
(Nuvole Bianche - Ludovico Einaudi)
O toque suave de seus dígitos foi o suficiente para que as portas de carvalho se abrissem, revelando a sala ali escondida. O local estava anormalmente vazio, a única mobília presente era o longo piano de cauda localizado no centro. Seu banco era grande o suficiente para comportar duas pessoas.
A jovem suspirou com familiaridade quando visualizou o instrumento, e logo em seguida se encaminhou em direção ao banco. Sentou-se com a postura ereta enquanto deixava seus dedos correrem livres pelas teclas do piano.
Ela sabia que já havia passado e muito do seu horário de recolher, e mesmo sendo monitora-chefe ainda poderia se meter em problemas caso fosse encontrada pela pessoa errada.
Porém, não conseguia evitar, sua insônia estava piorando a cada dia e as memórias da guerra não paravam de lhe afligir. Decidiu focar-se então, somente no instrumento à sua frente. Inspirando fundo, ela fechou os olhos e se pôs a tocar.
Entretida como estava, ela não foi capaz de notar quando a porta se abriu novamente para a entrada de um novo integrante. O homem a observou em silêncio, antes de se aproximar e sentar no banco ao seu lado.
— Não deveria estar aqui, senhorita. Está tarde. — Ele avisou, porém, seu tom não parecia nem um pouco repreensivo.
— Isso nunca nos impediu antes, senhor. — Ela respondeu divertida, sem mesmo desviar o olhar das teclas.
Era um velho hábito de ambos, toda madrugada, quando as almas vivas estavam dormindo e nem mesmo os fantasmas ousavam vagar pelos corredores, eles se reuniam. Ali mesmo, na Sala Precisa, munidos de um único piano e sua melodia conhecida.
Ela ainda se lembrava do último encontro deles. De todas as coisas que gostaria de ter dito e nunca teve coragem. De como pensou que iria perdê-lo quando o encontrou afogado em seu próprio sangue.
Não sabia o que teria feito sem ele. Sem ouvir a voz de barítono ralhando consigo pelos corredores. Sem poder observar os dígitos longos deslizando pelas teclas do piano junto a si. Sem aquele silêncio confortável que só existia entre as notas que tocavam juntos.
Foi naquele momento que a jovem percebeu o quanto a falta dele havia lhe afetado e ela nunca se sentiu tão feliz por saber que haviam sobrevivido àquele pesadelo. Por saber que ele ainda estava com ela. Pelos momentos únicos que seriam capazes de continuar compartilhando.
A jovem olhou no fundo das orbes negras e o deu um sorriso sincero.
— Fico feliz por você ter sobrevivido, Severus.
Ele a olhou surpreso, mas se permitiu esboçar um pequeno sorriso.
— Também estou feliz por ter sobrevivido, Hermione.
Palavras não eram necessárias entre os dois, ambos sabiam a intenção por trás de suas ações e Hermione tinha certeza de que aquela não seria a última vez que eles se reuniram no silêncio de suas partituras.