
LUNA
Analisei-me ao ver o meu reflexo no espelho, estranhando o que enxergava. Tonks tinha decidido que alguém não poderia ir a um encontro combinando calças rosa neon, moletom verde neon e óculos 3D. Palavras dela, não minhas. Com certeza, ela não entende a graça de ver o mundo todo tridimensional! Enfim, era por isso que agora estava maquiada e usando um vestido que nunca escolheria por vontade própria.
Contudo, aquele vestido feio não me abalaria, pois hoje teria o meu quarto encontro com Neville e, obviamente, iria pedi-lo em namoro, porque sei que somos destinados! E, por causa disso, decidi que nos encontraríamos em frente ao aquário, já que ele queria ir há muito tempo.
Felizmente, a caminhada da minha casa até lá era curta, então rapidamente já estava ao lado de Neville, segurando a sua mão depois de cumprimentá-lo e entrar no local. Logo víamos as atrações do aquário e era fofo o quanto ele parecia empolgado quando se deparava com os animais. Por ele estar fascinado, acabei ficando também.
— Olha, Neville, são pinguins!
Puxei-o pela mão e ficamos assistindo à cuidadora fazer truques com eles. Em um momento de distração, li a placa que descrevia a sua espécie. Foquei no parágrafo que tratava sobre estas aves ficarem com o mesmo parceiro para sempre. Talvez eu e Neville fôssemos iguais aos pinguins e só iríamos nos separar quando estivéssemos velhos e caquéticos e a morte enfim viesse nos levar para o além. No entanto, lembrei que, para tudo isso acontecer, eu precisava fazer o pedido, então respirei fundo e me virei para ele.
— Neville, você quer…
Fui interrompida por uma mão infantil, que segurou a minha.
— Mamãe! — uma criança aleatória gritou, seus olhos enormes me olhavam com a mais pura felicidade, enquanto os meus se encheram de pânico e confusão.
Voltei-me para Neville novamente, já sentindo o meu corpo inteiro gelar quando o senti me encarando com desgosto.
— Eu juro que posso explicar!
Enquanto quase gritava, em pânico, apareceu um homem, vermelho de vergonha. O seu filho não parava de repetir: "olha a mamãe!". A minha vontade era simplesmente afogar esse menino para ele calar a boca e não piorar (ainda mais) a situação.
— Você me conhece? — perguntei para o estranho, que tentava pegar o pirralho.
— Hm, não. — Ele não me deu muita atenção, porque, obviamente, a sua prioridade era conter a criança.
— Viu? Ele não me conhece e eu também não sei quem ele é! — Meu tom de voz saiu extremamente animado, já que a confirmação de que aquilo era somente um mal-entendido foi colocada na mesa. — Juro que não tenho um filho, nunca mentiria sobre isso! Eu prometo!
Neville suavizou a expressão, então, para mim, aquilo já era uma vitória.
Aqueles que não gostam de crianças sempre pensam no fato de que eles são diabinhos ou algo do gênero e, cara, como eu acreditei nisso quando o garotinho conseguiu se desprender de seu suposto pai para correr em nossa direção.
— Mamãe, porque está com ele? Vai abandonar eu e o papai? — O menino abriu a boca só para começar um choro bem alto.
Com certeza aquela situação poderia ser explicada pela frase: cinco segundos antes de a desgraça acontecer; quando o Longbottom estava perto de acreditar em mim, isso aconteceu.
Neguei com a mão e com a minha cabeça desesperadamente quando a feição de Neville mudou de calma para desconfiada.
— Me perdoa pelo meu filho, às vezes, ele fala essas coisas… Sabe como os pequenos são…
Não sei como, mas o homem conseguiu pegar o menino no colo ao passo que nos direcionava um sorriso sem graça.
— Está traindo o papai como a minha mamãe?!
Sabia mais do que ninguém que não deveria rir, mas precisei morder os meus lábios para não expressar nenhuma diversão. Acho fenomenal como os pirralhos não possuem um filtro entre o cérebro e a boca!
— Albert! — Ele olhou horrorizado para a sua cria.
— Sabia que a minha mãe falava que ia trabalhar e, no fim, se encontrava com o titio pra fazer "coisas de adulto", como o papai Harry gosta de dizer. Aí eu ouvi os dois brigando e depois ela se mudou de casa. Sabe, eu sinto muito a falta de… — A fala de Albert foi interrompida quando Harry o apertou, porém o garotinho não se sentiu nem um pouco incomodado. — Dela. Será que um dia eles ainda vão voltar a ficar juntos? É chato que todos os meus amiguinhos tenham pais e mães e eu só um pai!
Como Harry percebeu que o garotinho não iria ficar quieto, despediu-se rapidamente antes de arrastá-lo enquanto explicava que ele não deveria falar aquilo para qualquer um.
Como o encontro foi um fiasco, Neville tinha o direito de querer voltar para casa no mesmo instante. Lembro que rimos bastante da situação quando o deixei na porta de sua residência.
Nunca mais o vi para marcar um quinto encontro.