O belo adormecido

Harry Potter - J. K. Rowling
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O belo adormecido
Summary
" Jacob Grimm (1785-1863)Wilhelm Grimm (1786-1859)[...] De início, o projeto dos irmãos era erudito: queriam preservar impressa a cultura oral "pura" do povo alemão, ameaçada pela urbanização e industrialização. [...]"Oneshot inspirada no conto Dornröschen. Fiz o possível para me manter fiel neste conto dos Grimm apresentado pela Ana Maria Machado, através da editora ZAHAR.

Há muitos e muitos anos viviam um rei e uma rainha, James e Lily Potter. Dia após dia eles diziam um para o outro: "Oh, se pelo menos pudéssemos ter um filho!" Mas nada acontecia. Um dia, quando a rainha estava se banhando, uma rã saiu da água, rastejou para a borda e lhe disse: "Seu desejo será realizado. Antes que se passe um ano, dará à luz um filho."

A previsão da rã se realizou, e a rainha deu à luz um menino tão bonito que o rei ficou fora de si de contentamento e preparou um grande banquete. Convidou parentes, amigos e conhecidos, e mandou chamar também os feiticeiros do reino, pois esperava que viessem a ser bondosos e generosos para com seu filho. Havia treze feiticeiros ao todo, mas como o rei só tinha doze pratos de ouro para servir o jantar, um dos homens teve que ficar em casa.

O banquete foi celebrado com grande esplendor e, quando se aproximava do fim, os feiticeiros concederam suas dádivas mágicas ao menino. O primeiro, Filius, lhe conferiu virtude, o segundo, Gilderoy, lhe deu beleza, o terceiro, Lucius, fortuna, e assim por diante, até que o menino tivesse tudo que se pode desejar deste mundo. No exato momento em que o décimo primeiro homem estava concedendo sua dádiva, o décimo terceiro do grupo, Voldemort, surgiu. Não fora convidado e agora desejava se vingar. Sem olhar para ninguém ou dizer uma palavra a quem quer que fosse, gritou bem alto: "Quando o filho do rei fizer quinze anos, espetará o dedo num fuso e cairá morto." E, sem mais uma palavra, virou as costas a todos e deixou o salão.

Todos ficaram apavorados, mas no mesmo instante o décimo segundo do grupo de homens, Albus, se levantou. Ainda restava um desejo a conceder para o menino, e, embora o feiticeiro não pudesse suspender o feitiço maligno, podia abrandá-lo. Assim, ele disse: "O filho do rei não morrerá, cairá num sono profundo que durará cem anos." O rei, que queria fazer o possível e o impossível para preservar o filho da desgraça, ordenou que todos os fusos do reino inteiro fossem reduzidos a cinzas.

Quanto ao menino, todos os desejos proferidos pelos feiticeiros de realizaram, pois ele era tão bonito, bondoso, encantador e ajuizado que não havia um que nele pusesse os olhos e não passasse a amá-lo. Exatamente no dia em que o menino completou quinze anos, o rei e a rainha saíram e ele ficou sozinho em casa. Vagou pelo castelo, espionando um cômodo após o outro, e acabou ao pé de uma velha torre. Depois de subir uma estreita escada em caracol dentro da torre, viu-se diante de uma portinha com uma chave velha e enferrujada na fechadura. Quando rodou a chave, a porta girou e revelou um quartinho minúsculo. Nele estava um velho com seu fuso, muito ocupado em fiar linho.

"Boa tarde, vovô", disse o príncipe. "Que está fazendo aqui?"

"Estou fiando linho", respondeu o velho, cumprimentando o menino com a cabeça.

"O que é isso bamboleando assim tão esquisito?" o menino perguntou. E pôs a mão no fuso, pois também queria fiar. O feitiço começou a fazer efeito imediatamente, pois espetara o dedo no fuso.

Assim que tocou a ponta do fuso, o menino caiu prostrado numa cama que havia ali perto e caiu num sono profundo. Seu torpor espalhou-se por todo o castelo. O rei e a rainha, que acabavam de voltar para casa e estavam entrando no grande salão, adormeceram, e com eles toda a corte.

Os hipogrifos adormeceram nos estábulos, os Kneazle's no quintal, os Augurey's no telhado e os zonzobúlos na parede. Até mesmo o fogo que crepitava na lareira morreu e adormeceu. O assado parou de chiar, e o cozinheiro Kreacher, que estava a ponto de puxar o cabelo do auxiliar de cozinha, Dobby, porque ele fizera uma tolice, deixou-o escapar e adormeceu. O vento também amainou, e nem mais uma folha balançou nas árvores fora do castelo.

Logo uma cerca viva de urzes começou a crescer em volta do castelo. A cada ano ficava mais alta, até que um dia encobria o castelo inteiro. Ficara tão espessa que não deixava ver nem a flâmula no alto do torreão do castelo. Por todo o reino, circularam histórias sobre o belo Hibisco da Urze, alcunha dada ao príncipe adormecido. De vez em quando um príncipe tentava abrir caminho através da cerca viva para chegar ao castelo. Mas nenhum jamais conseguia, porque as urzes se entrelaçavam umas às outras como se estivessem de mãos dadas, e os jovens que se enredavam nelas e não conseguiam se desprender morriam. Era uma morte terrível.

Passados muitos e muitos anos, um outro príncipe apareceu no reino. Ouviu um velho falar sobre uma cerca viva de urze que, ao que se dizia, escondia um castelo. Nele, segundo o velho, um príncipe fabulosamente belo, chamado Hibisco da Urze, estava dormindo havia cem anos, junto com o rei, a rainha e toda a corte. O velho ouvira de seu avô que muitos outros príncipes haviam tentado romper a cerca viva de urze, mas haviam ficado presos pela planta e tido mortes horríveis. O jovem Cedric disse: "Eu não tenho medo. Vou encontrar esse castelo para poder ver o belo Hibisco da Urze." O bondoso velho fez o que podia para dissuadir o príncipe, mas ele não lhe deu ouvidos.

Aconteceu que o prazo de cem anos acabara de se esgotar, e chegara o dia em que o Hibisco da Urze iria acordar. Quando se aproximou da cerca viva de urzes, o príncipe não encontrou nada senão grandes e lindas flores. Elas se afastaram para lhe abrir caminho e o deixaram passar são e salvo; depois se fecharam atrás dele, formando uma cerca.

No pátio, os hipogrifos e os kneazle's de caça malhados estavam deitados no mesmo lugar, profundamente adormecidos, e os Augurey's permaneciam empoleirados com as cabecinhas metidas debaixo das asas. O príncipe Cedric avançou até o castelo e viu que até os zonzobúlos dormiam a sono solto nas paredes. O cozinheiro ainda estava na cozinha, com a mão erguida no ar como se estivesse a ponto de agarrar o auxiliar de cozinha, e a criada sentada à mesa, com um ganso que estava prestes a depenar.

Indo um pouco adiante, o príncipe chegou ao salão, onde viu a corte inteira dormindo profundamente, com o rei e a rainha deitados bem junto de seus tronos. Seguiu em frente, e tudo estava tão silencioso que podia ouvir sua própria respiração.

Finalmente chegou à torre e abriu a porta do quartinho em que o Hibisco da Urze dormia. Lá estava o príncipe deitado, tão bonito que ele não conseguia tirar os olhos dele. Então, curvou-se e beijou-o.

Mal o príncipe lhe roçara os lábios, o Hibisco da Urze despertou, abriu os olhos verdes tão vívidos e sorriu docemente para ele. Desceram juntos a escada. O rei, a rainha e toda a corte havia despertado e olhavam uns para os outros com grande espanto. Os hipogrifos no pátio se levantaram e se sacudiram. Os kneazle's de caça se ergueram de um salto e abanaram os rabos. Os Augurey's botaram as cabeças para fora das asas, olharam em volta e revoaram para os campos. Os zonzobúlos começaram a se arrastar pelas paredes. O fogo na cozinha crepitou, rebentou em chamas e começou a cozinhar a comida de novo. O assado voltou a chiar. O cozinheiro deu uma palmada tão forte do auxiliar de cozinha que ele berrou. A criada, Winky, terminou de despenar o ganso.

O casamento do Hibisco da Urze e do príncipe foi celebrado com grande esplendor, e os dois viveram felizes para sempre.