Reflexões

Harry Potter - J. K. Rowling
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Reflexões

Era véspera de Natal, e fazia uma tarde fria quando Severo Snape estava sentado em frente a lareira, refletindo os acontecimentos dos últimos 6 meses.  Haviam acontecido tantas coisas seguidas que lhe faltava fôlego para pensar sobre tudo. Dumbledore estava morto, ele tinha garantido a morte do diretor, havia honrado seu juramento. O Lorde das Trevas havia tomado o ministério e o nomeado diretor de Hogwarts. O Trio de Ouro estava desaparecido e este seria o primeiro Natal que ele não sentia a menor vontade de permanecer na escola.

Snape nunca fez questão de ir para casa no Natal, apenas porque sentia que estaria mais protegido na escola do que em casa, mas agora não teria esse direito de escolha. Ficaria na escola e tomaria conta dos alunos que não haviam pego o trem e ido para casa, protegeria os que ficaram para trás, como ele antes ficava.

Olhando as chamas dançando na lareira enquanto o dia ia embora e a noite tomava conta, Severo pensava que não fazia tanta questão assim de controlar os alunos como o Lorde exigia quando o nomeou diretor. Ele sabia das das ações de Longbottom e da jovem Weasley, mas para que os impedir? Sabia que tudo que  faziam não teria de fato um bom resultado, e sabia também que quando fossem pegos ele lhes daria uma pena leve, como ter detenção com Hagrid na Floresta Proibida. Afinal ele sempre tentaria de tudo para evitar punições graves em qualquer aluno, mesmo os insolentes grifinórios. Severo não era realmente um ser perverso como todos achavam, ele não queria mal aos alunos, não queria machucá-los ou torturá-los, eram apenas crianças afinal.

Mas, de todos os acontecimentos recentes, ter matado Dumbledore e ser colocado como diretor foi o que mais o perturbou. Jamais havia pensado que sua lealdade ao professor chegaria a um nível que ele teria que cometer um ato tão hediondo e ainda ocupar seu lugar, como se fosse um prêmio pelo assassinato cometido. Ele odiava sentar-se naquela cadeira, olhar a mesa que antes era cheia de objetos quase sem sentido e potinhos de doces estranhos. A mesa, a escola, tudo deveria continuar pertencendo a Dumbledore não a ele, não ao traidor. 

Era assim que ele se via, um traidor de si mesmo. Traidor da própria alma. Ele havia cumprido o voto com Narcisa, havia feito o que Draco jamais poderia. Honrou sua dívida com Dumbledore, espiou por ele desde a volta do Lorde e, o matou quando chegou o momento. Ainda ouvia em sua mente “Por favor, Severo”, sim, por favor me mate, por favor cumpra o que prometeu, proteja o menino Potter como disse que faria.

Mas ele não queria isso, não queria ter matado a pessoa que lhe deu a chance de mudar, não queria ter que proteger o menino que tinha os olhos de seu amor e o rosto do seu inimigo. Dumbledore sabia disso e o fez prometer mesmo assim, mas por mais que Dumbledore o usasse como uma peça em seu enorme jogo de xadrez, que era a luta entre a Luz e as Trevas, ele não queria ter feito nada disso. Queria apenas paz.

Dumbledore já deixará claro que em breve Potter deveria receber a espada de Gryffindor, e isso poderia significar que estavam avançando para o fim desse inferno. Ele esperava por isso ansiosamente. Não que pensasse que sobreviveria ao final da Guerra, não esperava por isso, mas esperava que o mundo pudesse finalmente encontrar uma maneira de acabar com tanta maldade e começar a agir com igualdade, e que todos que sofreram com a Guerra encontrassem um pouco de paz.

A lua já estava alta no céu quando Severo apagou a lareira e saiu de seus aposentos para dar início ao banquete natalino, andando lentamente entre as sombras, com seu sobretudo esvoaçando em suas costas, ele sentia que em breve as coisas começariam a mudar, e ele torcia que fossem para melhor.