— Quantos filhos você quer ter? Tudo começou com aquela pergunta, feita em um sopro gelado quando ambos estavam sentados num banco nas proximidades do Lago Negro, aquele mesmo que ela tinha transfigurado no primeiro encontro de ambos como um casal. Snape ponderou se deveria pedir para que a mulher repetisse, porque pensava que ela não poderia ter realmente perguntado aquilo. Entretanto, nos olhos dela, compreendeu que ela realmente queria saber.
— Quatro.
Ao passo das palavras, ele se imaginou como um pai. Viu um menino com cabelos de leão enfurecido, lendo uma história para uma menina mais nova, que tinha fios negros como os de Severo. E, pela primeira vez na vida do bruxo, tudo pareceu se encaixar perfeitamente. A imagem diante dele era clara e concreta, fazendo perceber que, por aquele tempo todo, ele se guardou para Hermione, porque só tinha de ser com ela que seria plenamente feliz. Apenas ao lado dela seria amante, pai, tudo que ela desejasse. Aqueles papéis sempre soaram estranhos aos ouvidos do homem, pensava que nenhuma bruxa gostaria de tê-lo daquela maneira. Estava errado, ela estava ansiosa por isso, poderia ver agora. Antes, abominava a ideia de ser como o pai que teve, preferindo morrer antes de perpetuar as feridas que teve que assistir cicatrizarem lentamente. Agora, ao lado da bruxa mais inteligente de sua idade, queria ter uma vida distante do que teve antes dela.
— Deve ser quatro para cada um ter uma companhia, dois meninos e duas meninas. Nunca deverá ter solidão. — instigado pela bruxa, ele continuou. — Seriam inteligentes, obviamente, e teimosos também. Bonitos, se puxarem a mãe.
Recebeu, com um sorriso que se recusava a se manter afastado, diversos beijos na bochecha.
— Teriam alguém para correr no final do dia. — ao longo dos anos como professor e agente duplo, Severo apenas desejava aquilo; acalento depois de um longo dia e esperava prover isso aos filhos. — E, se Merlin for caridoso, nenhum deles terá meu nariz.
Com mais outros beijos, agora no nariz dele, Hermione mostrou que adoraria que eles tivessem o mesmo, que era belo e poderoso.
— Eu odeio meu pai por ter me passado esse maldito nariz. — disse entre devolver os beijos que recebeu, buscando conforto na pele da bruxa. — Não quero que meus filhos me odeiem, Hermione.
— Você não vai deixar isso acontecer. Eu sei.
Anos depois, quando Hermione passou gritando pelas portas do St Mungus, nada se apegou ao que ambos imaginaram. Vieram dois, sim, mas uma menina primeiro e, depois de segundos, um menino. Severo afastou o choro pelo parto inteiro, assim como fez diversas vezes após. Como quando, depois de cada um receber uma carta de Hogwarts, ele teve que assistir os dois entrando de mãos dadas no trem. Apesar das mudanças, não teve solidão no final.