o mínimo necessário, e com toda a certeza nunca parecera nota-la como um indivíduo vivo e pensante, com desejos e opiniões próprias.
Não havia beijos e abraços para Willow, muito menos elogios e carinho. Por que desperdiçar um bom quarto com um freak? O armário sob as escadas é suficiente. TV e sobremesas são para bons meninos como Dudley e tarefas diárias para anormais que dependem da bondade do coração dos outros para viver.
Willow não era família, não realmente, ela era parente, isso estava subtendido, as vezes explicitamente declarado, e isso fazia toda a diferença do mundo, até aquele dia, isso é.
Anos depois, quando olhasse para trás, Willow perceberia que aquele tinha sido um momento de viragem em sua vida, mas seriam anos até então, e, no presente, ela tinha outras preocupações mais prementes por que ela tinha percebido o toco onde era suposto estar boa parte de seu antebraço, e, em sua agitação, o lençol escorregou, revelando o nada após seu joelho.
Willow estava muito ocupada tentando gritar sua garganta sangrenta e chorar seus olhos fora para pensar em muito mais, mesmo para registrar os braços de sua tia a sua volta e como ela também estava chorando.
Nas sessões de reabilitação que se seguiram, sua tia fora seu pilar de apoio e segurança, sempre a encorajando e incentivando, nunca a permitindo desanimar, constantemente a apoiando em sua jornada para superar sua deficiência recém-adquirida.
Em sua sétima sessão sua fisioterapeuta começou a chama-la Will, devido a sua força de vontade inspiradora, Willow, por sua vez, deu de ombros internamente, o que importava se cortavam também seu nome? Pelo menos ela estaria combinando então, uma menina em pedaços por completo.