
Therese segurava delicadamente o braço do homem ao seu lado enquanto caminhavam pela loja, exibindo uma harmonia quase ensaiada. Juntos, formavam um casal que inevitavelmente capturava os olhares curiosos e admirados de quem passava.
Ela, a noiva silenciosa, limitava-se a sorrir de forma serena enquanto ele falava com uma autoridade natural. Cada vez que ele se dirigia a ela, seus olhos brilhavam de adoração, e, quando se perdia brevemente em pensamentos, inclinava o rosto contra o ombro dele com um rubor discreto, como se compreendesse que a atenção daquele homem era um presente valioso demais para ser tomado como garantido.
As vendedoras, incapazes de esconder um toque de inveja, acompanhavam o casal com olhos curiosos. Havia um misto de encanto e admiração na forma como ele tocava as mãos de Therese com ternura, sempre perguntando sua opinião sobre as peças expostas. Homens como ele eram raros; a maioria escolhia os anéis de noivado sozinho, retornando apenas para trocar tamanhos errados. Mas Dannie era diferente. Ele queria que ela participasse, que ela decidisse, e olhava para ela com um orgulho quase palpável, como se cada gesto dela fosse digno de reverência. Therese sabia que as vendedoras falariam por dias sobre o casal perfeito que havia passado por ali.
Dannie, por sua vez, exalava sofisticação. O tempo havia sido generoso com ele, acentuando ainda mais sua beleza madura. A barba bem cuidada conferia harmonia às suas feições, enquanto o cabelo castanho, impecavelmente penteado, e o terno sob medida ressaltavam sua elegância. Os olhares admirados das mulheres presentes confirmavam que Therese era, sem dúvida, uma mulher de sorte.
Com um sorriso no rosto, a vendedora trouxe mais uma seleção de anéis e os posicionou diante de Therese. Dannie, enquanto acariciava suavemente sua mão, pediu que ela escolhesse um anel de noivado.
Therese, com os olhos brilhando, parecia radiante.
Therese analisou as peças à sua frente com atenção e expectativa, até que uma chamou sua atenção. Era um anel de design delicado, com uma linha dourada elegante e três granadas no centro, exibindo um vermelho profundo. Vermelho era, sem dúvida, a sua cor.
— Esse! — disse ela, com um sorriso que iluminou seu rosto.
Dannie inclinou-se ligeiramente para ela, avaliando a escolha com um olhar cuidadoso.
— Tem certeza? — perguntou, com um leve tom de provocação.
— Tenho! — confirmou Therese, segura de sua escolha.
— Bom, então número sete — respondeu Dannie à vendedora.
A funcionária observou o casal com simpatia e perguntou a Therese se gostaria de experimentar o anel para ver como ficava. Antes que ela pudesse responder, Dannie foi rápido em intervir:
— Ela só vai usá-lo no dia em que for pedida oficialmente.
As palavras dele arrancaram um sorriso da vendedora, que parecia encantada com o romantismo da situação. Pouco depois, os dois deixaram a loja, ainda sorrindo e com os braços entrelaçados. O gesto não era uma necessidade prática, mas um reflexo da intimidade e da familiaridade que compartilhavam.
Dannie e sua família representavam uma das poucas coisas boas que Therese havia ganho com a relação frustrada com Richard. Eles eram um porto seguro, um vínculo que ela estimava profundamente.
Enquanto caminhavam em direção à cafeteria onde encontrariam os amigos, Dannie finalmente quebrou o silêncio.
— Você não está feliz que a Carol me ensinou a me vestir direito? — perguntou com um sorriso zombeteiro, claramente divertido.
Therese não conteve o riso, um som alto e espontâneo, como se aquele comentário fosse o antídoto para qualquer pensamento pesado. Balançou a cabeça positivamente, rindo ainda, enquanto acenava para os amigos que já os aguardavam em uma mesa discreta no canto da cafeteria.
Phil e Louise estavam sentados, ansiosos. Louise, como sempre, exalava uma energia quase infantil. Dannie a havia conhecido logo após o término de Therese com Richard, e parecia inevitável que eles formassem um casal. Havia algo natural na conexão entre os dois, como se sempre tivessem pertencido um ao outro. Já Phil mantinha sua postura despreocupada de solteiro convicto, embora Therese suspeitasse que, no fundo, ele desejasse exatamente o que eles tinham.
— Você está nos matando, Therese! Mostra logo! — disse Louise, em um tom infantil, seus olhos brilhando de curiosidade.
Therese colocou a pequena caixinha no centro da mesa com delicadeza, abrindo-a lentamente, como se o momento exigisse reverência. Assim que o anel foi revelado, ela ouviu o assobio exagerado de Phil, que estava do outro lado da mesa.
— Deve ter custado uma fortuna! — exclamou ele, os olhos arregalados.
Louise, sempre rápida em conter os exageros de Phil, deu um leve tapa no braço dele, provocando risadas de todos ao redor da mesa.
— É lindo, Therese! — comentou Louise, admirando o anel com genuína admiração. — Queria que Dannie tivesse me dado algo assim — completou, sorrindo de forma travessa.
Dannie retribuiu o sorriso e, com sua usual tranquilidade, inclinou-se para beijá-la.
— Eu te dei meu coração. Não foi o suficiente? — respondeu, fingindo estar ofendido, mas com um brilho brincalhão nos olhos.
Therese observou a interação entre os dois, agora engajados em uma discussão leve e animada, cheia de provocações e beijos. Eram momentos assim que a faziam sorrir e, ao mesmo tempo, sentir uma melancolia que parecia sempre à espreita.
Ela sabia que entre ela e Carol jamais haveria algo parecido. Não existiriam caminhadas despreocupadas ao entardecer de mãos dadas, nem jantares românticos em restaurantes chiques, tampouco a troca espontânea de carícias em público.
Era 1960, e Therese tinha plena consciência de que o que ela e Carol compartilhavam era raro, mais verdadeiro e intenso do que o que muitos casais podiam sonhar. Mas também sabia que, fora do espaço privado que criavam para si, o mundo era uma barreira intransponível. Relações entre pessoas do mesmo sexo simplesmente não podiam existir à luz do dia.
Therese não sabia o que havia passado por sua cabeça para ter aquela ideia tão absurda. Não era como se fosse possível, nem como se um casamento oficial pudesse realmente acontecer. Era uma fantasia imprudente, carregada de riscos. Havia muito em jogo, especialmente Rindy. Mesmo depois de todo aquele tempo, o medo de perdê-la ainda pairava como uma sombra constante sobre elas.
— O que tá passando na sua cabeça, T? — perguntou Dannie, com o tom curioso e uma sobrancelha arqueada.
Therese hesitou por um momento antes de responder, sua voz trêmula com a dúvida que ainda a consumia.
— Vocês acham que ela vai dizer sim? — perguntou, insegura, como se a resposta deles pudesse dissipar as nuvens de incerteza.
Louise inclinou-se na cadeira, olhando-a com firmeza e um sorriso encorajador.
— Você tá brincando? — disse, quase ofendida pela dúvida de Therese. — Você não sabe que vocês foram feitas para ser para sempre?
Therese sorriu, mas foi um sorriso pequeno, carregado de uma melancolia que Louise talvez não fosse capaz de perceber. A verdade era que ela nunca soube.
Quando decidiu voltar ao Oak Room, Therese não tinha certeza de que aquele relacionamento duraria. Na verdade, ela não acreditava que iria. Havia tanta mágoa entre elas, feridas abertas que pareciam impossíveis de cicatrizar. Mas naquele dia, no momento em que Carol olhou para ela com a mesma intensidade de sempre, Therese decidiu que iria pro inferno se não tentasse.
Therese não se mudou imediatamente. Queria provar sua independência, testar os próprios limites. Às vezes, passava dias sem ver Carol ou sequer falar com ela. Olhando para trás, sabia que fazia isso porque, no fundo, ainda temia que Carol fosse embora a qualquer momento. Mas Carol nunca foi.
Nem mesmo durante as brigas — e foram muitas. Algumas provocadas deliberadamente por Therese, por puro capricho, algo que ela não se orgulhava de admitir. Mesmo quando Therese dizia coisas horríveis apenas para ferir, Carol ficava.
Com o tempo, Therese aprendeu a confiar. E Carol, a expressar melhor seus sentimentos. Foi Carol quem disse “eu te amo” primeiro, depois do reencontro. Levou meses para Therese responder, mesmo sabendo, desde a primeira vez que a viu, que a amava. Mas Carol esperou. Paciente.
Foi Carol quem a chamava para conversar depois de cada discussão. Foi Carol quem começou a incluí-la nas decisões cotidianas, mesmo quando Therese não fazia questão de fazer o mesmo.
Dois anos inteiros se passaram até que Therese se mudasse oficialmente para a Madison Avenue. Mesmo quando suas fotos estavam espalhadas pelo apartamento. Mesmo quando tinha a chave e seus produtos de higiene já ocupavam o banheiro. Mesmo depois de passarem um fim de semana inteiro transformando a pequena despensa em um quarto escuro para ela.
Ainda assim, esperou dois anos inteiros para chamar Madison Avenue de lar.
Therese a amava — loucamente e para sempre. Mas, em 1960, para sempre era um conceito grande demais para pessoas como ela.
— Não é nem como se fosse oficial mesmo — disse, dando de ombros e encerrando a conversa antes que pudesse se perder demais nela.
Mais tarde, quando chegou em casa, encontrou Carol na cozinha, arrumando tudo com uma energia frenética. Therese conhecia aquele padrão: Carol só fazia isso quando estava nervosa. Largou as chaves no balcão e tirou o casaco, lançando uma piscadela para Rindy, que estava lendo um livro na sala, antes de se aproximar da loira.
— Se isso é sobre o seu aniversário, podemos dizer à Abby que pegamos um vírus ou algo assim — sugeriu, com um sorriso simpático.
— Não é sobre meu aniversário. Eu nem tenho pensado nisso — Carol respondeu sem olhá-la, continuando a ajeitar coisas que já estavam no lugar.
Therese sabia que isso não era verdade. Carol faria quarenta anos em alguns dias, e Abby achou por bem organizar uma de suas festas para comemorar. Carol, por outro lado, não fazia uma festa de aniversário desde o divórcio. Sempre dizia que tinha trauma das comemorações cheias de reuniões intermináveis e massantes com os amigos de Harge.
Claro, elas sempre celebravam a data, mas de forma íntima, longe de qualquer tumulto. A ideia de Abby não era ruim — reunir apenas os amigos mais próximos para um brinde, talvez um jantar. Mas Therese sabia que Carol evitava pensar nisso por outro motivo. A diferença de idade ainda a incomodava. No fundo, a loira temia que, em algum momento, Therese percebesse que havia muito o que viver sem ela. O que Carol não entendia era que não existia vida para Therese sem ela.
Antes que pudesse dizer algo, a voz tranquila de Rindy interrompeu seus pensamentos.
— A mamãe está assim porque eu disse que queria morar com vocês — comentou a menina, distraída, sem levantar os olhos do livro.
Therese piscou, surpresa. Olhou para Carol, que havia parado de reorganizar as coisas e agora apertava a borda da pia com força.
De repente, a caixinha em seu bolso pareceu pesada demais, e Therese se sentiu um pouco boba por não ter considerado Rindy na equação. Tê-la em casa definitivamente era maravilhoso, mas também mudava tudo. Quando Rindy finalmente pôde passar mais tempo com elas, Carol tomou uma decisão: não iria mais se esconder dentro da própria casa.
Mas isso não significava que o medo de perdê-la tivesse desaparecido. Embora houvesse vestígios de Therese por todo o apartamento, os toques entre elas eram sutis e quase inexistentes. Carol sempre se referia a Therese como sua boa amiga, não havia beijos, e os termos carinhosos surgiam apenas em momentos de descuido.
Rindy, no entanto, nunca pareceu se importar, se incomodar ou sequer questionar. Elas se deram bem desde o início, e para a menina, Therese sempre foi Tia Terez. Nunca houve uma conversa oficial sobre o que aquela unidade familiar significava, exceto por uma tentativa.
Quando Rindy tinha doze anos, precisou voltar às pressas para buscar uma atividade que havia esquecido no quarto da Madison Avenue antes de ir para a escola. Carol, mesmo sem querer, acabou ouvindo parte da conversa entre Rindy e uma amiga.
— Essa colega de quarto é tão pobre assim que não consegue pagar um lugar pra ela mesma? — a outra menina perguntou, num tom levemente desdenhoso.
Carol parou no meio do corredor, o coração apertado, esperando pela resposta da filha.
— A gente só gosta de morar juntas — respondeu Rindy, com um simples dar de ombros.
Therese se lembrava bem daquela semana. As duas passaram dias preocupadas com a possibilidade de aquilo chegar aos ouvidos de Harge e com o que ele poderia fazer caso soubesse. Quando o fim de semana chegou, decidiram que era hora de conversar com Rindy de uma vez por todas.
Foi uma cena cômica. Carol, sempre impecável e confiante, tropeçava nas palavras, tentando explicar algo que nem ela mesma sabia como colocar. Rindy ficou ali, parada, confusa, olhando de uma para a outra, até que sorriu, beijou a bochecha da mãe e saiu.
— Tá tudo bem, mãe. Eu sei.
E nunca mais falaram sobre o assunto. Agora, Therese desejava que tivessem falado.
— O que seu pai acha disso? — perguntou, quebrando o silêncio.
— Ele não tem que achar nada — respondeu Rindy, sem desviar os olhos do livro. — O acordo de custódia diz que, aos dezesseis, cabe a mim decidir com quem quero ficar.
Carol franziu o cenho, se aproximando.
— E como você sabe sobre isso?
— Tio Fred me deu, quando eu pedi.
Therese viu Carol soltar um ruído exasperado e erguer os braços para o alto, claramente irritada. A morena riu, captando o leve arrependimento estampado no rosto de Carol por ter incluído Fred no grupo de amigos depois do divórcio.
— Isso soa como algo que sua filha faria — Therese comentou, entre risadas quase incontroláveis.
Carol cruzou os braços, arqueando uma sobrancelha.
— Minha filha, é?
Therese reconhecia aquele olhar. Carol insistia em dizer que Rindy havia absorvido mais características suas do que dela.
Mais tarde, naquela noite, foi Rindy quem puxou assunto quando Therese entrou em seu quarto com um copo de leite quente.
— Eu já tenho 16 anos, sabia? Não preciso que me tragam leite quente na cama — brincou, com um tom zombeteiro.
Therese sorriu, sentando-se à beira da cama.
— Eu faço isso desde a primeira vez que você dormiu aqui. Você tinha sete anos. — Estendeu o copo para a menina. — Se vai morar aqui, é melhor se acostumar, porque isso nunca vai mudar.
Rindy revirou os olhos com um sorriso, aceitando o leite. Therese estava prestes a se levantar quando ouviu a voz hesitante da garota.
— Você não se importa, não é?
Therese franziu a testa, demorando um instante para entender o que ela queria dizer. Então, suavizou a expressão e voltou até a cama, sentando-se novamente.
— Deus, não! — respondeu, pegando a mão de Rindy com firmeza. — Nada nos faria mais felizes do que ter você aqui conosco.
— É que nunca falamos sobre isso… não oficialmente — murmurou, alisando levemente os dedos de Therese com o polegar. — Eu nunca deixaria o papai fazer nada contra vocês. Você sabe disso, certo?
Rindy entrelaçou os dedos nos dela, um gesto tão simples, mas carregado de significado.
Therese sorriu para aquela garota incrivelmente inteligente e de coração tão bom, apesar do pai que tinha. Por um momento, hesitou, se perguntando se deveria ter essa conversa sem Carol ali.
Therese abriu um largo sorriso para a garota à sua frente.
— Eu não sei do que você está falando. — disse, deslizando a mão até o queixo com um olhar travesso. — Eu sou apenas uma boa amiga da sua mãe.
Com um gesto teatral, pegou a pequena caixinha em seu bolso e a colocou diante de Rindy, abrindo-a lentamente.
— Estou apenas esperando para ser arrebatada pelo meu príncipe encantado.
Rindy esboçou um grito animado antes de abraçá-la com tanta força que Therese quase sentiu que poderia sufocar de amor. Havia tantas coisas sendo ditas naquele abraço — coisas que nenhuma delas precisava colocar em palavras.
Antes de sair do quarto, Therese se virou com um sorriso malicioso.
— Ah, e se encontrar a Sra. Johnson, diga a ela que meu encontro de hoje foi ótimo e que provavelmente ele será o cara.
Ela saiu deixando para trás uma Rindy rindo descontroladamente.
Quando chegou ao quarto e encontrou Carol deitada na cama com um livro, não conseguiu resistir. Estava feliz demais. Havia regras claras sobre como deveriam se comportar quando Rindy estava com elas, mas, naquela noite, Therese faria Carol gritar seu nome.
Na manhã seguinte, um domingo, Therese recebeu uma ligação logo cedo. O novo fotógrafo havia estragado os filmes, e ela precisava correr para salvar a foto de capa da edição de segunda-feira. Pegou a bolsa e já estava prestes a sair quando ouviu uma voz tranquila atrás de si.
— Você chega a tempo para o almoço, mamãe?
Therese parou no meio do caminho, quase em pânico, a mão congelada na maçaneta.
Tinha que ser com ela, certo?
Virou-se devagar e viu Carol parada na cozinha com uma xícara de café no meio do caminho até a boca. Os olhos da loira estavam arregalados, o coração provavelmente tão acelerado quanto o de Therese.
Então olhou para Rindy, que continuava folheando seu livro, sem sequer levantar a cabeça, como se tivesse dito algo banal.
Mas não era banal. Era tudo.
Dizer algo tão importante de maneira tão despretensiosa e natural… soava muito como sua própria filha.
Therese sentiu o coração pulsar forte — mas não de medo. Dessa vez, era aquele tipo de batida que enche o peito de vida.
E, sorrindo de orelha a orelha, respondeu:
— Vou fazer o meu melhor.
O que Therese mais gostava nas festas de Abby era a liberdade que encontrava ali. Naquele ambiente, ela podia ser ela mesma. Abby, no entanto, já não dava tantas festas como antes; aparentemente, encontrara alguém capaz de domá-la. Therese suspeitava que a decisão de celebrar o aniversário de Carol em sua casa era apenas um pretexto para matar a saudade de suas pequenas reuniões.
Honestamente, até Therese sentia falta daquilo. Não havia outro lugar onde pudesse flertar tão descaradamente com a loira, e Carol era sempre tão irresistivelmente linda que a fazia se sentir pequena por não poder dizer isso em público.
E as danças… Deus, eram a melhor parte. Therese nunca fora uma boa dançarina—pelo contrário, parecia ter dois pés esquerdos. Mas Carol percebera sua falta de ritmo e suavizara a condução. Com ela, tudo parecia fácil. Com ela, Therese sabia dançar. Talvez fosse isso que o amor fazia.
Por muito tempo, Therese não acreditou que pudesse ter uma família. Com Richard, pensou que deveria formar uma, mas foi Carol quem a fez entender a diferença entre querer e dever. E com a loira, Therese queria tudo. Com o tempo, tudo se encaixou de forma natural. Ela e Abby eventualmente se entenderam, principalmente porque ambas compartilhavam o mesmo desejo: ver Carol feliz.
E então veio Dannie. Deus, foi como ver uma peça de quebra-cabeça encaixando-se perfeitamente. Carol, Dannie e Phil eram pessoas completamente distintas, cujos caminhos jamais se cruzariam se não fosse por Therese—e, ainda assim, deram-se bem quase que instantaneamente.
— No que você está pensando? — Carol sorriu com malícia. — Sabe quantas vezes eu te pergunto isso por dia?
Therese sorriu. Houve um tempo em que aquela pergunta doía, mas agora era seu flerte favorito.
— Só estava pensando em como é bom estar aqui. Como tudo se encaixou. — Ela girou levemente a taça em mãos. — Há um tempo, eu nunca teria imaginado isso.
Carol inclinou a cabeça, observando-a com um olhar mais suave agora.
— Isso o quê?
— Ter uma família. — Therese soltou um suspiro curto, como se estivesse admitindo algo para si mesma pela primeira vez. — Você, Rindy… nossos amigos. Um lugar onde podemos simplesmente ser.
Carol sorriu, levando a mão até a de Therese e apertando-a de leve. Naquele momento, Therese soube que não havia lugar melhor do que aquele, nem hora mais perfeita do que aquela. Todos estavam ali, e elas estavam livres para simplesmente ser. Desde que Rindy a chamara de “mamãe” pela primeira vez, ela e Carol já não escondiam mais as carícias. Era perfeito. Tudo era perfeito. Carol era perfeita.
— Olha… — Therese começou, nervosa. — Eu sei que não é oficial nem nada…
Ela se atrapalhou ao procurar algo no bolso da saia, enquanto Carol, de repente, começou a olhar ao redor, inquieta.
— Eu só pensei… — Therese finalmente conseguiu pegar a pequena caixa. — Pensei que talvez… talvez a gente pudesse inventar nossas próprias regras e escrever nossa própria história. Eu te amo. E você me faria a mulher mais feliz do mundo se aceitasse se casar comigo.
— Não!
A voz de Carol saiu alta demais, chamando a atenção de todos ao redor. Se fosse possível ouvir um coração se partir, Therese tinha certeza de que todos ali teriam escutado o dela.
— Bom… — Ela limpou a garganta, tentando se recompor. — Está tudo bem. Foi uma ideia estúpida mesmo…
— Não… — Carol repetiu.
— Ok, já entendi. Você não precisa tripudiar.
— Não! — Carol insistiu, agora com urgência. — Você não entendeu.
Ela se virou para os amigos que observavam tudo em silêncio.
— Abby, cadê?
— O quê? — Abby perguntou, divertida.
— Abigail, não seja uma idiota! — Carol praticamente gritou.
Abby se afastou sob o olhar atento de todos, e Therese observou a cena com curiosidade. Foram apenas alguns minutos, mas tempo suficiente para que ela começasse a apressar Abby com pequenos gritos impacientes. Quando a amiga voltou, trazia um sorriso no rosto e uma pequena caixinha nas mãos.
— Estou guardando isso há meses para essa idiota! — disse, entregando o objeto a Carol.
Carol lançou um olhar afiado para Abby antes de pegar a caixinha com as mãos ligeiramente trêmulas.
— Primeiro, pensei em te dar no seu aniversário, mas me senti tão boba por achar que você ia querer algo assim… — disse, visivelmente nervosa. — Depois, considerei te entregar em um dia qualquer, de forma despretensiosa, apenas para que você tivesse, sem precisar significar nada…
Therese estava chorando.
— Então, pensei que o Natal seria perfeito, porque é o nosso dia. — Carol sorriu. — Mas aí você vem e faz isso primeiro… Não é justo. Você fez tanto por mim. Você me salvou. E eu te amo tanto… Então deixe-me ser eu a fazer isso por você.
E, diante de todos, Carol se ajoelhou.
— Therese Belivet, não haverá papéis nem registros, mas eu prometo amá-la e respeitá-la enquanto eu respirar. Serei sua até meu último suspiro. E você será minha para além da eternidade… Você quer se casar comigo?
— Sim! — Therese respondeu sem hesitar, jogando-se nos braços da loira.
Havia gritos e aplausos ao redor, mas a única coisa em que Therese conseguia se concentrar era no beijo suave de sua loira.
— Vem, vamos dançar. — Carol estendeu a mão para ela, um brilho travesso nos olhos.
Therese soltou uma risada curta, meneando a cabeça.
— Você sabe que sou um desastre.
— Mas um desastre que só eu sei conduzir.
Therese não discutiu. Apenas pegou a mão de Carol e seguiu com ela para a pista de dança, onde, por alguns minutos, poderia esquecer do mundo lá fora.